Crítica Teatral de “Justa”

A USURPAÇÃO DO ALHEIO, DO PAÍS. UM GRITO PARA LIBERTAR E TOMAR DE VOLTA O QUE NOS PERTENCE, ATRAVÉS DE UMA PAIXÃO DESTRUIDORA, NA URGÊNCIA DE RESGATAR A BELEZA/ÉTICA E A JUSTIÇA DE UMA NAÇÃO.

A ODEON CIA TEATRAL está em manifestação/espetáculo no CCBB, com “JUSTA”. Um trabalho com dramaturgia de NEWTON MORENO, direção de CARLOS GRADIM e contundentes interpretações de YARA DE NOVAES e RODOLFO VAZ.

CARLOS GRADIM também é o idealizador do projeto e NEWTON MORENO autor convidado a construir uma escrita de necessidade imediata e muito bem embasada no momento atual de vergonha alheia.

Um momento crítico que nos assola, nos esmaga, de invibialização/corrupção , numa política usurpadora e desprovida de justiça.

O espetáculo é uma devastadora manifestação cênica, condimentada por uma paixão destruidora, improvável, de um político por uma prostituta. Ganhos indevidos, cobiças, deslealdade, conveniências particulares, permeiam esse trabalho, essa cena que espelha um país triste, desrespeitado, com “palhaçadas” diárias, chamado: BRASIL. 

Em cena: ” Uma investigação de crimes contra políticos brasileiros. Um oficial justiceiro vai encontrar um amor inesperado, e se depara com a recorrente pergunta de nosso imaginário como nação. Haverá alguém não corruptível nesse país”?

Um texto que dá visibilidade e discussão a prostituição, discriminação, falta de ética, pessoal e política, conveniências, desrespeito ao alheio, tendo como pano de fundo uma paixão desmedida. Uma literatura com compromisso de resgatar a justiça e o belo, que nos foi roubado a força, sem direitos, sem escrúpulos. Um modo fraudulento de nos esmagar.
O espetáculo começa e termina com um ” hino de ninar”, na voz potente de LAILA GARIN, fazendo alusão a nosso hino nacional. Uma ode de lirismo acolhedor numa voz privilegiada. Uma “sacada” cenicamente de encanto.

Permeia as cenas gargalhadas de prostituta, contextualizadas, da grande atriz TEUDA BARA, e um conteúdo explícito/ilustrador/audiovisual de; GEORGE QUEIROZ. 

Um romance policial que investiga assassinatos de políticos corruptos, onde um oficial de justiça se embrenha com uma prostituta. Bem familiar.
A dramaturgia de NEWTON MORENO, intitulada de; Alegoria cênica, é simplesmente devastadora. Sem meias palavras, ele expeli, arrevessa no palco, e para o público, uma excelência literária de contundência imediata, e que nos acomete sem nos insultar.

O texto é carregado de uma força dramática com teatralidade explícita e urgente. MORENO expõe a usurpação, a obscuridade que nos colocaram, e que estamos sendo vítimas, num linguajar cortante, de acidez, sem medo de ser feliz. Ele nos faz feliz, nos dando voz, corpo, alma. Nos fazendo berrar, refletir, em seu palavreado teatral que nos atingi rapidamente, repleto de compaixão. “JUSTA” se apresenta numa escrita cheia de metáforas e muito provocadora.

Um instante de luz em seu universo respeitadíssimo como dramaturgo pernambucano. CARLOS GRADIM conduz uma direção nos extremos da contundência do texto. Apoiado por excelentes atores, ele avança na cena e imbui, insulfla os intérpretes, convencendo e penetrando nossa presença enquanto público, nos apoderando diante de seu poder artístico, a frente dessa empreitada ácida e lírica.

Constrói uma direção mais do que convincente com assistência de MURILLO BASSO e LEANDRO DANIEL. Uma iluminação de TELMA FERNANDES , potente, clara, branca, pertinente a exposição de um trabalho com verdades extremas.

Trilha sonora de DR MORRIS no mesmo caminho, favorável, propício, acertado, na cena teatral de “JUSTA”. ANDRÉ CORTEZ cria uma cenografia coerente com o pragmatismo dramatúrgico, com grande eficiência e apuro.

FABIO NAMATAME dá o aprumo, o cuidado no figurino, afinado com exatidão da proposta. Num espetáculo teatral é primordial, antes de tudo, um belo texto e atores no mínimo competentes. 

YARA DE NOVAES e RODOLFO VAZ usam a competência para mostra suas vocações na vida. Compenetrados e capacitados, insinuam suas interpretações com corpo e voz tomados e trabalhados a favor da sublimidade, da primazia cênica. 

Em seu discurso final, YARA consegue nos arrebatar e “esfregar” em nossos rostos atentos, a grande atriz, melhor, a intérprete implacável em seu talento mais do que visível.

O espetáculo “JUSTA” é uma “obrigação” , uma primordialidade, uma conveniência, que nos foi dado de presente. Não USURPEM, seu intelecto. Se dê a oportunidade de presenciar esse momento de liberdade de expressão.

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