Crítica Teatral de “Brasil mon amour”

UMA VOZ MAVIOSA E DELICIOSA/AFRODISÍACA, DA “FRANCESA DOS TRÓPICOS”, NUMA ENTREGA DE PAIXÃO AO BRASIL.

Um espetáculo que inicia de forma inventiva e didática, que surpreende ao som dos instrumentais ao vivo, e nos ensina a chamada acentuação de compasso rítmico francês, que difere do andamento de nosso compasso. Como no compasso da música espanhola, o francês enfatiza e valoriza os contratempos, se sobrepondo ao tempo forte da música. No mínimo interessante, inovador, instigante. Me identifiquei muito, por que me remeteu à dança flamenca, que é própria volúpia com sua força sedutora.
“BRASIL MON AMOUR” é um monólogo musical que nos apresenta uma francesa nascida na Ilha da Reunião, Oceano Índico, que se vê perdidamente em êxtase/paixão pelo Brasil.

Inspirada por um poema de BAUDELAIRE, ” Convite para uma viagem”, ela atravessa o mundo para encontrar o seu tão sonhado ser amado geográfico.

A jornada da personagem amante-poeta, uma descoberta pelos três continentes; França, África e Brasil, feita de choques culturais, de encantamento similares nas diferenças que nos move.

O espetáculo musical reúni músicas de ícones como: CHICO BUARQUE, VINÍCIUS E TOM JOBIM, MARISA MONTE, EDITH PIAF, CHARLES AZNAVOUR, JOÃO BOSCO e ALDIR BLANC, LENINE, entre outros. Passeia/ brinca/ teatraliza, de maneira tal, que vira pelo avesso nossos sentidos voluptuosos, nos levando a um deleite carnal.

O texto original nos revela uma dramaturgia no encanto e na direção da aveludada voz da autora CLAIRE NATIVEL. Uma linguagem direta, emocional, madura e de qualidade de escrita.

A dona dessa história, atua/interpreta sua viagem no caminho de sua multifacetada vocação, passando pelas culturas africanas, francesas e brasileira, apoiadíssima pela dupla mais do que competente de músicos.
A direção/encenação de RAFAELA AMADO cristaliza e intensifica um feito teatral de excelência.

RAFAELA desbrava um caminho cênico num carisma que exala palco/público.

Genial/didática/inventiva a direção musical de JOÃO BITTENCOUR, com auxílio primoroso e marcante de MIG MARTINS (Acordeon, violão, percussão).

Preparação vocal/colaboração artística de SORAYA RAVENLE de imediata aparência, nos dando a certeza que alí esteve seu talento de grande artista.

Um belo e criativo cenário conectado na viagem pessoal da atuante/dramaturga, que nos faz embrenharmos em suas roupas e malas recolhidas em sua trajetória no espaço/palco percorrido.

LUIS PAULO NENEM cria uma iluminação de beleza e conexão com a alma e a paixão de CLAIRE NATIVEL. 

Ele pontua cada sonho almejado por CLAIRE com uma aptidão inclinada à relevância da cena. BRAVO, NENEM!

Uma produção aparentemente bem cuidada e carinhosa de BERNARDO DUGIN.

A “FRANCESA DOS TRÓPICOS”, CLAIRE NATIVEL, se insere no nosso conturbado país/momento cultural, e nos garante que no meio dessa tempestade avassaladora, ainda podemos crer na lascívia, no deleite de prazeres carnais/culturais de um lugar “primitivo”, porém, exuberante pela própria natureza. 

Essa crítica não alcança o emocionante momento teatral que nossos olhos avistam.

Acreditemos no nosso apetite sensual de um “BRASIL MON AMOUR”.

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