Crítica Teatral de “Caos”

QUANDO A SIMPLICIDADE ALCANÇA UMA TEATRALIDADE QUE NOS LEVA A REFLETIR.

O espetáculo “CAOS” idealizado e produzido por RITA FISCHER, aposta no caminho do teatro cercado por poucos recursos em cena, e muita determinação, foco e talento.

FISCHER reuniu contos escritos nos últimos anos, direcionados à cidade do Rio de Janeiro. A cidade-caos com suas e nossas indiferenças, perdas, interferências, em nosso cotidiano, “surpresas” vindas, oriundas, de descasos e crueldades políticas, e também, inerentes do ser humano. Nossos desconfortos, acidentes inesperados, vividos e experienciado por ela.

Os impasses no dia a dia de uma cidade almejada e vista com muita repulsa pelos próprios moradores dessa terra usurpada. A política subtraiu e colocou uma bomba em nossas mãos; virem-se, ela pode e está explodindo.

O universo autobiográfico de RITA, fala principalmente de ética, choques urbanos, da mulher e do amor.

Quinze contos falando de mazelas, vícios, amor/desamor, e de pessoas/sentimentos.

A negligência tomando conta de tudo e o teatro tentando transformar, nos fazendo enxergar, através de suas críticas cortantes.

“CAOS” é a cidade-caos, uma cena teatral realizada com pouquíssimos recursos, mas que nos diz muito. Os recursos essenciais para essa simples e aguda ousadia que se perpetua, está em cena no humano, e não na técnica, como estamos acostumados presenciar em trabalhos de grandes recursos.

Uma dramaturgia urgente, necessária e focada em nossas perdas do momento. Texto coloquial, direto, bem engendrado, verdade e autenticidade comprovada nas entregas de duas atrizes ferozes, talentosas, determinadas.

RITA FISCHER escreve e nos toca, nos faz rir com sua comédia de nuances, inquietante, que nos “machuca”, nos acorda.
FISCHER fala da mulher com propriedade e poesia apurada. Fala, na passagem que discorre sobre o amor, com lirismo e paixão, mesmo admitindo que aquela intensa e poética escrita, confere a JOÃO GUIMARÃES ROSA.

Uma dramaturgia inteira num teatral pertencente ao palco, à cena, à vida.
A direção de THIAGO BOMILCAR BRAGA está totalmente amalgamada, conectada com LUÍSA PITTA que criou a expressiva direção de movimento.

THIAGO BOMILCAR dá clareza e o caminho cênico. LUÍSA PITTA imprime força, sincronismo sem histrionismo. Comanda os corpos numa coreografia/movimentos, com sabedoria de quem conhece como esmiuçar resultados talentosos numa cena retumbante/inventiva.

Uma “coreografia” na medida que o texto implorava, e assim se fez.
O que dizer, mais uma vez, de PAULO CÉSAR MEDEIROS?! Cria uma iluminação que mesmo ficando no branco dos focos, sem cores, corresponde ao que a cena precisava. Uma luz nua e crua, como a vida apresentada por RITA, porém, enaltecedora. Simplicidade/luz/teatral.
Um figurino totalmente neutro, na medida, no acerto, de DORA DEVIN.
RÁDIO LIXO numa trilha sonora encontrando o todo de um espetáculo coerente em seus signos.

Uma produção que impõe e fala pelo “menos”, sem cenário, apenas duas cadeiras, que se fazem extremamente presentes. Digna e verdadeira.
RITA FISCHER e MARIA CAROL, com seus corpos, desenvoltura, vocação, corroboram com tudo que foi dito acima. Duas atrizes grandes nas suas ânsias interpretativas, elevando o menos teatral, e mostrando que vocação pode ser nosso maior mérito. BRAVO!!!

Corram! assistam! comprovem que a teatralidade também pode estar no “menos”, no nosso grito talentoso presente no caos, no espetáculo “CAOS”.

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