Crítica Teatral de “Uma história do zoológico”

A BUSCA DO SIGNIFICADO DO AMOR, EM RASCANTE EMBATE NAS DIFERENÇAS.

Do encontro de dois seres humanos nasce uma cena teatral excêntrica, instigante e apreendedora, num final surpreendente.

“UMA HISTÓRIA DO ZOOLÓGICO” foi escrita em 1961 pelo dramaturgo americano EDWARD ALBEE, retratando a dificuldade de comunicação entre os homens.

Nesse texto, o dramaturgo é esfuziante em seu linguajar, penetrando no intrínseco/essência do problema.

Expõe o absurdo das relações humanas na sociedade.
Suscitam- se questões e divagações sobre a comunicação entre as pessoas e sobre o amor.

Uma dramaturgia rascante, de diferenças, como instrumento de provocação.

Dois estranhos de mundos totalmente antagônicos em um inusitado e façanhoso/admirável desfecho. Trata, especificamente, dos incovenientes/obstáculos de amar e ser amado.

A dramaturgia de EDWARD ALBEE sempre nos coloca no caminho da busca. Buscando entendimento psicológico/emocional, o ser humano se depara principalmente com a solidão e um desenfreado almejar pelo entender o que é amar, ou, como posso ser amado? Será que mereço? Conlúios, brigas emocionais num pragmatismo em forma de desabafo.
O texto de “UMA HISTÓRIA DE ZOOLÓGICO” é essa solidão personificada em dois personagens antagônicos. Um que desfruta de seu mundo passivo, estabilizado, e outro no desespero da busca.

Uma escrita que aterriza no desvendar, na necessidade de falar e de ouvir, no descobrir de sentimentos, calcado num pragmático enlace e desenlace. Uma provocação humana para nos tirar de nosso acomodado mundo perturbador.

A direção de LUIS D’MOHR e CLAUDIA MARTELOTTA(in memorial), calca na frieza camuflada dos dois personagens e desenha um desenlace satisfatório de um texto instigador. A assistência de direção de SEBASTIAN FORTES, certamente deu sua contribuição.

OLIVER SPEE impõe com correção um figurino atendendo às diferenças de mundos apresentados. Um elegante em sua estabilidade/austeridade e o outro despojado em sua busca/desespero.

Um banco de praça como cenário criado, de TOMÁS RIBAS e CRISTOVAM FREITAS, nos remete à procura de uma união de dois mundos tão diferentes. Faz alusão fortemente a querer enlaçar dois seres distintos. É o encontro, a tentativa de aproximação, e por fim, acaba afastando às intenções emocionais de ambos. Um banco que atende, perfeitamente o intuito cênico contido no texto.

Uma intimista iluminação de JOÃO ELIAS acompanhando o clima contudente e expressivo da escrita. Uma luz com sensibilidade e bem ambientada.

Uma produção de THIAGO MENEZES atendendo ao intento performático do trabalho e do espectador.

TOMÁS RIBAS e CRISTOVAM FREITAS se colocam satisfatoriamente em seus personagens com suas performances, dando cada um corpo e voz, o distanciamento e ao mesmo tempo a aproximação pedida pela escrita. Emoções comedidas ou exasperadas na medida que à cena propõe e o dramaturgo quer nos transmitir.

Intérpretes visivelmente aprofundados em pesquisa cênica necessária.
“UMA HISTÓRIA DO ZOOLÓGICO” não se passa num zoológico, porém, quer nos libertar de jaulas que nos aprisionam para lutarmos e compreendermos como amar, nos relacionar e sermos amados. Quer nos libertar de nossos desesperos e abrir a jaula de nossas emoções.

Como diz EDWARD ALBEE: 
“PRECISAMOS NOS PERDER, PARA PODERMOS NOS ENCONTRAR”.
“A MAIS VALIOSA FUNÇÃO DO TEATRO É CONTAR QUEM NÓS SOMOS”.

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