O NECESSÁRIO ENCONTRO QUE NOTABILIZA A DESORDEM NATURAL, EM BELICOSAS ATITUDES, ATRAVÉS DE UMA LITERATURA CATEGÓRICA/IMPERIOSA.
Em sua segunda dramaturgia, LEONARDO NETTO, trás à cena um drama que aborda o poder de interferência do outro em nossas emoções, atitudes e consequentemente como reagimos ao inesperado/surpresas da vida. O quanto temos controle sobre nós mesmos?
Num texto onde Lúcio(JOÃO VELHO), é abandonado pela noiva no dia do casamento, mergulhando numa profunda depressão e questionamentos, onde haverá à interferência de duas pessoas; Emiliano(CIRILLO LUNA), seu melhor amigo e ex-futuro cunhado, e Cecília(BEATRIZ BERTU), apaixonada pela cultura dos anos 60, e sua nova vizinha.
A cenografia de ELSA ROMERO, com paredes vazadas e uma porta vermelha, com proposital destaque, tem um forte apelo alusivo àquilo que pode nos escapar, que não nos pertence mais. Uma porta vermelha sinalizando o “perigo”, o fundo do poço, às surpresas que podem chegar, nos movendo ou nos paralisando. A vulnerabilidade e armadilhas humanas.
Trilha sonora de LEONARDO NETTO, de bom gosto e sofisticação, com clássicos de rock dos anos 60.
Figurinos corroborando com o proposto cênico de MAUREEN MIRANDA. Elegantes e certeiros. MÁRCIA RUBIN cria uma direção de movimento tímida, se enquadrando aos corpos dos atores, com efetiva funcionalidade.
A iluminação de AURÉLIO DE SIMONI de pontuação precisa com a necessidade do texto, criando focos que atendem o revelar de momentos valiosos da escrita.
O espetáculo é de profunda dramaturgia, sem sentimentalismo barato, abordando os fenômenos emocionais de maneira coloquial, perante os conflitos, numa narrativa sólida e de troca com o público.
O texto possui uma capciosidade/astúcia na literatura, tornando-se, ao mesmo tempo fluido, e com uma enorme e imperiosa sensibilidade em manusear à escrita, expondo o medo, e a interferência do outro em nossas vidas. Fala do abandono, do desamparo, afetividade que nos trai, nossos poços fundos ou rasos, e nosso auto-enfrentamento em nos recuperarmos ou não. Que DRAMATURGIA! Com certeza é nela que se concentra a grandeza meritória de um trabalho tão digno.
Toda solidez do texto se reflete numa direção, também de NETTO, apontando o caminho assertivo para o desenrolar do espetáculo. Propicia uma imediata identificação do espectador com o drama em cena.
O elenco tem interpretações com retidão/airosidade nas personagens de BEATRIZ BERTU e CIRILLO LUNA. Os dois possibilitam, dão “escada”, para que JOÃO VELHO se “desnude” em cena, e vista à indumentária apoderada de nuances/matizada em curvas dramáticas que o ator imprimi, com sua reluzente atuação. Ele caminha de mãos dadas com à emoção apurada/cambiante, na medida exata que seu personagem exige. BRAVO!
“A ORDEM NATURAL DAS COISAS” notabiliza à desordem do nosso emocional e concretiza nossa capacidade de superação diante dos fatos, pessoas e interferências, mesmo no final deixando em aberto o rumo de cada personagem, com o significante foco dado à porta de entrada, vermelha.
Um trabalho teatral de expressiva e necessária visibilidade. Corram! Assistam!
Espetáculo NECESSÁRIO.
– Local: Teatro Sesc Copacabana – Sala Mezanino.
– Quinta à sábado, às 21:00 horas e domingo, às 20:00 HS, até 03/6.