UMA LITÚRGIA/TEATRAL/MUSICAL, EM ENCENAÇÃO REALISTA, REFLEXIVA E VISIONÁRIA.
RENATO MANFREDINI JUNIOR, falecido aos 36 anos, volta à cena teatral com sua biografia dramatizada, numa emblemática encenação performática, feita por BRUCE GOMLEVSKY, com dramaturgia de DANIELA PEREIRA DE CARVALHO e direção de MAURO MENDONÇA FILHO.
O cantor/compositor/visionário RENATO RUSSO, deixou um legado de vida e de obra/poesia, que foram reunidas num histórico espetáculo com produção de visível dedicação e esmero, por BIANCA DE FELIPPES. Já percorreu mais de 40 cidades, desde 2006, efetivando essa semana 500 apresentações.
Idealizado por GOMLEVSKY, a partir do livro; “RENATO RUSSO, O TROVADOR SOLITÁRIO” de ARTHUR DAPIEVE, e por vários outros tipos de pesquisas feitas. O trabalho é acompanhado ao vivo pela banda ARTE PROFANA, com 22 músicas selecionadas, discorrendo através de um show/teatral/interpretado, desde a juventude “punk” em Brasília, criação da Banda Aborto Elétrico, Legião Urbana, e sua carreira solo.
“RENATO RUSSO – O MUSICAL” é um malgrado/articulado de conexão icástico/litúrgico, de intérprete(Bruce), direção(Mendonça Filho) e verborragia(Daniela Pereira de Carvalho). Uma excelência de grande impacto na comunhão de letras(músicas), dramaturgia e direção.
Impressionante equilíbrio cênico, com apelo popular, erudito, na poesia das músicas de RUSSO, que ditava e reinvindicava através de sua vocação, inquietação, censo de justiça, igualdade, direitos pessoais e políticos, com extrema qualidade em forma de arte, e ao mesmo tempo com alcance comercial.
Uma biografia com encenação permeada de lirismo/poético, em contraponto com a revolta e anseios pessoais, onde o público se embrenha, na voz e corpo de seu intérprete, emanando uma emoção que contagia em esgar/trejeitos, como se o próprio estivesse ainda nos contemplando com sua arte e seus ideais.
A dramaturgia de DANIELA PEREIRA DE CARVALHO é calcada nas próprias músicas, que contam sua vida/obra e suas necessidades urgentes. Um texto de fruição absoluta.
A BANDA ARTE PROFANA apóia/execulta e empurra o monólogo, comungando com a teatralidade, em afinação de músicos envolvidos e entregues: ZIEL DE CASTRO, MANINHO BASS, JUBA CALIFÓRNIA e MARCOS VINNI.
Direção musical de MARCELO ALONSO NEVES em total sintonia com o teatral.
MAURO MENDONÇA FILHO, Shell em 2006, articula uma narrativa, levando à cena ao público e o público à cena. Envolvimento emocional e cumplicidade.
A indumentária de JEANE FIGUEIREDO é de coerência e conecta a atuação ao palco/platéia, e ao despojamento comprometido e assertivo da cenografia proposta por BEL LOBO e BOB NERI.
A iluminação de WAGNER PINTO tem um envolvimento com a música e interpretação de BRUCE irrefutável/categórica, colocando o trabalho no almejar de uma perfeição cênica que se notabiliza. A luz consagrando à cena, numa teatralidade onipresente.
O videografismo (RODRIGO LIMA, CILA MAC DOWEL e GUSTAVO VAZ), com sua fluidez, movimentando a poesia cênica, expondo às informações que delineiam e pontuam o monólogo em toda sua complexidade na trajetória de realidade verossímil, de uma história que marcou uma época, e que ainda nos move, nos comovendo nas dores e crises do personagem que nos identificamos.
Em evidente pesquisa de repleta onisciência da vida, da obra visionária, de questionamentos de RENATO RUSSO, Bruce Gomlevsky, leva uma plenitude ao palco, escancarando sua vocação e talento ao teatro, em interpretação de superlativa e necessária presença, em corpo, voz, alma e entrega. Um ator na exacerbação exata da obra política e pessoal, de uma poesia de contexto e atualidade indiscutível de RUSSO. Um intérprete que permeia o templo teatral de emoção absoluta, em figura humana, reverenciando e nos ajudando a não esquecermos do virtuosismo contido nas músicas, legado de um dos maiores poetas e sensibilidade artística brasileira.
“RENATO RUSSO – O MUSICAL”, é a liturgia teatral da poesia, em reverberar latente de uma arte em reflexão. É mais do que impreterível/imperiosa à presença nesse projeto cultural ousado e sensível, em nossa metamorfose individual.
Espetáculo NECESSÁRIO.