Crítica Teatral de “Vou deixar de ser feliz por medo de ficar triste?”

UM AURÍFERO/PRECIOSO ROMANTISMO DE UM “MAESTRO”/DIRETOR EM CRIATIVA/CINTILANTE ABORDAGEM CÊNICA.

Em cartaz no Shopping da Gávea, Teatro das Artes, uma comédia romântica em forma de fábula, com argumento de YURI RIBEIRO/CLAUDIA WILDBERGER, e direção/encenação de JORGE FARJALLA.

Aborda várias fases de um relacionamento amoroso, onde Andréa/PAULA BURLAMAQUI, uma mulher mais velha/experiente, vive um amor com Daniel/YURI RIBEIRO, bem mais novo do que ela. O filho de Andrea, Caio, brincalhão e piadista, não convive bem com o “irmão mais velho”, que tornou-se seu padrasto. Um embate de vida onde à arte mais uma vez é redentora.

O texto de YURI RIBEIRO, inspirado em sua história de amor real com CLAUDIA WILDBERGER, saiu de um linguajar corriqueiro para tomar ares de conto de fadas/fábula, porém, com credível, onírica, e realidade cênica envolvente e plausível. 

JORGE FARJALLA usando da metáfora ela/peixe e ele/pássaro, interfere no texto, fazendo-o caminhar com humor e leveza, no universo pouco provável de um romantismo didático/teatral. Em cena, o lúdico circense, poesias, músicas popular, e muito bom humor, que ajuda à artesanar à dramaturgia de YURI.

A encenação, com assistente de direção RAPHAELA TAFURI, de FARJALLA, é carregada e desenhada num aurífero/preciosidade com inventividade teatral, orquestrado de maneira à valorizar todo e qualquer tipo de amor, à escrita, e nos tirando do real cotidiano para nos colocar num ambiente fantasioso, com o lúdico envolvido de verdade e sentimento. Transborda uma estética de imenso bom gosto, fugindo do comum/óbvio. Um caminho de criativo jogo cênico contribuindo no desenlace mais do que satisfatório das performances/interpretações.
Com auxílio circense/picadeiro giratório e transmutante, à cenografia de JOSÉ DIAS é de grande beleza/concretizada e amalgamada na ludicidade da encenação, despertando o prazer em espectadores atentos à magia do circo/cenário da vida e da arte.

PATRICIA MAIA desenvolve com grande fluir a preparação vocal, em total sintonia com a corporal criado também pelo encenador/diretor, apoiando os atores na busca correta de seus personagens. Um manar de enlaces de belo entrosamento.

Um visagismo de essencial acabamento nas mãos de ROSA BANDEIRA, encaminhando a proposta na fábula/fantasia, com à fuga da realidade.
CLAUDIA WILDBERGER execulta com brilhantismo uma acurada/delicada produção com assessoria de DANIELLA CAVALCANTI.
O aprumado/bem direcionado/cintilante desenho de luz à cargo de JACSON INÁCIO e VLADIMIR FREIRE nos conecta diretamente com a linguagem palco/platéia, em potente/lúdico delineamento da cena. Um comovente acender e apagar de luzes pequenas, e focos grandes, em favor do amor.

Assinando também os figurinos JORGE FARJALLA interage sua ludicidade criativa à encenação romântica, artística e autoral. Indumentária de elevada visibilidade, tímido/original, caminhando para um final com um vestuário proposital dos protagonistas, fincado no real, no dia à dia. Uma sacada de “maestro” da cena.

O espetáculo concebido pelo encenador é feito de poesia cíclica de amor reverberante, impregnado em cada simbolismo existente no respirar construído por todos os artistas desse emaranhado/artesanato precioso chamado “VOU DEIXAR DE SER FELIZ POR MEDO DE FICAR TRISTE?”
O texto deliciosamente interpretado em seu lirismo poético/coloquial. À luz vinda da alusão ao circo com cintilância genial. O cenário que faz o ciclo do amor girar/transformar o impossível em realidade cheia de emoções e sentimentos. O palhaço/pierrot/músico, que execulta e impõe à mágica para os ouvidos se transformarem em corpos ávidos por alegria. Uma direção musical exata de JOÃO PAULO MENDONÇA, com às músicas de JUJUBA CANTADOR e EDUARDO SEABRA, valorizando nossa música popular.

Um trabalho onde o ciclo do amor vence naturalmente e poeticamente todos os medos, preconceitos, amarras, impedimentos desnecessários, através da poesia/sentimento desmedido, sem freios, moldado e inspirado numa relação de vida pessoal, e mergulhado no amor palpável de um peixe por um pássaro, de um homem por uma mulher, sem julgamento de valores ou preconceitos. Diz FARJALLA: “Não que o amor seja fácil, mas é NECESSÁRIO”. Os adereços de DERÔ MARTINS viabiliza toda à bela passagem cênica feita pelos atores no transmutar de personagens.

PAULA BURLAMAQUI leva à cena à maturidade de mulher empoderada numa atriz de leve/madura/feroz presença.

YURI RIBEIRO se embrenha no próprio texto com um humor doce, em sentimentos bem desenhados e verdadeiros.

JUJUBA CANTADOR empresta/doa sua experiência sólida, com intervenções lúdicas, em seu instrumento musical, que define e costura cenas e interpretações, dando a real importância do palhaço/ator/músico.

VITOR THIRÉ transcende em sua pouca idade num surpreender categórico na construção de inúmeros personagens de acabamento lapidado. Uma jovem vocação com à maturidade cênica arquitetada.
“NÃO VOU DEUXAR DE SER FELIZ POR MEDO DE FICAR TRISTE?” Nunca, jamais. Esse é o singelo e ao mesmo tempo imperioso recado que esse projeto concretiza. 

Uma ode ao amor, ao circo, à obra teatral, ao artista, à poesia de urgente necessidade, e sensibilidade exacerbada.

” NÃO QUE AMAR SEJA FÁCIL, MAS NECESSÁRIO”.

Que o romance seja à máquina que ligue nossos corações, não nos deixando que usurpem nossa vida, à arte que nos faz homens, mulheres, animais capazes de enfrentar qualquer forma de amar.

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