Crítica teatral de “A nova ordem das coisas”

UM VOCIFERAR LITÚRGICO, ENTRE O CÉU E A TERRA, O BEM E O MAL, NUM “JULGAMENTO DE VALORES” DE PERFORMANCE INTERATIVA E COMOVENTE.

A CiaFALÁCIA completando 10 anos de contribuição cultural, tendo à frente Alexandre Dantas e Claudia Ventura, instala-se nesse exato momento, no templo da Casa de Cultura Laura Alvin, Teatro Rogério Cardoso, com o espetáculo: “A NOVA ORDEM DAS COISAS”.

” No conto, o diabo acostumado a ver o desrespeito da humanidade às leis divinas, resolve facilitar tudo fundando sua própria igreja, onde os pecados tornar-se-iam norma de conduta. O diabo ganha muitos adeptos, mas, no final, descobre que seus fiéis passam a infringir suas leis para cometer bons atos, deparando-se com a eterna contradição humana”.

À cena teatral tem inspiração no conto “A igreja do diabo”, e foi montada para Laurear um dos maiores autores da língua portuguesa: MACHADO DE ASSIS. Um texto polêmico, em narrativa atualíssima, abordando questões atemporais de tradição e contradições humanas e bastante político.

Um espetáculo minimalista em vários aspectos, porém, abrangendo e reverberando com enorme força dramática, através da literatura de MACHADO DE ASSIS, dos signos teatrais expostos e com a performance e direção vociferando, provocando nossas emoções.

O maior mérito cênico vem do texto/conto, e do “berrar”, explanar, pela impetuosa e crível atuação de Alexandre Dantas, sobre os sete pecados capitais, num paradoxo político que identifica o nosso momento.

O espetáculo se coloca como uma “missa litúrgica” em diálogo direto com “Deus” e interação plena e bem “adestrada” com à platéia. O ator faz o público seu cúmplice e o “usa” com inteligência cênica, expondo desejos, tradições e contradições que nos fazem seres humanos vulneráveis e muitas vezes cruéis. Achamos que podemos tudo, e esse tudo acaba nos engolindo.

Um figurino límpido e branco, distinto, de Flávio Souza, no sujo da “transparência” do caráter humano, que soa e comunga com o metafórico cenário(Alexandre Dantas e Claudia Ventura), também límpido e branco, caminhando de mãos dadas na dubiedade. A “obscuridade” do humano em belo cênico.

Paulo Cesar Medeiros, em sua iluminação num caminho da simplicidade, em poucos e expressivos holofotes, em fundamental contribuição, enaltece uma direção convergente de Cláudia Ventura. A interatividade ator/atriz, e vice-versa, vindo de Cláudia, atravessa à cena e cristaliza/matura o trabalho. Direção/cumplicidade/companheirismo, estão imprimidos em cena.

Alexandre Dantas engole o diabo, “Deus”, à platéia e a “liturgia/missa cênica” corroborando o quanto experiente e excelente ator que todos nós o percebemos, em sua credível atuação. Alexandre Dantas/leveza cênica.

“A NOVA ORDEM DAS COISAS” ou “A IGREJA DO DIABO”, é um espetáculo calcado em verbosa literatura de MACHADO DE ASSIS, que nos mostra o céu e a terra, o bem e o mal, num “julgamento de valores” necessários.

Com certeza, o mais importante desse trabalho , é que ele traça um paralelo, paradoxo atualíssimo e fundamental com o que vivemos no hoje e agora na cidade do Rio de Janeiro, pela política vigente no momento.

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