CRÍTICA TEATRAL DO ESPETÁCULO: “A VERDADE”, por: Francis Fachetti. ESPETACULO NECESSARIO.COM.BR

A “NECESSÁRIA” ALQUIMIA DA MENTIRA PARA EXERCER UMA “SALUTAR” EGOLATRIA”. 

FLORIAN ZELLER, 2017, Londres. 

Uma dialética discursão racional e “irracional”, de argumentos interativos, em penetrante escrita. 

“A VERDADE” está em cartaz no luxuoso Teatro Maison de France, com direção acirrada de Marcus Alvisi e assistência de Tiago Fonseca. 

No elenco: Diogo Vilela, Cláudia Ventura, Carolina Gonzalez e Paulo Trajano. 
Direção de produção: Marília Milanez. 

Fala sobre relações pessoais na vida conjugal. Dois casais que vão revelando pequenas e grandes hipocrisias, inverdades e omissões, numa requintada complexidade. 

Comédia de grande poder de comunicação, em distinto humor. 
A palavra potencializada em contexto crítico social. 

Personagens envolvidos em abismal e jocoso enredamento, de identificação imediata com o público. 

O espetáculo se coloca em permanente excitação cênica, num domínio frenético, tenso, bem humorado, em conversa absoluta com o espectador, matizado na ludicidade, de precioso controle dramatúrgico, evidenciando à essência do implícito e do explícito da verdade/mentira ou mentira/verdade. Uma ironia cênica em ágil desenrolar. 

O tradutor, Silvio Albuquerque, catapultou o texto em aguda fluidez. Um texto que abrange em comédia francesa,  uma universalidade, formatada de esperteza, equívocos, deslealdade velada, num jogo fincado na egolatria. 

A trama desenreda de maneira a escancarar os comportamentos excessivos em mentiras deslavadas, num delicioso andamento teatral. Uma alquimia necessária/cênica bem urdida. 

Marcus Alvisi coloca o texto em cena no corpo dos atores comungando com extremo êxito direcional. Uma direção dinâmica, num acelerado fluente e explicitando as características dos personagens contidos no enredo. 

Palavras, gestos, vozes, onde o físico e o psicológico se confluem nos trejeitos e expressões efetivas e afetivas, em envolvente trilha sonora sofisticada; Alvisi e Tiago Fonseca. 

A cenografia de Ronald Teixeira e Guilherme Reis se dispõe em completa harmonia nos cinco ambientes da trama, sendo de total eficiência e muito bem enaltecida pela iluminação determinante em potente onipresença do Mestre  Maneco Quinderé, com assistência de Russinho. Figurinos totalmente adequados às cenas por Ronald Teixeira. 

Um elenco selecionado dialogando numa comédia de linhagem verbosa e capciosa, em subsumida execução de uma dramaturgia, onde, à desenvoltura, experiência e o amalgamar são imprescindíveis e obrigatórios. 

Diogo Vilela é o maquinista que eleva à cena, o texto e o espetáculo, com sua inefável vocação. Um esgar cênico e domínio técnico e das palavras , com expressões notórias e hilariantes. 

Claudia Ventura, com naturalidade que lhe é peculiar, e realismo, impressiona compondo uma personagem numa tranquilidade nervosa arrebatadora. Faz um lindo contraponto com Carolina Gonzalez que atua em urgência e tensão adequada ao desenlace das armações. 

O contraponto entre as duas é aparente em urdimento experiente e belo. 
Paulo Trajano confirma seu talento em cena no tamanho da importância e do desenvolver de seu personagem, contribuindo, e muito, para o êxito. 
“A VERDADE” de FLORIAN ZELLER é uma grande mentira ou a mentira é uma grande verdade? Confiram!

Espelha à sociedade universal em relações pessoais enganosas, equivocadas, ególatras, porém, exercida numa alquimia “salutar” do registro humano. Uma delícia capciosa, cênica e dramatúrgica. 

“Texto revela-se em cena como uma frase de CECÍLIA MEIRELES: Palavras, que estranha potência a nossa”. 

Espetáculo NECESSÁRIO! 

– Serviço: 

  • Teatro Maison de France 
  • De: 15/03 a 26/05. 
  • Quinta feira: 17:30 horas. 
  • Sexta e sábado: 19:30 horas. 
  • Domingo: 18:30 horas. 
  • Duração: 80 minutos. 
Show CommentsClose Comments

Leave a comment