OPRESSORES E OPRIMIDOS NUMA PERFORMANCE LÍRICA, TEXTUAL E FÍSICA, EM REFINADA CENA TEATRAL.
Deslocamentos de milhões de pessoas/refugiados em diferentes épocas num fluxo migratório, em cena teatral alentada num refinado trabalho.
Necessário espetáculo em ópera performática, de lirismo dramatúrgico, numa fisicalidade densa e esmiuçada, executada com apuro e preciosos músicos em direta conexão cênica.
Quando os papéis de opressores e oprimidos são assumidos, em refúgio permanente, nos obrigando ao abandono ou a lutar, respirar ou sufocar, bater ou ser abatido, sorrir em meio à luta entre lágrimas que precisam serem secadas e transmutadas.
Geraldo Carneiro expõe fatos absolutamente reais em seu meritório poema-libreto, numa linguagem cênica ostensiva criada na delicadeza contundente do aporte direcional de Duda Maia, muito bem respaldado nas canções de Beto Villares e arranjos definidores da orquestração de Armando Lôbo.
O espetáculo é embalado numa sonoridade musical executada ao vivo, por músicos(Cristiano Alves e Cesar Bonan, David Chew e Daniel Silva, Rodrigo Foti e Pedro Moita, em austera expressividade, conduzido numa imersão confluída no contexto/libreto migratório. Um imiscuir lírico instrumental totalmente pertinente.
Uma narrativa imaginária credível em plena agudeza performática e textual nas atuações de Gabriela Geluda, agregando afiadíssima voz de soprano, e Gabriela Luiz, numa entrega corporal e emocional que penetra os espectadores.
Um profundo argumentar de linguagem atemporal entre corpo, fala, música e arte visual de plasticidade depurada e contextualizada no cenário de Julia Deccache, amparado numa realçada iluminação de Renato Machado.
“Mais uma vez à arte nos fazendo respirar”. Nos obrigando à luta sem deixar ser abatido. Luta entre lágrimas que precisam serem transmutadas.
Necessidade em destacar parte do texto/poema de REFUGIADOS:
UM PÁSSARO A PROCURA DO SOL
UM LUGAR-PROMESSA ALÉM DO MAR
UM SONHAR COM UMA TERRA ONDE HAJA AR
UM AR MAIOR DO QUE O MAR QUE SE ATRAVESSA
UM TEMPO ALÉM DO MAR ALÉM DO VENTO
UM HORIZONTE PARA CHAMAR DE SEU
PARA CHAMAR DE CÉU
UM CÉU QUE NÃO PRECISA SER ALÉM
UM CÉU SÓ CÉU.