CRÍTICA TEATRAL do espetáculo: “EU QUEM EU SOMOS”. Por: Francis Fachetti. ESPETACULONECESSARIO.COM.BR

– Espetáculo:

“EU QUEM
                   EU SOMOS”

EXCITAÇÃO CÊNICA EM BELO ARCABOUÇO.

Numa intimista e aconchegante sala do Teatro Solar de Botafogo, o Coletivo Cosmogônico faz sua quarta incursão teatral com o espetáculo “EU QUEM EU SOMOS”.

Direção João Bernardo Caldeira, num monólogo de catarse por Ricardo Baggio.

O espetáculo caminha pelas diversas crises de um país e de quem está inserido nele. “Exastivamente” político e contestador em simbologias e metáforas. Uma pesquisa que coloca a frente os enfrentamentos, ações psicofísica, com base em feed de notícias, cibernéticos, inspirados nos impulsos cênicos da Maestra diretora Celina Sodré, Jerzy Grotowski e Stanislavski.

Uma linguagem dramática construída na desconstrução vigente, calamitosa.

A dramaturgia de Ricardo Baggio e João Bernardo Caldeira coloca em cena discussões atuais, de gênero, polarizações políticas, privilégios e extremismos, afirmando, e também, questionando o todo.

No meu olhar a dramaturgia peca em alguns excessos. Discussos longos desnecessários e fragmentações repetitivas e até cansativas. Alguns fragmentos longos polarizados que levam um trabalho de Belo arcabouço e de evidente pesquisa, a morosidade, esfriamento em alguns momentos, e quase tirando o fôlego/vigor da atuação marcante de Baggio. O nível de reflexão dramatúrgico poderia ser mais sucinto em palavras, levando à dialógica a um estágio muito mais apreciável, e de fruição/desfrute.

Os fragmentos discutidos são de méritos, portanto, extensos/arrastados, para uma intimista sala que reverbera ainda mais dentro do espectador.
Uma dramaturgia necessária, porém, prolongada e perdendo e deixando o público perder, em alguns momentos, repito.

Figurino corrobora com o todo, de Bernardo Caldeira, sendo frugal, prático na cena, numa desenvolta e cúmplice preparação corporal feita por Caroline Ozório. Lindo ajustamento corporal assimilado por Baggio.
Gabriel Prieto cria uma iluminação de esteio imperativo para o trabalho. Ele pontua cada intensão corporal e emocional do ator fazendo um desenho de luz que fala por si, e respalda toda a fala e corpo da atuação. Bravíssimo!

O mesmo acontece na poética trilha sonora de Pedro Botafogo. A elegância que penetra os ouvidos numa sensibilidade musical ímpar.
Prieto e Botafogo fazem, dão à cena uma víscera artesanal diferenciada.
O aporte da direção de João Bernardo Caldeira é de delicadeza brutal minuciosa. Cuidados cênicos aparentes e importantes no encaminhamento relevante de um trabalho de acabamentos e cumplicidade e camaradagem.

Atuar e interpretar é um ofício árduo muito bem sucedido por Baggio, mesmo com os pecados elencados por mim, pela dramaturgia. 
Os neurônios e os músculos de Ricardo Baggio se excitam ao extremo em abalos, sacudelas, choques existenciais vividos de todos os cantos. Uma entrega linda e necessária de ver, envolver, formando um esqueleto interpretativo e receptivo.

“EU QUEM EU SOMOS” tem alongada dramaturgia em algumas polarizações, mas possui uma cena teatral bélica/aguerrida, de afluência com os signos cênicos esmerados, em imiscuídas discussões irrefutáveis.
Um ofício, uma missão que precisa ser conferida em seus extremismos
de subjetividades que estão lá, esperando para serem refletidos.
NECESSÁRIO, sim.

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1 Comment

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    Luiz Carlos Cirino
    Posted 13/05/2019 at 11:28 0Likes

    Linda crítica, Francis! Vou assistir!

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