Sucinta Crítica Teatral do espetáculo: “BILLDOG 2”

“BILLDOG 2 – O Monstro dentro dele”.

UMA LINGUAGEM CÊNICA NADA HERMÉTICA, EM CENA CONSTRUÍDA ARTESANALMENTE E COM CLAREZA, NUM DESTRINCHAR DE EXPRESSIVA ENTREGA.

Em cartaz no sempre agradável CCBB-RJ, de quarta à domingo, até 23/02, a parte 2 do espetáculo “BILLDOG”.

Com texto do inglês JOE BONE e adaptação e tradução de Gustavo Rodrigues.

Direção em quatro mãos por Gustavo Rodrigues e Joe Bone, com supervisão artística de Guilherme Leme Garcia.

Intérprete Gustavo Rodrigues, e direção de produção cuidadosa de Monique Franco, apoiada por Luan Victor.

O mercenário Billdog está de volta, depois de uma muito bem sucedida empreitada teatral, numa envolvente e muito bem destrinchada trama policial existencial. Com referências em filmes Noir e nas culturas dos anos 70 e 80.

“Para um assassino de aluguel, a falha no cumprimento de uma missão criminosa pode inspirar uma encorpada crise existencial seguida por consultas a um psiquiatra”. Esse é o mote de “BILLDOG 2”.

O texto de JOE BONE é engatilhado, e se faz ainda mais perspicaz na desenvoltura da atuação, numa adaptação bastante clara com subjetividade imaginária para o espectador, que o torna ainda mais interessante, feita também pelo ator.

A supervisão artística de Guilherme Leme Garcia é com total fruição e liberdade.

O espetáculo é um deleite para o público no seu fluir com abundante entrosamento do que se vê e percebe em cena. O entranhar dos signos cênicos, com simplicidade, é o sustentáculo para uma interpretação inapagável de Gustavo Rodrigues.

Tudo se encaixa e faz atear as passagens cênicas num provocar/excitar de fremente elaboração.

Todos estão a favor do ator, não desmerecendo nem um pouco o portentoso trabalho daqueles que os rodeia.

A alcateia se converge e faz acontecer.

Uma direção no aporte de Gustavo Rodrigues e Joe Bone voltada propositalmente para à atuação, que brinca num lindo jogo persecutório consigo mesmo, e se faz austera em momentos de irrupção limítrofes.

Um cenário e figurino neutro, assertivo, dando ainda mais autonomia ao intérprete. 

Figurino por Reinaldo Patrício.

A preparação corporal de Brisa Caleri, que eu prefiro definir como direção de movimento, é de extrema particularidade, encoleirando-se lindamente com o corpo do ator.

O músico e a direção musical de Tauã de Lorena, com influência das bandas THE DOOR, LEGIÃO URBANA, BLITZ, CAZUZA, aporta em seu compasso uma musicalidade feérica, taxativa, nos fazendo respirar uma brasilidade que nos orgulha e muito.

Convidado especial: Guiga Fonseca.

Cada personagem (47), vividos em átimos límpidos por Gustavo, e elucidado na inoculada e brilhante iluminação de Aurélio de Simoni, nos deixando perceber sua habilidosa e perfurante experiência.

O que dizer de Gustavo Rodrigues?!

Bravíssimo!!!

Idealizador, adapta e traduz o texto, “devora” 47 personagens em átimos de cintilância interpretativa, e ainda se reveste de inúmeros efeitos sonoros que pontuam a história.

Gustavo se encontra com o fidedigno de seu talento em artesanal composição cênica, e como eu disse acima no enunciado;

COM CLAREZA, NUM DESTRINCHAR DE EXPRESSIVA ENTREGA.

“Ele ateia fogo à água”; como diz a célebre cantora ADELE.

Precisão, superação e resistência, vindos do influenciar paterno, que transcrevo aqui, em forma de dedicatória, contida no release, para seu pai:

“Dedico esse espetáculo a meu pai Guilherme Rodrigues, um artesão gráfico que construiu nossa vida entre álbuns de arte, livros e gravuras. Você me deu discernimento, responsabilidade e critério para embarcar no universo artístico com dignidade e ética”.

Sim, esse é o espetáculo incontestável que  todos devem presenciar; uma ficcionalização necessária:

“BILLDOG 2”.

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