Crítica Teatral do espetáculo: “A GOLONDRINA”

A ETÉREA MÚSICA, A GOLONDRINA/ANDORINHA, DISSEMINA A ALTERIDADE, NOS COLOCANDO NO LUGAR, E NAS EMOÇÕES DO OUTRO. O TONANTE DA VOZ E NA LETRA MUSICAL ENCORAJANDO A REFLEXÃO.

O dramaturgo catalão inoculou o fictício encontro sobre liberdade, diversidade, aceitação, na profundidade das manifestações do mundo interior.

Texto com mote no ataque terrorista homofóbico no bar Pulse, Orlando, EUA.

O tocante encontro de Ramón(Luciano Andrey), sobrevivente do ataque, com Amélia(Tânia Bondezan), uma Maestra de canto, submersa em seu amargor, que está ligado ao trágico acontecimento.

As personagens revelam detalhes de sua história em revelações que se entrelaçam num casto/ilibado enquadramento.

A produção é de Ronaldo Diaféria, Tânia Bondezan e Odilon Wagner, com o aporte direcional de Gabriel Fontes Paiva.

A dramaturgia matizada no surpreender emocional de ressentimentos dogmáticos, muitas vezes impiedoso, cruel.

O melodramático necessário de um extrapolar já conhecido de acontecimentos, porém, com uma verdade cênica que transcende o exagero do melodrama.

Diálogos que vão se aproximando da empatia e da aceitação, é o que importa nesta escrita ostensiva existencial. Personagens complexos e bem descortinados na cena.

Pesam os elementos melodramáticos, mas arrebata a metatextualidade reflexiva do texto.

A escrita é tangível, corpórea, colérica.

Espanhóis e argentinos não tem medo do dramalhão, por isso, são magistrais em suas conjecturas e criações. É o espontâneo do melodrama nos levando lindamente às lágrimas.

A dramaturgia de GUILLEM CLUA é um aforismo que delonga em loquaz temperamento de empatia, navegando na coragem sem piedade.

Um exercício de aproximação da diversidade, da aceitação, da alteridade.

A tradução de Tânia Bondezan é de fácil acepção.

O espetáculo flui em arcabouço de competência, esboçado pela direção e a escrita, nos colocando frente a frente à situações desenvoltas, espirituosas, com humor fino, em vários momentos, apesar do denso das revelações.

Uma aclimatação cênica respaldada em ajustamentos dos intérpretes, com ritmo totalmente ditado pelo palpável que as atuações cheias de tessituras nos oferecem.

Um espetáculo de contextura entrelaçada fio a fio em solilóquios vertiginosos e embasados.

Como diz o austríaco do modernismo europeu Robert Musil:

“A arte é um ponto intermediário entre o conceituar e o concretizar”.

Um trabalho que se desenvolve com compleição; humor e disposição de espírito.

Figurinos realistas e cenografia muito bem fundamentada por Fábio Namatame, onde a limpidez cenográfica permite um aclarar que ampara uma belíssima e decisiva iluminação no desenho de luz de André Prado e Gabriel Fontes Paiva.

A trilha sonora com a música mexicana, A GOLONDRINA, nas mãos de Luísa Maita, é um etéreo dissiminar do grande mote do espetáculo; a alteridade.

As músicas”Flor de ir embora” de Fátima Guedes e “A andorinha”(letra de GUILLEM CLUA), faz todo o trabalho se amalgamar e o deixa perpétuo. Um momento de plena delicadeza, erudito, com esteio. Lindo!

A encenação/direção de Gabriel Fontes Paiva aposta todo seu aporte no texto e na presença, força dramática e carisma dos atores. 

Uma direção de retidão, calcada no entranhamento dos intérpretes que se completam, apesar de trabalharem com forças e o evanescer de opiniões contrárias, rarefazendo a dramaticidade de cada um, desembrulhando o que de mais precioso o trabalho procura: A empatia.

Um exercício de encenador que sabe imiscuir o híbrido, e tornando-o em acuidade através de sua habilidosa experiência e sensibilidade.

Tânia Bondezan e Luciano Andrey são portadores de ambivalências opostas, acirradas, e que nos transmiti uma enorme empatia(bingo total para o espetáculo).

Não existe volatilidade em suas atuações, há sim, uma lisura, uma equidade cênica comovente.

Tânia Bondezan em uma trama perfeita de corpo e emoções, alternando nuances que nos impacta na complexidade de sua personagem. Ela vai do céu ao inferno, ou melhor, do inferno ao céu, onde ela termina. 

Bravo!

Luciano Andrey em seu jeito carismático e presença tímida e absoluta, naturaliza a narrativa e torna seus registros como ator, crível, num apaixonadíssimo lirismo desenfreado.

Bravo!

Os dois são engolfados, mergulhados, diletos em suas presenças envolventes.

“A GOLONDRINA” é um espetáculo que nos conduz com sua música etérea, uma andorinha que infiltra a empatia, a alteridade.

Como diz FREDERICO GARCIA LORCA:

“O teatro é a poesia que se levanta do livro e se faz carne, corpo, sangue, alma, nervos”.

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