“Entrevistas NECESSÁRIAS”, projeto que abarca e homenageia os necessários artistas – teatro, tv e cinema – e o mundo da dança em geral, coloca em seu palco mais uma guerreira entregue ao ofício da arte flamenca. Em foco: a música e a dança flamenca, através da equidade em aparente indumentária do talento e empatia.

Apresento a vocês a feérica e imbricada mulher que leva a cena seu temperamento – através de suas funções artísticas: Bailaora Flamenca; Figurinista; Coreógrafa; Diretora e mentora da ALMA ANDALUZA CIA e STUDIO DE DANÇA DO ES.

A carioca/capixaba, assim como eu, capixaba/carioca; iremos desvestir, abrir sua alma em seus estonteantes figurinos e em seu flamenco viripotente e sinuoso: GISELE FERREIRA.

GISELE FERREIRA.

Formada em Moda; Figurinos são outra paixão ­- todos os figurinos dos seus espetáculos são criados e muitas vezes confeccionados por ela.

Terapeuta integrativa usando as técnicas Thetaheling, Alquimia e Florais de Saint Germain, o que a levou nos últimos anos a ver a dança de uma perspectiva bem diferente.

Filha de pai militar e mãe dona de casa,foi criada em finais da ditadura dentro de uma Vila Militar,agradeçendo a oportunidade que seus pais deram de conhecer a arte e seguir profissionalmente esse caminho, o que não seria muito comum para esse perfil de família.

A SINUOSIDADE FLAMENCA DE GISELE FERREIRA.

Nos anos 2000 mudou-se para o Espírito Santo onde iniciou o trabalho de flamenco do zero. Após 4 anos nasce a Alma Andaluza Cia de Danza.

Paralelo a esse projeto criou a Mostra de Danças PopularES, dando um espaço maior para as manifestações das danças populares do Espírito Santo – esse ano fizemos a IV edição totalmente online.

ESPETÁCULO: “MARIA MULHER”. GISELE FERREIRA E VINICIUS DUARTE.

EM CENA COM ALLAN HARBAS E SUA GUITARRA FLAMENCA NO ESPETÁCULO: “QUADROS FLAMENCOS”.

EM CENA NO ESPETÁCULO: “MARIA MULHER” – COM O CANTAOR: DIEGO ZARCON.

EM CENA NO ESPETÁCULO: “ESSÊNCIA FLAMENCA”.

ENTRANDO NA – ENTREVISTA NECESSÁRIA – COM:

GISELE FERREIRA.

F.FACHETTI – Como funciona, e o que é a Mostra de Danças Populares do Espírito Santo (ES), que teve sua IV edição online?

GISELE FERREIRA – A Mostra de Danças Populares ES , nasceu da necessidade de um espaço e visibilidade maior para as danças populares, ela até hoje foi um encontro amador de escolas que tinham como carro chefe essas danças.

Com a pandemia vieram as leis de incentivo que possibilitaram um sonho antigo, fazer um festival que pudesse pagar cachê aos bailarinos profissionais e assim foi feito esse projeto. 30 bailarinos profissionais foram selecionados para mostrar seus trabalhos e ganhando por isso!

A edição de 2021 foi totalmente online, e além das 3 galas também foram oferecidas 6 oficinas online com profissionais de Vila Velha/Es.

Foi uma experiência incrível, que esperamos repetir no próximo ano! O projeto é fazer uma Mostra com profissionais e uma segunda edição com amadores.

F.FACHETTI – Defina e descortine com minúcias quem é Gisele Ferreira – Diretora e Coreógrafa. Seu proceso de trabalho…

GISELE FERREIRA – Sou apaixonada pelo que faço! Comecei a fazer ballet aos 7 anos e a dar aula como assistente aos 16. Descobri o flamenco aos 14.

Amo dançar, pois, é onde exponho minha alma, e me alimento ensinando. Penso que sou uma professora que ama dançar, meus alunos são minha vida – como trabalho a muito tempo eles também são minha escola de vida é uma troca constante.

Outro dia conversando com minha irmã nos lembramos que eu sempre montava um musicalcom os primos se apresentarem para nossos paisna noite de Natal! A gente marcava ensaio, fazio o roteiro e montávamos os figurinos! Eu era a mais velha e coordenava todos eles, devia ter uns 9/10 anos!!! Nós rimos muito lembrando disso, já estava treinando para a profissão!

Nesses trinta anos de profissão descobri muitas facetas na dança, hoje tenho uma visão mais global, hoje meu processo de criação é bem fluido, penso que a dança precisa ser prazerosa, sair do lugar egoico para um lugar mais coletivo, um lugar que toque o coração e alma, não só para quem assiste , mas para quem dança também.

ALMA ANDALUZA E CONVIDADOS.

CONFRATERNIZAÇÃO FLAMENCA.

ESPETÁCULO: “QUADROS FLAMENCOS”.

GISELE E SUAS CATANHOLAS.

GISELE FERREIRA NO ESPETÁCULO: “ESSÊNCIA FLAMENCA”.

F.FACHETTI – Sua formação em Moda te empoderou e te fez apta a criar apaixonadamente a indumentária, ousando a expor em seus vários trabalhos/espetáculos. Conte essa experiência com detalhes. Torne aqui conhecido essa mulher/Gisele na modelagem cênica. Aproveite e cite para nós dois desses espetáculos com sua vertente nos figurinos.

GISELE FERREIRA – Aprendi a costurar ficando embaixo da máquina de costura enquanto minha avó Mirian costurava, e ficava cortando roupinhas para minhas bonecas com a orientação dela.

Lá em casa ela sempre fazia nossas roupas para apresentações na escola, festa junina, aniversários. Quando fui ficando adolescente comecei fazendo roupas para mim e para minha irmã.

Quando fui fazer aula na casa de Espanha, a professora fazia todos os figurinos da escola, claro como eu costurava, fui me chegando e ela me ensinou como se cortavam as saias flamencas com muitos babados godês! Acabei assim sempre fazendo os figurinos das coreografias que montava nas academias que trabalhava. Então, o meu caminho foi inverso, fiz faculdade de Moda – pois já trabalhava fazendo figurinos. Mas, com certeza a faculdade me deu muito mais horizontes e enriqueceu meus conhecimentos. Eu amo sentar na máquina de costura e construir figurinos, é como montar uma coreografia.

ESPETÁCULO: “MOMENTOS”. FIGURINOS: GISELE FERREIRA.

”MOMENTOS” – FIGURINOS: GISELE FERREIRA, BARBARA PAIVA E MICHELE FREIRE.

ESPETÁCULO: “EL FLAMENCO GRITA O QUE MI ALMA CALLA” – FIGURINOS: GISELE FERREIRA.

F.FACHETTI – Explique suas técnicas em Terapia Integrativa, fazendo-a ver a dança com outro olhar. Que olhar é esse?

GISELE FERREIRA – Nos últimos 5 anos me formei teraputa , nós professores sempre brincamos que também somos terapeutas, sempre ouvindo nossos alunos, então resolvi me profissionalizar!

Sou Thetahealer, Terapeuta Floral e Alquimista e isso me traz uma visão bem diferenciada do ensinar e do dançar, vendo a dança ( sem precisar falar diretamente sobre isso nas aulas) como um grande processo curativo, e como meu público é 90% de mulheres, é um grande processo curativo, regenerdor e reconector do feminino em um lugar muito mais empoderado e saudável.

ESPETÁCULO: “QUADROS FLAMENCOS” – ALMA ANDALUZA.

ESPETÁCULO: “QUADROS FLAMENCOS”.

TABLADO FLAMENCO EM COMEMORAÇÃO AOS 15 ANOS DA ALMA ANDALUZA CIA DE DANÇA.

É o que tento ensinar nas minhas aulas e trabalhos – um olhar mais amoroso e acolhedor – de entender que o que faço é o melhor que posso neste momento, e se quiser mudar algo que me incomoda tenho que trabalhar para essa mudança mas de maneira leve, fluida sem cobranças, com autoresponsabilidade.

ESPETÁCULO: “COLORES”.

ESPETÁCULO: “ESSÊNCIA FLAMENCA”.

ESPETÁCULO: COM – ALMA ANDALUZA CIA DE DANZA.

ESPETÁCULO: COM – ALMA ANDALUZA CIA DE DANZA.

BAILAORAS: ANDREIA VARGAS, GISELE FERREIRA E IVNA MESSINA.

ESPETÁCULO: “RECORTES FLAMENCOS”.

ESPETÁCULO: “EL FLAMENCO GRITA O QUE MI ALMA CALLA”. COM OS MÚSICOS ALLAN HARBAS E ALEJO GONZALEZ.

F.FACHETTI – O seu trilhar circunstancial no flamenco começa com Lúcia Caruso. Quem foi essa dileta pessoa? Conte um pouco sobre ela e do seu início nessa complexa arte que eu defino como: A descoberta da AutoEstima na vida e nos palcos.

GISELE FERREIRA– Lúcia Caruso era integrante do Grupo Los Romeros, dirigido por Alberto Turina da Casa de España do RJ, e começou a dar aulas de flamenco na academia que minha irmã fazia ballet e eu fui convidada a conhecer, e claro me apaixonei.

Comecei a fazer aula com a Lúcia com 13 para 14 anos, e aos 16 me tornei sua assistente, aqui já tinha em mente que queria me profissionalizar e trabalhar ensaiando e dançando – com issso a Lúcia me incentivou a procurar a Casa de España para me especializar.

Era uma viajem até a Casa de España , pois sou do subúrbio do RJ, era um trajeto de duas hora para ir e duas para voltar, duas vezes por semana. Aqui se abria um mundo muito novo pra mim.

BALLET CASA DE ESPANHA.

F.FACHETTI – Casa de Espanha – Mabel Martin e Alberto Turina – relate esse contato/aprendizado nesse flamenco tradicional e exemplifique com pelo menos três trabalhos/espetáculos, durante os 4 anos que esteve lá.

GISELE FERREIRA – Lembro que quando fazia aula com a Lúcia ( em Cascadura, suburbio do RJ), escrevi no meu diário que um dia faria parte do Grupo Los Romeros. E meu sonho foi realizado quando fui convidada a fazer parte do Grupo por Alberto Turina, e logo depois também foi criado o Ballet da Casa De España do Rj – dirigido por Mabel Martin , do qual também fui integrante.

Na Casa de España tínhamos aulas de castanholas, flamenco , jota, escola bolera, dança espanhola.

Hoje, muito mais do que na época, tenho a dimensão da riqueza de informações que a Mabel e o Alberto nos davam. Lembro que havia épocas que eu entrava na Casa de España as 14:00 e saía as 22:00.

Trabalhos:

– Espanha Canta y Danza

– Hispanidad

– Show Flamenco Grupo Los Romeros

ESPETÁCULO: “ESPAÑA CANTA Y DANZA” – COM: PEDRO DE ANA E GISELE FERREIRA. BALLET CASA DE ESPANHA, RJ.

F.FACHETTI – Esteve como professora e coreógrafa trabalhando nos grupos/escolas: Escola de Dança Marta Bastos; Grupo Expressão; Grupo Arte Flamenca; Escola de Dança Corpus. Discorra um pouco sobre sua presença nessas instituições, e se puder, coloque para nós um trabalho/espetáculo efetivado em cada uma delas.

GISELE FERREIRA – Sempre trabalhei nas escolas de dança do subúrbio de baixada, sei como era desafiador a arte e a informação de qualidade chegar nesses locais.

Tive a sorte de trabalhar com pessoas maravilhosas – que assim como eu tivemos que nos deslocarem grandes distâncias para ter acesso a mais conhecimentos.

Trabalhei 7 anos com a Marta Bastos e fizemos lindos espetáculos. Com esse grupo íamos todos os anos para os Grandes Festivais de Dança Joinville, Uberlândia, Tápias(RJ).

Com o Grupo Espressão( 1º Grupo profissional de dança de Nova Iguaçu, com a direção de Tereza Petsold), também realizei trabalhos incríveis e também obtivemos algumas premiações em Joinville, inclusive no ano de 2001, a decoração da cidade era uma foto de uma coreografia minha premiada no ano anterior.

Com a Escola de Dança Corpus foi realizado esse mesmo trabalho com um grupo de adolescentes. Então nos anos 90 até 2000, eu trabalhava muito levando flamenco para os grandes festivais de dança.

ESCOLAS:

– Marta Bastos – Soleá por Bulerias ( com bata de cola) , Seguiriya, Cuadro Flamenco.

ESCOLA DE DANÇA MARTA BASTOS: COREOGRAFIA: “SOLEÁ POR BULERIAS” – FESTIVAL DE JOINVILLE.

ESCOLA DE DANÇA MARTA BASTOS: COREOGRAFIA: “SEGUIRIYA” – EM JOINVILLE.

– Grupo Expressão – Gitanos Andaluces.

GRUPO EXPRESSÃO – NOVA IGUAÇU. COREOGRAFIA: “GITANOS ANDALUCES”, EM JOINVILLE.

– Escola de Dança Corpus – Sevillanas (Não Achei nehuma foto).

F.FACHETTI – “Em um Estado que não possui músicos flamencos”, nasceu a Alma Andaluza Cia de Danza. Nos conte desses obstáculos técnicos/profissionais e apresente para nós os pormenores dessa Cia Flamenca que você comanda, concebe trabalhos artísticos e educa, através de uma arte que nos seduz, e como já disse, nos presenteia com uma de nossas maiores armas – AutoEstima.

GISELE FERREIRA – A Alma Andaluza Cia de Danza nasceu com o apoio de Monica Tenore ( escola de ballet onde trabalhei por 11 anos), aos 4 anos de trabalho com um grupo de adolescentes.

Quando cheguei aqui no estado ninguém tinha idéia do que era realmente flamenco.Tive que iniciar um trabalho do zero.

No início todas as montagens eram com música mecânica, somente em 2006 participamos do Festival Internacional de Flamenco de São José dos Campos com música ao Vivo, com uma coreografia de Diego Zarcón.

GISELE FERREIRA ACOMPANHADA DOS MÚSICOS: ALEJO GONZALEZ, ANA BAYER E DIEGO ZARCON.

Com o incentivo do Diego comecei a fazer montagens para música ao vivo, mas sempre trazendo músicos do RJ ou SP, que sempre tiveram muita paciência no processo, pois o ensaio com música era sempre um ou dois dias antes dos espetáculos!

Esse exércício foi de muito aprendizado e de muitas trocas com os músicos. Meus parceiros de sempre com os quais aprendo muito ( Diego, que foi meu aluno de dança na escola de dança Marta Bastos, Allan Harbas, Luciano Câmara, Ana Bayer, Alejo Gonzalez ,Georgia Câmara e Letícia Malvares) – foram imprescindíveis no nosso crescimento artístico. Em 2011 a Alma Andaluza ganha sua sede própria onde o trabalho se torna cada vez mais flamenco, com uma identidade própria.

“TABLADO DEL ALMA” – SESC 2016.

GISELE FERREIRA ACOMPANHADA DOS MÚSICOS: ALLAN HARBAS, DIEGO ZARCON E A BAILARINA IVNA MESSINA.

GISELE FERREIRA ACOMPANHADA DOS MÚSICOS: ALEJO GONZALEZ, ANA BAYER E ALLAN HARBAS.

F.FACHETTI – Idealizadora e produtorado primeiro Festival de Arte Flamenco do ES, onde eu já pude estar presente, conhecer, aprender, nesse necessário Festival. Fez parcerias imprescindíveis para a continuidade desse projeto – que já teve 4 edições. Torne conhecido tudo desse Festival internacional, essas parcerias e quando teremos mais uma edição.

GISELE FERREIRA – Com o crescimento do flamenco no estado senti a necessidade de trazer espetáculos e mais informação para meus alunos e público local. Com isso fiz o primeiro festival reunindo todos os meus alunos.

No Segundo ano já trouxemos convidados nacionais , professores do Rj, SP, BH, POA. Na terceira edição fizemos parceria com o Conexão Espanha e o Toca Madeira, trazendo nossa primeira atração internacional, Pol Vaquero, o festival teve cursos nacionais e internacional; Mostra de grupos amadores e Gala internacional com corpo de baile nacional.

Na quarta edição com a parceria do conexão espanha ( Allan Harbas e Renata Chauviere) trouxemos o espetáculo UM POQUITO POR ORTEGA, com Domingo Ortega e Inmacilada Ortega, o espetáculo tinha corpo de baile nacional e músicos internacionais e nacionais juntos no mesmo palco, foi um grande sonho realizado!! Lindo de ver! Um sucesso de público!

Os dois últimos festivais tiveram patrocínio de leis de incentivo, por isso foram viabilizados. Gostaria muito de fazer novas edições, mas nossa economia e o valor do euro não estão ajudando muito. Espero que em breve possamos viabilizar uma nova edição do Festival!

ESPETÁCULO: “UM OLHAR – ALMA ANDALUZA”. BAILARINAS: ANDREIA VARGAS, GISELE FERREIRA E IVNA MESSINA.

ESPETÁCULO: “MARIA MULHER” – GISELE FERREIRA E DIEGO ZARCON.

FESTIVAL INTERNACIONAL DE LONDRINA.

FESTIVAL INTERNACIONAL DE LONDRINA.