“RETROSPECTIVA”: Deo Garcez – Ator de Teatro e Tv. Por Francis Fachetti

Por Francis Fachetti.

O Blog/Site iniciou a temporada de retrospectiva das inúmeras (78) homenagens feitas aos artistas das artes cênicas em geral – teatro, dança, cinema…

O retrospecto da vez é com um ator que submerge sem medo e com muito talento no ofício das artes cênicas – corroborando para que as obras literárias – sejam na tv ou no teatro nos atravesse e reverbere no melhor do cenário cultural, com sua enorme experiência nessas duas linguagens.

Antes de reportar sua retrospectiva – Entrevista NECESSÁRIA – que é um projeto que começou junto com a pandemia e está homenageando inúmeros artistasdo universo teatral e da dança com suas trajetórias irrefutáveis; um documento histórico para as artes em geral, através dos trabalhos de artistas que locupletam esse país.

Deo Garcez nos dá um panorama atual de seus recentes trabalhos e nos presenteia com mais uma novela que participará neste momento.

Uma breve atualização e mais abaixo entraremos em seu retrospecto feito a 01 ano e meio atrás.

Deo Garcez/Luiz Gama

 

Deo Garcez nos revela:

“Essa saiu do forno:  Assinei com a Globo para fazer a próxima novela das seis  –  “Mar do Sertão”. Meu personagem se chama “Catão”. É uma felicidade este convite! Um momento especial da minha carreira!

Venho em agosto com uma novela inédita e estou no ar na própria Globo com a reprise de “O Cravo e a Rosa” e também nas reprises de “A Escrava Isaura”, na Rede Brasil e na Rede Família, além de “Canavial de Paixões” e “Carrossel” pelo SBT.

São cinco emissoras com novelas minhas. Aliás, não é a primeira vez que isso acontece.

Tenho muito agradecer ao universo por esta benção!”

“Dos meus recentes e atuais trabalhos destaco o espetáculo “Luiz Gama – Uma Voz pela liberdade”, há sete anos em cartaz, que é texto meu, direção de Ricardo Torres, comigo e com a atriz Soraia Arnoni no elenco”.

Espetáculo “Luiz Gama”. Fotos: Cristina Granato.

 

“A peça é uma biografia dramatizada de Luiz Gama, ex-escravo, jornalista, poeta, primeira voz negra da literatura brasileira, o maior advogado de pessoas escravizadas no Brasil”.

Em cena Deo Garcez e Soraia Arnoni.

 

“Patrono da Abolição e Herói da pátria brasileira. O espetáculo propõe uma reflexão sobre a época de Luiz Gama, a atualidade e o racismo estrutural presente em nossa sociedade”.

Luiz Gama/Deo Garcez.

Confiram a crítica teatral acessando o Blog/Site.

 

“Esta semana participamos do Festival de Midrash de Teatro com este espetáculo. Como sempre a receptividade enorme.

A história e contribuição de Luiz Gama na luta pela liberdade, igualdade de direitos e pela democracia são exemplos a serem seguidos, em especial no Brasil e num mundo tão carentes destes valores”.

“A próxima apresentação será dia 24 de agosto (data de falecimento de Gama) e acontecerá na escadaria do Palácio Tiradentes, aqui no Rio”.

 

“O outro trabalho é a leitura dramatizada de “Joãozinho Trinta – O musical”, de José Ribamar Araújo, direção de Ricardo Torres”.  

Deo Garcez na Leitura Dramática de:

“Joãozinho Trinta – O Musical”.

Fotos: Márcia Pereira.

 

“A leitura aconteceu no Teatro Prudential, também no Rio, pelo projeto “Dramaturgias em Leituras”. A receptividade do texto foi muito grande, tanto é que a produção resolveu montar o espetáculo para 2023”.

Projeto “Dramaturgias em Leituras”

Teatro Prudential.

Leitura Dramatizada de: “Joãozinho Trinta – O Musical”.

 

A peça conta a vida e trajetória do genial Joãozinho Trinta de forma emocionante, divertida e é um belo registro de um artista que revolucionou o carnaval carioca e brasileiro, que por sinal, foi meu conterrâneo, de São Luís – MA”.

 

Começa aqui a – Entrevista necessária – do projeto do Blog/Site realiza no começo pandêmico:

O Blog/Site: ESPETACULONECESSARIO.COM.BR, é de críticas teatrais e de dança. Não havendo espetáculos, não há críticas. Por isso, fará uma série de entrevistas com artistas do cenário teatral e da dança – espaço que dará luz e visibilidade às suas trajetórias e projetos – acalentando e acarinhando esses tempos obscuros que a cultura está vivendo – isso foi escrito no começo da pandemia, ou seja, quando o Blog/Site começou esse projeto: “Entrevistas NECESSÁRIAS”.

 

Iniciou sua carreira em São Luís, MA.

Formação em Bacharelado em artes cênicas e Licenciatura, pela Faculdade de Artes Dulcina de Moraes, DF.

Foi aluno de Dulcina, durante sua formação – um privilégio que poucos tiveram. Aprender com a maior comediante de todos os tempos, como muitos avaliam. Uma verdadeira “Diva do Teatro”.

Um currículo recheado de 50 espetáculos teatrais; 12 novelas, dentre elas: “Xica da Silva” e “Mandacaru” na TV Manchete; “O cravo e a rosa”, TV globo; “Canaviais de paixões” e “Carrossel”, SBT; “A escrava Isaura” e “Prova de amor”; “Caminhos do coração”; “Os mutantes”; “Promessas de amor”; “O outro lado do paraíso”, etc.

No teatro por cinco vezes consecutivas, interpretou Jesus Cristo, no espetáculo teatral: “Cristo da paixão, em Custódia, PE.

Recebeu prêmios de melhor ator de TV pelo troféu Raça Negra em 2007, SP, e melhor ator pelo Festival de Teatro, RJ, em 2010, e o prêmio UBUNTU de melhor ator em 2019.

Deo Garcez é autor do espetáculo “Luiz Gama – Uma voz pela Liberdade” – em cartaz desde 2015, onde faz o protagonista – sob direção do diretor teatral Ricardo Torres.

Em 2019, recebeu a Medalha Pedro Ernesto – a maior comenda do Rio de Janeiro -, pelos seus 42 anos de carreira, e por seus trabalhos voltados para a temática dos afrodescendentes brasileiros, culminando com o espetáculo “Luiz Gama”.

O ator é membro da Comissão Estadual da Verdade da Escravidão Negra, OAB, RJ, e igualmente da Comissão da Verdade da Escravidão Negra do Estado do Maranhão.

Atualmente está na novela “Salve-se quem puder”, TV Globo, e na reprise das novelas “A Escrava Isaura”, na TV Record.

Deo Garcez como “Luiz Gama” – Foto: Valmy Ferreira.

 

ENTRANDO NA RETROSPECTIVA

DA ENTREVISTA NECESSÁRIA COM:

DEO DARCEZ.

– F.Fachetti – Iniciou sua carreira em São Luís, MA, como foi esse despertar para as artes, para o teatro, impulsionado por quem, e pelo o que? No interior do Nordeste?

 

Deo Garcez – Aos onze anos de idade, fui levado pela minha escola para assistir a um espetáculo no teatro Arthur Azevedo em São Luís -MA, minha terra natal. Imediatamente me apaixonei pelo teatro. Me apresentei ao diretor do grupo, o saudoso Reinado Faray e, em seguida, fiz um curso de iniciação teatral com ele, entrei para o grupo dele, que se chamava TEMA – Teatro Experimental do Maranhão, e não parei mais.

Deo Garcez – Foto: Cazé.

 

 

– F.Fachetti – Formou-se, assim como eu, pela Faculdade Dulcina de Moraes, DF. Teve o raríssimo privilégio de ser aluno da maior atriz de comédia de todos os tempos. Precisamos saber como foi esse aprendizado, esse feito histórico com esse mito, essa lenda do teatro brasileiro. Conte tudo que puder, por favor. Informação preciosíssima.

 

Deo Garcez – Foi uma experiência incrível ter sido aluno da Dulcina de Moraes, a maior personalidade do teatro brasileiro do século XX. Além de genial atriz, Dulcina era uma grande mestra, que, além do talento, do conhecimento técnico e teórico, ensinava o amor e a dedicação pelo teatro. Assim como ensinava também que a entrega absoluta, a intuição e a verdade são elementos imprescindíveis para qualquer ator ou atriz na criação do personagem. Como ela mesma dizia, a técnica é importante, mas quando a dominamos, precisamos esquecê-la e deixar que o personagem aconteça de forma orgânica e verdadeira.

Deo Garcez em “Luiz Gama – Foto: Maurício Code.

– F.Fachetti – Dentre os 50 espetáculos teatrais que constam na sua carreira, destaque alguns deles, e sua relevância enquanto dramaturgia, e importância nessa carreira de interação com tantos palcos e emoções.

 

 

Deo Garcez – Destaco os espetáculos “A Batalha de Oliveiros e Ferrabrás”, de Waldemar Sola, direção de Ricardo Torres, pelas grandes qualidades do texto e do tema, que trata da luta de poder entre mouros e cristãos, assim como pela excelente direção, elenco e produção.Também destaco “Morte Sobre a Lama”, texto e direção de Ricardo Torres, igualmente pelas grandes qualidades do texto, direção, dos temas sobre violência sexual, incesto, pedofilia e suicídio, temas estes tão atuais e necessários de serem debatidos. E atualmente o espetáculo “Luiz Gama – Uma Voz pela Liberdade”, cuja dramaturgia é minha com a contribuição do próprio Ricardo Torres, que também é diretor do mesmo. Este espetáculo, como você mesmo diz, Francis Fachetti, é um “Espetáculo NECESSÁRIO”. Ele recupera a importância da história e da luta de Luiz Gama pela liberdade, igualdade, justiça e direitos humanos, valores até hoje, infelizmente, ignorados e violados no mundo e especialmente no Brasil.

Deo Garcez em “Luiz Gama – Foto: Valmyr Ferreira.

 

– F.Fachetti – Você é um ator que se adaptou muito bem nas distintas linguagens – televisiva e teatral. Nem todos os atores conseguem se imiscuírem com sucesso, e conseguem desenvolver personagens com tanta diferença necessária na sua criação, em universos tão distintos – quem é ator sabe – são universos muito peculiares. Como é isso para você? Quais são, foram suas maiores dificuldades?

 

Deo Garcez – Acredito que essa minha adaptação se deve, claro, ao meu talento, algo fundamental para qualquer artista, mas sobretudo, ao estudo e ao aprimoramento técnico que desenvolvi para compreensão e execução das distintas linguagens. Para me adaptar às outras linguagens, eu que vim do teatro, quando resolvi fazer TV, fiz vários cursos de interpretação para vídeo com a diretora Tizuka Yamazaki e os diretores Atílio Ricó e Wolf Maia, cursos estes que ajudaram bastante.

 

 

– F.Fachetti – Aproveitando o gancho da pergunta acima, como é ser negro, e ter que lutar com mais garra, nesse selvagem mundo de preconceitos e de desigualdades cruéis?

 

Deo Garcez – Pois é! Nós, atores negros, temos que trabalhar dobrado, para sermos reconhecidos porque o racismo, exclui e ignora nossos valores. Então isso nos leva a lutar com mais garra, de forma a evidenciar e não deixar dúvida nenhuma sobre nossas capacidades.

Deo Garcez em “Luiz Gama – Foto: Mário Seixas.

 

– F.Fachetti – Interpretou Jesus por cinco vezes. Bravo! Mais uma vitória pessoal, de um ativista político ferrenho. Discorra sobre esses espetáculos, com essa temática religiosa, que sempre nos traz tantos conflitos, principalmente sendo um ator negro.

 

Deo Garcez – Ser convidado para viver Cristo, o maior personagem da história, tradicionalmente conhecido como um homem branco, de olhos claros, é um ato transgressor. Na realidade, como sabemos, o verdadeiro Cristo tinha a pele escura, então nada mais justo que ele seja retratado exatamente como ele era. No caso fui indicado por um amigo meu, o Claudio Cinti, que também é ator, para viver Cristo no espetáculo “Cristo da Paixão”, feito em Custódia – PE, sob a direção de Humberto Guerra, que imediatamente me convidou, levando essa reflexão à cidade, que aceitou de forma espetacular, sem questionamentos, sempre me recebendo como muito carinho.Arte para mim serve para isso: não somente divertir, mas também conscientizar, propor ideias novas, abrir horizontes, romper barreiras, proporcionar reflexões sobre temas necessários de serem debatidos e proporcionando mudanças positivas, sejam individuais ou coletivas.

Deo Garcez – em “Luiz Gama”. Foto: Danilo Sergio.

 

 

– F.Fachetti – Os prêmios recebidos te remetem a que? Que sensações? Vitória? Ego? Dever cumprido? Ou simplesmente os vê, como consequência de seus feitos, da sua batalha nesse totalmente imprevisível e injusto mundo das artes que vivemos? Cite os que você considera realmente relevantes.

 

Deo Garcez – Os prêmios que recebi são resultados de todos meus esforços, dedicação e estudo para realizar meu sonho inicial de ser ator, de me manter na carreira de forma digna para fazer o que mais gosto, o que mais amo fazer, que é atuar. Eles são resultado de uma vida dedicada à arte de interpretar, longe de ego, mas sim uma necessidade existencial de me expressar enquanto ser humano e cidadão. Dentre os prêmios que recebi destaco os seguintes: o Troféu Raça Negra de Melhor Ator pela Afrobrás e Faculdade Zumbi dos Palmares em 2007 – SP, o Prêmio Arlequim de Melhor Ator pelo Festival de Teatro do Rio em 2010.E também a Medalha Pedro Ernesto, a maior comenda da cidade do Rio de Janeiro, que recebi da Câmara Municipal do Rio de Janeiro em 2019, em reconhecimento pela minha carreira, e por meus trabalhos voltados para a temática afro-brasileira, e para luta de combate ao racismo através da arte, em especial pelo meu espetáculo “Luiz Gama – Uma Voz pela Liberdade.

– F.Fachetti – Eu ouvi você dizer: “eu já tenho o DNA de Luiz Gama”. Discorra sobre essa frase. Quem é Deo Garcez hoje? Quem é Luiz Gama para você? Onde eles se encontram?

 

Deo Garcez – Verdade! Digo mesmo que tenho o DNA do Luiz Gama. Além da nossa cor em comum e tudo o que isso representa para nós, negros, eu trago comigo a indignação e a revolta quanto às maléficas consequências deixadas pela escravidão, e que a sociedade teima em perpetuar. Sou um cara em plena maturidade enquanto pessoa, artista e cidadão, e que faço da arte um instrumento da minha própria evolução enquanto ser humano, acreditando em poder contribuir também para a evolução das outras pessoas e da sociedade. Luiz Gama é a tradução exata da luta pela liberdade, igualdade, fraternidade e pelos direitos humanos. Luiz Gama e eu, nos identificamos em vários aspectos e caminhos, como por exemplo, no sentido da justiça, da generosidade, na luta por direitos, na luta pela liberdade e democracia.

 

 

– F.Fachetti – Nos conte sobre o espetáculo “Luiz Gama – Uma voz pela Liberdade”, de sua autoria, protagonizado por você, e dirigido pelo diretor Ricardo Torres. Ouvimos você falar desse necessário trabalho cênico, com muito orgulho, propriedade, como um brioso desenredar na sua retórica, na sua carreira auspiciosa.

 

Deo Garcez – Este espetáculo “Luiz Gama – Uma Voz pela Liberdade”, há cinco anos em cartaz, desde 2015, tem sido uma revolução na minha vida, nas nossas vidas, da nossa equipe, e na do público que o assisti. Poucas vezes um personagem brasileiro negro e real -foi retratado dessa forma pungente como Luiz Gama é colocado neste espetáculo. Com esta peça contribuímos para a construção de uma nova fase do teatro negro brasileiro, depois de Abdias Nascimento; com o seu importantíssimo Teatro Experimental do Negro.

 

Isso se deve ao fato de que recuperamos a importância fundamental de um ex-escravo – que se tornou o maior advogado dos escravos do Brasil – libertando centenas deles, recentemente reconhecido pela OAB como advogado, e já depois do nosso espetáculo, reconhecido por Leis Federais como o verdadeiro Herói Brasileiro e Patrono da Abolição da Escravidão no Brasil. Importante dizer que não somente contamos a história e importância de Gama, mas também a contextualizamos no atual panorama do país, correlacionamos as questões do Brasil Imperial escravocrata com o Brasil de hoje, infelizmente, ainda marcado pela prática de racismo, desigualdades, morticínio da nossa população negra, herança do sistema econômico, cruel e desumano e de um racismo institucional perverso.

Vale ressaltar que o espetáculo “Luiz Gama – Uma voz pela liberdade”, votará em cartaz assim que for possível ocuparmos os Teatros.

Simplesmente:

DEO GARCEZ

Show CommentsClose Comments

Leave a comment