– RETROSPECTIVA: Rico Gonçalves – Ator. Por Francis Fachetti

Temporada 2022 – Blog/Site:

“RETROSPECTIVA”

Projeto:

“Entrevistas NECESSÁRIAS”

O Blog/Site iniciou a temporada de retrospectiva das inúmeras (78) homenagens feitas aos artistas das artes cênicas em geral – teatro, dança, cinema…

Atualizando o que Rico Gonçalves fez recentemente – ele está gravando uma série para striming em total sigilo. Ainda não podemos divulgar.

Abaixo segue a sua RETROSPECTIVA do projeto – Entrevistas NECESSÁRIAS – feita 01 ano e meio atrás, no começo da pandemia.



– Blog/Site, por falta de espetáculos presenciais, para efetivar suas críticas teatrais e de dança, acende os holofotes – com suas entrevistas necessárias – em mais um expoente das artes dramáticas:

Ricardo; Rico Gonçalves.

 

Rico Gonçalves, é desses atores com experiências múltiplas, nas várias linguagens de cunho atoral; teatro, televisão e cinema.

Particularmente, eu o vi debruçar-se, em alguns espetáculos teatrais, e posso garantir que é um ator de vintage/qualidade apreciável. Digo isso, como espectador, e crítico, desse Blog/Site.

Abaixo, conheceremos sua caminhada no desafio interpretativo, com uma sucinta descrição de seu currículo, tão necessário.

Logo após, entraremos na entrevista, e relatarei suas “artimanhas” como artista, enriquecendo nossa cultura.

Nasceu no subúrbio carioca, onde fez o seu primeiro curso de teatro já com 19 anos. O curso era realizado no teatro Arthur Azevedo em Campo Grande, e com o incentivo do professor, Mario de Oliveira, para continuar com o ofício.

Resolveu fazer uma escola profissionalizante. Escolheu a CAL, que por motivos financeiros, cursou até o início do REG2, então decidiu fazer prova para a escola Estadual Martins Pena, e passou em primeiro lugar.

Se formou, com a Mestra Elza de Andrade, que levou Ricardo para o seu grupo, “A CONFRARIA DA PAIXÃO”, e realizou 3 espetáculos de muito sucesso:

“A FARSA DA BOA PREGUIÇA”; “A HISTÓRIA DE AMOR DE ROMEU E JULIETA” e “VEM BUSCA-ME QUE AINDA SOU TEU”.

Quando o grupo se desfez, o ator começou a trabalhar em muitas outras produções de teatro, televisão e cinema. Citando, seus últimos trabalhos em teatro:

“OS SAPOS”; texto e direção de Renata Mizrahi; “O ESTRANHO CASO DO CACHORRO MORTO”; Direção de Moacyr Góes; “ROMANCEIRO POPULAR, UMA HOMENAGEM A ARIANO SUASSUNA”, texto e direção de Lu Gatelli.

“Romanceiro popular, uma homenagem a Ariano Suassuna”.

Texto e direção: Lu Gatelli.

“War”, com direção de Diego Molina, onde foi indicado a melhor ator, no prêmio Botequim cultural. “PAPAI ESTÁ NA ATLÂNTIDA”, direção de Guilherme Delgado, e ALICE MANDOU UM BEIJO”, direção de Rodrigo Portella.

“Alice Mandou um Beijo” – Texto e direção: Rodrigo Portella.

“A vida ao lado” – Texto e direção: Cristina Fagundes.

“Alice mandou um beijo” – Direção: Rodrigo Portella.

No cinema atuou em:

“CILADA.COM”; “A BALADA DO PROVISÓRIO”, “DESLEMBRO”; “OS SALAFRARIOS” e “DEPOIS”.

Espetáculo: “Faça o que precisa ser feito” – Texto e direção: Oscar Saraiva.

Em televisão, já participou de várias produções, tais como:

“MALHAÇÃO”; “OS DIAS ERAM ASSIM”; “TODAS AS MULHERES DO MUNDO”; “AS FIVE”; “AMOR DE MÃE”.

No momento, o curta “DEPOIS”, com direção de Marcello Quintella, está participando de alguns festivais pelo mundo, recebendo vários prêmios, inclusive de melhor ator – em Barcelona, Na Itália, e nos EUA.

Curta Metragem “DEPOIS” – Direção: Marcello Quintella.

Abaixo, espetáculos teatrais onde atuou:

“Natal evoé”; “Jaguanum a cidade imaginária”; “A capital Federal; “A farça da boa preguiça”; “A história de amor de Romeu e Julieta”; “Vem buscar-me que ainda sou teu”; “Esquece”; “Tudo isso agora”; “Não perturbe”; “Essencial”; “Os Sapos”; “War”; “Papai está na Atlântida”; “A gaivota”; “A vida ao lado”; “Romanceiro popular”; “Alice mandou um beijo”; “Amores de Sabrina”; “Caminhos de sangue”; “Gênesis dos novos Deuses”; “Uma aventura no outro mundo”; “Uma viagem no bonde do tempo”; “A farsa do boi chêroso”; “Quando ia me esquecendo de você”; “Uma janela em Copacabana”; “A história do pirata e o dono do fim do mundo”.

Indicações e prêmios:

Melhor ator, pelo espetáculo: “War”, e indicação ao prêmio Botequim Cultural.

Prêmio melhor ator no Festival Martins Penna.

Melhor ator pelo curta-metragem: “Depois”; no Brasil, teve duas indicações.

Premiado com “Depois” em: Barcelona; EUA; Itália.

Curta Metragem: “DEPOIS” – Direção: Marcello Quintella.

Indicações no Brasil.

 

Experiências na TV:

Novela: “Malhação”; Novela: “Jesus”; Seriado: “Os dias eram assim”; Novela: “Amor de mãe”.

Foi dirigido pelos diretores:

Moacyr Góes; Elza de Andrade; Renata Mizrahi; Diego Molina; Marcia Andrade; José Joffily; Bia Lessa; Camilo Pelegrine; Oscar Saraiva; Cristina Fagundes; Rodrigo Portella; Demétrio Nicolau.

Entrando na RETROSPECTIVA da

Entrevista NECESSÁRIA com:

RICO GONÇALVES.

F.Fachetti – Começou na CAL, e migrou para Escola Martins Pena. Como foi essa transição? O que você destaca de mais contundente, e fundamental durante essa formação?

Rico Gonçalves – Cheguei na Cal, e foi como se um mundo novo se abrisse para mim, as pessoas, aquela casa linda, a zona sul, os mestres incríveis… estava simplesmente em êxtase. Segundo período tive que deixar a escola, meu pai não conseguia mais me ajudar financeiramente, e tive que sair.

Resolvi então fazer a prova da Martins Penna, e passei em primeiro lugar. A Martins, foi uma escola não só de teatro, mas de vida. Comecei profissionalmente no Mercado, tive Mestres que eu amava, e que futuramente viraram colegas de profissão, minha “madrinha” – Elza de Andrade, me levou para sua companhia de teatro, para você ter uma ideia, eu me casei na escola.

F.Fachetti – A Mestra, Elza de Andrade, efetivou o ator Rico Gonçalves. Fale um pouco sobre Elza, e esse enlace, que o “intrometeu” em seu grupo.

Rico Gonçalves – Dona Elza, como chamo carinhosamente, é minha grande madrinha, fiz dois semestres com ela na Martins, e minha formatura foi com a direção dela com a peça “A Capital Federal”, de Arthur Azevedo. Fazia o Eusébio, personagem principal que teve grande destaque na escola e fora. Então D. Elza me chamou para substituir dois atores, em duas peças diferentes do Suassuna, para uma tournée; “A Farsa da boa preguiça” e “A História de amor de Romeu e Julieta” – dois espetáculos premiados da Confraria da paixão. Acho que foi a minha prova de fogo como ator.

Depois desse desafio, ela me chamou para iniciar o processo da nova peça da companhia, “Vem buscar me que ainda sou teu”. Tenho muito carinho por D. Elza e devo muito a ela, por essa experiência. Elza, é uma craque em dirigir comédia, aprendi muito com ela.

“Vem buscar-me que ainda sou teu” – Texto: Carlos Alberto Sofredinni.

Direção: Elza de Andrade.

F.Fachetti – Como era o processo de trabalho na “Confraria da Paixão”, onde você ascendeu em 3 trabalhos de pura essência teatral, e que te projetou no teatro? Fale sobre esses 3 espetáculos.

Rico Gonçalves – Eu era um jovem saindo da escola de Teatro e entrando numa companhia consolidada no mercado para substituir. Confesso que tremi rsrs. Ensaiava as duas peças simultâneas, e tinha pouco tempo de ensaio para começar a viajar, acho que foi o maior desafio da minha carreira, não tinha muita experiência. Era o mesmo elenco, fazendo, as duas peças.

Lembro do meu primeiro dia de ensaio, chegando na UniRio, e encontrando com atores como, Sávio Moll, Flávia Reis, Angela Blazo… e ao mesmo tempo, tinha que mostrar serviço. “A Farsa” tinha 3 atos, uma movimentação frenética, tinha que tocar, cantar e dançar. Fazia o Aderaldo um dos personagens principais, muito texto e marcações coreografadas muito difíceis, eu dormia ouvindo o texto no fone, uma loucura, mas com a ajuda da Elza, e dos colegas que me receberam com muita generosidade, deu tudo certo.

O “Romeu e Julieta”, tinha uma dificuldade porque o texto era em cordel, mais fácil de decorar, mas complicado para dar naturalidade. As peças com a direção da Elza, tinham uma marcação muito precisa. Eu fazia o Capuleto, foi um pouco mais tranquilo do que “A Farsa”.

Uma curiosidade dessas viagens, é que minha primeira filha nasceu 1h hora antes de uma apresentação em Colatina ES, acabou a peça, e peguei um avião correndo para Rio. Já no “Vem Buscar-me…”, iniciei o processo, estava todo mundo no mesmo barco, a novidade era para todos. A dificuldade era por ser um musical, com solos. Teve muito trabalho, ensaiamos 3 meses para estrear no CCBB, mas acho que foi muito bonito o resultado. Tenho muita saudade dos três trabalhos.

F.Fachetti – Como o ator Rico Gonçalves, se adapta, se senti, se coloca, nas muitas distintas linguagens interpretativas – teatro, televisão e cinema?

Rico Gonçalves – Eu sou um ator de teatro, onde eu me sinto mais à vontade, como se estivesse em casa com minha família. O teatro é meu companheiro, minha necessidade, sem fazer teatro eu fico deprimido! Parafraseando a Elis Regina, “não acho tanta graça na vida”, como no teatro.

São 30 peças né? São muitos anos dedicados aos palcos, amo os ensaios, o jogo com os colegas, a coxia, o terceiro sinal, a plateia. Mas nem por isso, coloco a tv e o cinema em planos mais baixos, cada um tem o seu lugar, as suas dificuldades e as suas delícias. Antes de ser um ator de teatro, sou ator, e como alguém já falou, ator faz tudo!

A tv é o lugar que mais tenho que me adaptar, não é fácil fazer televisão, é tudo muito rápido, tem que ter uma inteligência específica, é complicado ser naturalista em uma mecânica meio surreal, mas dependendo dos profissionais, do set de gravação, é muito prazeroso. Hoje menos, mas a coisa que mais escutei dos diretores foi: “Menos Rico…” rsrs, mas tudo é prática.

O cinema tem uma magia diferente, tenho para mim, que é a arte do diretor, do editor, do fotógrafo, o filme é feito no corte. Ás vezes você faz 30 takes, e quando você vê, o diretor escolheu 3 segundos daquilo tudo. Mas na interpretação, na composição do personagem, se aproxima mais do teatro, tem mais tempo para estudar, para aperfeiçoar o trabalho do ator. Resumindo, o teatro é a arte do ator, o cinema do diretor e tv da produção.

“Quando ia me esquecendo de você” – Texto: Maria Silvia Camargo.

Direção: Diego Molina.

F.Fachetti – Assisti, “Os Sapos” e “War”, dois espetáculos que me arrebataram com sua presença cênica. Um ator de características imagéticas confiáveis, presença forte, segura.

Como você constrói essa forma híbrida, que nós atores precisamos para defender diferentes momentos em cena, espetáculos e personagens revestidos de acuidade?

Rico Gonçalves – Primeiramente, obrigado pelo elogio. A construção do personagem depende muito de cada processo, não tenho uma fórmula ou um método específico. Nas duas peças citada foram trabalhos mais naturalistas, com isso o processo é mais interiorizado, procuro buscar nas minhas “gavetas” de sentimento, circunstâncias já vividas, experiências pessoais, memórias afetivas. Tenho a impressão de que o ator quanto mais experiente, com mais tempo de vida, fica melhor, pois, já passou por muitas coisas, já casou, separou, teve filhos, perdeu pessoas importantes, já ganhou, já caiu, já levantou… essa bagagem te faz representar com mais verdade as experiências vividas pelos personagens. Mas, por outro lado, tem construções que você busca elementos totalmente externos, referências de amigos, familiares, até uma figura que você reparara na rua.

O ator tem que ser um cientista do comportamento humano, tem que ser um observador incansável dele mesmo, e de tudo que o cerca.

No “War”, por exemplo, era um personagem que estava em crise com a esposa, e totalmente deprimido, dependente financeiramente, um escritor em crise. Nos ensaios da peça, eu estava no processo de separação de uma relação de 15 anos. Emprestei todo meu sofrimento pessoal para o personagem, e isso me ajudou a curar um pouco as feridas, usei a personagem para expurgar minhas dores, e acho que deu certo, fui até indicado para um prémio, rs.

“Os Sapos”, já era o contrário, um personagem sempre “de boa”, sem se preocupar muito com questões existencialistas, descompromissado, mulherengo… Fui buscar isso tudo no Ricardo também; temos tudo, somos pessoas péssimas e maravilhosas. Outro elemento que eu uso nas construções, mas também não é uma regra, é a música, na maioria das vezes, eu crio uma trilha sonora para os personagens. Sinto que o importante é chegar na verdade – como você chega a isso, é de cada um.

Eu já fiz uma criança de 9 anos de barba e era crível, as pessoas acreditavam rsrs. Nesse processo, inclusive, minha inspiração foi totalmente na minha filha mais nova. O que importa é ser verdadeiro!

“Os Sapos” – Texto: Renata Mizhari. Direção: Priscila Vidca e Renata Mizharri.

“War” – Texto: Texto: Renata Mizhari. Direção: Diego Molina.

F.Fachetti – Coloque para nós, a diferença nos aportes de três diretores que são referências na cena teatral – Moacyr Góes, Bia Lessa e Rodrigo Portella. Fale, no seu olhar de ator, sobre cada um.

 

Rico Gonçalves – Eu sou ator que amo os diretores, gosto de jogar junto, tenho uma certa necessidade dessa parceria, tenho muita admiração pelo trabalho do diretor, do organizador do time, do olhar geral. Trabalhei com muitos diretores, e sempre busquei uma relação mais estreita com cada um, tento sugar o máximo deles para propor a minha ideia sobre o trabalho.

Uma vez estava ensaiando a peça “Alice mandou um Beijo”, com a direção do Rodrigo Portella, numa cena da peça, onde o personagem que era altista, entrava numa crise profunda, e o meu personagem era o único que conseguia acalmar o menino, era uma cena bem forte, no final da cena quando, ele já estava calmo. Eu caí em prantos, e isso emocionou todo o elenco e a técnica, todos aplaudiram a cena. Então, o Rodrigo chega no meu ouvido, uma característica dele de conversar com os atores, e fala que ficou emocionado, mas se eu fizesse isso o meu personagem ia se perder, pois era o único na cena que tinha que manter os nervos no lugar.

São essas coisas que me fazem buscar esse companheirismo com o diretor. Isso resume muito a direção do Rodrigo, ele tem uma imensa admiração pelo trabalho do ator, consegue ser carinhoso, e ao mesmo tempo muito direto, e ficamos muito amigos depois de Alice, espero trabalhar muito com ele ainda.

A Bia Lessa, na verdade fez uma supervisão da “A Gaivota”, aparecia nos ensaios para orientar o trabalho do diretor, mas acabava fazendo várias observações nos trabalhos dos atores. A Bia é muito inteligente e de uma sensibilidade absurda, é uma encenadora genial, tudo passa pelo aval dela, conhece a fundo cada elemento do espetáculo que está criando, nada para Bia passa batido, tudo é estudado e minuciosamente discutido.

O Moacyr, é um sedutor, mesmo você não concordando com ele nas escolhas, ele acaba te seduzindo, sempre gostei de ir com ele após os ensaios para tomar um drink, e conversar, sobre a peça e sobre a vida. Apesar de descordar em algumas questões, principalmente política, e até mesmo no trabalho, nos damos muitíssimo bem. Você citou 3 artistas que eu sou um grande fã.

 

 

F.Fachetti – No cinema, quais filmes que você atuou, que mais te enriqueceu, e que mais obteve prazer em faze-los, e por que?

 

Rico Gonçalves – Não tinha feito nada muito relevante no cinema, sempre pequenos personagens, participei de algumas produções como “Deslembro”; “Cilada.com”; “Os Salafrários”, e outros, mas já deu para sentir o gostinho, de como é o funcionamento dessa máquina de sonhos.

Fazer cinema é uma delícia, um prazer, uma emoção mágica, uma alquimia que encanta. Mas, só aprofundei minha relação com o cinema, no curta “DEPOIS” – dirigido pelo Marcello Quintella. Como meu personagem é o protagonista, e estou em todas as cenas do filme, tentei aprender o máximo possível com toda a equipe, ficava com os radares todos ligados, participei efetivamente de uma obra cinematográfica.

 

F.Fachetti – Dentre os espetáculos teatrais – onde se sentiu mais desafiado, volátil/vulnerável como ator? Cite quais foram, e por que?

 

Rico Gonçalves – Nossa! Todas as peças tem suas peculiaridades na construção, cada processo é diferente, e isso é muito instigante no teatro. As vezes encontramos a personagem num acessório, num óculos, num sapato, até num corte de cabelo.

Uma peça que tive um grande desafio em me aproximar da personagem, foi o Boris, de “A Gaivota”, não é fácil falar um Tchecov. A peça, no geral tem muitas camadas, assim como os personagens, sofri um bocado e sinceramente, até o último dia da temporada, não estava satisfeito com o resultado, apesar de ter críticas muito positivas, não me senti confortável em nenhum momento com o meu trabalho, sofri em outras peças, mas, essa acho que foi a que sofri mais, acho que até hoje rs.

“A Gaivota” – de ANTON Tchecov. Direção: Bruno Siniscalchi. Supervisão: Bia Lessa.

F.Fachetti – Então, no momento, temos alvíssaras, com o curta “DEPOIS” – direção de Marcello Quintella. Vários festivais, vários prêmios com sua atuação. Conte-nos tudo sobre essa cinematografia inefável para nossa cultura tão desmontada. Conte-nos tudo.

 

Rico Gonçalves – O “DEPOIS”, foi a minha experiência mais enriquecedora com o cinema, posso dizer que vivi intensamente a sétima arte. A obra se resumia ao meu personagem, um homem de meia idade, que se separa do grande amor, e entra num processo de autodestruição. O filme se baseia nas fases de uma separação, da esperança de reatar, até a realidade crua de que não tem mais volta.

Foi um trabalho muito bonito, uma equipe de profissionais talentosíssimos, apesar de se tratar do desamor, o set era cheio de amor. Participei de tudo intensamente.

Era uma produção independente sem grana, o Marcello, fez com sua própria verba, um trabalho colaborativo. Quem ia fazer o personagem era o Otho jr, mas não bateu a agenda, então o Otho, me indicou para seu lugar, só que o Marcello não me conhecia e estava inseguro. Ele me ligou para a gente marcar um encontro e se conhecer, eu estava em cartaz com a peça, “Alice mandou um beijo”, então o convidei para assistir à peça e depois conversar. Felizmente ele foi e assistiu a peça, conheceu o meu trabalho e parece que gostou, rs… Conversamos no bar Amarelinho, e fechamos uma parceria que tenho certeza que é para vida.

Marcello confiou de corpo e alma no meu trabalho, e foi recíproco.

Tive uma parceira de cena muito generosa, a Fabi foi uma grande colega, não nos conhecíamos, e a primeira cena que ensaiamos, era uma cena de amor, os dois nus, difícil. E ali criou um respeito, e uma química linda. O filme é todo amor, o Marcello é um doce de pessoa e muito competente, agregador e carinhoso, aliás toda equipe. Enfim, tudo que se faz com amor, não tem erro, dá certo. Por isso, tantos prémios pelo mundo.

Sou muito grato a todos, por fazer com que o meu trabalho seja reconhecido pelo mundo, até agora são várias indicações e, três premiações em Barcelona, Itália e EUA.

Como vocês puderam perceber, o que é Rico Gonçalves? Um sucesso, um ator de talento e vocação – como muitos – vivendo essa malversação cultural.

 

 

Fachetti – Terminando essa prazerosa entrevista necessária, o que foi esse fim de mundo chamado pandemia, que o obrigou a assumir o trabalho de uber; tendo que se ausentar dos palcos, como todos nós atores?

 

Rico Gonçalves – Olha, estamos vivendo um momento muito sombrio no Brasil.

Não foi a pandemia que me fez trabalhar como uber, foi o desmonte do teatro, da arte em geral pelo prefeito do Rio, esse, o evangélico que está sendo investigado num esquema gigante de corrupção no Rio de Janeiro.

A primeira coisa que ele fez foi o corte do FATE, que era o único apoio que o teatro tinha do governo, com isso, ficamos à mercê de empresas privadas, e do esforço e resistência dos artistas, o governo federal, não menos cruel, exterminou o ministério da cultura e enfraqueceu o Sesc, que era uma outra alternativa para o teatro no país. Com isso nós artistas tivemos que nos virar para conseguir sobreviver, muitos colegas se reinventaram, tendo que exercer outras funções. E com a pandemia então, com os teatros fechados, ficou mais difícil ainda.

Com o governo atual, tanto federal como municipal, nos transformaram em vilões da sociedade, aqueles que “mamam” nas tetas do governo, estamos vivendo de caridades de pessoas que se reúnem para se ajudarem a sobreviver, instituições como APTR, que faz esse trabalho lindo juntamente com a doação de verbas dos colegas mais favorecidos. É tudo muito triste, um país que destrói sua cultura está fadado a barbárie, e é isso que estamos vivendo. Um governo destrutivo, maléfico, preconceituoso, machista, homofóbico… Mas não podemos desistir, temos que ser fortes e nos unir cada vez mais, e tentar trazer o amor de volta ao nosso redor, mesmo que uns não queiram, a primavera sempre volta trazendo suas flores.

Simplesmente: Ricardo Gonçalves

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