– RETROSPECTIVA: Domingo Ortega – Flamenco: Maestro e Bailaor.

Temporada 2022/2023

Blog/Site:

“RETROSPECTIVA”

Projeto:

“Entrevistas NECESSÁRIAS”

O Blog/Site iniciou a temporada de retrospectiva das inúmeras (78) homenagens feitas aos artistas das artes cênicas em geral – teatro, dança, cinema…

Domingo ortega

Momemto reflexivo e expressivo:

Como “caminar” nessa nova estrada.

O Blog/Site, antes de reportar na íntegra a retrospectiva do projeto: “Entrevistas NECESSÁRIAS” feita no começo da pandemia – fará uma breve atualização do movimento artístico do Bailaor e Maestro Domingo Ortega ­, seus feitos nesse atual momento.

Em conversa com o maestro por áudio, direto de Jerez/Espanha, Domingo me relatou que se retirou dos palcos como bailaor, estando apenas como mestre em sua nova empreitada:

Confesso que fiquei extremamente triste, pois, um pouco do que sei aprendi com seu jeito peculiar – de extrema identidade – que ele imprime, e tento levar um pouquinho dele no meu bailar.

Em suas inúmeras classes pelo Brasil nos deleitamos com sua poderosa percepção do universo flamenco:

Referência do flamenco pelo mundo.

Em cena ele é “minimalista”, em passos que exigem uma técnica de propriedade; viril e sedutor. Acho bonito, necessário essa virilidade sedutora flamenca.

 

Término aqui essa breve atualização e entraremos na retrospectiva da Entrevista NECESSÁRIA desse dileto e expoente do universo da arte flamenca.

 

Abaixo sua trajetória flamenca:

O Blog/Site, mergulha fundo em suas entrevistas necessárias, na falta de espetáculos para efetuar suas críticas, nesse momento de pandemia. Vamos desembarcar em Jerez/Espanha, chegando na carreira e trajetória de um dos maiores expoentes da arte flamenca – o Maestro e Bailaor: Domingo Ortega.

Referência do flamenco pelo mundo. Esteve algumas vezes no Brasil, quando nós, artistas apaixonados pela arte flamenca, nos deleitamos com sua técnica, em suas aulas/classes. Em seus esgares corporais, no seu baile – um executar desenvolto que nos arrebata.

Domingo Ortega, carrega uma complexidade própria, criando sua identidade. Como ele diz: Dançar flamenco é como “caminar”. Um caminhar que para ele não existe dificuldade, cabe aos seres mortais, como nós, correr atrás, e achar que está caminhando, como ele “manda” fazer.

O domínio do espaço cênico é dividido com a fluidez e o inesperado de seu baile. Como eu já disse, seu baile tem uma das coisas mais importantes para um artista em cena – identidade – acentuada pelo controle impecável dos pés, num sapateado que nos acomete, com o vigor de seu corpo.

Nascido em Jerez de La Frontera, coreógrafo, diretor e Bailarino, começando seus estudos no baile flamenco aos 8 anos.

Seus professores foram: Cristóbal Fernández, Fernando Belmonte, José Galván, Manolo Marín e Juanerre.

Considerado um dos melhores bailarinos de sua geração. O mais marcante em seu baile, são as bulerias de Jerez; ritmo festeiro que o tornou mundialmente conhecido.

Com 18 anos, ganhou seu primeiro prêmio, com baile da Província de Cádiz. Um ano depois, se torna solista da Cia. Alburizuela, dirigida por Fernando Belmonte.

Durante sua grande trajetória como bailaor, coreógrafo e professor podemos destacar:

– Abre sua própria Escola de Baile, em 2019, criando uma nova disciplina; Flamenco Fitness – Flamenco Body Form.

– Professor dos cursos do Festival de Jerez, 2018. Atuação em várias cidades da Rússia, Coréia e Alemanha.

– Participou do espetáculo “Cumbre Flamenca em EEUU, junto com a bailaora Belén Maya, em 2017. Professor dos cursos do Festival de Jerez e Taller Flamenco Miraflores.

– Com o espetáculo “No baila el cuerpo, baila el alma”, passa por quase toda a Venezuela.

– 2015, percorre a Coréia do Sul, junto com sua irmã, Imaculada Ortega, representando o flamenco como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, num evento organizado pela UNESCO. Depois, faz várias atuações por países como: Brasil, Japão, USA, e vários outros.

– 2014, estreia seu espetáculo “El baile canta”, no Teatro Villamarta de Jerez de La Fronteira – na XVIII edição do Festival de Jerez. Ministra classes/aulas no Conservatório de Dança de Granada Reina Sofía. Depois faz diversas apresentações pelo mundo.

– 2011, colabora com o espetáculo de Imaculada Ortega; “Pa flamenca yo”, junto com à atriz Marta Fernádez Muro, tendo um grande êxito e excelente crítica.

Domingo Ortega e Imaculada Ortega.

– 2010, estreia seu espetáculo “Solo Domingo”, no Teatro principal de Puerto Real, em Cádiz. Junto com sua irmã, Imaculada Ortega, estreiam no Brasil um novo espetáculo – “Um poquito por Ortega” – com muita visibilidade. Ministra cursos em diversas cidades do Brasil.

– 2006 e 2008, apresenta seu espetáculo no Tablao: “El Flamenco de Tokyo”.

– 2006 e 2007, trabalhou na Cia. Do X Festival de Jerez. Apresenta seu espetáculo “Orfeo”, que estreou em 2004 na cidade de Los Angeles. Colaborou no espetáculo do bailaor japonês Kojima, em homenagem ao LXX aniversário de Frederico Garcia Lorca.

– 2005, participação no “Flamenco viene del sur”, feito no Teatro Central de Sevilha.

– 2004, é convidado para coreografar e bailar célebres obras como: “Medéia” (Tóquio) e “Carmen” (Canadá). Convidado por Cristina Hoyos, para ministrar classes/aulas na Cia. Andaluza de Flamenco.

– Cristina Hoyos convida Domingo Ortega, para levar sua Cia ao Japão, durante seis meses, no Tablao “El Flamenco”, de Tóquio, depois se apresenta no Teatro Central de Sevilha, como um dos bailarinos de maior destaque naquele momento.

No Senegal, ganha o título de Cidadão Honorário.

– Trabalhou na Cia. de Manoel Soler, Carmen Cortés, e no espetáculo “Los 5 bailaores”. Colabora com artistas como: El Guito, Antonio Vargas, Luis Dávila, Gerardo Nuñes e El Canales.

Destaques que obteve em grandes jornais:

– EL MUNDO: “Domingo Ortega encontra sua própria luz, como um dos artistas mais emblemáticos, com uma excelente preparação técnica”.

– EL PAÍS: “Ortega põe o acento na força e complexidade de seus passos, que assombram”.

– DIÁRIO DE JEREZ: “Domingo Ortega, um bailaor com letras maiúsculas. Domínio assombroso nos pés, como claro exemplo de baile contemporâneo. Possui muita arte, uma expressividade em excelente compasso, e um conhecimento profundo de tudo que faz”.

– FLAMENCO WORLD: “Um baile cheio de personalidade, com remates inesperados, com fluidez”.

– DE FLAMENCO.COM: “A arte do silêncio, numa eloquência serena, sempre com ostentação, tirando o aplauso fácil – confiando sempre no compasso que domina impecavelmente. Domingo Ortega é um dos maiores talentos de sua geração”.

– REVEILLE MAGAZINE: “Ortega parece que acabou de sair da capa de um livro de romance. Com um ritmo perfeitamente cronometrado, ele pisou, bateu palmas, e rodopiou pelo palco, em um estado apaixonado”.

 

– Entrando na RETROSPECTIVA da

Entrevista NECESSÁRIA com:

DOMINGO ORTEGA:

FRANCIS FACHETTI – Começou no baile flamenco com 8 anos. O que você lembra de relevante dessa época? A sua conexão com seus professores; conte um pouco desse tempo, ainda criança.

 

DOMINGO ORTEGASim, comecei aos 8 anos junto com minha irmã de 7, mas não foi minha decisão. Foi escolha da nossa mãe e tornou-se uma obrigação. Por muito tempo odiei o flamenco porque era proibido de fazer outras atividades de que gostava mais, como futebol, caratê, patins, etc. Minhas lembranças de professores são boas, não tive professor que me tratasse mal, embora um dia ou outro, sim, eles pudessem ficar bravos.

 

FRANCIS FACHETTI – Em que lugar você se sente mais realizado; como bailaor, coreógrafo ou professor? Qual a importância do Flamenco Fitness, que você criou, na sua escola de baile?

 

DOMINGO ORTEGA – Sinto-me mais realizado como dançarino e coreógrafo, embora, infelizmente, hoje em dia, não haja espaço para alguém como eu.

A Forma Corporal Flamenca que criei, ocupa grande parte da minha vida atual, e é cheia de bem-estar, meu corpo e meu espírito; pois é fora do mundo do flamenco, mas, existe uma ligação artística, que posso transmitir e oferecer às pessoas que querem estar em forma, de uma forma diferente, com exercícios e coreografias patenteadas.

 

 

 

FRANCIS FACHETTI – O baile por bulerias, é onde você deslancha, onde se encontra. Um compasso festeiro. O que difere o flamenco de Jerez, dos outros lugares, em especial nas bulerias?

 

DOMINGO ORTEGA – Bulería é um dos estilos que mais gosto. E se eles me vêem dançando de forma diferente, eu suponho, é porque eu entendo de uma forma informal, ao mesmo tempo que eu levo muito a sério.

A bulería de Jerez – é verdade – que se diferencia de todas as outras, tanto no cante, quanto no baile e no toque.

Para Jerezanos é como uma válvula de escape.

 

FRANCIS FACHETTI – Foi na Cia. Alburizuela que você se tornou solista. Como era a direção de Fernando Belmonte? Quanto tempo você bailou nela, e qual era o sentimento de se tornar solista naquele momento? Se sentia pleno, preparado?

 

DOMINGO ORTEGA – A direção de Fernando Belmonte era correta e sábia. Mas, ao mesmo tempo, me deu liberdade para me desenvolver como artista.

Com o Fernando, comecei a estudar sazonalmente desde os 13 anos de idade. Até aos 18 anos, fiz parte do ballet, e comecei a estudar muito e a melhorar o meu nível.

Nessa idade entrei como solista, nem na época, e nem agora me sinto preparado. Sempre há uma sensação de superação de si mesmo.

 

 

FRANCIS FACHETTI – Você teve uma efetiva atuação como professor nos cursos do Festival de Jerez. O que destaca de mais consistente para o flamenco dentro desse festival?

 

DOMINGO ORTEGA – Prefiro não comentar o Festival de Jerez.

 

FRANCIS FACHETTI – O nome do espetáculo: “No baile el cuerpo, baile el alma”, que bailou por toda Venazuela; nos remete a uma delicadeza, que nos impacta, e que contrasta com o vigor flamenco. Qual era história desse trabalho? Foi um desafio, mexia com você de alguma forma?

 

DOMINGO ORTEGA – O espetáculo “O corpo não dança, a alma dança”, foi uma produção de Laura Pirela – aluna e amiga de muito tempo.

E nesse show, como na maioria dos meus, dou muita importância aos sentimentos, delicadeza e emoções. Com este espetáculo, procuramos mostrar que não existe apenas uma forma de fazer flamenco; paixão, força, garra, algo intrínseco ao flamenco, mas não é a única.

Domingo Ortega e Laura Pirela.

FRANCIS FACHETTI – Sua irmã, Imaculada Ortega – possui uma sinuosidade flamenca de extrema beleza… Já bailou muito com ela, inclusive em seu espetáculo: “Pa flamenca yo”. Como defini o seu baile, o que o difere das outras bailaoras?

DOMINGO ORTEGA – A minha irmã é uma bailaora que dá muita importância aos seus braços – são únicos, e ela tem uma forma muito particular de entender a dança.

FRANCIS FACHETTI – “Um poquito por Ortega”, estreou no Brasil, tivemos o privilégio de assisti-lo, e de fazer aulas/classes com você e Imaculada. Qual seu olhar para o flamenco brasileiro? Onde ele é mais deficiente, e onde seria eficiente? Você conhece bem o flamenco daqui.

DOMINGO ORTEGA – Sim, “Um pouco pelo Ortega”, lembro com carinho, porque naquela época, eles olhavam para mim e minha irmã da mesma forma (com carinho).

O flamenco brasileiro cresceu muito em dança e violão (Fernando de la Rúa é um exemplo disso). A maioria dos artistas vieram à Espanha para melhorar seu nível.

FRANCIS FACHETTI – Foi convidado a coreografar épicas obras: “Medéia” e “Carmen”. São obras que exigem uma imensa dramaticidade do ser humano – teatralidade. Nos conte essa experiência que vem das profundezas da melhor literatura. O que destacaria desses trabalhos, e o que mais te enriqueceu como artista?

 

DOMINGO ORTEGA – As vezes é bom entrar em um mundo mais fantástico do que o flamenco comum. E dá a oportunidade de tirar conotações artísticas de si mesmo, não tão exposto ao mundo do flamenco.

FRANCIS FACHETTI – Suas críticas, feitas pelos grandes jornais, são austeras, decisivas numa carreira bem construída. Como você as lê, e recebe? Qual sentimento fica numa carreira conflagrada de entrega e paixão, e que está no seu sangue, na sua cultura?

Para terminar, destaque seus projetos atuais?

 

DOMINGO ORTEGA – Os jornalistas não gostam muito da minha dança, e sou uma presa fácil para eles, porque sabem que o que quer que digam, não haverá reação minha. Escreva errado ou certo, vou continuar a dançar e entender o flamenco do jeito que faço. Se as portas de um teatro se fecham para mim, farei isso no meu estúdio de dança.

Nestes tempos do flamenco, a sensação que tenho é confusa, o que achei certo está errado e vice-versa. Só posso viver da maneira que acho que deveria, fazer flamenco ou qualquer coisa.

Meus projetos atuais: Esperar que a pandemia passe.

Domingo Ortega meu mestre, meu querido, mais uma vez:

Muito obrigado por tudo – pela parceria – Francis Fachetti.

Simplesmente:

DOMINGO ORTEGA.

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