TeatroCrítica: Por Francis Fachetti.
“PEDRO I”
(Monólogo com direção: Daniel Herz ).
Paço Imperial, um espaço de total conexão com a narrativa desse solo: “PEDRO I”.
Abaixo transcrevo um pequeno trecho sobre esse espetáculo me enviado pelo diretor Daniel Herz para melhor compreendermos essa desafiante empreitada teatral, e logo após, o meu olhar sobre o trabalho numa sucinta crítica.
“O ator João Campany dá vida a dois personagens: O Imperador do país e um ator dos tempos atuais; iniciam um embate referente à nossa história, fazendo o público repensar os atos que moldaram a sociedade brasileira, questionar valores e atitudes de um dos maiores nomes da história do Brasil”.
“Resgata a figura histórica refletindo a eficácia de seu governo, os atos impulsivos, o início da corrupção no Brasil e o machismo que sempre esteve presente em suas relações familiares”.
“O texto de Daniel Herz, João Campany e Roberta Brisson, mistura passagens históricas e fictícias para lançar ao espectador a pergunta: O legado do primeiro império é realmente positivo?”.
“A Liberdade é diferente de Independência. D. Pedro proclamou a independência de um país em relação ao outro que colonizava. Será que com isso ele realmente garantiu a liberdade de várias etnias que povoam o Brasil?”.
“O drama é a tentativa delirante de D. Pedro retomar o poder em 2022. No processo ele enfrenta um artista/ator que questiona seus valores e conduta. D. Pedro é autoritário e o ator não pretende permitir que seu corpo seja veículo para este governante de caráter e conduta duvidosas.
Atual né? ( A parte meu, Francis Fachetti). Quem vencerá?”.
O texto traça um paralelo ferrenho em imersiva e contundente costura história/ficção desembocando nas atuais condições e atitudes políticas de hoje, aqui e agora.
Texto em pura narrativa expressionista – na arte do instinto, como uma pintura dramática, em sentimentos humanos, do artista -, como se tivesse dando forma ao amor, medo solidão, miséria…
Um texto em linguajar coloquial eloquente, com todos os ingredientes de uma dramaturgia de referência. É lindo ouvir a palavra Liberdade no lugar de Independência: “A Liberdade é diferente de Independência”. Uma “sacada” de extremo tocante e necessária: “LIBERDADE OU MORTE”.
Cenários e figurinos por Cecília Cabral acompanhando sua direção de arte em identidade que conduz o espetáculo às ações exitosas num corroborar com a eficácia envolvente em cena.
Aurelio de Simoni pontua lindamente as cenas com seu desenho de luz, entregando a cada momento sua sapiência de uma caminhada coroada.
Emocionante, instigante, é pouco para descrever a incrível sensibilidade na trilha sonora por Pedro Nêgo.
Daniel Herz( também texto), se coloca mais uma vez assinando e se embrenhando de alma numa direção que mexe com seu corpo enquanto artista. Em sensível, criteriosa, certeira união; amalgamando sua vocação a de um ator ousado e corajoso(João Campany), que Daniel pouco, ou nada conhecia. Um trabalho artesanal, cirúrgico, parceiro, dando oportunidade para que tenhamos uma empreitada teatral surpreendente e impactante – que carimba e arrebata o cenário cultural incontestavelmente.
Um direção pesquisada, locupletando a idealização do ator – enchendo e enchendo-se no encoleirar-se de necessários feitos. Preenchendo e ocasionando sua própria riqueza como diretor, descortinando e aumentando a sua e a nossa fortuna cênica.
Uma direção abarrotada que sacia o momento cultura.
Idealizador, texto(coautor), ator, produtor: esse é João Campany. Toda minha infinita deferência por acumular responsavelmente todas essas funções, coisa que estou tentando e vou fazer.
Toda minha deferência por esse intérprete sem limites cênicos: Bravo!!!
Jocoso em sua expansão no texto e atuação. Ironia medida pela capacidade de talento expandido por sua vocação, ousadia e coragem.
João Campany se desdobra em dois personagens; aguerridos, donos de si e atravessadores.
Pedro I em sua postura garbosa, sedutora, autoritária; sem perder o prumo. Uma construção airosa de um galante decadente e derrotado. Um Guapo envolvente, em corpo firme, numa colocação corporal estudada, convincente.
O personagem contestador, o ator, é de um carisma infindável na sua construção corpórea “desconectada” propositalmente – nos seduzindo com sua imensa verdade cênica. Campany constroe um personagem/ator que conduz a aula/cena como um mestre de infinitos conhecimentos e possibilidades – é o contraponto da ignorância do personagem Pedro I; com sua arguição, análise, inspeção, com um pesquisado e sábio trabalho vocal e corporal.
A direção de movimento de Daniel Herz se faz incrivelmente bela em cena, partindo de uma pesquisa de ficalidade, formando um mosaico de movimentos imprescindíveis e diferenciado nesse solo. Dando um suporte e subsídios ao grande talento do ator João Campany , Claro, o resultado é esplêndido num corpo receptivo como o de Campany. Daniel fez o mesmo no monólogo “Cálculo Ilógico”, que também dirigiu e apurou os movimentos da atriz – monólogo esse que eu fiz a crítica teatral pela potência teatral cênica -, assim como em “PEDRO I”.
Penso e afirmo, que deveria constar na ficha técnica como direção de movimento: Daniel Herz – pensem nisso – merecia ser premiado, também, por esse árduo trabalho que requer minucioso conhecimento.
João Campany é o dono dessa irrefutável história/espetáculo: Ator NECESSÁRIO! Espetáculo NECESSÁRIO!
“PEDRO I” é um espetáculo de coragem, ousadia e talentos.
Termina sua temporada nesse sábado, 01/10, no incrível Paço Imperial e já vai estrear em outro espaço cênico. Aguardem!
Por Francis Fachetti – Ator, diretor de movimento, bailarino, coreógrafo, dançarino de flamenco e crítico teatral e de dança.
Instagram @f.fachetti
@dragoescaiomonologo
E-mail: f.fachetti@hotmail.com
João Campany em: PEDRO I.
Foto: Patrick Gomes.
Espetáculo: PEDRO I – Direção: Daniel Herz.
Foto: Francis Fachetti.
Foto:Patrick Gomes.
Espetáculo: PEDRO I.
Direção: Daniel Herz.
Foto: Francis Fachetti.
PEDRO I –Direção: Daniel Herz.
João Campany no monólogo: PEDRO I.
“PEDRO I”