Crítica Teatral: “TRÁFICO”. Com Robson Torinni.

Teatro Crítica: Por Francis Fachetti.

Em cena Robson Torinni. Teatro Poeirinha.

Foto: Francis fachetti

Robson Torinni

Foto: Francis Fachetti.

Robson Torinni.

Foto: Francis fachetti.

Tráfico” – Robson Torinni.

Foto: Francis fachetti.

No imponente e agradável Teatro Poeira – no Poeirinha – desenreda-se uma arquitetura cênica das mais instigantes, invasiva, desafiadora, que nos leva a nos enxergarmos naquele universo “delicioso” que quase todos se identificam; a sedução é a dona da cena, seja dentro ou fora da caixa preta cênica.

Eros e Thanatos – deuses mitológicos que na psicalálise simbolizam o desejo erótico e o fascínio pela destruição – vivem simultameamente em todo ser humano. É a partir desse mote entre os impulsos e pulsões da vida e morte que se destrincha o espetáculo “Tráfico”.

Na linha da autoficção de Sergio Blanco, Alex, um jovem periférico – fruto das desigualdades, problemas familiares e com a namorada, trilha caminhos sedutores e violentos.

Fruto de uma paixão que o enreda na sua caminhada, áreas das mais sombrias permeará a vida desse jovem: Eros e Thanatos é ilustrado nessa cena teatral por Alex – que usa seu corpo sinuoso, seus desejos mais deliciosos, eróticos e sórdidos, sua beleza, o perverso no ser humano, para exercitar o fascínio pela destruição e alcançar seus mais ambiciosos intentos. Tudo isso carregado por uma desestrutura familiar que deu lugar a uma vunerabilidade explosiva e definidora.

Seus encontros são narrados num desnudar convergendo fragilidade, poder, amor, ódio, vingança… o levando para um beco sem saída.

Realidade e monstruosidade se aclaram em cena em momentos que acessam um espelho na nossa frente nos colocando muitas vezes donos dessa estória e dessa história – real e ficção.

Esse é o espetáculo “Trafico” que o espectador presencia, onde potencializa sua libido, te seduz, te enreda e te mostra que você é, será, ou pode ser um Alex: uma pessoa irascível – encolera-se fácil, que tem gênio difícil, irritável, conflituoso/genioso – numa mistura de frágil, emotivo, impulsivo, sedutor, extremamente prazerozo, tendo o “marginal” numa bolha de desprezo, carência, em toda esfera social e familiar.

Tráfico” – de Sergio Blanco , com Robson Torinni.

Foto: Francis Fachetti.

Sergio Blanco realiza uma pesquisa de imersão aprofundada em um levantamento cênico ao redor de um tema que permeia suas obras literárias, levando-as para a cena teatral :

Autoficção – dizer-se no palco.

Liberdade é sua palavra chave, tanto no pessoal, como em suas contundentes narrativas de reflexões dentro da realidade, caminhando para o estudo da existência do ser, buscando entendê-lo – em uma literatura de demasiado desbragar; libertar-se, desregrar-se, tornar-se libertino.

Contextualiza uma das latentes e significativas dramaturgias que nos acomete na atualidade, locupletando/enriquecendo nosso conteúdo, em surpreendente e abarcadora carreira, através de seus escritos.

O desenho de luz por Bernardo Lorga se desenvolve coeso, sintetizador, fluente, com transição e rapidez estruturando o espetáculo – ajudando a transmitir as emoções necessárias; corroborado pela sutil beleza ilustrativa na trilha sonora por Marcelo H.

Toni Rodrigues num minimalismo de plena criatividade imprimi na fisicalidade o clima sedutor e violento.

A funcionalidade da direção de arte por Gilberto Gawronski reside na imprescindível responsabilidade de unir a estética e a espacialidade cênica nos elementos visuais.

Austera e estóica se configura a direção por Victor Garcia Peralta. Robson Torinni capitaneado pela mãos irrefutáveis desse Maestro da cena que o conduz em seus minímos gestos e emoções. NECESSÁRIO!

Robson Torinni começa e se transmuta sensivelmente numa emoção crescente em Alex – comedido, amparado na intuição e na direção cuidadosa, vai nos enredando e nos assustando: nos enxergamos dentro da cena; somos todos Alex; no meu olhar essa foi a intenção desse trabalho.

Um ator que consegue provocar, seduzir, nos tocar – no sentido duplo da palavra – e chegarmos no extremo de uma emoção reflexiva.

Merece toda nossa deferência, se firmando como um intérprete múltiplo.

Esse monólogo o levará a personagens jamais imaginados. NECESSÁRIO!

Como diz Sergio Blanco:

Tráfico” é o espetáculo em que mais me desnudo, mais me exponho e mostro um lado mais criminoso”.

Vá conferir essa afirmativa e descubra quem você pode ser, quem você é ou será.

 

Em cena Robson Torinni. Foto: Francis fachetti.

Robson Torinni.

Foto: Francis Fachetti.

Teatro Poeirinha.

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