O Blog/Site de Críticas Teatrais e de Dança
Apresenta:
INÉDITA!
Clara Santhana
Atriz e Cantora.
Clara Santhana.
Clara Santhana em “Deixa Clarear”.
Clara Santhana em “Outras Marias”.
O Blog/Site reiniciou a temporada de Retrospectivas e INÉDITAS das inúmeras homenagens feitas aos artistas das artes cênicas em geral – teatro, dança, cinema, técnicos: Operários das Artes.
Projeto: “Entrevistas NECESSÁRIAS”, inserido nesse Blog/Site de Críticas Teatrais e de Dança, no começo da pandemia.
A Operária das Artes da vez é a atriz e cantora de talento e beleza irrefutáveis – CLARA SANTHANA.
Entrando na Entrevista NECESSÁRIA INÉDITA com:
CLARA SANTHANA.
Francis Fachetti – Estamos muito curiosos para sabermos sobre esse prêmio da Funarte pelo projeto: “Sangue De Dinossauro”, onde você atua e assina a autoria dos contos. Aclare para todos os pormenores desse projeto.
Clara Santhana – O projeto “Sangue de Dinossauro” nasceu durante a pandemia, no período mais crítico de isolamento social.
Nesse momento, me encontrava isolada em um sítio em Visconde de Mauá, lugar onde vivi minha adolescência com meus pais. Com a impossibilidade de fazer Teatro, estava muito inquieta.
Tivemos na área da cultura alguns Editais que possibilitaram que os artistas realizassem trabalhos de maneira remota e foi através do prêmio Funarte Respirarte que pude fazer o Sangue de Dinossauro.
Trata-se de um vídeo gravado em uma janela antiga, onde literalmente “abro a minha janela”, e convido o público a entrar, metaforicamente falando. Nesse vídeo interpreto dois contos de minha autoria – “Sangue de Dinossauro” e “Mãe Dia”.
“Sangue de Dinossauro” se baseia numa experiência pessoal onde precisava me reencontrar devido a uma dor de amor. Daqueles momentos em que se perde a cabeça… Foi através de um contato intenso com minha ancestralidade paraibana sertaneja que me refiz.
“Mãe Dia” é um mergulho na minha árvore genealógica materna onde me deparo com a figura de minha bisavó que me inspira coragem e acaba por lançar uma reflexão parafraseando Diadorim em Grande Sertão – Veredas: “Carece de ter coragem”. “Carece de ter muita coragem”.
“Sangue de Dinossauro” e “Mãe Dia” são uma volta para casa, um reencontro. Neles, saúdo meus ancestrais.
“Sangue de Dinossauro”.
Francis Fachetti – Faça uma explanação – dentro da linguagem audiovisual – sobre as seguintes obras que esteve presente e muitos não sabem do que se trata.
– “Uma Viagem Inesperada” – longa argentino de 2018.
“Uma Viagem Inesperada”.
Foto: Pablo Rago.
– “Homens?”, de Fábio Porchat.
Clara Santhana – “Uma Viagem Inesperada” foi uma produção entre Brasil e Argentina.
“Homens”.
Um longa dirigido por Juan Jose Jusid, diretor argentino, com parte do elenco brasileiro. Nele, contracenei com Pablo Rago, ator Argentino que participou de filmes importantes como “O Segredo dos Seus Olhos”, que amo e “A História Oficial”.
Ambos receberam o Oscar de melhor filme estrangeiro. Foi bastante interessante contracenar com ele e ter a direção de Jusid.
O cinema Argentino é uma referência em atuação e filmes incríveis.
“Homens”? É uma série de comédia criada por Fábio Porchat, em que se discute as masculinidades de forma crítica e humor afiado da através de protagonistas masculinos.
Francis Fachetti – Na linguagem teatral gostaria que discorresse, o que for possível, sobre os espetáculos que atuou:
– “Renoir, a Beleza Permanece”.
“Renoir, a beleza permanece”.
Clara Santhana e Isio Guelman.
– “Hamlet” da Cia. Teatral Armazém:
“Hamlet”.
Clara Santhana e Patricia Selonk.
– “Gabriel Só Quer Ser Ele mesmo”:
“Gabriel Só Quer Ser Ele Mesmo”.
Clara Santhana – “Renoir, a Beleza Permanece” é um projeto de Jenny Mezencio com direção de Isaac Bernat e texto de Rogério Correa.
Partindo da vida e da obra do gênio da pintura Pierre August Renoir, Correa criou uma narrativa contemporânea, levantando na peça questões como misoginia, machismo, racismo, espaço das minorias nas artes, euro centrismo, reconhecimento, temporalidade.
Foi um espetáculo que encenamos ano passado em São Paulo, no Teatro do MASP e tenho muita vontade de fazer aqui no Rio. Esses assuntos me interessam muito e a equipe é toda incrível.
Minha personagem Lucia Conhen, uma curadora de arte, questiona episódios da vida de Renoir e trazer para a discussão a objetificação do corpo feminino na pintura.
Contraceno com Isio Ghelman, que interpreta Renoir e com Izak Dahora, que interpreta Derek Jameson – um ativista cultural que questiona a relevância de se ter Renoir nos grandes museus. Uma quente discussão sobre a arte, o artista, o tempo…
“Hamlet”, da Cia Armazém foi uma montagem da obra de Shakespeare feita pela Cia com direção de Paulo de Moraes que estreou em 2017.
Havia assistido no CCBB e amado o espetáculo. Ano passado tive a oportunidade de ser dirigida pela Patrícia Selonk em “Outras Marias” e a partir daí veio o convite do Paulo para que fizesse a personagem Ofélia, lindamente interpretada por Lisa Eiras na montagem original. Foi uma honra enorme, sempre fui grande admiradora do trabalho da Armazém e interpretar Ofélia nesse espetáculo significou muito para mim. Foi forte e intenso, porque essa personagem por si só é um abismo, e a abordagem do Paulo é bastante visceral, direta, tem uma pegada Rock´n Roll. Um prato cheio para uma atriz. Contracenar então com Patrícia no seu brilhante Hamlet… um sonho.
“Gabriel só quer ser ele mesmo” é um musical infantil de autoria de Renata Mizhari e direção dela com Priscila Vidca.
Estreamos no SESC Tijuca em 2020 pouco antes da pandemia. Estávamos tão felizes, com viagens marcadas e infelizmente vimos tudo ser adiado -para quando…? Mal imaginávamos.
Mas, este foi um trabalho que nos uniu (ainda que virtualmente) nesse período tão difícil que atravessamos. Amo essa peça. A equipe é toda linda e de amigos.
O enredo fala sobre um assunto importante para as crianças: a de que podem ter suas escolhas de brincadeiras e gostos, independente de gênero.
O protagonista Gabriel questiona muita coisa, como por exemplo, por que as meninas são consideradas mais frágeis se ele conhece mulheres tão fortes? Porque dançar Ballet é coisa de menina?
Francis Fachetti – Esmiúce para nós como foi essa sua idealização, e como são suas sensações ao interpretar um dos maiores expoentes musicais da nossa música: CLARA NUNES.
Aproveite e divulgue esse lindo e necessário trabalho “Deixa Clarear”, 10 anos de um musical iluminado na cena teatral; apresentação no Teatro Rival e temporada em São Paulo desse: Espetáculo NECESSÁRIO!
Clara santhana – No final de 2012 tive a ideia de fazer uma peça sobre Clara Nunes.
Eu estava pesquisando sobre sua vida, vendo entrevistas, escutando sua discografia e lendo muito sobre ela. Veio como um insight: preciso homenagear essa artista no Teatro!
Por coincidência temos o mesmo nome e desde pequena eu tinha uma curiosidade de saber melhor quem tinha sido Clara Nunes. Mas foi quando vim morar no Rio com 17 anos para fazer Artes Cênicas na UNIRIO que meu amor por ela começou a despertar.
Durante a graduação, estive muito presente no NEPAA (núcleo de estudos de pesquisas das performances afro ameríndias), coordenado pelo professor Zeca Ligiéro, e o que dizia respeito as pesquisas relacionadas à cultura Afro Ameríndia tomou um espaço grande em mim – e a trajetória de Clara Nunes, seu discurso musical esteve muito ligado a estas culturas de raiz.
Ela levantou essas bandeiras através de seu canto. Toda essa ligação foi instigando meu interesse por sua figura e em 2012, já depois de formada, tive essa ideia. Não pestanejei, convidei o mestre Isaac Bernat, grande artista que tinha sido meu professor na UNIRIO e tinha me afinado muito com ele. Para minha alegria ele topou de cara, foi um incentivador do projeto e assim nossa equipe foi se formando, e foi composta por artistas e trabalhadores da arte que muito admiro: Alfredo Del Penho na Direção Musical, Marcia Zanelatto no texto, Marcelle Sampaio na Direção de Movimento…
Sandro Rabello chamei para produzir (ele tinha sido meu colega de turma) e se tornado um super produtor, produzindo coisas grandes como a FITA (Festa Internacional de Teatro de Angra). Ele também veio junto e desde então não nos soltamos mais. É um irmão para mim e desenvolvemos uma linda parceria.
Pesquisei muito, fui a Caetanópolis no início de 2013 para entrevistar Dindinh – irmã mais velha de Clara Nunes que a criou e lhe pedir permissão para fazer a peça.
Colhi também entrevistas de pessoas ligadas à sua infância e visitei lugares por onde ela passou. Fui a Portela também atrás de histórias dela. O espetáculo nasceu em 2013, sem patrocínio, com uma apresentação na FITA seguida de temporada no Teatro Café Pequeno.
De cara o sucesso foi tanto que prorrogamos a temporada e não paramos mais. De lá fomos para o Teatro das Artes, no Shopping da Gávea, depois o imenso Teatro João Caetano, lotando os 1200 lugares. E lá se vão 10 de “Deixa Clarear”, visto por mais de 500 mil pessoas.
Muito amor por este trabalho e por todos os encontros, frutos, parcerias e alegrias que ele gerou.
Esse ano de 2023 vamos celebrar com apresentação única no Teatro Rival Refit no dia 6 de Abril às 19:30, seguida de uma mini temporada em SP, no Teatro J. Safra, de 16 a 24 de Abril – mês e ano em que se completam 40 anos de falecimento da Guerreira, como Clara ficou conhecida, e 100 anos da Portela – sua Escola de Samba de coração (e também do meu).
Esse ano tive a imensa emoção de interpretá-la na Avenida, no desfile do Centenário da Majestade do Samba.
É bonito olhar para trás e lembrar de tudo o que já vivemos.
“Deixa Clarear”.
Clara Santhana em “Deixa Clarear”.
4.1 – Francis Fachetti – Fale sobre a direção desse operário das artes mega necessário – Isaac Bernat.
Clara Santhana – Falar sobre Isaac Bernat é muito especial.
Ele é primoroso em tudo o que faz. Um verdadeiro homem de Teatro que tem muito a ensinar e contribuir com seu olhar para o mundo.
Foi maravilhoso ser dirigida por ele em Deixa Clarear, porque ele abraçou o projeto desde o início, acreditou em mim e desde então virou um padrinho para mim na arte. Grande amigo, mestre e diretor.
Tenho muita honra que Deixa Clarear, nosso primeiro encontro no Teatro depois de ter sido sua aluna na graduação em Artes Cênicas da UINRIO, tenha trilhado um caminho tão rico. Tenho certeza que ele contribuiu fortemente para isso. De lá pra cá, já fui dirigida por ele em vários espetáculos: “Lili, uma história de circo”, “Então?”, “Profetas da Chuva” e o mais recente, “Renoir, a Beleza Permanece”) e é sempre um presente ter sua direção.
Ele é um maestro muito sensível, generoso, brilhante. Pura admiração e gratidão por tê-lo encontrado na vida.
Operário da Arte: Isaac Bernat.
4.2 – Explane suas impressões dessa nossa autora de escrita provocadora, inquietante – Marcia Zanellato – no texto “deixa Clarear”, e nas suas outras obras dramatúrgicas. Quem é Marcia Zanellato no olhar de Clara Santhana?
Clara Santhana – Marcinha para mim é uma Deusa das palavras. Costumamos brincar dizendo que Deixa Clarear ela bordou as palavras com fios de ouro. Uma bordadeira de mão cheia.
Eu amo os textos que Márcia escreve, porque são cheios de poesia e pra mim eles tem uma qualidade infinita – inesgotável de interpretações.
É curioso que em Deixa Clarear, mesmo eu tendo feito mais de 400 apresentações eu consiga encontrar sempre uma nova nuance, um novo sentido sugerido pela combinação de suas palavras. Acredito que por este motivo eu goste tanto do que ela escreve.
Há também outro fator que nos une e que pude confirmar em “Outras Marias”, nosso segundo trabalho junto, que Márcia parece ter acesso aquilo que eu penso. Ela me entende muito bem nas ideias e anseios. Há uma comunicação artística fina entre nós. É lindo de sentir.
Francis Fachetti – Para terminar com chave de diamante, vamos falar do atual – Espetáculo NECESSÁRIO: “Outras Marias”. Assisti, e não pude resenhar uma crítica teatral aqui no Blog/Site, pela correria do momento, porém, divulguei sem parar – existem inúmeros motivos para ser considerado um Espetáculo NECESSÁRIO!
Gostaria que você elencasse/especificasse esses motivos enquanto idealizadora e intérprete do belo e impactante “Outras Marias”.
A arquitetura construída em cena pelos profissionais envolvidos é bravíssima!!!
Patrícia Selonk e Marcia Zanellato se colocam como uma diretora e autora que se encontram arraigadas, muito íntimas no profundo da proposta; assim como sua interpretação – amalgamadas!!!
Clara Santhana – Posso dizer que estou muito feliz com a estrada de “Outras Marias”.
Em cena em “Outras Marias”. Foto: Ariel Cavotti.
Nascemos no ano passado e já estamos na nossa quarta temporada, caminhando para a quinta que será no Teatro da UFF em Niterói. São vários os motivos da minha felicidade. O primeiro e principal deles é por ter a oportunidade de dar voz a estas sete Marias presentes no enredo e que se multiplicam em tantas e tantas Marias existentes.
Nossas Outras Marias viveram e foram (são ainda) incompreendidas, ocultadas, caladas, apagadas pela História – essa com H maiúsculo.
Falar sobre cada uma delas é potencializar nossas vozes femininas, ventilar preconceitos (inclusive os nossos) e honrar as mulheres em sua diversidade. Sinto que com isso criamos um eco de fortalecimento coletivo das mulheres.
Tenho percebido pela reação emocionada do público, pela maneira como somos abraçadas em cada teatro que chegamos. Tenho profundo amor e respeito por cada Maria que represento com este espetáculo. Outro forte motivo se dá pela equipe que se formou para a criação e execução deste trabalho. Tenho grande admiração por cada profissional que faz parte desse trabalho, orgulho em dizer que é majoritariamente feminina. Um trabalho feito por mais e corações de mulheres em sua maioria.
Em cena em “Outras Marias”. Foto: Ariel Cavotti.
Patrícia Selonk é uma artista gigante que generosa e sensivelmente trouxe toda sua bagagem, dirigindo de forma muito leve, precisa e profunda. Sou muito grata por este encontro. Já era encantada por ela no palco e pude me encantar mais ainda por seu trabalho a cada dia no fazer.
Marcia Zanelatto fez um arco-íris de Marias, trazendo pimenta, cebola, bolinho de laranja…Hora a gente gargalha, hora a gente chora com seu texto.
Cátia Costa é uma “mestrona” que fez um trabalho importantíssimo e lindo, provocando estes corpos errantes das Marias, corpos que desafiam um padrão normativo.
Cláudia Elizeu é Rainha e veio com o brilho da música chacoalhando as almas e as cadeiras.
As musicistas, sou apaixonada por elas, são pura sintonia comigo, de uma afinidade ímpar. Mulheres muito lindas e que jogam junto a cada noite. Verônica Fernandes no Acordeom e Geiza Caldas na percussão. Beà Ayòóla quando está (alterna com Geiza a percussão), também traz sua força da natureza. Ilea Ferraz, com sua presença através de sua voz potente nas falas de Maria Felipa de Oliveira. E por aí vai…mais uma parceria com Sandro Rabello, meu já citado e amado Irmão, produtor incansável atento em cada detalhe que faz a carroça lindamente andar. Doris Rollemberg com sua enorme elegância e escuta – fez um cenário todo encantado.
Dani Sanchez com uma iluminação que é puro axé.
Wanderlei Gomes com um figurino belíssimo e versátil, surpreendente a cada cena. Diego Nardes no visagismo sempre irretocável. Raquel Alvarenga no design gráfico, fantástica. Fernando Capão, mestre do som que fez o desenho sonoro. João Saidler, que fez a foto do cartaz, uma obra de arte. Raquel Almeida, com sua assessoria cuidados., Ariel Cavotti, com seu olhar precioso nas Fotos de cena, e todos aqueles profissionais que contribuíram e contribuem de alguma maneira para a caminhada de “Outras Marias” como Nicholas Bastos, Christovam de Chevalier, Ângela Santana, Otto Siqueira, Felipe Antello, Marcela Coelho, Marcio Netto , Nina Balbi, Liliam de Mattos, Alessandra Cadore, Pedro Amarall, Jhonatan Cruz, Pablo Cardoso, Junior Alexandre, Eduardo Andrade, Marcely Soares…
Em cena em “Outras Marias”. Foto: João Saidler.
Mulheres e público de “Outras Marias”.
Simplesmente:
CLARA SANTHANA.