Daniela Pereira de Carvalho: Dramaturga

O Blog/Site de Críticas Teatrais e de Dança

Apresenta:

 

Retrospectiva Repaginada e com Atualizações:

 

DANIELA PEREIRA DE CARVALHO

 

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O Blog/Site iniciou a temporada de Retrospectivas e INÉDITAS das inúmeras homenagens feitas aos artistas das artes cênicas em geral – teatro, dança, cinema, técnicos: Operários das Artes.

Projeto: “Entrevistas NECESSÁRIAS”, inserido nesse Blog/Site de Críticas Teatrais e de Dança, no começo da pandemia.

 

 

 

 

 

 

Antes de entrarmos na Entrevista NECESSÁRIA de nossa dramaturga, iremos fazer uma breve atualização dos trabalhos efetivados mais recentes, e logo após vem a retrospectiva de DANIELA PEREIRA DE CARVALHO feita no começo da pandemia, no início do Projeto: “Entrevistas NECESSÁRIAS”.

 

ATUALIZAÇÃO:

 

– No segundo semestre vai reestrear o espetáculo – uma nova temporada – de “27’s” com Gustavo Rodrigues.

 

Espetáculo “27’s”.

 

– Teremos també no segundo semestre uma nova versão de “A Revolução Dos Bichos”, que vai se chamar “Outra Revolução Dos Bichos” – um monólogo do porco Napoleão – interpretado por Gustavo Damasceno.

 

– Ano passado teve a “A Revolução dos bichos”.

“A Revolução Dos Bichos”.

 

– Esse ano, “A Hora Do Boi”.

 

 

 

 

 

 

– Nesse momento estou escrevendo um musical infanto-juvenil com o cineasta Lui Farias, para o teatro.

 

– Escrevendo também um roteiro que será dirigido por Susanna Lira.

 

– Escrevendo outro roteiro em parceria com Marcelo Serrado.

 

 

 

 

 

O projeto – Entrevistas NECESSÁRIAS – não poderia ser melhor laureado e chancelado, ao final de sua comemoração de 01 ano dando luz e visibilidade aos artistas; recebe em seu palco, uma entrevistada das mais sensíveis e reflexíveis – dentro do renome da nossa dramaturgia.

Com um conteúdo de escrita com notabilidade e contudência, política em explanações aclaradas em suas narrativas textuais inexoráveis.

Formada em atriz pela CAL. Em teoria do Teatro, com Mestrado em Artes Cênicas pela UNIRIO.

Um dos mais importantes expoentes da dramaturgia brasileira contemporânea.

Dramaturgia de presença obrigatória na cena teatral, integrou com muito êxito e projetou categoricamente o trabalho da Cia. Teatral Os dezequilibrados, com direçao de Ivan sugahara – grupo que trabalhava com espaços não convencionais.

Textos como: “Vida, O Filme”; “Combinado”; “Dilacerado”; “Lady Lázaro”.

A partir de um certo momento começou a disponibilizar seus solos literários: “Conciliando narração com interpretação, numa exposição escrita em voo livre”.

As questões teóricas, polemizadas e políticas, aparecem fortemente em seus textos – preocupando-se com uma proposta de estrurura.

Desenvolveu uma pesquisa em Teoria do Teatro de Revista, junto com a brilhante historiadora e crítica teatral Tânia Brandão.

Pensou em transitar na carreira acadêmica, até ter um encontro revelador e marcante na sua trajetória com o mestre Domingos Oliveira.

Iremos entender um pouco desse universo dessa dramaturga que tenho o prazer e a honra de receber nesse espaço de fala cultural. A Operária das Artes:

Daniela Pereira de Carvalho.

 

  

 

 

Entrando na Retrospectiva da Entrevista NECESSÁRIA  com:

DANIELA PEREIRA DE CARVALHO.

 

 

 

 

Francis .Fachetti – Cia. “Os Dezequilibrados” teve em você uma dramaturga que se imiscuiu lindamente na escrita levada por eles aos palcos. Dirigida por Ivan Sugahara explorava espaços pouco habituais para apresentar seus espetáculos.

Torne conhecido para nós como era esse seu processo de escrita daquela época, onde seus textos exponenciaram o trabalho do grupo.

Qual desses textos tomou uma forma cênica que mais te agradou no descortinar dos “Desequilibrados”?

 

Daniela Pereira de Carvalho – Nos conhecemos na CAL e na Unririo. Quando entrei para Os Dezequilibrados eles já tinham feito algumas peças importantes – como “Crime e Castigo” e “Bonitinha, mas ordinária” na Casa da Matriz.

Minha primeira peça encenada com eles – a primeira da minha carreira – foi “Vida, o Filme”, em 2002, eu tinha 23 anos. Era à meia-noite, dentro do hall de um cinema, eu operava os vídeos, era muita ralação! Mesmo com os perrengues, ficamos muito realizados fazendo!

Criávamos em processo colaborativo, dentro de sala de ensaio. Os atores improvisavam, eu ia para casa, escrevia uma cena. No dia seguinte, testávamos.

Fizemos “Dilacerado” assim também. A trilogia de suspense, “Assassinato em Série” – apesar da leveza do texto – foi um experimento espacial bastante radical. Acho muito interessante também.

Espetáculo: “Dilacerado”.

 

“Vida, o filme” é meu trabalho preferido com Os Dezequilibrados! Por ser o primeiro e ter cenas tão bonitas e por ter me dado essa amizade eterna com as pesssoas daquela companhia.

Letícia é uma das minhas melhores amigas nessa vida, Ivan, Saulo, Angela, Cristina, Karini. É um patrimônio ter peças em comum com esses artistas.

Tomás Ribas, o iluminador, meu irmão, melhor amigo inseparável, “Vida, o filme” foi nosso primeiro trabalho juntos. Fazíamos tudo juntos e fizemos minha primeira peça juntos também, muito especial.

O Francisco Slade que fazia o som da peça também! Meus dois grandes amores.

E, claro, “Vida, o filme” me deu o Bruce, meu parceiro fundamental.

“Vida, O Filme”.

Espetáculos: “ Vida , O Fime” e “Dilacerado”.

 

 

 

 

 

 

Francis Fachetti – Quando passou a um trabalho solo, você disse: “Passei a caminhar na contramão da experimentação espacial, queria contar histórias mais simples”. Pode dissecar essa sua fala?

Daniela Pereira de Carvalho – Não lembro em que contexto falei isso, mas acho que devo ter pretendido dizer que o espaço deixou de ser um pressuposto para o ponto de partida das minhas peças. O espaço não determina mais a dramaturgia. A dramaturgia é que determina o espaço.

 

Espetáculo “Cowboy”. Dramaturgia: Daniela Pereira de Carvalho. Com: Susana Ribeiro. Direção: Henrique Tavares.

Espetáculo: “Cowboy”.

Espetáculo: “Cowboy”. Com: Saulo Rodrigues e Susana Ribeiro.

 Dramaturgia: Daniela Pereira de Carvalho.

Cena de “Lady Lázaro”. Dramaturgia Daniela Pereira de Carvalho.

 

 

 

Francis Fachetti – Sua parceria com Bruce Gomlevsky é um perfeito amálgama para o cenário teatral. Qual segredo dessa união? Como você avalia tantos anos de sucesso com o emocionante e arrebatador – “Renato Russo – O Musical”?

Daniela Pereira de Carvalho – O sucesso longevo da peça, “Renato Russo – O musical”, se deve, é claro, ao Renato, à obra dele com a Legião. Esse é o motor principal do trabalho – a poética afetiva e política do Renato Russo.

Mas acho que o trabalho de todos nós, criadores da peça, Bruce, Mauro Mendonça Filho, a banda… Todos. É um trabalho de excelência e isso é também uma das colunas dessa longevidade.

Minha parceria com o Bruce é perpétua. O segredo é a amizade. Somos muito unidos.

Bruce Gomlevsky em: “Renato Russo – O Musical”. Dramaturgia: Daniela Pereira de Carvalho.

 

 

Temos nossas diferenças, temos nossas semelhanças e as duas coisas são grandes estímulos criativos e afetivos. Impulsionamos um ao outro e apoiamos um ao outro.

São vinte anos de amizade. Somos comprometidos com isso, com o aprimoramento da nossa parceria. Temos alguns projetos novos em andamento, sempre teremos projetos juntos.

 

Bruce Gomlevsky em: “Renato Russo”. Dramaturgia: Daniela Pereira de Carvalho.

 

 

 

Francis Fachetti – Gostaria que falasse sobre dois textos pelos seus conteúdos polêmicos, necessários e “perigosos”: “Não existem níveis seguros para consumo dessas substâncias” e “Por uma Vida menos Ordinária”.

Daniela Pereira de Carvalho – As duas peças, apesar de serem muito, muito diferentes mesmo, têm uma coisa em comum: são peças sobre o desperdício da pulsão de vida.

No “Não existem níveis seguros para consumo dessas substâncias”, os personagens – presos a um trabalho burocrático e a uma vida burocrática – se afogam no senso comum. Suas vidas estão entupidas de café e cigarro.

Em “Por uma vida um pouco menos ordinária”, os personagens se debatem, ainda tentam fugir desse aprisionamento da vida comezinha, da mediocridade mediana.

No “Não existem…” o unvierso é classe média conservadora ou pseudo conservadora. No “Por uma vida…”, eles são cultos, artistas… A cocaína é quase um personagem no “Por uma vida”… Não “Não existem”.

 

Espetáculo: “Por Uma Vida Menos Ordinária”.

 Dramaturgia: Daniela Pereira de Carvalho.

“Por Uma Vida Menos Ordinária”.

 Dramaturgia: Daniela Pereira de Carvalho.

“Por Uma Vida Menos Ordinária”.

 

 

 

 

Francis Fachetti – Ao se debruçar em uma dramaturgia a estrutura tem que conter contornos e assentos – construído com fundamento, decisivo e acordado. “Uma estrutura realista que se desminta”, como você mesma diz. Continua pensando assim? Pode comentar, aprofundar-se sobre?

Daniela Pereira de Carvalho – Não usaria mais a palavra realista. Agora, acho equivocada. Mas, em síntese, ainda acho que é uma boa ideia sobre dramaturgia. Ter uma estrutura para desmontá-la – ter uma estrutura e criar desvios. Não importa se essa estrutura é realista ou não.

 

 

Francis Fachetti – Disseque como foi o processo da escrita de ”Um Certo Van gogh”; um artista emblemático, com uma história abissal, onde você caminhou numa dramaturgia contemporânea.

Aborde para todos, essa opulenta pesquisa que fez junto com Tânia Brandão em torno do Teatro de Revista e conte dessa vultosa aproximação com o mestre Domingos Oliveira.

 

Daniela Pereira de Carvalho – “Um Certo Van Gogh” foi um convite do Bruno Gagliasso.

Ele me chamou para escrever, ele queria fazer o papel. E me deu toda a liberdade para escrever o que eu quissesse. Então, criei uma história em dois tempos, uma no século XXI, outra no século XIX que seguiam paralelas, mas tinham pontos de intercessão, por assim dizer.

Era uma equipe maravilhosa. João Fonseca, dirigindo, incrível parceiro, inteligentíssimo. Os atores… Marcelo Valle, que eu amo – um dos meus atores preferidos. Pedro Garcia Netto, meu grande parceiro, em várias peças. Larissa Bracher, maravilhosíssima! E o Bruninho, esse ator formidável, intenso, catártico.

Ficamos dois anos em cartaz, viajamos o país inteiro. Uma experiência muito bem sucedida – de teatro e de vida.

Espetáculo: “Um Certo Van Gogh”. Dramaturgia: Daniela Pereira de Carvalho.

“Um Certo Van Gogh”. Dramaturgia: Daniela Pereira de Carvalho.

 

 

 

 

Na graduação, a Tania foi minha professora de História do Teatro Brasileiro, no curso de Teoria do Teatro da Unirio. Integrei a Pesquisa dela, recebendo bolsa de iniciação científica, PIBIC-CNPq. É importante falar isso. Porque a experiência, como estudante e pesquisadora, é uma formação muito rica – que vou carregar para sempre – e, atualmente, as universiades públicas e o CNPq estão sendo, completamente, desvalorizados e, constantemente, atacados pelo Governo Federal. Uma atrocidade – e um atraso.

Estamos vivendo um período de trevas mesmo. Tive a sorte de entrar na faculdade em outro período, tive a sorte de fazer um curso de excelência, numa universidade pública e gratuita, e ainda poder me formar como pesquisadora alí também.

Historiadora e Crítica Teatral: Tânia Brandão.

 

Domingos foi meu professor em cursos livres. Ele era diretor do Teatro do Planetário e dava, continuamente, cursos lá. Eu era bem jovem e comecei a fazer. Uma sorte também.

Ter o Domingos, naquela época, num teatro público, dando aula!

Ele era um gênio e um mestre muito amoroso. Insubstituível. Para mim, sempre será o maior dramaturgo brasileiro vivo! Tínhamos uma grande amiga em comum, a Eva Doris.

Mesmo depois que eu não fazia mais os cursos dele – quando já estava escrevendo e montando as minhas peças – continuamos próximos e nos vendo e conversando e trocando, tendo a Eva como “cola”.

Priscilla Rozembaum, essa artista incrível, é muito importante para mim também!

O Emblemático Diretor Teatral e Dramaturgo:

DOMINGOS OLIVEIRA.

Domingos oliveira.

 

 

Francis Fachetti – Recentemente assisti impactado pela sensibilidade cênica, beleza, com uma necessária cena teatral, dois textos seus: “Bruce canta Lennon” e “27s.

Fiz uma resenha do primeiro que pude ver presencial no Teatro Petra Gold.

Me tocou muito o audiovisual documental do espetáculo “27s”.

Com seu olhar de dramaturga desses trabalhos, discorra sobre seus processos de criação e suas impressões desses espetáculos em plataformas tão distintas.

 

“Bruce canta Lennon” é um roteiro de show. Não tem dramaturgia, não considero uma peça.

Fizemos uma pesquisa intensa sobre as entrevistas e a biografia do Lennon, foi muito interessante. Além do orgulho de ver o Nicholas Gomlevsky estreando profissionalmente, acompanhando o pai! Para uma tia coruja, imagina! É uma alegria. Mas não é um trabalho de dramaturgia, é só um texto com algumas falas e algumas histórias do Lennon.

Bruce e Nicholas Gomlevsky em: “Bruce Gomlevsky Canta Lennon”. Dramaturgia: Daniela Pereira de Carvalho.

 

 Espetáculo: “Bruce Gomlevsky Canta Lennon”. Dramaturgia: Daniela Pereira de Carvalho.

 

 

“27’s” sim, é uma peça! Bastante autoral. Usei os personagens reais  – Amy Winehouse, Kurt Cobain, Jim Morrison, Janis Joplin, Jimi Hendrix –  para criar algumas sensações do protagonista, um roqueiro fictício chamado Virgílio, que, devido a uma tragédia pessoal, está preso em uma versão particular de uma espécie de círculo do inferno. Uma digressão sobre essa estranha coincidência que matou, aos 27 anos, essa série de ídolos do rock – a pulsão de morte.

O que apresentamos até agora foi um pedaço do processo. Apenas algumas partes do texto. Estrearemos como se deve assim que a pandemia permitir!

Escrevi “27’s” a convite do Gustavo Rodrigues, que interpreta o Virgílio. O processo foi maravilhoso! Guga é meu amigo desde a CAL! Foi muito bom compartilhar essa trabalho com ele e com todas aquelas pessoas, Vera Holtz, Guilherme Leme, todo mundo!

Gustavo Rodrigues em: “27’s”.

 Dramaturgia: Daniela Pereira de Carvalho.

 

Espetáculo: “27’s”. Com: Gustavo Rodrigues.

Dramaturgia: Daniela Pereira de Carvalho.

No espetáculo “27’s” a dramaturgia de Daniela Pereira de Carvalho se debruça sob a carreira e vida desses ícones:

 Amy Winehouse, Kurt Cobain, Jim Morrison, Janis Joplin, Jimi Hendrix.

 

 

 

 

 

 

Abaixo duas montagens repletas de reflexões, atualidade e muita sensibilidade, que marcaram duas épocas: de ditadura – que ainda perdura, com maior força – e de explosão musical, cultural e de transcedências comportamentais e de cunho humanitário histórico – “Uma poética afetiva e política”.

“Memórias do Esquecimento”, adaptação feita do texto de Flávio Tavares por Daniela Pereira de Carvalho e a dramaturgia do emblemático, reverberador – “Renato Russo, O Musical”.

 

“Memórias do Esquecimento”.

 

 

“Renato Russo – O Musical”, com Bruce Gomlevsky.

Dramaturgia: Daniela Pereira de Carvalho.

 

 

 

 

 

Simplesmente:

DANIELA PEREIRA DE CARVALHO.

 

 

 

 

 

 

 

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