– INÉDITA – Direto de Paraty, RJ. Marcos Rangel Koslowski: Ator e Diretor.

 

INÉDITA!!!

 

A TRAJETÓRIA DOS OPERÁRIOS DAS ARTES.

 

O Blog/Site iniciou a temporada de Retrospectivas e INÉDITAS das inúmeras homenagens feitas aos artistas das artes cênicas em geral – teatro, dança, cinema, técnicos: Operários das Artes.

Projeto: “Entrevistas NECESSÁRIAS”, inserido nesse Blog/Site de Críticas Teatrais e de Dança, no começo da pandemia.

 

 

 

MARCOS RANGEL KOSLOWSKI – INÉDITA!

 


Espetáculos: “As Açucenas e “Carta ao Filho”.

Espetáculo: “Carta ao Filho”.

Marcos Rangel Koslowski

 

 

 

 

 

MARCOS RANGEL KOSLOWSKI:

 

– Ator, pesquisador, pedagogo e produtor cultural.

– É ator e fundador do Nuviar (Núcleo de Vivências em Arte).  Integrante, desde 2018, do Bridge of Winds (Grupo Internacional Ponte dos Ventos), dirigido e coordenado pela atriz Iben Nagel Rasmussen; desde 2010, do Patuanú (Núcleo de Pesquisa em Dança de Ator), coordenado por Carlos Simioni, e, desde 2016, do APA (Ateliê de Pesquisa do Ator), projeto do Centro Cultural Sesc Paraty em parceria com Stephane Brodt (Amok Teatro) e Carlos Simioni (Lume Teatro).

– De 2006 a 2009 integrou o C.P.T.A. – Centro de Pesquisa Teatral do Ator (RS), sob orientação de Alexandre Vargas, participando de debates e workshops realizados por Luiz Carlos Vasconcelos, Carlos Simioni, Antônio Araújo, Amir Haddad, Luiz Damasceno e Cacá Carvalho.

– Junto ao Nuviar, produziu e realizou, com o apoio da prefeitura de Matão e do SESC-Araraquara, o FESTEM – Festival de Teatro de Matão, de 2013 a 2016, e em 2022 o ENTRE – Encontro das Artes em Paraty-RJ.

 

 

 

 

Entrando na Inédita Entrevista NECESSÁRIA COM:

MARCOS RANGEL KOSLOWSKI

 

 

 

 

 

Francis Fachetti – Gostaríamos de saber o seu olhar sobre o que vc me disse:

“O Teatro além do espetáculo, ofício do ator”.

 

Marcos R. Koslovski – Acredito que o primeiro pensamento e o mais popular em relação ao teatro é entendê-lo como a apresentação de uma peça, de um espetáculo.

Tanto para os espectadores, quanto para quem inicia uma trajetória nessa arte; Sim, o teatro é o encontro entre os atores e os espectadores. E ali ele nasce, acontece e morre. É fugaz e ao mesmo tempo esse encontro pode viver para sempre na memória e no corpo de quem assitiu, e muito provável no corpo de quem o fez.

 Para mim no início era assim, criar um espetáculo para apresentar. Porém, com o tempo e com encontro com alguns mestres fui conhecendo e me aproximando de outras perspectivas sobre o fazer teatral, e principalmente sobre a questão do ofício, o ofício de ator e de atriz. É uma espécie de doação de si. É sempre “arriscar o eu”, se abrir e permitir que algo aconteça, se revele. Mas, para isso é necessário trabalhar sobre o ofício, diariamente.

Trabalhar o corpo, a voz, a mente e o espírito para descobrir-se, desvelar-se, antes de qualquer processo de criação referente a um tema ou proposta de encenação.

Um mergulho no universo do próprio ator e da própria atriz, de suas potencialidades energéticas e psicofísicas, de suas características, de sua história, aquilo que está na sua memória, está relacionado com quem se é. Nesse caminho e sob essa ótica compreendi que trabalho árduo e disciplina são fundamentais para o desenvolvimento do ofício, sem negar as inspirações. Lembro de uma frase de Picasso que gosto e concordo:

“Quando vier a inspiração, que me pegue trabalhando”.

O ofício de ator e atriz é muito mais amplo do que a atuação em um espetáculo. Independente de se estar em temporada ou não, o ator/atriz sempre tem trabalho a fazer.

Quando se busca uma prática enquanto ator-atriz é necessária a realização diária dessa prática. O corpo-voz precisa estar trabalhado, pronto para a atuação, seja ela qual for.

Há processos de troca e intercâmbio de saberes entre atores e atrizes, processos de residências, processos formativos e pedagógicos, nos quais o ator e a atriz compartilham sua prática, seus princípios de trabalho com novos atuantes. Existem os encontros para refletir sobre as artes cênicas e o mundo que vivemos, e para organizar encontros, eventos e festivais. O ator-atriz se torna em um agente da arte e da cultura. Não fica restrito à execuação de um espetáculo. É realmente um universo de possibilidades que se abre.

Em cena o ator Marcos Rangel Koslowski.

 

 

 

Projeto iniciação teatral do Sesc Paraty.

Coordenado pelo NUVIAR – 2019.

 

 

Projeto de iniciação teatral do Sesc Paraty.

Coordenado pelo NUVIAR – Marcos Rangel.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Francis fachetti – Revele para todos esse encontro com o mestre do Grupo Teatral Patuanú – Carlos Simioni – e como foi seu surgimento.

 

Carlos Simioni.

 

Marcos R. Koslovski – O Lume Teatro sempre foi uma grande referência em Porto Alegre, minha cidade natal.

Nos anos iniciais da minha trajetória sempre ouvia falar do grupo, da pesquisa e também da generosidade de seus integrantes.

Meu primeiro encontro com Simioni foi em um workshop de voz em 2009. Após uma semana de trabalho e de ser tomado por uma grande admiração por ele, lembro que numa noite fomos jantar, e ele comentou que em fevereiro de 2010 faria um curso em Barão Geraldo, pela primeira vez com um mês de duração, sobre a Dança Pessoal de Ator e Atriz. Seria a primeira vez que ele iria ministrar um curso sobre essa técnica, e perguntou se eu tinha interesse. Lembro até hoje desse momento e da alegria que senti. Respondi que sim e em fevereiro estava na sede do Lume para participar do curso.

Foi um workshop de trabalho diário, muito intenso e transformador em muitos sentidos. Éramos 19 participantes de distintos lugares do Brasil, do Panamá e da Costa Rica.

Após os vinte e oito dias de curso, fizemos um almoço na casa de Simioni e ali combinamos que faríamos um novo encontro no ano seguinte. Após o segundo encontro em Barão Gerlado, tivemos o terceiro que foi em Belém do Pará, cidade que nos acolheu lindamente e batizou nosso grupo de pesquisa como Patuanú. O nome vem de uma lenda do norte do Brasil, de um pássaro de luz que ilumina tudo e todos por onde passa, o Patuanú.

Desde então nos encontramos uma vez por ano em alguma cidade brasileira, na qual apresentamos espetáculos, ministramos workshops, seminários, intercâmbios e demonstrações de trabalho.

Festem – Festival de Teatro de Matão com o grupo Lume Teatro no espetáculo : “Cravo Lírio e Rosa” em 2013.

Grupo Lume no Festem – Festival de Teatro de Matão.

Espetáculo: “Ser Estando-Mulheres” em 2015.

Festem – Festival de Teatro de Matão.

Apresentação da atriz Marilyn Nunes com o espetáculo “Estrelas”.

Direção de Julia Varley – Odin Teatro, 2015.

 

 

  

Festem – Festival de Teatro de Matão.

Apresentação do Grupo CPTA, RS, com o espetáculo “Ele Juego de Antônia” na casa de Cultura da cidade – 2016.

 

Festem – Festival de Teatro de Matão.

Apresentação do Grupo Ribeirão em Cena, SP, com o espetáculo “Uma Boneca Cheia de História” na APAE da cidade – 2016.

Festem – festival de Teatro de Matão.

Apresentação da oficina montagem “Se Essa Rua Fosse Minha”, ministrada pelo Nuviar, na praça da Matriz, 2015.

Festem – Festival de Teatro de Matão.

Apresentação do Grupo Ribeirão em Cena, SP, com o espetáculo “Uma Boneca cheia de Histórias” nas escolas da rede pública – 2016.

 

 

Apresentação no projeto Autores e Atores.

 Sesc Paraty na Flip – 2017.

 

 

Apresentação no projeto Autores e Atores.

Sesc Paraty na Flip – 2016.

 

 

 

 

 

 

Francis Fachetti – Quais são os sentidos do teatro para Marcos Rangel Koslowski – o ser ator, suas identificações e suas referências.

 

Marcos Rangel Koslowski – Acredito que o Teatro possui infinitos sentidos. Assim como na vida, o caminho nunca é uma linha reta, e os sentidos vão sendo ressignificados, transformados, às vezes com transições flexíveis e às vezes com rupturas. O sentido vai sendo descoberto sempre por quem trilha o caminho. No caminho chamado Teatro fui descobrindo múltiplos sentidos da arte teatral e da arte de ator e atriz.

Primeiramente, um sentido de realizar um teatro de grupo, um trabalho desenvolvido com as mesmas pessoas por médio e longo prazo. Com isso é possível aprofundar os processos criativos e a construção de uma identidade e linguagem artística e cênica. Entendo que um grupo de teatro é uma celula viva, e dela pode surgir, além das obras, produção de conhecimento, de pensamento e consequentemente uma maneira de posicionar e de atuar na comunidade que se está inserido e na sociedade de forma geral. Assim como uma família, um grupo de teatro não deixa de ser um núcleo da sociedade que possui uma ética, suas regras, suas maneiras de fazer as coisas e de se relacionar, ou seja, um grupo de teatro cria e estabelece sua própria cultura.

No que diz respeito aos sentidos do ofício de ator e atriz, insisto na perspectiva da entrega total de si. A arte do ator e da atriz está instrinsicamente ligada ao fazer. É por meio das ações e de uma prática constante que o trabalho se desenvolve. Nesse sentido, minhas identificações e referências são grupos de teatro que seguem, cada um à sua maneira, essa perspectiva, como o Lume Teatro de Campinas-SP, o Grupo Galpão de Belo Hosrizonte-MG, o Ói Nóis Aqui Traveis de Porto Alegre-RS, o Tá na Rua do Rio de Janeiro-RJ, o Clowns de Shakespeare de Natal-RN, o Teatro da Vertigem de São Paulo-SP, entre tantos outros.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Francis Fachetti – Discorra, torne conhecido, tudo que puder sobre a NUVIAR. Quem é a NUVIAR? Quais suas pesquisas, anseios, linhagens, ações formativas, e essa comemoração de 10 anos dessa Cia.

O NUVIAR – Núcleo de Vivências em Arte é um grupo de teatro criado em 2013 por mim e pelo ator e músico Rodrigo Carinhana.

O núcleo tem como foco central a pesquisa em torno do ofício do ator e da atriz estabelecendo a partir daí uma relação com seus processos de montagens de espetáculos, trabalhos pedagógicos e produção de festivais artísticos.

Desenvolvemos um trabalho contínuo de investigação e criação que abarca nossas subjetividades, a realidade coletiva em que estamos inseridos e as potencialidades de elementos da tradição pesquisados por nós.

Nos 6 primeiros anos de existência nos dedicamos quase que unicamente ao trabalho de pesquisa em sala, buscando a maturação daquilo que se tornou então a nossa linguagem e base de pesquisa. Nesse período a nossa relação com a comunidade se deu principalmente por meio de oficinas, residências artísticas, experimentos de montagens cênicas, leituras dramáticas, demonstrações de trabalho e da realização de festivais de teatro.

O Nuviar, após sua fundação em 2013, teve sede na cidade de Matão-SP, na qual, além do trabalho de pesquisa sobre o ofício de ator e de atriz, e da realização de oficinas de Iniciação Teatral anuais (2015 e 2016) e algumas Residências Artísticas, realizou quatro edições do FESTEM – Festival de Teatro de Matão, de 2013 a 2016, em parceria com a Prefeitura de Matão e com o Sesc Araraquara.

Promovemos apresentação de espetáculos descentralizados, contação de histórias em escolas da rede pública e instituições como a Apae e o Asilo da cidade, workshops e produção de conhecimento por meios de seminários e debates com criadores e pensadores das Artes Cênicas. Conseguimos levar grupos e artistas de notoriedade nacional como o Lume Teatro, Brava Cia, Eduardo Okamoto, entre outros, bem como internacional, caso da israelense radicada na Inglaterra Yael Karavan e o Karavan Ensemble.

Em 2017 o Nuviar realizou uma turnê pela Europa ministrando o workshop “Terreno Criativo”. Foram quase três meses no velho mundo onde ministramos nosso workshop em Valladolid e Madrid na Espanha, em Brighton na Inglaterra, em Turku na Finlândia e em Turim e Roma na Itália.

Nesse workshop compartilhamos a essência da nossa pesquisa teatral e das nossas buscas enquanto atores. Estão presentes o treinamento psicofísico, o trabalho sobre a ação do canto e também como entendemos o processo de criação das ações e de como criar uma estrutura cênica no espaço, a partir da abertura e desvelamento de si e da canalização das qualidades de energia.

No retorno da Europa, o Nuviar mudou sua sede para a cidade de Paraty-RJ, ao receber o convite do Sesc Paraty para ministrar o novo projeto da instituição, a oficina de Iniciação Teatral anual para adultas e adultos. Ficamos quatro anos, de 2017 a 2020, como ministrantes desse projeto do Sesc, realizando apresentações no final de cada ano abertas à comunidade.

O Nuviar foi responsável também por outro importante projeto junto ao Sesc Paraty, o Cena ao Redor, também por quatro anos, de 2018 a 2021. Nesse projeto realizamos um trabalho de capacitação com diversos grupos de teatro da região Costa Verde. A partir da observação do trabalho de cada grupo era realizado um processo de desenvolvimento e aprofundamento das práticas e processos criativos desses coletivos para perceber o resultado em suas produções artísticas, bem como em suas maneiras de pensar o trabalho artístico e os modos de organização e de produção, enquanto coletivos artísticos.

Nuviar” em trabalho no Silo Cultural em Paraty – 2017.

Marcos Rangel Koslowski e Rodrigo Carinhana.

 

Projeto do Sesc Paraty Cena ao Redor.

Coordenado pelo NUVIAR – Rodrigo Carinhana.

Projeto do Sesc Paraty Cena ao Redor.

Coordenado pelo NUVIAR – Rodrigo Carinhana.

 

 

Em final de 2018, após o resultado da catastrófica eleição presidencial, o Nuviar decidiu iniciar o processo criativo de seu primeiro espetáculo, chamado “As Açucenas” e depois em 2020/21 o segundo espetáculo do grupo “Carta ao filho”. Esse período dos espetáculos abriu um novo momento na história do Nuviar. É uma fase na qual buscamos realizar parcerias artísticas encontrando outros criadores para fazer orientação e direção do trabalho criativo dos atores. Essas parcerias vem sendo ótimas experiências para ampliar as possibilidades criadoras, bem como para refletir sobre nosso trabalho, nossas potencialidades enquanto atores e nosso trabalho enquanto grupo. Percebemos a importância de vivificar o trabalho e de como é significativo ter parceiros com outras bagagens e experiências para seguir alimentando um trabalho artístico que já possui 10 anos de estrada.

O ano de 2023 vem sendo um ano de comemorar e celebrar os 10 anos do Nuviar com muitas ações de trabalho. Iniciamos o ano realizando o workshop “Terreno Criativo” e apresentando o espetáculo “As Açucenas” em março na sede do Lume Teatro, dentro da programação do Terra Lume. Fizemos pequenas temporadas em Paraty dos dois espetáculos, e também ministramos a oficina “A Dança dos Ventos”, com duração de quatro meses (fevereiro a maio) junto com o mestre Carlos Simoni, em Paraty. Em junho fomos para o encontro do grupo internacional The Bridge of Winds (Ponte dos Ventos) em Lecce, sul da Itália. Em julho realizamos uma ação comemorativa junto ao Sesc Paraty apresentando os três espetáculos de repertório do grupo: “As Açucenas”, “Carta ao filho” e o infantil “Voe Comigo”. Ainda no mesmo mês ficamos 20 dias em Brasília para a continuidade do processo criativo de um novo espetáculo infantil em parceria com o Nutra Teatro e com direção de Fabiana de Mello Souza.

 

 

Trabalho de sala no CPTA em Porto Alegre, 2006.

Marcos Rangel e Diana Corte Real.

 

 

 Trabalho de sala com CPTA em Porto Alegre, RS – 2006.

O mestre Alexandre Vargas – CPTA.

Centro de pesquisa Teatral do Ator, RS.

Trabalho de sala no APA – Ateliê de Pesquisa do Ator. Projeto do Sesc Paraty, com Carlos Simioni e Stephane Brodt, 2017.

Carlos Simioni e Stephane Brodt no APA – Atêlie de Pesquisa do Ator – projeto do Sesc Paraty, 2017.

 

 

 

Francis Fachetti  – Coloque para nós, aclare esse seu imbuir, se entranhar, essa experiência redentora nas seguintes Instituições/Cias. Teatrais abaixo e fale um pouco de cada um dos mestres na sua trajetória:

 

Marcos Rangel Koslowski – Desde 2018 integra o The Bridge Of Winds (Grupo Internacional Ponte Dos Ventos).

O The Bridge of Winds é um grupo inetrnacional criado em 1989, pela atriz dinamarquesa Iben Nagel Rasmussen, do lendário e ativo Odin Teatro. Após vários anos ministrando workshops em distintos lugares do mundo, a Iben decidiu não dar mais workshops de curta duração. Ela compartilhava seu trabalho e nunca mais via aqueles estudantes. Desse modo, em 1989 ela decidiu criar um grupo com 10 atores e atrizes de países diferentes, com o intuito de acompanhar o desenvovlvimento deles e delas, com a realização de encontros anuais. Assim nasceu o “Ponte dos Ventos”.

IBEN NAGEL RASMUSSEN – Bridge of Winds (Grupo Internacional Ponte dos Ventos), dirigido e coordenado pela atriz.

 

 

 

 

 

 

Nesses quase quarenta anos de grupo o trabalho se desenvolveu e com isso um treiamento próprio, corporal e vocal, foi estabelecido. Outros atores e atrizes passaram a integrar o grupo. Em seus encontros, que tem duração de quase um mês, o Ponte realiza workshops, intercâmbios, seminários e apresentações de sala e de rua.

Parada de rua com “Ponte Dos Ventos” – 2023.

Parada de Rua com “Ponte do Ventos” na Itália – 2023.

Parada de Rua com “Ponte Dos ventos” na Itália – 2023.

 

 

 

 

 

 

 

 

Eu lembro que quando comecei no Teatro, muito rapidamente ouvi falar sobre o Odin Teatro, Eugênio Barba e seu trabalho contundente e revolucionário. E a Iben era sempre uma atriz muito citada. Suas demonstrações de trabalho e atuação nos espetáculos do Odin eram sempre muito marcantes. Eu lembro de ler os livros sobre o Odin e sobre Iben, ver vídeos das demonstrações. Era início dos anos dois mil.

Ao mesmo tempo que me aproximava, por meio dessas leituras e dos vídoes que assistia, me parecia muito distante um encontro presencial e até mesmo fazer um workshop ou algo assim. Mesmo eles vindo para o Brasil já com certa frequência. Porém, muitos caminhos foram percorridos e o encontro com algumas pessoas foi decisivo para um encontrar com a mestra.

Era final de 2016, e o encontro anual do Ponte foi em Paraty, com coordenação do Carlos Simioni junto ao Sesc Paraty. Participei da produção do encontro, de um workshop e um intercâmbio com o Ponte por fazer parte do Apa – Atelier de Pesquisa do Ator, projeto do Sesc Paraty orientado por Carols Simioni e Stephen Brodt. Ali conheci a Iben e os atores e as atrizes do Ponte. E em 2018 fui para o encontro do grupo em Gent, na Bélgica, para estar perto e vivenciar um novo encontro. Consegui ficar no mesmo lugar que eles e contribuir na produção e na técnica dos espetáculos. Em troca pedi para participar do treinamento do grupo pelas manhãs, Iben autorizou.

Foi um momento de realização total. No final do encontro, no último dia teve a reunião final do grupo, e naquele momento Iben anunciou a minha entrada no grupo, junto com Rodrigo, que também estava lá.

Assim, o Nuviar passou a integrar o Ponte dos Ventos, e desde então participamos dos encontros anuais, sendo atores assistentes nos workshops e integrando os espetáculos e performances.

Fazer parte do the Bridge of Winds é um presente. Ter essa oportunidade de trabalhar com a Iben é uma experiência única. Ela realmente é uma mestra. Ela orienta o trabalho com rigor, precisão e ao mesmo tempo com muita delicadeza e cuidado. Aprendo muito sobre o ofício com ela, sobre uma ética de trabalho, sobre respeito pelo ofício e a importância em realizar as coisas da melhor maneira. Iben percebe tudo que passa durante o trabalho. Ela está sempre muito atenta aos detalhes. Suas orientações são sempre muito precisas, como um disparo de flecha de um mestre zen.

A relação que Iben instaura com o fazer teatral é muito clara e límpida. Não tem espaço para nenhum tipo de glamour ou romantismo em ser ator, atriz. Se trabalha muito nos encontros do Ponte. Manhã e tarde realizamos o treinamento e os ensaios para preparar os espetáculos e à noite é o momento das apresentações. Esse momento é realmente muito importante para ela, o de encontrar os espectadores. Os olhos da mestra brilham.

Outra ação que o Ponte realiza são os trueques em comunidades periféricas. São normalmente intervenções de rua onde apresentamos uma performance com danças, cantos, com a composição de figuras impactantes. Essas ações a deixam muito feliz. É um grande prazer participar desses momentos. É possível perceber como o teatro tem essa grandeza de instaurar outras  formas de relação de estar com o outro. Me sinto realmente privilegiado por essa experiência. Porque tem também uma riqueza artístico-cultural muito forte no The Bridge of Winds por ser um grupo composto por atores e atrizes que são de diversos países do mundo, e artistas incríveis – há essa riqueza de diversidade cultural. Além do trabalho artístico, somos nós do grupo que preparamos o almoço e jantar, e ainda quem realiza a limpeza e organização do espaço onde ficamos. Nesse sentido, da troca cultural, há muitos idiomas, uma culinária diversa, costumes e relações que vão se estabelecendo de muitas maneiras.

É uma grande aventura também pela perspectiva das relações humanas e de quão importante é a existência da diversidade, e que cada singularidade possa existir com liberdade e em sua plenitude.

Apresentação do espetáculo “Urnat” com “Ponte dos Ventos” na itália – 2023.

 

 

Apresentação “Barther” na Bélgica, 2018, Rodrigo Carinhana e Marcos Rangel Koslowski.

 

 

Treinamento com “Ponte Dos Ventos” na Bélgica, 2018.

 

Treinamento com “Ponte Dos Ventos” na Bélgica, 2018,.

Marcos Rangel e Luis Alonso.

Treinamento com “Ponte Dos Ventos” na Dinamarca, 2019.

 

 

Apresentação do espetáculo “Urnat” com “Ponte Dos ventos” na Dinamarca, 2019.

 

Apresentação do espetáculo “Urnat” com “Ponte Dos Ventos” na Dinamarca, 2019.

 

 

 

 

 

 

 

Apresentação do espetáculo de Canções Concerto Vozes ao Vento com o “Ponte Dos Ventos” na Dinamarca – 2019 – Mika Juusela, Marcos Rangel e Rodrigo Carinhana. 

 

Apresentaçao do espetáculo de Canções Concerto Vozes ao Vento com ”Ponte Dos Ventos” na Dinamarca, 2021.

Carlos simioni, Guilhermo Angelelli, Luis Alonso, Rafael Magalhães e Marcos Rangel Koslowski.

O Grupo “Ponte Dos Ventos” na Dinamarca – 2021.

 

Apresentação do espetáculo “Freaks” com “Ponte Dos Ventos” na Dinamarca. 2021.

Treinamento com “Ponte Dos Ventos” na Dinamarca, 2021.

 

 

 

 

 

– Desde 2010 integra o Patuanú (Núcleo de Pesquisa em Dança de Ator e de Atriz).

O Patuanú é um grupo que resultou de um workshop de um mês com o Carlos Simioni, conforme descrevi na outra resposta. Esse encontro é tão forte e significativo na minha carreira e na minha vida. O encontro com Simi realmente transformou minha vida. Ele é um grande mestre, e um homem iluminado e muito generoso, e hoje, posso dizer que é um grande amigo.

O trabalho sobre a Dança Pessoal foi um momento de muitos desafios.

É um trabalho que propõe um mergulho para dentro de si muito profundo. Que acessa memórias e energias que estão enraizadas na musculatura corporal. Trabalhamos sobre esse mergulho para desvelar e tornar concreto no espaço as diversas qualidades de energia de cada ator e cada atriz, aquilo que pertence a cada singularidade.

Os primeiros encontros do Patuanú foram muito reveladores. Podíamos ver em cada integrante momentos de expansão e dilatação das suas potencialidades criadoras. Eram sempre sessões de trabalho muito intensas. Hoje, 13 anos depois, os encontros, que são anuais em alguma cidade brasileira, foram se ampliando para além do trabalho de pesquisa na sala, ainda que este siga em desenvolvimento e em cada encontro o aprofundamos.

Criamos uma demonstração de trabalho dessa pesquisa para compartilhar com os espectadores, uma intervenção de rua e um espetáculo de canções que segue em desevolvimento. Organizmos os encontros de tal maneira que os integrantes levam seus espetáculos e workshops, proporcionando, assim, uma espécie de  Festival  de Artes para a cidade que recebe o encontro. Realizamos uma grande troca com a comunidade artística local e com o público em geral.

Gostaria de destacar ainda o grande intercâmbio cultural presente no Patuanú, em outra medida como no Ponte dos Ventos. Somos artistas de várias cidades brasileiras, e também um ator da Costa Rica. Isso proporciona ao grupo um rico substrato artístico e cultural que potencializa muito esse “corpo Patuanú”, sua composição é feita de muita diversidade.

Outro fator que contribue para isso é que cada encontro acontece em uma cidade diferente do Brasil. Nesse sentido, a troca com a comunidade local é sempre muito prazerosa e enriquecedora.

 

 

Trabalho do Patuanú em Belém, PA – 2012.

 

Demonstração de trabalho com o Patuanú em Campinas, SP – 2014.

 

 

 

 

 

 

 

Trabalho do Patuanú em Paraty – 2015.

 

Trabalho do Patuanú em Samanbaia, DF.

Erivelto e Marcos Rangel Koslowski.

Demonstração de trabalho do Patuanú em Samambaia, DF.

Na foto de cima os atores: Eduardo Rios, Marcos Rangel e Bruce Araújo.

 Apresentação espetáculo de canções com Patuanú em Samambaia,  DF – 2022.

 

Apresentação, interveção de rua com Patuanú em Samambaia – DF, 2022.

– Integrou o C.P.T.A. – Centro de Pesquisa do Ator, RS, sob a orientação de Alexandre Vargas – se conectando com os gigantes Luiz Carlos Vasconcelos, Carlos simioni, Antônio Araújo, Amir Haddad, Luiz Damasceno e Cacá Carvalho.

Falar do C.P.T.A. é fazer uma viagem no tempo. É lembrar de um espaço-tempo em que esse sentido do Teatro começou a se transformar para mim, e a percepção sobre o ofício do ator e da atriz foi ficando mais clara. Trabalhei com o Alexandre Vargas de 2006 a 2009, e ele foi e é meu primeiro mestre. Foi nesse encontro que minha relação com fazer teatral começou a aprofundar e eu passei a entender melhor, e também a saber qual caminho queria percorrer enquanto ator. Um ator que tivesse autonomia sobre seu trabalho e que tivesse consciência e domínio sobre os princípios do ofício. E eu entendi que para isso era necessário se debruçar sobre o ofício. Percebi que esse debruçar-se acontece no tempo e com tempo. É preciso realizar, dentro da realidade brasileira que vivemos, um trabalho diário, como qualquer outro ofício. Nem sempre é fácil, são muitas abdicações que se faz para estar presente numa busca artística séria e de dedicação absoluta.

O C.P.T.A. era o espaço de pesquisa do Ator, não da encenação, não da direção. Vargas colocava as questões para que cada ator e atriz descobrissem como desenvolver um treinamento, o que era e para que servia um treinamento de ator e de atriz, como estar presente no trabalho, por que ir ao encontro do público, o que você tem para falar, como você cria pensando na matéria, na forma e no conteúdo daquilo que você quer falar. Ele nunca dizia “faz isso ou aquilo”, pelo contrário, ele perguntava “por que você faz isso”, “por que você faz assim”, “pode ter outra forma isso que você está fazendo”, entre outras questões.

Alé do trabalho prático, havia muita reflexão sobre criação, sobre a arte de maneira geral, e ainda houveram encontros com outros gandes artitas dentro do projeto, como os que estão citados na pergunta. Destaco aqui um trabalho com Cacá Carvalho sobre Hamlet. Foi uma experiência incrível conhecer melhor o Cacá e poder trabalhar com ele. Outros encontros que merecem destaque foi ter a presença do Amir Hadad e escutar ele falando sobre arte pública; Luis Carlos Vaconcelos e Antônio Araújo falando sobre criação a partir da perspectiva da direção e daquilo que é entregue aos olhos do espectador.

Sou realmente grato ao Alexandre, que também é um grande amigo. Vivemos outras aventuras também juntos na realização do Festival Internacional de Teatro de Rua de Porto Alegre, de 2009 a 2015. Conheci muitos grupos e artistas trabalhando na produção do Festival. Algumas relações dessas se desenvolveram para o campo artístico e rendem parcerias de trabaho até hoje, como é o caso do Lume Teatro com o projeto “Abre Alas”, um workshop no qual o Lume cria um espetáculo de rua em seis dias com muitos participantes. A primeira edição desse workshop foi em Porto Alegre para abrir o Festival em 2009. Participei como produtor e como ator. Foi uma relação tão forte, que eu já participei em algumas edições, anos depois e em distintas cidades, do workshop como ator assitente do curso.

 

 

 

 

 

Francis Fachetti – Conte como é o trabalho do ENTRE – Encontro das Artes em Paraty, RJ.

 

Marcos Rangel KoslowskiO Nuviar sempre teve, desde sua origem, uma relação com a organização de encontros, residências e festivais. Acreditamos na importância dessas ações como forte potencializadoras do desenvolvimento artístico, cultural, social, econômico e político de uma comunidade. Essas ações sempre foram e são pensadas no sentido de estabelecer uma relação com a cidade e com as pessoas que habitam essa cidade, na qual o grupo está inserido.

ENTRE – Encontro das Artes em Paraty:

Cortejo de abertura do Festival.

Coordenação Nuviar e Nutra Teatro, 2022.

ENTRE – Encontro das Artes em Paraty – apresentação da demonstração do trabalho: “Prisão para Liberdade” com:

Carlos Simioni no Silo Cultural, 2022.

 

 

 

 

 

 

 

É muito importante promover encontros entre as pessoas, sejam encontros entre grupos artísticos para um intercâmbio e troca de saberes; seja entre artistas já consagrados e novos atuantes para processos de formação; seja entre pensadores que refletem sobre as artes cênicas e o tempo atual e compartilham esses saberes com quem está ali presente ouvindo, enfim, é necessário abrir esse tempo-espaço de encontro, de troca, de formação de público, e esse movimento gera e reverbera no desenvolvimento de cidadania, de consciência de si enquanto sujeito que age em seu cotidiano e no mundo, e ainda, algo fundamental – que é perceber e reconhecer a arte e a cultura como fomentadoras da economia da cidade e da sociedade em geral.

Nesse sentido, um festival de teatro tem muitos desdobramentos positivos para o desenvolvimento do ser humano e da coletividade, sejam tanto questões objetivas quanto subjetivas.

Realizamos, como descrito em outra pergunta quatro edições do FESTEM – Festival de Teatro de Matão, que demonstrou tanto para o poder público, quanto para os matonenses o significado real e concreto de ter um festival por quatro anos seguidos em sua cidade. É muito bom poder lembrar e descrever como o Festem foi crescendo a cada ano, e em cada edição a ocupação do Festival na cidade foi chegando em novos lugares, como os cidadãos matonenses foram, a cada edição, aderindo às ações do festival, tanto as de formação e reflexão, quanto as de fruição de espetáculos.

Falo da experiência do FESTEM em Matão porque a criação do ENTRE, agora na cidade de Paraty, onde residimos já há seis anos, procura estabelecer uma relação do Nuviar com a cidade e promover esses encontros. Claro que é fundamental ter um olhar e uma escuta da cidade que vivemos hoje, Paraty, e reconhecer que já é uma cidade com muitos eventos e grandes festivais, nacionais e internacionais.

Matão e Paraty são cidades totalmente diferentes em todas as questões, culturais, geográficas, econômicas e etc. Mas ao viver em Paraty e acompanhar de perto os eventos realizados na cidade, conseguimos perceber que a maioria desses eventos não são pensados para os moradores de Paraty. Mas, que existe uma utilização da cidade como cenário, devido à toda beleza natural e por ser uma cidade histórica com uma arquitetura ainda colonial e muito singular. E é aí que surge nosso desejo em realizar o festival, o ENTRE.

O ENTRE – Encontro de Artes em Paraty é um Festival concebido para instaurar um espaço de convívio e encontros por meio da arte, proporcionar aos cidadãos de Paraty experiências distintas das cotidianas, a fim de estimular a sensibilidade e a reflexão sobre nosso tempo através da perspectiva estética e artística das obras apresentadas pelos grupos e convidados. Nesse sentido, são contempladas as artes cênicas de maneira geral, com espetáculos de teatro, dança e circo, bem como processos formativos.

A primeira edição do ENTRE foi realizada entre 13 a 15 de outubro de 2022, e contou com artistas locais e nacionais.

 

Uma característica do ENTRE é a acessibilidade com todas atividades gratuitas e também a descentralização de suas ações na cidade, além do Centro Histórico. Pois o objetivo do ENTRE é fortalecer o movimento das Artes Cênicas e estabelecer uma relação com os bairros, comunidades e cidadãos moradores de Paraty, e de maneira natural acolher os turistas que estão sempre presentes na cidade.

ENTRE – Encontro Das Artes em Paraty.

Apresentação do espetáculo “O Melodrama” de Xicaxaxim com Nutra Teatro no Silo Cultural, 2022.

 

ENTRE – Encontro das artes em Paraty.

Apresentação do espetáculo “Paixão de Brutus” com Pedro Sá Moraes no Silo Cultural, 2022.

Essa primeira edição do ENTRE foi uma realização e iniciativa do Nuviar, em parceria com o Nutra Teatro e o Silo Cultural. 

Estamos nesse momento aguardando os possíveis editais do Ministério da Cultura e firmando algumas parcerias para a realização da segunda edição do ENTRE, ainda em 2023.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Francis Fachetti – Sobre os novos projetos, fale sobre essa criação do espetáculo “A Revoada”, com direção da necessária Fabiana de Mello e Souza e parceria com o Nutra Teatro de Brasília – onde eu me formei como ator pela Faculdade Dulcina de Moraes.

 

Marcos Rangel Koslowski – “A Revoada” é um projeto que vem sendo concebido e desenvolvido desde o ano passado, e que tem previsão de estreia para outubro desse ano, na cidade de Samambaia-DF, na sede do Nutra Teatro.

É um espetáculo infantil – para a primeira infância – criado a partir da livre inspiração do texto “A conferência dos pássaros”, do poeta persa Farid Ud-din Attar. Mas o ponto de partida desse trabalho se deu em 2020, quando o ator Rodrigo Carinhana adaptou o poema para a criação de um experimento cênico audiovisual, por conta da pandemia, chamado “O despertar do Rei”. Essa experiência motivou o interesse em aprofundar um trabalho – a partir do poema persa – agora teatral para crianças, por conta da beleza de sua fábula e pelos ensinamentos que o poema carrega.

Como comentei anteriormente sobre a fase de parcerias na criação, nesse sentido, fizemos a proposta para o Nutra Teatro, um grupo parceiro de mais de 10 anos. Participamos de muitos encontros para realização de ações pontuais em festivais, eventos e intercâmbios. Eles aceitaram e assim, escrevemos um projeto para o FAC-DF e que foi aprovado. É um projeto que além da criação do espetáculo e 20 apresentações para escolas da rede pública, propõe outras ações de arte-educação, inercâmbio entre o Nutra e o Nuviar, e um workshop do Nuviar para a comunidade artística de Samambaia.

Para potencializar esse processo criativo de dois grupos que possuem uma pesquisa e um trabalho continuado sobre o ofício do ator e da atriz – convidamos a atriz e diretora Fabiana de Melo Souza para fazer a direção do espetáculo.

Ela tem uma carreira consolidada enquanto atriz e diretora, possui um trabalho impecável sobre máscaras balinesas, foi do Teatro du Soleil por 9 anos, no qual trabalhou em diversos espetáculos sob direção de Ariane Mnouchkine realizando muitas turnês pela Europa. Além de ser uma grande artista é uma pessoa incrível de trabalhar e estar perto.

Estamos na etapa final de criação, e orgulhosos de estar fazendo um lindo trabalho para as crianças. Mesmo partindo de um poema muito antigo, do século XII, estamos criando um espetáculo atual, com a criação da dramaturgia original, e investindo muito nas ações, nas figuras de contadores de histórias, nas relações entre os pássaros, ou seja, na parte visual e sonora. Estamos fazendo toda a composição da trilha que será executada pelos atores e pela atriz ao vivo.

Desse modo, o objetivo é oferecer aos pequenos e pequenas uma experiência sensorial e imagética e proporcionar um momento de encantamento. Está sendo um processo muito colaborativo entre os grupos e que conta com esse olhar muito sensível e assertivo da Fabiana. Tem sido uma grande experiência.

Diretora do espetáculo:

“A Revoada” – Fabiana de Mello e Souza.

 

Nuviar e Nutra Teatro em Samambaia, DF, no processo criativo do espetáculo: “A Revoada” – 2023. Marcos Rangel Koslowski, Rodrigo Carinhana (sentados), Paula Sallas e Marcos Rangel (em pé).

Foto do ator João Porto dias.

 

 

 

 

 

 

 

Francis Fachetti – Faça uma exposição minuciosa dos espetáculos: “As Açucenas”, que eu tive o privilégio de assistir aqui no Sesc Copacabana; do seu primeiro solo: “Carta ao Filho”, com direção de Stephane Brodt da Cia. Teatral Amok Teatro.

 

 

Marcos R. Koslovski – As Açucenas:

Esse é o primeiro espetáculo do Nuviar.

Lembro que após o resultado desastroso das eleições presidenciais de 2018, nossa reação a esse momento foi de querer criar nosso primeiro espetáculo. Percebendo que viveríamos quatro anos de trevas, de truculência e de obscurantismo, decidimos reagir criando um espetáculo que oferecesse poesia, beleza e amor, mas tocando em questões importantes ao escolher trabalhar sobre a poesia e a vida biográfica de Federico Garcia Lorca.

Ele foi fuzilado por um regime totalitário de extrema direita, assim como o governo que assumiria o poder a partir de 2019. Vale lembrar que até hoje o corpo do poeta não foi encontrado e nem recebeu os rituais fúnebres. A escolha de trabalhar sobre o poeta espanhol se dá por essa questão política brasileira, mas também pela beleza e profundidade da obra de Lorca.

O Nuviar teve um primeiro contato mais profundo com a poesia lorquiana em 2016, quando realizamos um projeto junto ao Sesc Paraty na programação da Flip. Criamos uma leitura dramática com poemas e textos biográficos do poeta espanhol e a apresentamos em Paraty em uma escuna em alto mar. Foi um projeto muito bonito e a partir desse momento a poesia de Garcia Lorca passou a nos acopanhar em outros trabalhos.

Ainda vivendo em Matão-SP, utilizamos os poemas de Lorca para a finalização de um processo de oficina de Iniciação Teatral, obtendo um resulado muito bonito e impactante.

Portanto, já tínhamos uma certa intimidade com o poeta. Assim, decidimos iniciar o processo criativo ainda em novembro de 2018. Éramos três atores: Rodrigo, Davi Cunha – que integrou o Nuviar de 2017 a 2021 – e eu.

Após uma vasta pesquisa da obra poética e de textos biográficos – de entrevistas, palestras e convenções – decidimos que cada ator iria escolher – individualmente –, e aprender os poemas e textos que se identificava ou que queria muito falar, ou seja, que fosse significativo objetivamente ou subjetivamente para si. Queríamos com isso que os textos surgissem de cada ator durante o trabalho vivo na sala, sem pensarmos em sequência ou roteiro com alguma lógica racional ou no sentido de tentar contar uma história. Desse modo, partimos do nosso trabalho no espaço, da ativação do corpo e suas energias, dos contatos entre os atores, da escuta e abertura para o outro e para o espaço. E quando o trabalho já estava instaurado e quente os poemas e textos começavam a ser ditos no espaço mas já com um outro nível de presença e de intenção. Um texto era dito como reação a outro que acabara de findar, mas sempre a partir das ações e dos contatos já instaurados pelo três atores.

Assim, após dez meses de trabalho já tínhamos criado três estruturas cênicas no espaço contendo muitos poemas, textos biográficos e também canções.

Fizemos uma pesquisa dos cantos populares espanhóis, inclusive cantos que o próprio Lorca tinha recuperado que estavam para se perder. O ator Davi Cunha foi fazendo também a orientação e direção dessa primeira fase do trabalho. Contamos, ainda nessa primeira fase, com a colaboração do ator, diretor e professor da UEL – Universidade Estadual de Londrina Camilo Scandolara, numa residência de sete dias, e ainda com a colaboração de Carlos Simioni, com quem trabalhamos três dias. Para iniciar a etapa final do processo convidamos o ator e diretor Rodrigo Mercadante, da Cia do Tijolo de São Paulo, para fazer a supervisão geral do espetáculo. Mercadante, além de grande ator e diretor, é um estudioso da obra e vida de Garcia Lorca. Sua participação como supervisor do espetáculo foi fundamental para trabalharmos sobre o texto e os detalhes da dramaturgia e da encenação.

Dessa maneira, após mais de um ano de processo criativo, “As Açucenas” estreou no Sesc Copacabana, no final de novembro de 2019, realizando uma temporada de três semanas com apresentações de quinta a domingo, recebendo excelentes críticas e uma ótima recepção do público carioca.

O ano de 2020, que seria de circulação e muitas apresentações do espetáculo, acabou se tornando no ano em que o mundo parou com a trágica pandemia do Covid-19. Esse peíodo o Nuviar continou seu trabalho de modo online por meio de alguns projetos.

No início de 2021 ganhamos o prêmio do edital do estado do Rio de Janeiro Retomada Cultural para realizar uma circulação com “As Açucenas”, mas com a alta do Covid tivemos que adaptar o projeto para online, no qual trabalhamos uma recriação do espetáculo em diálogo com o audiovisual. Desse modo, gravamos o espetáculo e realizamos oito apresentações online, além de outras ações com poemas do Lorca, e uma oficina online que ministramos e que contou com pessoas do Brasil, Itália e França.

Com a saída do ator Davi Cunha, fizemos um experimento de substituição com uma atriz e um músico para apresentar o espetáculo no I Festival de Teatro Laboratório de Samambaia-DF, em 2022. Tivemos uma boa experiência. Mas como “As Açucenas” é um espetáculo que está muito ligado ao trabalho de pesquisa do Nuviar, entendemos que o melhor seria recriar o espetáculo somente com o Rodrigo e comigo. E assim, convidamos novamente o Rodrigo Mercadante para trabalhar com nós dois por um tempo e assinar a direção dessa nova versão. O que foi um grande acerto. Estreamos essa nova versão no Lume Teatro em fevereiro desse ano, como primeira ação comemorativa dos 10 anos do grupo. E assim, ele segue mais vivo que nunca, e nosso desejo é circular com ele pelo Brasil e também no exterior.

Espetáculo: “As Açucenas” – no Silo Cultural em 2023.

Rodrigo Carinhana e Marcos Rangel.

 

 

 

“As Açucenas” – no Sesc Copacabana, 2019.

Em cena Rodrigo Carinhana.

 

“As Açucenas” – Marcos Rangel Koslowski

 Sesc Copacabana, 2019.

“As Açucenas”  com Marcos Rangel – Barra Mansa, 2019.

 

– Carta ao filho:

 

O espetáculo “Carta ao Filho” iniciou seu processo em 2020, quando fui contemplado no Projeto Cultura Presente nas Redes da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro.

A proposta para esse edital, lançado em plena pandemia do Covid-19, propunha a criação de um experimento cênico realizado em casa, para ser gravado e exibido online. Naquele momento, o conto fantástico “O sonho de um homem ridículo” – que tinha conhecido e lido em 2018, por estar fazendo uma pesquisa sobre Fiódor Dostoiévski, lembro que naquele momento o Nuviar se debruçava sobre “Os irmãos Karamazov”, como um possível projeto de criação – clássico da literatura russa, serviu de livre inspiração para a realização da proposta artística.

O autor do conto, Dostoiévski, é um dos grandes escritores mundial, e a partir de sua escrita adaptei e acrescentei textos biográficos a fim de deixar uma carta para meu filho, que na época, tinha dois anos de idade.

Foi a primeira vez que trabalhava nessa perspectiva, a de criar um experimento cênico em diálogo com o audiovisual, e ainda para ser gravado e exibido online, ou seja, realizar um ato criativo, no qual eu não encontraria com o público.

Outro fator significativo era o prazo do edital. Era algo como três meses para adaptar o texto e criar a dramaturgia original, criar, ensaiar, gravar e enviar para ser exibido. Nossos processos no Nuviar sempre são de longa duração, mas naquele momento vivíamos uma situação extrema, de exceção. Lembro que esvaziei a sala de casa, a fim de criar um espaço propício para a criação. Utilizei a estrutura da casa para criar uma encenação que dialogasse com o espaço como a escada, o balcão, e ainda forrei todo espaço com um tecido branco para esconder portas, cozinha e outras coisas. Transformei minha sala num pequeno estúdio teatral. E dessa maneira, o experimento foi realizado e exibido em outubro de 2020, com sua estreia online.
Com a exibição desse experimento teatro-audiovisual fui convidado pelo Sesc Paraty para participar do Palco Giratório Online no ano de 2021. Mas a proposta exigia uma nova gravação, agora em um espaço teatral, e não mais em casa. Portanto, aquele experimento precisava ser trabalhado e desenvolvido, ou seja, necessitava de um processo de aprofundamento e recriação para ser gravado no teatro. Por isso, convidei o ator e diretor Stephane Brodt (Amok Teatro RJ) – com quem já havia trabalhado por dois anos dentro do projeto APA (Ateliê de Pesquisa do Ator) do Sesc Paraty -, para fazer a direção do espetáculo.

Após alguns meses de trabalho na dramaturgia e na encenação, “Carta ao Filho” ganhava uma nova versão, agora teatral, porém ainda com um objetivo mais intimista porque seria gravado e novamente exibido online. Desse modo, a recriação foi feita jogando ainda com o fato da gravação com distintas câmeras e tentando utilizar a tecnologia da melhor maneira para uma maior eficácia em relação ao resultado estético, ainda para o vídeo.
Após a participação no Palco Giratório Online do Sesc Paraty, Stephane e eu seguimos trabalhando no desenvolvimento do espetáculo para, assim que possível, encontrar os espectadores com a realização de uma estreia presencial. O que veio a acontecer no segundo semestre de 2022, com a aprovação do projeto de circulação no edital Retomada Cultural 2 da SECEC-RJ, no qual foram realizadas três apresentações de espetáculo, seguidas de bate papo com o público: uma em Paty do Alferes, a segunda em Angra dos Reis e a última em Paraty.

Esse espetáculo possui um caráter muito peculiar e distinto de como normalmente realizo processos de criação.

O “Carta ao filho” vem sendo desenvolvido por partes e etapas, sempre tendo uma data de “apresentação”, seja online ou presencial.

Em 2023, já realizei algumas apresentações do espetáculo em Paraty, no Sesc Taubaté e no Sesc Paraty.

Marcos Rangel em “Carta ao Filho”.

Direção: Stephane Brodt.

“Carta ao Filho”.

“Carta ao Filho”.

 

“Carta ao Filho”.

“Carta ao Filho”.

“Carta ao Filho”.

Bate papo após apresentação de “Carta ao Filho” em Paty de Alferes, 2022 – Stephane Brodt (diretor) e Marcos Rangel.

 

Simplesmente:

MARCOS RANGEL KOSLOWSKI

 

 

 

 

 

 

 

 

Show CommentsClose Comments

Leave a comment