Entrevista NECESSÁRIA: Alexandre Mofati – Ator e Produtor.

BLOG/SITE DE CRÍTICAS TEATRAIS E DE DANÇAE FACHETTI PRODUÇÕES

APRESENTA:

O Blog/Site iniciou a temporada de Retrospectivas e INÉDITAS das inúmeras homenagens feitas aos artistas das artes cênicas em geral – teatro, dança, cinema, técnicos:

Operários das Artes – Documento Cultural.

“Entrevistas NECESSÁRIAS”, inserido nesse Blog/Site de Críticas Teatrais e de Dança, no começo da pandemia, sendo uma homenagem em forma de Documento Cultural aos artistas de inúmeras áreas do universo artístico.

RETROSPECTIVA REPAGINADA:

Documento Cultural –

Trajetória dos Operários Das Artes:

Entrevista NECESSÁRIA com:

ALEXANDRE MOFATI

Ator

Defesa da Dissertação de Mestrado – em adaptação audiovisual de Obras Literárias na Puc Rio.

Novela “Reis” – em sua oitava temporada.

Rede Record.

Em breve um lançamento de um curta-metragem – Inédito – da sequência de vários policiais que atuou.

Recente Atualização com a participação na novela:

”Terra e Paixão” – Rede Globo.

Entrevista NECESSÁRIA: Ator – Alexandre Mofati. Por Francis Fachetti.

Espetáculo Necessário 11/11/2021

 O Blog/Site recebe em seu palco de Documentos Culturais – através das Entrevistas NECESSÁRIAS: Alexandre Mofati – Operário Das Artes -, com larga e expressiva experiência em palcos e telas no universo da dramaturgia.

Constataremos que sua carreira é de sólidos e exponenciais feitos cênicos, trabalhando também com extensa e bem-sucedida prática em produções culturais diversas, dando-lhe um cabedal de conhecimento apreciável, estando ao lado e junto com nomes diletos e de realizações irrefutáveis no cenário artístico.

Ator e Produtor Cultural, 30 anos de carreira como ator, em mais de 40 espetáculos teatrais.

Estreou com “O Mambembe” de Arthur Azevedo – na direção de Amir Haddad.  

Recentes adaptações on-line do monólogo “Escravos” (2017 a 2021) de Machado de Assis, direção de Augusto Madeira, e “Diário de Pilar na Grécia” (2018 a 2020) de Flavia Lins e Silva, direção Symone Strobel, que voltou em cartaz em agosto de 2021 no teatro Multiplan, no Village Mall.

Como ator em teatro trabalhou com diretores como:

João Fonseca, Augusto Madeira, Dudu Sandroni, Camilla Amado, Domingos Oliveira, Amir Haddad, Joana Lebreiro, Sérgio Módena, Carlos Gradim, Eduardo Wotzik, Symone Strobel, Renata Mizrahi, Priscila Vidca, Silvia Monte, Xando Graça e Adriana Maia, Leonardo Simões, dentre outros.

Tem como principais parceiros recentes em teatro – com quem dividiu alguns projetos: o diretor, produtor e ator Dudu Sandroni; e a atriz, diretora e professora Camilla Amado.

Fez várias participações e personagens em TV e cinema, principalmente nos últimos 10 anos.

Formação profissional como Ator na CAL (Casa das Artes de Laranjeiras, Laranjeiras – RJ); Graduação em Arquitetura (UFF – Niterói), e Pós-Graduação em Gestão Cultural (Universidade Estácio de Sá).

Tem mais de 15 anos de experiência com elaboração e gestão de projetos culturais, tendo sido parecerista e analista de projetos culturais da Funarte para a Lei Rouanet por cerca de 3 anos.

– Professor/coordenador de produção em oficinas de teatro:

– Coordenação de Produção do ESPAÇO OFÍCIO – Centro de Oficinas de Teatro (2019/2021).

Em 2021, o Núcleo de cursos ESPAÇO OFÍCIO voltou a oferecer oficinas, agora ON-LINE, em atividade desde maio de 2021.

 – O Produtor em teatro:

– “BISA BIA, BISA BEL” (2014/15/16/17/18/2019) – Direção de produção.

Texto de Ana Maria Machado, com adaptação e direção de Joana Lebreiro.

– “ESCRAVOS” (2017-21) – Realização do projeto / Produção da Diálogo da Arte Produções/RJ.

– “SUSUNÉ, CONTOS DE MULHERES NEGRAS!” (2011/12/13) – Direção de produção.

– “A AGONIA DO REI” (2011) – Direção de produção. Texto de Ionesco, tradução Luis de Lima / Direção Dudu Sandroni.

– “RASGA CORAÇÃO” (2007/08/09/10/11)  – Direção de produção. Texto de Oduvaldo Vianna Filho (Vianninha) / Direção: Dudu Sandroni.

 – “ÁFRICA!” (2010) – Direção de produção. Texto de Vicente Sanches. Direção: Michel Bercovitch / Com Rafaela Amado, Augusto Madeira e Patrícia Niedermeier.

Vamos agora esmiuçar essa valiosa, curiosa e respeitada caminhada desse ator e produtor de alvíssaras realizações no cenário das artes em geral:

ALEXANDRE MOFATI.

 Monólogo “Escravos”. Direção: Augusto Madeira.

 Cinema: “Tropa de Elite”. Direção: José Padilha.

Em cena Alexandre Mofati e Wagner Moura.

 Na Teledramaturgia: Alexandre Mofati na novela: “Gênesis”.

 Rede Record.

ENTRANDO NA Retrospectiva Repaginada:

ENTREVISTA NECESSÁRIA COM:

ALEXANDRE MOFATI.

Francis FACHETTI – No universo do cinema e da televisão, gostaria que discorresse sobre dois trabalhos que efetivou: “Tropa de Elite” de José Padilha e a novela “Gênesis”, na Record – agora recentemente. Conte-nos desses trabalhos e como se coloca nessas linguagens tão díspares a cena teatral.

Alexandre MOFATI – Esses dois trabalhos – a recente participação na novela Gênesis da TV Record -, assim como a participação no filme Tropa de Elite, em 2007, são realmente dois exemplos representativos do meu trabalho em TV e cinema, uma vez que minha carreira é desenvolvida principalmente no teatro, e as incursões no audiovisual são mais pontuais.

O filme Tropa de Elite foi um marco para o cinema brasileiro, chegando a receber o prêmio de Urso de Ouro no Festival de Berlim, e posso dizer que foi um marco na minha carreira, pois foi a primeira oportunidade de participação mais expressiva no meio audiovisual, e com uma equipe nota mil! E como o Tropa foi muito visto, até hoje me abordam na rua me chamando de “capitão” ou falando “foi sem querer …” em referência a uma cena do filme – mesmo há mais de 13 anos do lançamento.

“Tropa de Elite” – Alexandre Mofati e Murilo Elbas em cena.

Foi a partir desse trabalho que fui, ainda mais, chamado para fazer policiais! O trabalho mais recente como Malakai, o líder de uma tribo dos salteadores amanequinas na novela Gênesis, foi também marcante pela variedade de situações e forte intensidade das cenas, mesmo em uma participação rápida. E foi interessante o fato de que essas tribos realmente existiram, eram nômades e guerreiros, muitas vezes mercenários em guerras, que na ausência de conflitos, por trás da fachada de comerciantes, faziam saques e pilhagens a pequenas cidades. Teve de tudo, incluindo cenas de ação, na verdade uma carnificina liderada pelo meu personagem!

Gravação da novela “Gênesis” – Alexandre Mofati e Eduardo Parlagreco.

Novela “Gênesis”.

Novela “Gênesis” – Alexandre Mofati e Mauricio Mattar.

Quanto às das linguagens do audiovisual e do teatro, acho, faz parte do trabalho do ator aprender a lidar com a diferença, independentemente de sua área principal de atuação. Acredito que a base do trabalho do ator, em ambos os casos, é a mesma: resumidamente, a verdade cênica e a compreensão da história, de sua participação nela, e de como esta é conduzida.

Acredito que no audiovisual a construção dos códigos estéticos, que fazem a obra chegar ao espectador, se dá mais visivelmente pela soma dos trabalhos da direção, direção de arte, edição, produção e etc., além do ator.

No teatro, não havendo a intermediação da câmera, é o trabalho do ator em comunicação direta com a plateia – o principal meio de acesso à obra pelo público. É a base de tudo, sem dúvida. E o ator vai sempre aprimorando sua adequação aos meios.

Essa mudança de linguagens é uma constante aprendizagem, e sempre um desafio, pois há sempre uma nova abordagem de direção em uma peça, ou filme, que pode tirar o ator de sua área de conforto, mesmo em mais de 30 anos de carreira.

Percebo na minha trajetória nos últimos anos, com satisfação, a ampliação das oportunidades de tipos de personagens diferentes que surgiram em audiovisual, onde a questão do perfil físico é muito marcante.

Durante algum tempo, minhas participações em TV e cinema eram quase sempre no universo policial, e afins, seja como investigador, PM, delegado, advogado policial, bandido, etc., o que sempre gostei, pois adoro o gênero. Mesmo dentro desse universo tive a sorte de fazer trabalhos diferentes, tendo como exemplos um delegado da PF na série “Sob Pressão” com feras como Marjorie Estiano e Julio Andrade.

Na série “Sob Pressão” com Marjorie Estiano e Julio Andrade.

Direção: Andrucha Waddington.

Série “Os Dias Eram Assim” – Alexandre Mofati e Renato Góes.

Um agente da repressão na série “Os dias eram assim”.

Um PM no longa “Estado de Exceção” de Juan Posada, onde eu era um dos protagonistas.

Filme longa: “Estado de Exceção”.

Com Alexandre Mofati, Pierre Baitelli, Alan Filho e Bruno Dubeux.

 

Um traficante de indios em “Novo Mundo”.

Novela “Novo Mundo” – com Rodrigo Simas e Carlos Rosário.

 

Um delegado do séc. XIX em “Nos tempos do imperador”.

Novela “Nos Tempos do Imperador” – 2021.

Em alguns casos com ótimas situações de humor, como nas novelas  “O Outro lado do paraíso” (2017/2018) da Globo, com direção do Mauro Mendonça Filho, como o investigador Estevão numa dupla de policiais atrapalhados com o talentoso xará  Alejandro Claveaux.

Novela “O Outro Lado do Paraíso” com Alejandro Claveaux.

Gravação da novela “O Outro Lado do Paraíso” – com Caio Paduan, Thiago Fragoso, Bianca Bin e Alejandro Claveaux.

“Ribeirão do Tempo” (2010/2011) da Record como um PM, coincidentemente com o mesmo nome: Estevão.

Novela “Ribeirão do Tempo” – Rede Record.

Recentemente, tenho tido personagens e participações variadas como o professor Nestor na série “Dependentes” (2019) , que tratava de dependentes de drogas, no Canal Futura com complexas situações em seu casamento (Luisa Thiré) e com sua filha (Leticia Medina).

Série: “Dependentes” – com Luisa Thiré.

Direção: Marcos Altberg.

 

Série “Dependentes” com Leticia Medina.

O corretor de valores, Moreira, em “Malhação – Toda forma de amor” (2019/2020) com o parceiro Roberto Bomtempo.

Cena de “Malhação” – Rede Globo.

Cena de “Malhação”.

Um executivo de uma grande empresa no Longa “Reação em cadeia” (2021) do Marcio Garcia, entre outros, o que dá mais possibilidades.

Além de representarem uma ampliação, para um âmbito de maior complexidade de construção para o ator, situação sempre presente na minha experiência teatral.

Francis FACHETTI – Quem é Alexandre Mofati produtor, de larga experiência? Descreva as inúmeras gestões culturais do Núcleo de Oficinas de Teatro e Arte – “Espaço Ofício”. Torne conhecido para todos essa gestão do artista Mofati e da empresa “Ofício Produções Ltda” – capitaneada por você.

Alexandre MOFATI – Posso afirmar com certeza que nunca fui “apenas” ator, ainda que esse seja o foco.

Mesmo na escola de teatro e nas primeiras peças, sempre tive um interesse espontâneo pelos bastidores, pela direção, texto, produção e tudo que envolvesse a construção do espetáculo.

Na minha peça de formatura da CAL, “O Mambembe” com direção de Amir Haddad em 1991, por exemplo, além de ator, trabalhei como produtor executivo e na programação visual – isso com 20 anos de idade. Isso chegou às vezes a me atrapalhar, gerando uma soma excessiva de funções que me obrigava a optar, na reta final de ensaios, em focar no trabalho de ator.

Acredito, ainda, que minha formação como arquiteto, finalizada em 1995, também tenha agregado valores à minha prática de planejamento e produção criativa.  Com isso, foi sendo construída naturalmente uma trajetória como produtor, somada à de ator. Tendo participado da produção de vários projetos em que atuava, desde os anos 90, com o Grupo Sarça de Horeb e várias outras parcerias.

Fiz pós-graduação em Gestão da Cultura finalizada em 2003, e em 2005 criei a Ofício Produções Ltda. Desde então passei a desenvolver projetos pessoais, e parcerias, como responsável pela produção.

 Logo nos primeiros anos ampliei a atuação, com a publicação de um livro sobre Literatura de Cordel vencedor de edital público da Petrobras, e com elaboração e gestão de alguns eventos musicais patrocinados. 

Em teatro, com a seleção no edital Miriam Muniz da Funarte em 2006, estive à frente da produção, além de atuar, na peça “Rasga Coração” (2007 a 2011) de Vianninha – com sucesso de público e crítica.

A montagem tinha direção e co-produção de Dudu Sandroni, que viria a ser um parceiro constante, como em “A agonia do Rei” (2011) de Ionesco.

Também encabecei a produção de projetos em que não atuava, o que não era minha intenção inicial. Alguns exemplos são: “Ainda bem que foi agora” (2009/2010) de Julia Spadaccini e Rodrigo Nogueira, com direção de Marcelo Saback; “Susuné, Contos de mulheres negras! ” (2011 a 2013) com Carolina Viguez, direção Antonio Karnewale; e “Bisa Bia, Bisa Bel” (2014 a 2019) de Ana Maria Machado, com direção de Joana Lebreiro – peça que recebeu 07 prêmios, nas premiações Zilka Sallaberry e CBTIJ, incluindo melhor espetáculo infanto juvenil de 2014 nas duas premiações.

Em 2019 iniciei o núcleo “Espaço Ofício” com foco em produção de oficinas na área de teatro, e artes em geral, em parceria com a atriz e diretora Viviana Rocha.

Já no primeiro ano de atuação, em apenas 7 meses, o núcleo participou com seus atores de 5 festivais de esquetes no estado, tendo recebido 06 prêmios, dentre as 15 indicações obtidas, em trabalhos dirigidos por Viviana.

Em 2020, com a pandemia, o Espaço Ofício desenvolveu o projeto on-line “O Ontem e o Agora – Curso de Capacitação e aperfeiçoamento em Teatro”. Sendo uma parceria com o Nepac, com coordenação do diretor e professor Leonardo Simões, o projeto venceu edital de patrocínios da Prefeitura de Niterói, e totalizou mais de 70 horas de aulas em várias áreas do universo teatral.

Projeto On-Line: “O Ontem e o Agora”.

 Curso de Capacitação e Aperfeiçoamento em Teatro.

Em 2021, com produções e oficinas on-line, desenvolvi o projeto “Senhores e Escravos – Narrativas de poder em machado de Assis” por meio do Edital Aldir Blanc, Retomada Cultural RJ, somando mais de 35 horas de aulas também com profissionais de teatro e audiovisual.

Em 2021, eu somo pelo menos 25 anos de experiência com produção cultural, em mais de 20 projetos realizados, sendo 16 anos à frente da Ofício Produções.

Francis FACHETTI – Dentre suas parcerias com artistas e grupos de grande relevância no cenário – projetos vários – aclare para todos como é o processo de trabalho com essas parcerias e fale sobre, pelo menos dois projetos/espetáculos, realizados na cena cultural com cada um deles:

– Parceria com Dudu Sandroni.

– Parceria com Camila Amado e Rafaela Amado.

– Parceria com Renata Mizrahi, Priscila Vidca e Joana Lebreiro.

Alexandre MOFATI – Além da máxima de que “teatro não se faz sozinho”, é comum ouvirmos que há elencos que se tornam quase famílias. No meu caso, ainda acrescento que tive muita sorte com parcerias como produtor e ator que estabeleci ao longo dos anos nesse ofício.

Minha estréia à frente de uma produção teatral, com minha empresa, foi na peça “Rasga Coração” em 2007, uma parceria com Dudu Sandroni, diretor e co-produtor da montagem.

Espetáculo: “Rasga Coração” de Vianninha.

Com Alexandre da Costa, Zé Carlos Machedo e Kelzy Ecard.

Direção: Dudu Sandroni.

“Rasga Coração” de Vianninha.

Com Alexandre Mofati e Zé Carlos Machado.

Meu primeiro contato como o Dudu tinha sido na montagem de “Ludi vai à praia” em 2002 e 2003, um sucesso no teatro Gonzaguinha, com Helena Stewart no papel-título, em que atuei com Kelzy Ecard, Marcos Ácher e outros.

 

Espetáculo: “Ludi Vai à Praia”.

Depois eu participei da peça “Sapatinhos Vermelhos” em 2006 com Kelzy Ecard e Adriana Maia, com direção de Camilla Amado e Delson Antunes, que ele produzia.

 

Dudu me convidou, ainda em 2006, para produzirmos a peça de Vianninha, e estreamos em 2007.

Ficamos em cartaz de 2007 a 2011 com temporadas no Rio e em São Paulo, além de turnês pelo interior de São Paulo e várias cidades do país. Com a montagem tivemos indicações para prêmios de direção para o Dudu, atuação para Zé Carlos Machado, e Kelzy Ecard – venceu o prêmio APTR de atriz em papel coadjuvante.

Fiz assistência de direção de Dudu na peça “Linha Reta, Linha curva” de Machado de Assis em 2009, além de outras realizações. Dentre elas a produção de “A Agonia do Rei” de Ionesco, em 2011, encabeçada por Edney Giovenazzi, Nathalia Dill e Kelzy Ecard; além de alguns projetos ainda por fazer, com certeza.

Acabou se formando um núcleo informal de trabalho incluindo, além do Dudu, Kelzy, Viviana Rocha, Paula Sandroni, Gustavo Arthiddoro. Sendo que com esses dois últimos faço parte da visita guiada da ABL, Academia Brasileira de Letras, desde 2012, trabalho educativo que gosto muito, onde eu faço, entre outros, o “personagem” Machado de Assis, figura bastante presente na minha história.

Tive também a honra de uma parceria do tipo “quase família” com Camilla Amado e Rafaela Amado desde os anos 2000. Além de ter sido uma das minhas principais mestras por anos (assim como de muitos atores), Camilla esteve à frente do Grupo “OPA!” de 2000 a 2003, juntamente com Rafaela e Delson Antunes, com os quais eu dividia a produção e atuação. O Grupo desenvolveu vários trabalhos no Rio, entre eles a oficina “O Ser e o Não Ser Teatral” em 2002.

Fui dirigido por Camilla em “Rubem Braga – O sino de Ouro” em 2002 na Casa da Gávea, e em “Sapatinhos Vermelhos” de Caio Fernando Abreu em 2006, tendo estado em cena a seu lado em “O Homem Vivo” em 2007, substituindo Orã Figueiredo.

Em 2015 estreamos ”Electra” com direção João Fonseca, que tinha no elenco, além de Camilla e Rafaela, a presença de Ricardo Tozzi, Francisco Cuoco, Mario Borges, Paula Sandroni e eu.

Foi meu último trabalho com Camilla, que nos deixou em junho de 2021, e que por muito tempo deixará muitos atores órfãos de seus afetuosos abraços, conselhos, trabalhos como preparadora e pessoa tão experiente e atuante na classe teatral carioca e brasileira.

Espetáculo: “Electra” – direção de João Fonseca.

Com Francisco Cuoco, Ricardo Tozzi, Mario Borges, Rafaela Amado, Paula Sandroni e Camila Amado.

Alexandre Mofati em “Electra” – no camarim.

Espetáculo: “Electra” – direção: João Fonseca.

Outras artistas com quem dividi, felizmente, vários trabalhos, foram Renata Mizrahi, Priscila Vidca e Joana Lebreiro.

Em “Coisas que a gente não vê” de Renata Mizrahi, que tinha direção de Joana Lebreiro e preparação corporal de Priscila Vidca estive em cartaz como ator de 2012 a 2014, projeto com várias indicações a prêmios e viagem por várias cidades.

Espetáculo: “Coisas que a Gente Não Vê” de Renata Mizrahi.

Com Elisa Pinheiro, Anderson Cunha, Deborah Lamm e Kelzy Ecard.

Direção: Joana Lebreiro.

Trabalhei como ator em “Silêncio! ” de Renata Mizrahi, com direção dela e Priscila Vidca, com Suzana Faini encabeçando o elenco, também com indicações a prêmios, fazendo várias temporadas de 2014 a 2018.

Espetáculo: “Silêncio” de Renata Mizrah.

Em cena Alexandre Mofati e Suzana Faini.

“Silêncio”.

Em 2014 estreou “Bisa Bia, Bisa Bel” de Ana Maria Machado, com direção de Joana Lebreiro, em que faço a Direção de produção, projeto que inicialmente teria a participação de Renata Mizrahi, que não se concretizou – sendo que a peça venceu 7 prêmios. Além de alguns outros trabalhos com as três profissionais como leituras, cursos, etc.

Como eu disse, só tenho a agradecer a me juntar com gente tão talentosa, e bacana.

Espetáculo: “Bisa Bia, Bisa Bel”.

Direção de Produção: Alexandre Mofati.

Projeto que inicialmente teria a participação de Renata Mizrahi, que não se concretizou, sendo que a peça venceu 7 prêmios.

“Bisa Bia, Bisa Bel” – recebendo prêmios Zilka Sallaberry.

Poderia citar outras pessoas significativas com quem dividi projetos, como Amir Haddad e Almir Telles, e ainda artistas como Xando Graça e Adriana Maia com quem estive em “Copacabana 2010” em 2001, “Deserto Iluminado” em 2003; sendo que Xando fazia também “O avarento” (2000), “Rasga Coração” (2007/2011), e “ O Interrogatório” (2009) e Adriana também “Sapatinhos Vermelhos” (2006) e “Não sobre rouxinóis” (2012).  

Importante mencionar o diretor mineiro Carlos Gradim, com quem tive o prazer de trabalhar em “Horácio” de Rafael Neumayr, em 2014 no Teatro poerinha, substiuindo o amigo e grande ator Sávio Moll, em uma participação que também foi um desafio, e em “Noés”, peça que estreamos em 2006 em um espaço bastante inusitado: As ruínas no Cassino da Urca, e foi uma experiência única, pois eram ruínas mesmo, e nos sentíamos como em um filme de suspense.

Espetáculo: “O Interrogatório” – direção: Eduardo Wotzik.

Francis FACHETTI – Discorra, tornando conhecido o que achar necessário, com seu olhar e sua participação – estando presente nas montagens abaixo: “Um Inimigo do Povo” de Henrik Ibsen; “Não Sobre Rouxinóis” de Tennessee Williams; “O Processo” de Kafka e a “Arte da Comédia” de Eduardo Fillipo.

 

Alexandre MOFATI – Tive a felicidade de ter participado como ator da montagem de textos de grandes autores clássicos mundiais, experiências que sem dúvida foram formadoras da minha bagagem de conhecimento na área.

Em muitos casos, entrei como ator substituto, situação que curiosamente é uma constante na minha carreira. Confesso que sempre gostei de substituições, pois, se por um lado não há o processo todo de construção, por outro, você tem o desafio de ter rapidez para apreender e refazer o personagem, transformar aquela criação do outro em uma criação sua, dentro daquele contexto. Muita gente não gosta, mas eu adoro! E isso me deu um aprendizado e um jogo de cintura muito úteis. 

Na primeira década do milênio, voltei a trabalhar com Amir Haddad, que havia sido meu professor e primeiro diretor em 1991, dessa vez em “O Avarento” de Molière, no ano 2000, substituindo o Leonardo Vieira, no teatro Carlos Gomes, no Rio, e na inauguração do CCBB de Brasília.

Amir, sem dúvida, é um dos meus maiores mestres, ao lado de Camilla, e outros. A montagem foi encabeçada por Tonico Pereira, Tereza Seiblitz e Dira Paes, e foi muito marcante para mim pelas pessoas envolvidas, um elenco e equipe incríveis.

Espetáculo: “O Avarento” de Molière.

Direção: Amir Hadad.

Em cena com Dira Paes.

“O Avarento” em cena com Tereza Seiblitz.

Eu já havia feito em 1999 “Tartufo”, do mesmo autor, grande mestre francês da comédia mundial, com direção de Walter Lima Torres e à frente do elenco Carolina Virguez, Paulo Trajano e Eliane Costa, no teatro Villa Lobos. Em seguida, em 2001 e 2002, fiz “Sonho de uma noite de verão” de Shakespeare com direção de Paulo Reis, minha primeira e única peça do bardo inglês, com um elenco enorme e muito bacana. 

Posso dizer que retornei aos clássicos mundiais em 2009 participando das temporadas de São Paulo e Niterói de “O Processo” de Franz Kafka, substituindo o ator Gustavo Ottoni, tendo Tuca Andrada como protagonista, com direção de José Henrique e produção de Silvia Monte, artistas queridos e parceiros em alguns trabalhos.

Um mergulho na obra desse autor tão intenso, e importante na cultura mundial.

“O Processo” – com Thaís Tedesco, Paula Valente, José Henrique, Silvia Monte, Tuca Andrada, Antonio Alves, Mariana Oliveira e Roberto Lobo.

Direção: José Henrique – estreia de SP.

Ainda em 2009 participei da montagem de “O Interrogatório” texto do alemão Peter Weiss sobre o holocausto nazista, com direção de Eduardo Wotzik, que inicialmente foi uma peça / evento no teatro Laura Alvim com 24 horas de duração, de 18hs de sexta às 18hs de sábado, onde o texto inteiro foi executado várias vezes seguidas, como um mantra contra a barbárie do nazismo e seus campos de concentração. Foi uma experiência única, que talvez merecesse entrar para o livro dos records.

“O Interrogatório”

Em cena com Xando Graça.

O Wotzik também tem lugar de destaque na minha trajetória, com muitas oficinas, leituras, e muitas conversas maravilhosas sobre teatro. Fizemos posteriores temporadas da peça, com 6 horas de duração, até 2010, e eu dividia a cena com um grande elenco como Xando Graça, Carla Ribas, Lu Grimaldi, Susanna Krueger, Fernando Arze, Lourinelson Wladmir, Yashar Zambuzzi, Alexandre Varella, entre outros.

Em 2011, além de produzir e atuar na já mencionada “Agonia do Rei” de Ionesco, um dos criadores do teatro do absurdo.

Espetáculo: “A Agonia Do Rei” – Direlção: Dudu Sandroni.

Com Edney Giovenazzi e Natalia Dill.

“A Agonia do Rei” direção: Dudu Sandroni.

Em cena com Kelzy Ecard.

 “A Agonia do Rei”.

Com Kelzy Ecard, Nathalia Dill,Thaís Tedesco, Edney Giovenazzi e Gustavo Arthiddoro.

Participei do elenco de “Estranho Casal” de Neil Simon – clássico autor americano de comédias, na montagem com direção de Celso Nunes, com Carmo Dalla Vecchia e Edson Fieschi, entre outros, no Teatro Fashion Mall, no Rio, e no teatro das Artes, em São Paulo, substituindo o Marcelo Várzea.

Uma delícia de trabalho, com um elenco que também reunia Rogério Freitas, Marcos Ácher, Leonardo Netto, Bel Garcia (que nos deixou tão cedo), Bel Kutner, Clara Garcia, enfim, só feras e pessoas amigas, e com as quais me afino artisticamente. 

Em 2012, em “Não Sobre Rouxinóis” de Tennessee Williams, dirigido por João Fonseca, estive em cena ao lado de Bruno Ferrari e Thelmo Fernandes, além de Eduardo Rieche, idealizador do projeto, dentre outros.

O texto, do importante dramaturgo realista americano do sec. XX, foi montado na sala Paulo Pontes do teatro Net Rio, em Copacabana.

 

Espetáculo: “Não Sobre Rouxinóis” de Tennessee Williams.

Direção: João Fonseca.

Silvia Monte dirigiu em 2012 a montagem de “Um Inimigo do Povo” de Henrik Ibsen, dramaturgo norueguês, considerado um dos principais autores do drama realista moderno.

Entrei na temporada de 2013 no CCMJ/ Emerj, também como substituto, com elenco encabeçado por Marcelo Escorel, além de nomes como Nedira Campos, Paulo Japyassú e Eduardo Rieche. Um texto que ainda é muito atual, mesmo sendo de 1882, onde o autor faz uma ferina crítica ao comportamento do homem em sociedade, e às verdades absolutas.

Espetáculo: “Um Inimigo do Povo” de Henrik Ibsen.

Direção: Silvia Monte.

Com Paulo Japyassú, Nedira Campos e Janaína Prado.

Em 2013, também, entrei na montagem de “A Arte da Comédia” do autor italiano Eduardo de Fillipo, com direção de Sérgio Módena, em sua 2ª temporada, no teatro Carlos Gomes, no Rio, com Ricardo Blat, Thelmo Fernandes, André Dias, Gustavo Wabner, Erika Riba entre outros.

Espetáculo: “A Arte da Comédia” de Eduardo de Fillipo.

Direção: Sérgio Módena.

Em cena com Thelmo Fernandes.

“A Arte da Comédia”.

Com Poena Vianna, Ricardo Souzedo, Erika Riba e Celso André.

Fui com o espetáculo também às cidades de Campos e Angra dos Reis, no FITA 2013 (Festa internacional de teatro de Angra), no qual fui indicado como melhor ator em papel coadjuvante.

Essa experiência com a “A Arte da Comédia” foi incrível, não só pela indicação ao prêmio, mas porque eu tinha adorado a montagem quando a assisti, e meses depois fui chamado para substituir o ator Alcemar Vieira, que fazia um trabalho impressionante na peça. Depois de muito ensaio, consegui construir a minha versão do personagem, que mesmo inspirada nele, conseguia trazer uma marca pessoal. E nada como estar em cena com um elenco talentoso e de grandes amigos, como Thelmo, Erika, Guga e Serginho, realmente um privilégio.

Espetáculo: “Noés

Com Plinio Soares e Leonardo Netto.

Direção: Carlos Gradim.

Francis FACHETTI – Por gentileza, faça o mesmo com os clássicos nacionais, que esteve em cena, como: “O Mambembe” de Arthur Azevedo; os textos de Clarice Lispector: “A Pecadora Queimada e os Anjos Harmoniosos” e “Clarice Coração Selvagem”. Escolha um dos textos – que você esteve presente – de Ariano Suassuna.

ALEXANDRE MOFATI – Além de obras de autores de vulto da dramaturgia mundial, tive felizmente contato com grandes autores nacionais ao longo da carreira, que são grandes referenciais da nossa cultura. 

Um exemplo já mencionado foi Vianninha, com “Rasga Coração de 2007 a 2011, parceria com Dudu Sandroni. Além de ser um marco na minha trajetória pessoal, considero o texto – último de Vianninha – um dos melhores da dramaturgia brasileira pela qualidade na construção dos conflitos e pela humanidade dos personagens e retrato do país nos anos 70; o que acho mais marcante do que o viés político pelo qual o texto muitas vezes é lembrado. E essa, na verdade, foi a segunda vez que montei um texto do autor, pois minha estreia como ator em teatro amador em 1986 e 1987 – antes mesmo de estudar na CAL -, foi com o texto de Vianninha “Quatro quadras de terra” com uma montagem final de um curso no teatro Abel, em Niterói.

Outro exemplo que mencionei é Arthur Azevedo, do qual montei “ O Mambembe” com direção de Amir Haddad em 1991, como formatura da CAL, um espetáculo indiscutivelmente inesquecível, para todos que assistiram, com um jovem elenco sob a batuta do mestre Amir.

O texto é um clássico do nosso teatro, que conta a história de uma companhia de teatro mambembe que viaja pelo país, sendo o autor uns dos maiores do nosso teatro em todos os tempos, e um dos principais defensores do teatro nacional na virada do sec. XIX para o XX.  

Espetáculo: “O Mambembe” de Arthur Azevedo.

Direção: Amir Haddad.

Tive um segundo contato com a obra de Arthur Azevedo em 2008 e 2009 no espetáculo “O Bilontra” com direção de José Henrique e produção de Silvia Monte, na Emerj e no teatro Solar de botafogo, uma montagem despretensiosa e muito divertida.

Outro autor nacional clássico com quem tive contato foi Ariano Suassuna, de quem participei da montagem de “Torturas de um coração” com direção de Almir Telles, diretor com quem também estive em vários trabalhos, no início da minha carreira. 

Pela peça, recebi o Prêmio Oficina como ator no Festival Rioarte 1992 (com grandes parceiros de vários trabalhos como Celso Taddei, Gustavo Guenzburger e Rodrigo Cherulli), e indicação de ator coadjuvante no Festival Nacional de Teatro de João Pessoa em 1993, tendo feito temporadas no Rio, no teatro do planetário, e em São Paulo, no teatro Brincante, em 1996.

 

“Torturas de Um Coração” – direção de Almir Telles.

Na foto Ariano Suassuna, Almir Telles, Rodrigo Cherulli, Gustavo Guenzburger, Natércia Campos, Celso Taddei e Tavinho Teixeira.

Em 2013, cerca de 20 anos depois, novamente atuei em uma montagem do autor, em “O auto da compadecida” com direção de Sidnei Cruz, substituindo o ator Lucci Ferreira, fazendo o personagem Diabo, nas temporadas do Sesc Tijuca e teatro Ipanema.

A montagem, da conhecida Cia. de teatro limite 151, tinha um grande elenco encabeçado por Glaucia Rodrigues e Edmundo Lippi, também produtores.

O trabalho foi um dos maiores desafios da minha vida, pois, depois do contato inicial com o Lucci, não havia possibilidade de termos tempo de ensaio com o todo o elenco – na verdade tive um dia apenas – o que me obrigou a passar muitos dias, ensaiando sozinho, de um lado para o outro, em casa! Um desespero, mas que resultou em um trabalho do qual me orgulho muito!

Espetáculo: “O Auto da Compadecida” de Ariano Suassuna.

Direção: Sidnei Cruz.

Montagem da Cia de Teatro Limite 151.

No elenco Gláucia Rodrigues e Edmundo Lippi, que também eram os produtores, juntos na foto com Samuel de Assis.

Alexandre Mofati no personagem “Diabo”.

“O Auto da Compadecida”.

Em cena Alexandre Mofati e Gláucia Rodrigues.

Uma autora que tive duas experiências de encenação foi Clarice Lispector, sendo a primeira em 1997 com “Clarice Coração Selvagem”, com a atriz Aracy Balabanian com direção de Maria Lucia de Lima, no CCBB do Rio. Uma peça / evento em homenagem à autora.

Em 2005, participei da montagem de “A Pecadora Queimada e os Anjos Harmoniosos” com direção José Antonio Garcia e Juliana Carneiro da Cunha, com Grupo Galpão do Solar, encabeçado por Cristina Aché, com temporadas no Jardim Botânico no Rio, em 2005, e no teatro Sergio Cardoso, SP, em 2006.

Nessa montagem, além de ator fui assistente de direção de Juliana Carneiro da Cunha, na remontagem para São Paulo, o que foi um aprendizado e tanto, pois além de ser uma grande professora, tenho nela uma grande referência de teatro por sua atuação no Brasil e no grupo Théâtre du Soleil, dirigido por Ariane Mnouchkine em Paris. Mesmo com esses dois projetos, ainda me acho um novato na obra da Clarice, e ainda tenho muito o que aprender com sua genialidade.

Espetáculo: “A Pecadora Queimada e os Anjos Harmoniosos” de Clarice Lispector.

Direção: José antonio Garcia e Juliana Carneiro da Cunha.

Com Dora Peregrino, Franco Almada e Xando graça.

Nos últimos anos, também atuei em peças de outras duas autoras literárias brasileiras, dessa vez no universo infantil. O que adorei, pois além de terem sido dois sucessos e processos maravilhosos, trouxeram leveza ao dia-a-dia ajudando na conciliação do meu tempo com outros trabalhos mais densos. Os dois projetos foram também em um clima bem familiar; nos dois casos, literalmente.

O primeiro foi na peça “A fada que tinha ideias” da premiada obra de Fernanda Lopes de Almeida, adaptação e direção do casal Susana Garcia e Herson Capri, tendo a filha deles, Luisa Capri, como personagem-título da montagem, na temporada de 2017 e 2018.

O projeto que fez uma 1ª temporada em 2014, era um verdadeiro um encontro familiar e uma alegria de fazer, com sucesso também nessa 2ª temporada. Reunia no elenco Viviana Rocha, Nedira Campos, Karla Dalvi e outros, incluindo a sobrinha do casal, Julia Marques, filha da atriz Monica Martelli. Ou seja, tudo em casa, e com muito talento e excelente convivência.

Espetáculo: “A Fada que Tinha Ideias”

Adaptação e direção de Herson Capri e Susana Garcia. Em cena com Viviana Rocha.

O outro projeto foi “Diário de Pilar na Grécia” da obra de Flavia Lins e Silva, com direção Symone Strobel, projeto encabeçado pelo casal de atores e produtores Miriam Freeland e Roberto Bomtempo, que estreou em 2018.

Espetáculo infantil: “Diário de Pilar na Grécia”.

Direção: Simone Strobel.

Em cena com Miriam Freeland.

Depois de ter recebido 07 Prêmios, incluindo Melhor Espetáculo infantil de 2018 pelo CBTIJ e Botequim Cultural, a peça fez várias temporadas e segue em cartaz até hoje, tendo feito recentemente uma temporada no teatro Multiplan, no Village Mall, em agosto de 2021, com todos os protocolos da Covid 19.

O elenco conta, além do casal, com Viviana Rocha, Pedro Monteiro, Ana Amélia Vieira, Leandro Baumgratz e Symone Strobel; e também já é quase uma família, felizmente.

Esse projeto marcou também minha reaproximação com ator e diretor Roberto Bomtempo, grande parceiro e artista que admiro muito, com quem já havia dividido os palcos em 2003 na peça “Deserto Iluminado” de Caio de Andrade.

“Diário de Pilar na Grécia” – foto comemorando prêmios com minha mulher Viviana Rocha.

“Diário de Pilar na Grécia”.

“Diário de Pilar na Grécia”.

Comemorando os prêmios CBTIJ – equipe Pilar.

Direção: Simone Strobel.

Francis FACHETTI – O monólogo “Escravos” – obra exponencial, em suas pertinências, de Machado de Assis – dirigida por Augusto Madeira, possui inúmeros motivos para ser levada a cena, como esses que irei elencar:

– O não enxergar da falta de dignidade humana à nossa volta.

– Pela genialidade de abordar o humano.

– Por ser uma obra atemporal nos acometendo de forma exacerbada até a atualidade.

– O jeito irônico e ácido como é construída a crítica pelo tema da escravidão.

– A complexidade e a força dramática de Machado de Assis.

Diante disso, e de muito mais razões, nos apresente essa obra, esse monólogo e o estupendo autor – com todos os desdobramentos que já resultou e resultará essa arquitetura cênica. Isso poderá ser uma aula de historicidade.

Alexandre MOFATI – O monólogo “Escravos” é seguramente o principal projeto que já realizei. Até agora, claro!

O primeiro totalmente idealizado por mim, e meu primeiro monólogo. A peça estreou em 2017, e é uma montagem do conto “Pai contra mãe” de Machado de Assis, com direção do Augusto Madeira, grande amigo e ator de talento reconhecido, e grande “sócio” nessa ideia. Entre a minha 1ª intenção de levar a obra ao teatro e a realização do projeto, passaram-se mais de 10 anos! E eu esperaria o tempo que fosse, tamanho o meu envolvimento. Vale falar um pouco do que me levou a criar esse projeto.

Machado de assis.

Em cena com o monólogo: “Escravos”.

Em cena com o monólogo “Escravos”.

 Direção: Augusto Madeira.

Alexandre Mofati no monólogo “Escravos”.

Direção: Augusto Madeira.

A obra trata da escravidão no Brasil. O conto foi publicado em 1906, só dois anos antes da morte de Machado, sendo uma das poucas obras dele sobre o tema.

A história teria acontecido uns 50 anos antes, ou seja, em meados do sec. XIX. No conto, o “narrador” é alguém que defende o sistema da escravidão, faz parte dele.

O jeito irônico e ácido com que Machado constrói a crítica, mostrando justamente a visão de quem defendia a escravidão, dá a obra um alto potencial de humanidade e de crueldade ao mesmo tempo.

A complexidade e a força dramática da situação de um homem que brutalmente caça escravos como forma de sustentar a família, sem atentar para a desumanidade do seu ato – foram determinantes para que eu decidisse levar à cena o conto, e ficasse mais de 10 anos tentando, até conseguir!

O tema é complexo. Vale lembrar que a grande maioria da sociedade livre da época convivia com naturalidade com a escravidão. Milhares de pessoas livres, antepassados de muitos de nós. Muita omissão, muita conivência, e também uma espécie de ignorância, de cegueira.

Mesmo sabendo que ao longo da história, até então, sempre havia existido escravidão no mundo, e também sabendo que seria anacrônico falar em direitos humanos no séc XIX – já que o conceito surgiu no séc. XX –, a genialidade do conto causa um profundo mal-estar. Se há mal-estar, é porque há algo de atemporal, além da escravidão. Talvez seja o fato de que, em todas as épocas, muitas pessoas tendem a seguir os costumes – agir em conformidade com o poder estabelecido, pra se sentirem seguras e terem benefícios.

Naquela época, sendo a escravidão institucionalizada, base da economia, e tendo o apoio da igreja – em princípio quase todos agiam em conformidade. Mas, mesmo depois da escravidão, até hoje, há muitos exemplos de atentado à dignidade humana, nas várias guerras e etc.

Esse é o ponto do mal estar! Então, acho que a pergunta não é “como as pessoas não enxergavam o absurdo da escravidão há 170 anos atrás?”.

A pergunta é: “o que nós, hoje, não enxergamos de falta de dignidade humana, à nossa volta, exatamente como acontecia há 170 anos? ”. Acho que essas questões me fazem acreditar na pertinência desse projeto, ainda hoje! E me fazem seguir na estrada com a peça. Fiz algumas temporadas em 2017, e pretendo voltar em cartaz assim que possível!

Alguns desdobramentos já surgiram do projeto. Em 2020 fiz uma versão on-line pelo edital público Cultura Presente nas Redes (SececRJ), e em 2021 criei o projeto, que acabou também sendo on-line, “Senhores e Escravos – narrativas de poder em Machado de Assis” pelo Edital RetomadaCultural/ Aldir Blanc RJ.

Neste último, além da apresentação da versão on-line da peça Escravos, fiz ao vivo outro texto do autor: “Medalhão” – adaptação do conto “Teoria do Medalhão” com supervisão de Leonardo Netto, e com vários atores convidados – Leandro Santanna, Marcos Ácher, Alexandre Damascena, Humberto Michaeli e Roberto Monzo.

No projeto, também foram ministradas várias oficinas nas áreas de atuação, roteiro, produção e elaboração de projeto, tendo como base o universo do autor.

Acredito que uma das grandes realizações que se pode ter como artista é a criação de projetos que expressem o que você quer dizer naquele momento. E é um caminho que pode ser árduo, e que nem sempre leva a êxito, todos sabemos disso. Por isso só tenho a agradecer a possibilidade de ter estreado essa peça, e expressar minha gratidão aos parceiros, além do Augusto Madeira, que fizeram isso possível, como: Rafaela Amado que fez direção de movimento e foi fundamental no processo, Ana Paula Abreu e Renata Blasi que produzem o espetáculo e foram determinantes para o seu nascimento, Carlos Aberto Nunes no cenário e figurino, Renato Machado na Luz, Alexandre Garnizé na Trilha Original, Welder Rodrigues na programação visual, Elisa Lucinda no texto final do espetáculo, Lu Nabuco na assessoria de imprensa, Rafael Blasi na fotos, e muitos outros.

E que sigamos, nesses tempos tão sombrios, principalmente para quem faz cultura no Brasil, buscando realizar o melhor que pudermos. Pois a arte sempre estará viva, sempre renascerá, não importa o que fizerem!

Quero te agradecer – Francis FACHETTI – através desse Documento Cultural: Trajetória dos Operários Das Artes, por essa entrevista, pois precisamos mesmo lembrar e relembrar o que fizemos, e para mim, acabou sendo um mergulho na memória, buscando fotos e lembranças.

Muito bacana esse trabalho, o teatro e a arte agradecem!

Simplesmente:

ALEXANDRE MOFATI.

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