BLOG/SITE DE CRÍTICAS TEATRAIS E DE DANÇA
E FACHETTI PRODUÇÕES
APRESENTA:
O Blog/Site iniciou a temporada de Retrospectivas e INÉDITAS das inúmeras homenagens feitas aos artistas das artes cênicas em geral – teatro, dança, cinema, técnicos:
Operários das Artes – Documento Cultural.
“Entrevistas NECESSÁRIAS”, inserido nesse Blog/Site de Críticas Teatrais e de Dança, no começo da pandemia, sendo uma homenagem em forma de Documento Cultural – Trajetória dos Operários Das Artes -, aos artistas de inúmeras áreas do Universo Artístico.
Documento Cultural:
Entrevista NECESSÁRIA:
Trajetória dos Operários Das Artes.
Inédita
Atriz/ Dramaturga – Operária Das Artes:
MÁRCIA SANTOS
Entrando na Inédita
Entrevista NECESSÁRIA
Com:
MÁRCIA SANTOS
Francis FACHETTI – Discorra para esse Documento Cultural como foi esse desenrolar como profissional Disciplinar: Áreas Artístico/Cultural; Política; Pesquisa Acadêmica…
Relate os pormenores desse “entrometer-se” nessas curiosas e enriquecedoras caminhadas de Márcia Santos; O que amealhou a atriz, cantora, dramaturga e produtora cultural nessas relevâncias profissionais?
MÁRCIA SANTOS – Acho que essa caminhada tem a ver com uma inquietação minha, mesmo. E com o prazer pelo estudo, também.
Depois da graduação em Artes Cênicas, eu sempre senti vontade de voltar a estudar, mas não sabia bem o que.
Quando fui chamada, em 2008, pra trabalhar na produção de Programa Eleitoral Gratuito, a ficha caiu: queria estudar política. Voltei pra Unirio, dessa vez, para graduação em Ciência Política.
Então, a partir de 2008, participei de diversas campanhas – para diferentes políticos e partidos, trabalhando como Analista de Comportamento Eleitoral; acompanhando Qualitativas de Intenção de Voto; e como Coordenadora Operacional de Programa Eleitoral, entre outras funções.
É sempre um aprendizado absurdo trabalhar com campanha política, devido ao nível de pressão, de responsabilidade, ao rítmo intenso (interminável!) de trabalho, aos interesses envolvidos, à dinâmica de equipes grandes, enfim… Campanha não é para os fracos!! rssrsrrs
Na sequência, eu quis ampliar o escopo e fui pro Mestrado em Sociologia Política, só que na área de Migração e Refúgio. Foi um mergulho nesse universo cruel, e cada dia mais contemporâneo, que é o do deslocamento forçado de populações ao redor do mundo. Um tema que me comove e angustia.
Todo esse arcabouço teórico e prático me molda como pessoa, e, obviamente, se reflete na minha dramatrugia.
Francis FACHETTI – No campo televisivo e cinematográfico carrega experiências de narrativas e presenças díspares; Três linguagens desafiadoras e apaixonantes – incluindo o teatral.
No Audiovisual o que vem a ser e como foi sua presença nas seguintes obras – destrinche-as:
– “Cinema De Enredo”;
– “Sob Pressão”;
– “Vamos Fazer Uma Faxina”;
– “Clipe Coragem”;
– “Curta Toró”
MÁRCIA SANTOS – Considero que tenho pouca experiência e participação no âmbido do audiovisual. No entanto, os poucos trabalhos que fiz me orgulham muito, pela qualidade dos projetos.
“Cinema de Enredo” é uma série cujas narrativas se inspiram livremente em composições de escolas de samba do Rio de Janeiro, e é protagonizada por artistas negros. Uma série muito carioca. Nela, faço uma participação bem pequena, mas divertida.
“Sob Pressão” é uma série que estreou em 2017 – uma produção incrível, carregada de premiações nacionais e internacionais. Os roteiros oferecem grande rotatividade de personagens, permitindo a participação de uma gama de artistas.
Série “Sob Pressão 2” – 2021, com Marjorie Estiano.
Fiquei imensamente feliz com o convite para viver a Marilda, uma mulher sofrida pelos anos de luta de seu marido, e grande amor, contra o câncer – e que acaba por executar nele uma eutanásia, trazendo para a pauta um tema tão relevante. Foi um período difícil, porque estávamos em plena pandemia da Covid 19. Lembro que cheguei a fazer mais de 60 testes de Covid durante as gravações.
O “Vamos Fazer uma Faxina” também foi filmado durante a pandemia. Foi divertidíssimo, como são sempre as parcerias entre Joaquim Vicente e eu.
Curta – “Vamos Fazer Uma Faxina”, 2021.
Joaquim escreveu e dirigiu. Filmamos em uma tarde. Apresentamos no Edital da Funarj e ganhamos. É um texto debochado, um filme trash sobre uma mulher que, em razão da pandemia, se vê obrigada a fazer os trabalhos domésticos e tem uma epifania marxista sobre a exploração do trabalho, as diferenças sociais. Simplesmente adoro esse vídeo! Coloco aqui o link, pra quem quiser conhecê-lo.
O clipe “CORAGEM” foi um processo de cura. O encontro com uma música linda, uma equipe talentosa e gentil, locações incrivelmente belas, num momento de grande fragilidade pessoal pelo qual eu estava passando.
O processo de filmagem do clipe me proporcionou um espaço de catarse, de liberação de emoções. A música tem uma mensagem extremamente otimista. Segue aqui o link. Vale a pena assistir!
https://www.youtube.com/watch?v=tRYMr_UwFL0
Clipe Coragem – 2022.
Foto: Zeca Vieira
Por fim, temos o “TORÓ”. Curta que foi rodado em 2022, e estreou agora, em 2024, no 33º. Festival Curta Cinema, onde ganhou 2 prêmios: voto do público (juri popular) e prêmio especial da Manifest, distribuidora internacional.
TORÓ é um filme delicado, meio místico. Um filme de mãos femininas: argumento, roteiro, direção e atuação de mulheres. É, também, um filme sobre afetos.
Para realizá-lo, vivemos um processo de imersão: elenco e equipe convivendo por 10 dias em uma mesma casa, discutindo e descobrindo as personagens, ensaiando cenas, estudando ângulos, enquadramentos, tempos, tons… Nem sempre podemos contar com tempo e disponibilidade para um mergulho como esse. Sou muito grata pelo convite.
Foi um processo maravilhoso! E o resultado está aí, na recepção do público.
Curta: “Toró” – 2022
Direção: Clara Ferrer e Marcela De Finis.
Francis FACHETTI – Lider do Grupo Teatral “Fosco Aveludado” – Dê todas as informações possíveis sobre esse efetivo cênico que tem várias montagens em seu trilhar, e nos conte a respeito de três desses espetáculos:
– “Finíssimo Acabamento”:
”Finíssimo Acabamento” – Teatro Villa Lobos.
– “Viva Barcos”:
“Viva Barcos” – Porão Laura Alvim
“Discoteca Do Chacrinha”
“Discoteca Do Chacrinha” – Teatro Laura Alvim
E ainda, roterizou, dirigiu e atuou em “Brasil 70 – Musical”; explane tudo que puder desse trabalho cênico.
MÁRCIA SANTOS – O Fosco Aveludado foi uma experiência tão incrível, que fica até difícil de narrar.
Nasceu de um encontro de atores para o exercício do canto coral, com o Maestro e Diretor Musical Luiz Antonio Barcos. Com o tempo, foi nascendo a vontade de mostrar o resultado daqueles trabalhos vocais, e assim surgiu o Fosco – um coral cênico -, que estreou em 1989, com o espetáculo Finíssimo Acabamento, no Teatro Villa-Lobos.
Naquele ocasião, éramos 36 jovens atores-cantores, entre os quais, Izabella Bicalho, Alice Borges, Duda Mamberti, Dayse Pozzato, Tuca Andrada, Eliane Costa, entre outros queridos e queridas. O espetáculo era uma colagem de músicas de musicais, todas com arranjos do Barcos.
Em 1990, Barcos nos deixou, vitimado pela Aids. O grupo, então, dispersou.
Em 1999, editei e lancei um Songbook com arranjos do Barcos e fiz o lançamento nas arcadas na Casa de Cultura Laura Alvim. Convidei a galera do Fosco, e apresentamos algumas músicas – acompanhados pelo Tim Rescala no piano.
Foi tão boa a apresentação, que o Flávio Marinho, que era o Diretor da Casa na época, nos ofereceu uma pauta. Então, estreamos o Viva Barcos no porão da Laura Alvim, dessa vez com 14 atores.
Esse espetáculo foi um reencontro, uma catarse coletiva, uma aventura deliciosa. Ficamos alguns meses na Laura Alvim, viajamos, participamos de eventos. Foi uma festa!!!
Em 2001, veio o Discoteca do Chacrinha, dessa vez no palcão da Laura Alvim. O espetáculo era um passeio pelo programa do famoso comunicador e também por canções e cantores ícones de um período, como Magal e Gretchen. No espetáculo tínhamos um número de calouros, onde o público se apresentava. Mais uma festa!!!
Já o “Brasil 70 – Musical” marca um outro momento da minha carreira. Uma parceria com minha amiga pessoal, a atriz, cantora e bailarina Márciah Luna Cabral.
Eu assinei o roteiro e a direção, ela os arranjos e a direção musical, e nós duas produzimos.
Contamos com os talentos de Édio Nunes nas coreografias, e de Alice Borges na supervisão geral.
A montagem era uma viagem por composições das décadas de 60 e 70, com destaque para eventos como os Festivais da Canção Popular, a Tropicália, a Ditadura, enfim, o contexto social da época. Foi um enorme sucesso no Teatro Café Pequeno, onde prorrogamos a temporada 2 vezes.
O espetáculo foi convidado a se apresentar no Cassino Estoril, em Portugal, em 2013. Depois, circulou pelo interior do Rio, sob o patrocínio da Oi Futuro.
Francis FACHETTI – Nos deixe conhecer “Rádio Quitanda” que você escreveu e produziu. Conte-nos tudo!
O iluminado dono dos holofotes Paulo Cesar Medeiros me disse que o projeto “Nave De Luz” era a menina dos olhos dele. Descreva aqui como foi estar imbuída nesse projeto com o espetáculo:
“O Menino é o Pai do Homem” – fale desse trabalho.
MÁRCIA SANTOS – Rádio Quitanda é um musical produzido para as comemorações de 80 anos do Quitandinha, em Petrópolis. Mais uma parceria minha com o Édio Nunes, eu na escrita, ele na direção. Montado com artistas e equipe de Petrópolis. Por meio de músicas, o espetáculo relembra a trajetória do Palácio Quitandinha desde a sua construção, em plena grande guerra, na década de 1940; passando por personalidades que ali estiveram presentes, como Marlene Dietrich e Grande Otelo e, até mesmo, o surgimento da Furacão 2000, que nasce dentro do Quitandinha.
Foram poucas apresentações no Teatro Café Concerto do Sesc Quitandinha, mas, no segundo dia já tínhamos esgotado os ingressos da temporada – devido ao interesse do público local e do boca-a-boca positivo. Foi um encontro da cidade com um pouco de sua história e, também, com os seus talentos locais.
Agora… falar de Paulinho (César Medeiros) já é pra outro patamar, porque, aí, é falar de amor; falar de mais de 30 anos de amizade; de carinho, respeito e admiração recíprocos. Então, inaugurar a Nave de Luz, projeto tão sonhado por ele, foi um presente gigante. Poder fazer parte da construção e da realização desse sonho!
O Menino é Pai do Homem é um trabalho de beleza extrema, que reúne os melhores talentos do teatro, tendo como fundamento, nada menos que Machado de Assis.
É, também, meu primeiro encontro com Moacir Chaves em um trabalho. E isso foi maravilhoso – porque me permitiu sair do lugar de conforto, ultrapassar meus limites, e me trouxe um crescimento artístico ímpar. Sem falar no elenco, né?! Na delícia que é a convivência com Karen Coelho, Monica Biel, Elisa Pinheiro, Zé Mauro Brant, Anderson Oli, Gustavo Corsi e Hugo Belfort, além de uma equipe linda, generosa e profissionalíssima! Uma produção gentil, atenciosa.
Tudo de bom!!!
“O Menino é o Pai”
Projeto Nave de Luz
Foto: Chico Lima
“O Menino é o Pai”
Direção: Moacir Chaves
Projeto Nave de Luz – 2023
Foto: Dalton Valério
Francis FACHETTI – Vamos falar da Dramaturgia NECESSÁRIA de Márcia Santos – que salta aos olhos de quem presenciou os três espetáculos abaixo. Onde a dramaturga se “embriaga” para ter os viés de suas narrativas; elas são calcadas em que ou se inspira em quem?
Aproveite e disseque um pouco dos seus textos que foram patrocinados e montados; como eu classico: Espetáculos NECESSÁRIOS – por suas qualidades em todos os signos teatrais;
Fale sobre: “LUÍZA MAHIN – EU AINDA CONTINUO AQUI”; “JOÃOZINHO E LAÍLA – LARGUEM MINHA FANTASIA” e o Inefável: “AS PESSOAS”.
MÁRCIA SANTOS – A escrita surge como uma surpresa, pra mim. Embora eu tenha sempre assinado os roteiros dos meus espetáculos, a dramaturgia nunca esteve no meu escopo.
AS PESSOAS, por exemplo, escrito em 2019, não nasceu como um texto. Mas, como um vômito. Uma necessidade absurda de desabafo, diante do momento social e político que estávamos vivendo.
Sentei e, em algumas horas, escrevi 31 páginas.
Para a montagem, levamos para a cena apenas 11 delas. E ainda assim, resultou em um espetáculo de 1 hora, onde Zelma, a personagem solo, faz um desabafo reflexivo sobre o nosso tempo e fico feliz de ver que, no geral, o público se identifica profundamente com o que ela diz.
LUÍZA MAHIN – EU AINDA CONTINUO AQUI foi um texto de encomenda.
Era uma ideia da atriz Cyda Moreno fazer essa conexão entre a história de Mahin, que teve o filho arrancado de seu convívio, e as das mães negras das periferias, que perdem seus filhos para a violência de estado.
Esse é um tipo de trabalho que se fundamenta em algo que me dá imenso prazer, que é o trabalho de pesquisa histórica.
Em dado momento, considerando o aumento contínuo dos casos de feminicídio, achei que devia inserir essa questão também, e coloquei uma mãe que tem a filha assassinada pelo genro, que é a personagem que eu interpreto.
LUÍZA MAHIN é uma tragédia atual, potente, doída. Por um lado, é triste que ainda precisemos falar tudo o que é dito no espetáculo, por outro, ele tem sido um presente pra nós, do elenco e equipe, por sua trajetória de sucesso ao longo desses 3 anos em cartaz, com premiações, indicações, muitas turnês…
“Luiza Mahim – Eu Ainda Continuo Aqui” – 2021
Teatro Petra Gold
Foto: Cláudia Ribeiro
“Luiza Mahin – Eu Ainda Continuo Aqui”
Com: Márcia do Valle e Taís Alves.
JOÃOSINHO E LAÍLA nasceu de uma conversa de bar entre Édio Nunes, Wanderley Gomes, Milton Filho e eu.
Ideia lançada, comecei a pesquisa e, junto com o Édio, fomos criando o espetáculo, que narra o conflito entre Joãosinho Trinta (vivido por Wanderley Gomes) e Laíla (interpretado por Cridemar Aquino, e que lhe rendeu o Prêmio Shell 2022 de Melhor Ator) durante a criação do icônico desfile “Ratos e Urubus, Larguem a Minha Fantasia”.
Milton Filho também foi indicado ao Shell de Melhor Ator por esse espetáculo, que, deve estar de volta aos palcos no final de 2024, início de 2025.
Na foto: Cridemar Aquino e Wanderley Gomes.
“Joãozinho E Laíla – Ratos e Urubus, Larguem Minha fantasia” – 2023
Prêmio Shell de Melhor Ator para Cridemar Aquino
Na foto: Marcelo Alonso Neves, Édio Nunes, Márcia Santos e Fábio D’Lélis.
Francis FACHETTI – Para terminar com chave de diamante, divulgue para todos a sua presença no segundo semestre de 2024 no Espetáculo NECESSÁRIO: “Ninas” – com excelente texto de Joaquim Vicente e direção do necessário Édio Nunes. Fale dessa sua nova empreitada.
MÁRCIA SANTOS – Em NINAS, entro pedindo licença e axé, já que estarei substituindo uma das atrizes que estrearam, minha amiga Anna Paula Black. Mas, entro imensamente feliz, porque estarei junto com Joaquim Vicente (autor), Édio Nunes (diretor) e Cyda Moreno (idealizadora, produtora e atriz de NINAS), parceiros queridos de trabalhos anteriores.
Feliz, também, porque o espetáculo é belíssimo! Bem escrito, bem cantado, bem dirigido, lindamente iluminado, com músicas lindas, e apresenta a vida de Nina Simone, uma artista ícone no movimento negro americano, que viveu em um contexto imensamente cruel para a população negra americana, cujos preceitos ecoam em nossa contemporaneidade.
NINAS cumpriu uma única temporada no Sesc Copacabana. Então, acredito que há uma longa carreira pela frente para o espetáculo. Em outubro, faremos uma circulação pelo Sesi Rio. Em 2025, pelo Sesi SP. Devemos fazer uma temporada em São Paulo, capital; e mais uma no Rio.
O espetáculo tem fôlego, e muita gente ainda não assistiu.
Francis FACHETTI – Não poderia de deixar de mencionar o ESPETÁCULO “As Pessoas”, classificado como – Espetáculo NECESSÁRIO -, por esse Blog/Site de Críticas, com expoente direção de Rogério Fanju e Atuação da grande Márcia Santos. Bravíssimo!!! NECESSÁRIO!!!
Simplesmente:
MÁRCIA SANTOS