Crítica Teatral: “ORFÃOS”: Direção: Fernando Philbert.

Teatro Crítica: Por Francis Fachetti.

 

“ORFÃOS”

De Lyle Kessler

Direção: Fernando Philbert.

Tradução: Diego Teza.

 

 

No aconchegante e necessário Oi futuro Flamengo está em cartaz uma dramaturgia singular: “Orfãos” de Lyle Kessler obtendo confrontação/analogia ao emblemático americano que fazia a união em suas obras da ilusão e realidade, discorrendo sobre a vida de seres solitários – Tennessee Williams.

A comparação com Tennessee Williams, faz do texto de Lyle Kessler um aprofundado estudo sobre a condição humana – um dissecar em sua retórica que abrange a complexidade no seu caráter ético e moral.

O que presenciamos em cena nesse processo textual é a construção de ensinamentos. Uma sensibilidade aflorada no despertar para os valores do ser humano; o narrativo e o moral; isso captamos em “Orfãos”, criticando costumes e pensamentos.

”Dois meninos que vivem num lugar abandonado de uma grande cidade, de repente, chega uma figura (Harold, Ernani Moraes), tentando dar um caminho e melhorar a vida dos dois, abrir horizontes”.

“Phillip (Lucas Drummont) é criado pelo irmão mais velho (Rafael Queiroz), que bate carteira na rua para sobreviverem. Os dois só tem um ao outro. Acreditando que tem uma alergia terrível à maioria das coisas, Phillip, não sai de casa há anos. Toda sua visão do mundo é baseada no que vê pela janela, pela tv, e pelo o que o irmão conta para ele”.

Diego Teza faz uma tradução no coloquial eloquente. Uma clareza que invade o público sem curvas imprecisas.

O espetáculo se mostra versado no etéreo, fluido, num discorrer como uma coleção de vedas indianas: Hinos de louvores que se pratica designando comportamentos humanos considerados necessários no universo; atitudes para impedir o caos, ações que seriam ou são necessárias para toda vida na sociedade, na família e no nível individual – assim, como se coloca ao espectador todos os signos teatrais desse espetáculo. Como se buscasse transformações num caminho de uma verdade correta.

Rocio Moure elabora sua indumentária com assertiva comunhão com costumes e pensamentos dos personagens. Conseguimos discernir quem é quem nesse encontro marcado que expõe os valores de cada um em seu figurino. Um encontro literalmente vestido com acerto.

O desenho de luz de Vilmar Olos segue o caminho encontrando todos os signos teatrais presentes. Cada temperatura exigida nas cenas é lindamente pontuada por ele – uma luz delineada, definidora e fundamental.

Marcelo Alonso Neves em seu inventivo artístico de comovente faculdade de explorar a simpatia, empatia – presente em sua trilha sonora evocando reminiscências de épocas, canções; obras que marcaram com um frescor abundante no enredar dessa cena teatral de tensões, emoções… Uma trilha que transita no superveniente/posterior; o imprevisível tocante e com conhecimento de causa: Necessário!!!

Um cenário por Natalia Lana é sempre empoderado e nesse espaço cênico o empoderamento vem através dos universos presentes em cena, no tempo e temperamento de cada personagem. Janelas e objetos quase humanos pelo valor de sua representatividade.

Direção de movimento quase sempre é minimalista, “imperceptível” para muitos, porém, perceptível em detalhes que fazem a diferença; retocando com a assinatura estóica/rígido, firme no definir os movimentos voluntários e involuntários dos atores/personagens: Toni Rodrigues é um mestre nesta arte. Nesse trabalho emula o corpóreo visivelmente “coreografado” num diálogo direto com a direção artística – Fernando Philbert.

A direção artística de Fernando Philbert é limítrofe – em arrebatamentos, no extase para imprimir o versado no etéreo, o fluido, colocando os comportamentos dos atores para definir categoricamente seus papéis na cena, impulsionando o espetáculo para atingir o individual cênico e o individuo espectador. Uma direção que traça as veredas da clareza que invade o público, corroborando no dissecar da narrativa que abrange o complexo caráter dos personagens de Lyle Kessler em seus costumes e pensamentos – Bravo!!!

Um elenco que abusa da verdade de ser intérpretes e trilha com enorme competência as crenças e fantasias que Philbert acredita e trabalha a cada decisivo cênico.

Idealizador, produtor e ator dessa aula de sucessão de mudanças e alternancias cênicas, Lucas drummond é uma metamorfose atoral impulsionado pelo grande mestre (Harold, Ernani Moraes), que mesmo sendo um homem de negócios nebulosos, oferece o amor embuído de um carisma sedutor,  em seus ensinamentos. Lucas/Phillip agarra a proteção, a salvação que chega na sua frente e expõe seu trabalho atoral com talento e acuidade que demonstra em cada átimo de cena.

O mesmo caminho é feito por Rafael Queiroz, o vilão que vai do tóxico ao caráter permeado pela sensibilidade; um intérprete aguerrido em seu propósito, uma mudança em seu DNA pelo talento.

Ernani Moraes é o sustentáculo de todo esse êxito, o responsável por toda metamorfose que o texto oferece. Um esculpir de joalheria interpretativa. Se reinventa em cena numa elegância comparada as pedras das mais preciosas. Um ouríves que nos arrebata, o dono da cena, que conduz com maestria o texto, os parceiros, e ressignifica seu trabalho com um poderio capaz de afetar e impressionar extremamente os sentimentos; uma paixão cênica comovedora.

Por tudo isso, em meu olhar, o espetáculo “Orfãos” tem a pujança urgente e vem cravar no cenário artístico um lugar dos mais necessários.

 

Por francis Fachetti – ator, diretor de movimento, bailarino, coreógrafo, bailaor de flamenco e crítico teatral e de dança.

 

Instragrans: @f.fachetti

@dragoescaiomonologo

 

E-mail: f.fachetti@hotmail.com

 

 

Diretor Fernando Philbert e atores.

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