INÉDITA!
Ator e Diretor:
ISAAC BERNAT
No palco do Blog/Site, iluminando o projeto – Entrevistas NECESSÁRIAS – tenho o prazer de receber a experiência e as artimanhas opulentas do ofício cênico desse – operário das artes – que sabe externar o mais íntimo de seus personagens.
Diretor, ator, professor universitário da CAL, e Doutor em Teatro pela UNIRIO – Isaac Bernat – nos oferece um trabalho de excelência por onde se ratifica nas suas várias funções artísticas.
Dirigiu trabalhos em um lapidar de concepções, capitaneadas com conhecimento e marcantes na cena teatral: “O Encontro – Malcolm x Luter King Jr”; “Por amor ao mundo – um encontro com Hanna Arendt”; “Calango Deu – os causos de Dona Zaninha”; dentre muitos outros.
Como ator, marcou a cena com sua presença de extremo necessária em: “Pá de Cal”; “Agosto”; “Céus”; “Incêndios”; e recentemente no formato online em “Por Amor”, episódio de “Entre Homens”, dirigido por Cesar Augusto.
Esteve presente nas linguagens televisivas e cinematográficas com sua verve atoral.
A partir de sua tese de doutorado, desenredou o livro: “Encontros com o griot Sotigui Kouyaté” – sobre o griot africano e ator do grupo de Peter Brook, Sotigui Kouyaté.
Ganhador de vários prêmios e indicado a outros inúmeros, pela sua correção e contribuição ao ofício cênico.
Iremos agora nos deleitar com o enriquecer na cena disponibilizado nesse espaço/palco das artes com mais um – operário das artes.
Isaac Bernat – Ator e Diretor.
Isaac Bernat
A partir de sua tese de doutorado, desenredou o livro: “Encontros com o griot Sotigui Kouyaté” – sobre o griot africano e ator do grupo de Peter Brook, Sotigui Kouyaté – mais abaixo vamos aclarar o que é essa tese e suas influências no trabalho em geral de Isaac – como ele mesmo diz:
“Foi um divisor de águas na minha vida pessoal e na minha prática artística”.
Uma observação importante, essa Entrevista NECESSÁRIA foi realizada no meio da pandemia, não podendo ser terminada na época por força maior.
Deixo claro que muitas são as citações e referências feitas no meio pandêmico – e que essa NÃO é uma Retrospectiva como as outras que estou reprisando daquele momento -, e sim, uma:
Entrevista NECESSÁRIA: INÉDITA!
Entrando na Entrevista NECESSÁRIA com:
ISAAC BERNAT
Francis Fachetti – Fazendo a convergência e aliando as “Lições Dramáticas” – como usar gestos, voz e emoção – dos ensinamentos do ator João Caetano, aos clássicos como: “Hamlet”; “O Violinista”; Claudio Mendes foi dirigido por você nesse inesperado e frutífero acontecer cênico pandêmico. Como foi essa direção, com um ator tão iluminado? Qual seu olhar para esse resultado cênico e o que nos diz dessas impressões usando no palco nosso rico e enigmático material de cena.
Dê seu olhar sobre tudo isso e nos conte um pouco do “Pai do Teatro Brasileiro”: João Caetano.
Isaac Bernat – Na verdade o que eu e minha filha Julia Bernat – minha assistente de direção neste trabalho fizemos -, foi apoiar a idealização do querido Claudio Mendes que sabia muito bem o que queria com este projeto. O Claudinho é um grande ator, diretor e homem de teatro. Tive a honra de contracenar com ele em “Agosto”, onde ele fazia um trabalho magistral.
Claudio Mendes.
O Próprio João Caetano nas suas lições dramáticas cita Hamlet como exemplo numa das lições. Então, foi muito natural a ideia de ampliar a utilização de outros textos importantes da dramaturgia como exemplos de conceitos e ensinamentos que João Caetano apresentou no livro “Lições Dramáticas”.
Dessa forma, eu propus outros textos, e chegamos ao formato final.
A ideia de entremear as lições com música ao vivo, com chorinhos e modinhas foi do Claudinho e acredito que trouxe leveza e delicadeza para o trabalho. Dirigir Claudinho é um presente, pois ele é muito talentoso, e tem uma relação viva e muito orgânica com a palavra.
O Claudinho atua com uma naturalidade de dar uma inveja boa.
Claudio Mendes em cena como João Caetano.
Claudio Mendes em cena.
Júlia Bernat – assistente de direção.
Quanto a importância do ator João Caetano, ela é imensa. Além de ter sido um grande ator, tinha uma preocupação com a pedagogia teatral. João Caetano estava atento a necessidade de se fomentar o desenvolvimento da atuação no Brasil, bem como do teatro brasileiro como um todo.
Francis Fachetti – Assisti os trabalhos abaixo, e me impressiona seu trabalho como ator; sempre teatral no tamanho ideal, na presença e força cênica necessária, nos impactando com sua sensível construção das personagens.
Relate, expresse com algumas palavras sua experiência atoral, falando dos seguintes espetáculos: “Incêndios”; “Céus”; “Pá de Cal”; “Agosto” e “A Falecida”.
Isaac Bernat – Bom, são trabalhos bem diversos, mas que me deram muita alegria e aprendizado. Vou falar cronologicamente.
“A Falecida”, do Nelson Rodrigues, estreou no Teatro Nelson Rodrigues em 2008, com direção do genial João Fonseca. Tudo feito só com cadeiras, todo mundo fazia a peça descalço, menos eu que fazia o amante da Zulmira, o endinheirado Pimentel.
Foi um trabalho incrível com colegas fantásticos como Rafaela Amado, Guilherme Piva, Fabricio Belsoff, Ricardo Souzedo, Rodrigo Nogueira e as maravilhosas Camila Amado e Duse Naccarati.
Foi um luxo observar estas duas divas do nosso teatro atuando – um privilégio.
Quanto ao meu personagem, era um presente; o Pimentel é o clássico cafajeste rodriguiano, com aquelas expressões bombásticas e muito humor.
“A Falecida” – com Guilherme Piva.
Foto: Chico Lima.
“Incêndios”, de Wajdi Mouawad, com direção do mestre maior Aderbal Freire Filho – foi um marco na minha vida e também no teatro brasileiro.
Além da grande Marieta Severo, o elenco contava com artistas incríveis como Kelzy Ecard, Fabianna de Mello e Souza, Marcio Vito, Julio Batista, Felipe de Carolis, Keli Freitas e Flavio Tolenzani. Foi um processo lindo de 4 meses de ensaio e a temporada durou três anos – no Rio de Janeiro e em várias outras cidades do Brasil.
A peça era uma unanimidade, ganhou vários prêmios e indicações.
Eu recebi o prêmio Botequim Cultural de melhor ator. Mas, ser dirigido pelo Aderbal e contracenar com a Marieta foi o melhor prêmio que recebi. Aprendi muito com eles. O contato com Aderbal me formou no diretor que sou hoje. Como ator era incrível para mim, fazia sete personagens, era uma espécie de condutor da história. A plateia saía sempre emocionada e nós com a sensação de fazermos uma tragédia contemporânea e um dos textos mais significativos da atualidade.
A encenação do Aderbal era de uma potência avassaladora.
“Incêndios” – Em cena Isaac Bernat e Marieta Severo.
Ensaio: “Incêndios” – Isaac, Marieta Severo e Aderbal Freire Filho.
“Céus”, também de Wajdi Mouawad, e de novo com direção de Aderbal, foi também uma oportunidade incrível de voltar a trabalhar com o mestre Aderbal.
Faziam parte do elenco um time incrível: Felipe de Carolis, Charles Fricks (em SP Marco Antonio Pamio), Rodrigo Pandolfo (em SP também com Geraldo Pereira), Silvia Buarque (em SP Karen Coelho).
O meu personagem era o veterano Blaise Cendrier, um cara cheio de conflitos familiares e com incumbência de liderar um grupo de jovens que tentava prevenir um atentado terrorista internacional. Foi uma grande experiência.
“Céus”.
Espetáculo: “Céus”.
“Céus”.
“Agosto” – texto que ganhou o Pulitzer de teatro em 2008, foi outro momento incrível.
A direção do querido Andre Paes Leme era brilhante, outro mestre. Eu já tinha tido o privilégio de trabalhar com André numa peça francesa, “Deus Late”, de François Boyer, contracenando com a amada e saudosa Solange Badim.
Espetáculo: “Deus Late” – Isaac Bernat e Solange Badim.
Em “Agosto” eu fazia dois personagens, o velho Bev, patriarca, que aparece só no prólogo – falam dele durante a peça toda – e o Bill que está em crise no casamento. Adorava fazer a peça.
Um elenco só de gente amiga e talentosa: Guida Vianna, Leticia Isnard, Alexandre Dantas, Claudia Ventura, Claudio Mendes, Eliane Costa, Guilherme Siman, Julia Schaeffer, Lorena Comparato, Mariana Mac Niven. Isabela Dionisio e Paulo Giardini, eventualmente revezavam com a Lorena e comigo.
“Agosto” foi um grande sucesso, a longa cena do jantar é antológica, a meu ver – uma das cenas mais bem escritas do teatro contemporâneo, perfeita, uma aula.
Elenco: “Agosto”.
Com “Pá de Cal” realizei um sonho antigo – atuar numa peça do Jo Bilac, um
dos melhores dramaturgos brasileiros.
Outra coisa especial foi participar de uma montagem comemorando quinze anos de grupo Teatro Independente, um grupo que admiro muito.
A direção do Paulo Verlings foi precisa, ágil e muito inspiradora, aprendi muito vendo ele trabalhar.
Estreamos em março de 2020 no teatro 2 do CCBB. Fizemos só duas apresentações porque fomos, como todo o mundo, atropelados pela pandemia. Depois, voltamos com a peça em outubro de 2021 e em novembro do CCBB do RJ. Fomos para a Casa de Cultura Laura Alvim em agosto de 2022.
Um elenco muito especial: Carolina Pismel, Kênia Bárbara, Orlando Caldeira, Pedro Henrique e Ruth Mariano.
“Pá De Cal”.
“Pá De Cal”.
“Pá De Cal”.
Francis Fachetti – No contato com as telas (cinema e tv), o que mais te toca, te faz encoleirar-se, ficar rendido, nas peculiaridades distintas dessas duas linguagens, onde o ator de teatro tem que se apequenar nos exagero corpóreos, etc..
Cite um trabalho de cada uma, que foi mais prazeroso, seja no âmbito pessoal ou profissional.
Isaac Bernat – Acho que cada meio de expressão artística tem suas características próprias. O importante é estar aberto como ator para o momento presente. Estar conectado com as parceiras e parceiros de cena e com o olhar de quem está conduzindo o processo.
Claro que tenho uma carreira com muito mais desafios no teatro, onde fiz papeis complexos, protagonistas, dois monólogos:
“A Besta do Marido” (duas peças curtos de Tchekov, com direção de Claudio Torres Gonzaga e David Herman). Este espetáculo foi parte do meu mestrado na UNIRIO: “O exercício criativo do ator em monólogos de Tchekov”. Estreou no antigo Museu do Telefone em 1998.
“A Besta do Marido”.
“A Besta Do Marido”.
O segundo monólogo foi “O Língua Solta”, ótimo texto da Miriam Halfim, com direção muito criativa do Xando Graça.
A peça segue a trajetória do primeiro poeta brasileiro, o judeu Bento Teixeira, perseguido pela inquisição, autor do grande poema “Prosopopéia”. Uma história trágica e emocionante.
“O Lingua Solta”.
Na televisão sempre fiz muitas participações.
Em cinema fiz alguns filmes, mas o que mais me encantou foi sem dúvida “Romance de Geração” de David França Mendes, a partir do livro homônimo de Sergio Santana. Participamos de festivais no Brasil, na França e Israel, entre outros.
Contracenava com três atrizes incríveis que faziam o mesmo papel: Lorena da Silva, Susana Ribeiro e Nina Morena.
Eu fazia o personagem Sergio Santeiro (álter ego do próprio Sergio Santana), que era entrevistado por uma jornalista. Rodamos cada cena três vezes, cada vez com uma das atrizes. Assim, tive uma experiência rara – fazer a mesma cena e o mesmo filme com três atrizes diferentes no mesmo papel. Gosto muito deste filme.
Francis Facheti – Pode nos falar a respeito do conteúdo da Pós-Graduação: “Literatura e Pensamento Contemporâneo”.
Gostaria que contasse sobre o curta-metragem “Aquela Vizinha” de Corine Klomp; “Bar em Bar” de Rogerio Correa; “Diva” de Guilherme Siman, que você dirigiu na pandemia.
Isaac Bernat – Sobre a Pós-Graduação: “Literatura e Pensamento Contemporâneo”, fiz parte do corpo docente da Pós-Literatura, Arte e Pensamento Contemporâneo da PUC-RJ durante quase dez anos.
Ministrei a disciplina de Teatro e Cinema. O Curso como um todo visa qualificar o aluno para lidar com textos literários em perspectiva contemporânea, a partir de referenciais teórico-críticos que potencializem as interconexões entre a literatura e as artes (artes visuais, música, cinema e teatro), envolvendo os espaços eruditos, popular e midiático. Desenvolver atividades de produção de textos ficcionais, acadêmicos e ensaísticos.
É destinado a professores de literatura, jornalistas, profissionais do mercado editorial, e graduados em cursos de nível superior em áreas afins.
Quanto aos trabalhos de linguagem híbrida que você se refere, posso dizer que foram oportunidades para descobrir novas possibilidades no trabalho artístico como diretor. Aprendi muita coisa na prática e na troca com as profissionais e profissionais de criação que participaram dos processos e da execução.
O primeiro filme que fiz foi exatamente o curta “Aquela Vizinha” da dramaturga francesa Corinne Klomp. Na verdade, foi uma adaptação de uma crônica da Corinne publicada na revista literária São Paulo Review.
O curta conta a história de uma mulher vivida pela atriz Monique Houat que se interessa mais pela vida da sua vizinha do que pela sua própria vida. Ela é uma espécie de voyeuse ou voyeur.
O Interessante neste projeto é que ensaiei e dirigi a atriz e a pequena equipe pelo zoom. Acho que chegamos a um resultado bem bacana. Foi um projeto que abriu caminho para desenvolver os que vieram depois.
“De Bar em Bar” de Rogerio Correa é uma adaptação da sua peça homônima. Ensaiamos e fizemos ao vivo pelo zoom, com veiculação pelo YouTube.
Uma equipe de criação e produção maravilhosa e com um elenco incrível como: Ângela Rebello, Leticia Isnard, Leo Wainer e Thadeu Matos.
A partir da chamada “Era Collor”, tratamos da recente história do Brasil através das reações de quatro personagens surpreendidos pela morte do PC Farias. Foi um sucesso. Tivemos um retorno impressionante.
“De Bar em Bar”.
“Diva” de Guilherme Siman – teve uma característica diferente na execução. Ensaiamos também pelo zoom, mas gravamos tudo num único dia, em plano sequência.
Foi uma experiência muito diferente e um grande desafio com um elenco incrível: Izak Dahora, Gabriel Vaz e Monique Houat.
Outros trabalhos feitos neste formato também foram muito significativos para mim – como fazer ao vivo direto da casa das Romãs, “Calango Deu, com a genial Suzana Nascimento, “Boy” de Rogerio Correa, com o talentoso Gil Hernandes, “Cora do Rio Vermelho” de Leo Simões, gravado no histórico Teatro Municipal de Niterói, com a brilhante Raquel Penner.
Teve ainda “Pão e Circo”, de Pedro Monteiro e Leonardo Bruno, que dirigi junto com o cineasta Cavi Borges – grande artista – com Gabriela Estevão, Henrique Eduardo, Pedro Monteiro e Osvaldo Mil.
Todas estas experiências foram muito marcantes para mim, e o mais importante, foram processos tranquilos e com resultados, ao meu ver, excelentes. Quer dizer, deu para perceber que é possível fazer bons trabalhos neste formato hibrido entre teatro e áudio visual.
Espetáculo “Boy”.
É importante ressaltar que estes trabalhos todos só foram possíveis graças às equipes de criação e produção. Destaco minhas parcerias, com os criadores Doris Rollemberg, Aurélio de Simoni, Charles Kahn, Ney Madeira, Dani Vidal e Ana Luzia de Simoni entre outros.
Francis Fachetti – Dentre as suas direções citadas abaixo – como não me tocar e me levar para um lugar de fala contundente – assistindo os seguintes espetáculos:
“O Encontro – Malcolm x Luter king; “Por amor ao mundo, um encontro com Hanna Arendt”; “Eu Amarelo – Maria Carolina de Jesus”; “Calango Deu – os causos de Dona Zaninha”. Assisti todos presencialmente e fiz resenha.
Por favor, comente, relatando o teor cênico que cada um alcançou dentro da sua concepção na direção.
Isaac Bernat – O que posso dizer é que tenho muita sorte. Estar envolvido em projetos tão preciosos e com artistas tão geniais é um presente e sempre um caminho para aprender mais sobre a vida e a arte.
“O Encontro – Malcolm X Martin Luther King JR”, é uma daquelas peças que ampliam olhar do público para a grandiosidade e profundidade de dois dos maiores ativistas do movimento negro de todos os tempos. Não basta se dizer não racista é preciso agir no mundo também com uma prática antirracista.
A peça do dramaturgo americano Jeff Stetson, traduzida por Rogerio Correa, com Izak Dahora, Rodrigo França. Drayson Menezzes, Caio Nunez, João Loroza e Luiza Loroza. Um projeto idealizado por mim e pela produtora e dramaturga Aline Mohamad. Esta peça teve uma bela carreira e por onde passou emocionou e trouxe muita reflexão.
Tenho orgulho desta peça, aprendi muito com ela.
“O Encontro – Malcolm X Martin Luther King JR”.
“Por amor ao mundo – um encontro com Hanna Arendt”, da Marcia Zanelatto, Com Kelzy Ecard, Michel Robim e Carolina Ferman, estreou no teatro 1 do CCBB do Rio de Janeiro em 17 de setembro de 2015.
Como disse a Marcia na época: “A banalidade do mal está nos nossos calcanhares”.
Os últimos acontecimentos no nosso país ao meu ver justificariam um retorno desta peça.
Mais uma vez posso dizer que todos aprendemos muito com o grande debate político e humanista que suscitam as ideias da grande cientista social que foi Hanna Arendt.
Tivemos um encontro com o antropólogo Luiz Eduardo Soares durante a preparação para fazermos a peça, e em certo momento ele disse que para ele – a Hanna Arendt fazia uma dança de ideias.
Esta imagem ficou na minha cabeça e foi por isto que chamamos o bailarino e coreógrafo Michel Robim para fazer parte da peça – inclusive a peça iniciava com uma dança belíssima do Michel que fazia outros personagens como Heidegger por exemplo. Além disso, tínhamos ainda Kelzy como Hanna, brilhante, e Carolina, com toda a sua versatilidade e humor se desdobrando em vários personagens – duas atrizes fantásticas que são um presente para qualquer diretor.
O teatro, entre tantas outras funções, pode estimular o debate e o senso crítico nas pessoas.
“Hannah Arendt”.
“Eu Amarelo – Carolina Maria de Jesus” é um daqueles presentes que a vida te dá.
Fui convidado há muitos anos atrás pelo idealizador, produtor e dramaturgo Elisandro de Aquino para dirigir a peça. Na época, como muita gente, não conhecia obra de Carolina foi um choque de realidade.
Depois de ler a obra prima “Quarto de Despejo” fiquei tão impactado que pensava em Carolina todos os dias.
Quando começamos a ensaiar, outro impacto, assim que a primeira leitura com a atriz Cyda Moreno terminou – não havia dúvida que estávamos diante da nossa Carolina.
Cyda que é uma atriz incrível, nos traz uma Carolina visceral, emblemática, profunda, trágica, mas, ao mesmo tempo com muito humor.
Esta peça tinha que ser apresentada em todas as escolas do Brasil. Apresenta um panorama da miséria, da fome, do racismo de uma maneira contundente. Por outro lado, mostra como a poesia e a literatura podem ser um ato de sobrevivência e resistência.
Quem se interessar tem um artigo meu e outro do Elissandro no livro: Imagens a contratempo: Relações entre antropologia e arte contemporânea – Organizadores: Philippe Michelon, Octave Debary, Luiz Cláudio da Costa. Florianópolis, SC: Cultura e Barbárie, 2022. Download gratuito em https://www.culturaebarbarie.com.br/para-baixar-gratis .
Cyda Moreno em “Eu Amarelo – Carolina Maria de Jesus”.
Prêmio Shell 2023 – Teatro Riachuelo.
Na foto Isaac Bernat (diretor), Elissandro Aquino (idealizador, dramaturgo e produtor) e Cyda Moreno (atriz do solo “Eu Amarelo – Carolina Maria de Jesus).
“Calango deu, os causos de Dona Zaninha” é todo baseado no virtuosismo de Suzana Nascimento que também é a autora.
Uma atuação fabulosa. Uma aula de contação de história.
A peça traz a cultura mineira na veia – através de causos, ditados, anedotas e sabenças.
Suzana traz à cena todo um mosaico de causos que se misturam também a história familiar de Suzana em Juiz de Fora.
Fazemos a peça há 10 anos, e ela mantem seu frescor e vitalidade. Há muito tempo atrás ouvi a genial Irene Ravache dizer que o teatro era a lojinha dela. Falo sempre para Suzana que o Calango é a sua lojinha. Estará sempre lá, é só abrir o pano. E cada vez a peça fica melhor.
A relação com o público é o grande segredo da peça. As pessoas se sentem em casa numa prosa deliciosa.
Quero aproveitar para falar de outra peça que já fazemos há 10 anos também: “Deixa Clarear” da Márcia Zanelatto, com a brilhante Clara Santhana.
“Deixa Clarear” é uma peça musical com direção musical de Alfredo Del Penho idealizada pela Clara, onde poeticamente trazemos para o público aspectos da vida e da obra da inesquecível Clara Nunes.
Dirigir uma peça musical é um desafio, ainda mais se tratando de uma das nossas cantoras mais populares.
Clara Santhana traz a alma da Clara Nunes para os nossos palcos com uma atuação irresistível. Assim como “Calango Deu” a peça continua viva e devemos voltar ainda no primeiro semestre de 2023.
Em cena Clara Santhana em: “Deixa Clarear – Musical”.
Dirigi também “Tenho Quebrado Copos” da poesia de Ana Martins Marques, com Paula Furtado uma jovem atriz fenomenal que foi minha aluna e assistente.
Estreou em 2022 e com certeza continuará irradiando as palavras reveladoras da maior poeta brasileira contemporânea.
Francis Fachetti – Disserte, torne conhecido para todos, o contexto do seu livro – tese de doutorado – “Encontros com griot Sotigui Kouyaté”, onde através do olhar do griot e o ofício do ator, você ministra uma oficina de interpretação para atores, e que deu muitas referências abissais ao homem e profissional: Isaac Bernat.
Comente também essa sua experiência reflexiva, sim, eu assisti em casa, com embates atuais e de extremo necessário no audiovisual:
“Entre Homens”, direção de Cesar Augusto – “Projeto Encena Violência da Homofobia” – no episódio “Por Amor”.
Isaac Bernat – Por falar em encontros, conhecer meu Pai e Mestre Sotigui Kouyaté – foi um divisor de águas na minha vida pessoal e na minha prática artística.
Todas as funções que desempenho: ator, diretor e professor – são influenciadas pela relação que tive com este griot tão especial.
O primeiro contato que tive com Sotigui aconteceu no final da apresentação da peça “Le Costume” do sul africano Can Themba, dirigida por Peter Brook, no Festival Porto Alegre em Cena em 2000. A partir daquela noite, na qual vi Sotigui em cena pela primeira vez, um elo nos uniu para sempre.
Depois em 2002, quando Sotigui veio ao Rio de Janeiro com Hamlet, também dirigida pelo Brook, tive o privilégio de participar de uma oficina na Fundição Progresso onde pude conhecer a filosofia, os exercícios e aspectos relevantes da tradição do griot. Foi uma porta que se abriu para mim.
Dois ditados africanos ditos por Sotigui, que me conduzem até hoje foram definitivos:
“Quando você não souber para onde ir, lembre-se da onde você veio e nunca estará perdido” e “Ninguém pode te dar aquilo que não está em você”.
Após esta oficina, organizamos uma maior com Sotigui de 10 dias na UNIRIO em 2003. Foi um mergulho nos contos e na tradição do griot. No fim da oficina Sotigui convidou a mim, Ana Achcar, Juliana Jardim, Teresa Seiblitz, João Miguel, e Marcelo Preto para conhecermos o Mali e Burkina Faso. Ficamos 1 mês em contato com as famílias, com griots e griotes, pelas aldeias sempre conduzidos por Sotigui. Foi uma verdadeira viagem iniciática à África, a mais importante da minha vida.
Voltei para o Brasil com a ideia de fazer meu doutorado sobre o Encontro que tive com Sotigui e a tradição do griot. Entrei para o doutorado em 2004 na Unirio e em 2008 defendi a Tese:
“O Olhar do griot sobre o ofício do ator – reflexões a partir dos encontros com Sotigui Kouyaté”.
Em 2013 publiquei o livro “Encontros com o griot Sotigui Kouyaté” pela Editora Pallas.
Bom, toda a minha prática como ator, diretor e professor é profundamente influenciada pela minha vivencia com a filosofia, os exercícios e a tradição do griot, é claro que também uso outros ensinamentos e práticas de outras fontes que acumulei ao longo de mais de 40 anos como artista.
Quem quiser saber mais sobre o griot, o livro está aí, além disso, eventualmente dou oficinas que tratam deste tema.
Isaac Bernat e Sotigui.
Leticia Isnard e Margareth Menezes, com o livro de Isaac Bernat:
“Encontros com o Griot Sotigui Kouyaté”.
Quanto ao “Por amor” de Rogerio Correa, com direção do Cesar Augusto, foi uma experiência completamente original como ator.
Um monólogo muito profundo onde eu fazia vários personagens ao mesmo tempo, todos conduzidos pelo escritor da história, que é baseada em fatos reais.
A peça mostra a luta de um escritor para escrever uma peça sobre o horror de famílias na Chechênia sendo aconselhadas pela polícia a matar seus filhos gays para evitar que eles passem por sofrimentos inimagináveis em campos de concentração para homossexuais. Para isso, o escritor é forçado a se dividir em dois e se colocar na mente tanto do pai – que luta para matar seu filho gay – quanto do policial, velho amigo de infância do filho, que aconselha o pai a matá-lo.
O grande diferencial desta obra é que eu fazia ao vivo pelo youtube sozinho na minha casa. Não ver o público, mas, saber que muita gente estava respirando junto comigo naquele momento era muito transformador. Além disso, o texto é muito potente e emocionante.
Foi também muito especial ser dirigido pelo Cesar Augusto que é um grande homem de teatro.
Neste momento estou envolvido, com alguns projetos.
Em março estrearei “Rosa e a Floresta” com o grupo Pedras – com minha direção, a peça é uma continuação de outra peça que dirigi com grupo “Rosa e a semente”.
Fizemos várias praças do Rio e uma linda turnê por Portugal. Fomos indicados para vários prêmios e ganhamos os prêmios Zilka Salaberry de melhor atriz (Helena Stewart) e melhor texto (Camila de Aquino, Diogo Magalhães, Helena Stewart, Isaac Bernat, Lucas Oradovschi e Marina Bezze). A peça deu origem ao livro infantil “Rosa e a semente” que acaba de ser lançado.
Em Março, também estreia com minha direção o monólogo “Boy” de Rogerio Correa com Gil Hernadez que está incrível. Tivemos uma excelente repercussão em São Paulo, uma peça política sobre os anos Collor e a aids nos ano 80. Uma peça potente e divertida.
Outra peça que dirigi “Cora do Rio vermelho” de Leo Simões, que estreou primeiro on-line, com atuação brilhante de Raquel Penner, reabriu o Teatro Poeirinha, com uma ótima temporada, depois fez o circuito Sesc, no estado do Rio de Janeiro. A partir de março fará o circuito Petrobras BR, por Minas Gerais: Belo Horizonte, Tiradentes, Uberlândia e Juiz de Fora.
Nestas cidades ministrarei ao mesmo tempo oficinas sobre o Olhar do griot e o ofício do ator. Faremos apresentações, no Rio no CCJF e em Niterói na UFF.
Outra peça que dirigi “Renoir – a beleza permanece” de Rogerio Correa, fez uma curta temporada no teatro do MASP em outubro de 2022, e deve voltar este ano no Rio.
Como ator estou na nova temporada de “Impuros”, no Star Plus e “Todo dia a mesma noite” na Netflix.
Isaac Bernat em “Todo Dia a Mesma noite – Netflix.
Ainda como ator, estou muito envolvido com meu terceiro monologo, “As línguas que o coração fala”, do dramaturgo português Ricardo Cabaça, com direção de André Paes Leme – ainda sem previsão de estreia.
– LINK PARA ACESSAR O CURRÍCULO LATTES: http://lattes.cnpq.br/1384555785345793
Simplesmente:
ISAAC BERNAT.