Retrospectiva:
ÂNGELA VIÉGAS
Antes de entrarmos na retrospectiva feita dois anos atrás – no começo desse projeto: “Entrevistas NECESSÁRIAS” – uma breve atualização do atual momento de trabalho dessa Operária das Artes – segundo Ângela:
“Após o período de pandemia estou retornando com a proposta inicial do meu espaço e ampliando as atividades. Agora somos:
“BALLET, FLAMENCO & CIA” | CENTRO DE MOVIMENTO E CRIAÇÃO”.
Além do espaço continuar sendo a Sede do premiado grupo “BFC” e seguir especializado em Ballet Clássico e Flamenco, passamos a ter uma faixa de horário com novas modalidades fixas – cada dia da semana aulas de outras modalidades como Dança do Ventre, Hip Hop Dance e Jazz.
Desde 2009, quando iniciamos a Sede do “BFC” promovemos cursos e workshops.
A partir de 2022, quando ampliamos nossa proposta, focamos também em trazer mais Cursos e Workshops, bem como outras atividades relacionadas a Dança e Cultura exaltando nosso compromisso e respeito com o Movimento e a Arte.
Retornando minhas atividades como bailarina e seguindo como Coach para Festivais e Audições com Ballet Clássico e Flamenco.
Em breve os grupos e solistas do “Ballet, Flamenco & Cia” estarão retornando aos palcos”!
Ângela Viégas è um nome expressivo na corporiedade, no desafio de converger várias modalidades na dança, levando-as para a vivência, não só profissional, mas, como aprendizado pessoal.
A artista da vez no palco do Blog/Site com o projeto – Entrevitas NECESSÁRIAS – é bailarina e bailaora. Como assim?
No “nosso” linguajar corpóreo, bailarina é advinda do ballet clássico e bailaora da arte flamenca – dança flamenca.
Especializou-se como bailarina e coreógrafa no clássico, contemporâneo, jazz/musical e no flamenco – é a convergência que resulta numa seivosa, talentosa e iluminada exposição cênica, onde o corpo fala com propriedade.
Premiada em festivais no Brasil e exterior.
Como bailaora flamenca enbrenhou-se e assimilou técnica apurada e dominante com Victória Nuñes – “Ballet Flamenco Victória Nuñes”.
Atualiza-se constantemente com os grande maestros espanhóis.
Criou o “Ballet, Flamenco e Cia” com mote no ballet clássico e no flamenco, trabalhando do tradicional ao mais atual.
Destaque para duas obras que coreografou e concebeu obtendo grande projeção com a técnica flamenca: “Suíte Carmen” e “Mi Alma”.
A partir da sua vivência com a Yoga, começou a fazer afluências de suas várias modalidades – passando a transmutar e ratificar sua forma de dançar, coreografar e transmitir os ensinamentos da dança.
Tudo isso, e muito mais saberemos com ela presente aqui.
Bailarina, Coreógrafa e Bailaora Flamenca do estúdio Ballet Flamenco e Cia.
Ângela Viégas.
Ângela Viégas – Backstage antes da apresentação do “Grande Pas de Deux de La Bayadère”.
Entrando na Retrospectiva – Entrevista NECESSÁRIA com:
Ângela Viégas
Francis Fachetti – A partir da sua convivência com a Yoga, começou a fazer a convergências em suas várias modalidades – passando a transmutar e ratificar sua forma de dançar, coreografar e transmitir o ensino da dança.
Aclare para todos esses caminhos, e como se desenlaça, assimila o “Ashtanga Yoga”, em suas variadas formas, como uma metamorfose de vida – disseminando para alunos e afins.
Ângela Viégas – Após muitos anos na dança, em 2016 conheci o Ashtanga Yoga. Pratiquei por um tempo concomitantemente Vinyasa e Iyenga Yoga.
A partir de 2017 passei a dedicar-me a prática do Ashtanga, tendo Dany Sá como minha mestra para me guiar neste caminho.
Em 2019 fiz Workshop com Kino Macgregor (EUA) que foi uma experiência incrível com ensinamentos que saiam do tapete de Yoga para a vida.
Na filosofia do Ashtanga Yoga, a disciplina é tão necessária quanto a dança, mas, o processo é o mais importante e não o fim.
Ser generoso com você, cada dia um dia, e entender o seu momento. Lembrar que você é um ser humano e não uma máquina. Tem dias que não vai estar tão bem e está tudo bem! As emoções e desafios que acontecem lá são as mesmas emoções e conflitos da vida e com isso você aprende a levar também essa generosidade consigo mesmo para o dia a dia. Isso tudo reflete também no seu convívio com o outro. Sem falar na importante conexão consciente que se faz com a respiração.
Na dança buscamos uma perfeição inatingível, o imediato, a forma perfeita. Isso gera uma pressão, uma cobrança muito grande, principalmente para quem é perfeccionista como esta que vos escreve.
Começa-se a desconstruir a ideia do ser perfeito o tempo todo e com isso o desempenho dá um salto, já que essa camada de estresse diminui.
Com a consciência da respiração, a mente mais oxigenada, a musculatura “distensiona” e vai respondendo melhor – já que o emocional reflete em nosso corpo, e para o bailarino é essencial, já que esse é seu instrumento de trabalho e precisa ser cuidado.
Começando a entender seu processo, você começa a trazer dança do seu eu mais profundo, não focando só na plasticidade. Trazendo aquele movimento de dentro, a partir do que você está sentindo, transmutando para o corpo. Lembrando que o bailarino é um ator que se expressa pelo movimento, sinto que a dança passa a ser mais verdadeira.
Todo o trabalho que eu levo para os meus bailarinos e para os meus alunos é a minha vivência. Então, quando você passa por esse processo você incentiva que o outro também busque isso.
Minha forma de trabalhar vem daí, seja dançando, lidando com o eu e o corpo do outro em aulas e coreograficamente, tentando associar a respiração junto ao movimento, que é a forma que se pratica o Ashtanga Yoga.
“Ashtanga Yoga”.
F.Fachetti – Nos conte essas circunstâncias que a embrenhou, adquirindo técnicas e conveniências como bailarina clássica – integrando a “Cia. Brasileira de Ballet” e a “Cia. Ópera Brasil”, com temporadas no Brasil e na Itália.
Fale um pouco desse aprendizado no clássico, chegando a solista em alguns ballets de repertório.
Dentro do clássico, do contemporâneo, jazz, musicais; o que te deixa mais irascível – encoleirada com mais paixão em cima dos palcos, diante e abaixo dos holofotes, nesses contornos de dança citados; cada um com suas particularidades, mas que se entrelaçam e se contribuem.
Ângela Viéga – Eu comecei a dança com o Ballet Clássico. Depois iniciei os estudos de Jazz, Flamenco e Dança Moderna.
Fiz Curso Profissionalizante me formando como “Bailarina para Corpo de Baile”, onde também estudei outras danças como o sapateado e disciplinas teóricas. Decidi especializar-me em Ballet Clássico e Flamenco.
Hoje em dia o bailarino precisa dançar o que o coreógrafo pede. Existem companhias focadas em determinado estilo de dança, mas, sempre há um repertório mais contemporâneo. A dança vai se interligando e as linguagens vão se mesclando. Portando moldar o seu corpo para entender outras linguagens é muito importante.
Fui convidada para os grupos amadores das escolas em que frequentei, participando de vários festivais de dança e de alguns trabalhos.
Como Solista tive várias premiações, tendo como mestras e ensaiadoras as argentinas Maria Angelica Fioranni (Ballet Clássico de Repertório) e Diana Tomasetig (Dança Moderna).
O palco é a faculdade do bailarino. Então, quando eu entrei para companhias de dança eu já possuía uma vasta experiência de palco e preparação física para seguir o ritmo de ensaios, apresentações (6 espetáculos por semana) e viagens.
Enquanto fazia algumas importantes apresentações e ao mesmo tempo integrando a Cia “Ballet Flamenco Victoria Nuñez” fiz audição para a “Cia Ópera Brasil” que havia a proposta de estilizar o Folclore Nacional, incluindo muitas vezes a técnica do Ballet Clássico.
Foi uma grande produção com temporadas no RJ, SP, Brasília e Itália.
Ângela Viéga na “Cia Ópera Brasil” de Fernando Bicudo.
Após, ingressei na “Cia Brasileira de Ballet” que possuía o foco no Ballet Clássico, tanto de Repertório quanto NeoClássico e com toques de Contemporâneo – participando de apresentações pelo RJ e MG, remontagens de Ballets de Repertório de Jorge Texeira e coreografias assinadas por Henrique Talmah.
Ângela Viégas na “Cia Brasileira de Ballet”.
Na foto com Ana Botafogo e Marcelo Misailidis no Ballet “O Quebra Nozes”.
Tive a possibilidade de atuar em Ballets de Repertórios como “Giselle”, “Suite en Blanc e “La Fille Mal Gardée” e de ricas coreografias de Neoclássico e estudo Contemporâneo.
Dancei em grandes teatros e com as duas Cias também no Theatro Municipal do RJ.
Foram anos de grande aprendizado e crescimento. Cada perfil de Cia pede que você explore um lado de sua dança que você vai desenvolvendo durante o processo e com isso o corpo, nossa linguagem, amplia sua forma de comunicação.
Quanto ao Ballet Clássico de Repertório, tive a felicidade desde o meu curso de formação, e também após esse período, estudar, ser ensaiada nos solos e também ser assistente de Maria Angélica Fiorani.
Cada Ensaiador e Coreógrafo que você trabalha passa a sua experiência e isso é muito enriquecedor. Há uma troca muito interessante ao conhecer bailarinos e dançar com novos partners.
Em toda a minha trajetória interpretei vários papéis em Ballets de Repertório, inclusive como solista principal, como “La Bayadère“, “Paquita”, “O Corsário”, “Coppélia”, entre outros.
Ângela Viégas em “Escrava do Ballet – O Corsário”.
Destaco aqui “O Quebra-Nozes”, montagem de Renata Versiani, no qual fiz o papel da “Fada Açucarada” no Grand Pas de Deux com o bailarino solista do TMRJ: Cícero Gomes.
Ângela Viégas e Cícero Gomes no Grand Pas de Deux de “O Quebra Nozes”.
O aperfeiçoamento é constante. Cada mestre que passei me deixou um grande aprendizado. Sigo me aperfeiçoando, além da Dança Clássica e do Flamenco em outras danças.
Na verdade, eu sempre estudei e dancei diversas modalidades, então eu as vejo como formas de expressão, cada uma sendo um idioma diferente. Acho que isso me faz ser uma bailarina versátil.
Gosto da dança em si como forma de me expressar. Gosto de estar no palco, de sentir o calor dos refletores que acalentam, da troca de energia com o público e dos aplausos que nos revigora e renova a cada apresentação nos fazendo esquecer de qualquer cansaço ou dor.
Junto os “idiomas” que aprendi e meu corpo transmuta expressando minha própria linguagem de dança. Não sou uma, mas, muitas.
Ângela Viégas e Cícero Gomes no Grand Pas de Deux de “O Quebra Nozes”.
Francis Fachetti – Entrando na arte flamenca; fale, conte, revele tudo sobre o “Ballet Victória Nuñes” – que leva o nome da nossa Mestra e necessária – que você enalteceu com seu talento, e que eu pude estar presente nesse clã flamenco, aprendendo e me doando ao lado de mulheres tão vocacionadas – inclusive dançamos o inesquecível “Bolero de Ravel”, que Victória Nuñes coreografou em linguagem flamenca, e nos imiscuíu para nos deleitarmos e marcar nossa trajetória – tive a oportunidade de aprender muito com Victória Nuñes e Ângela Viégas.
Sua contribuição no “Ballet Flamenco Victória Nuñes é incontestável.
Ângela Viégas – Tive meus estudos de Flamenco com a Victória Nuñes desde na minha fase infanto/juvenil.
Participei dos seus grupos em que coreografava, o Artemanha, até o grupo adulto. Passando por praticamente todas as coreografias.
Com ele, participei de grandes festivais – inclusive o Festival de Dança de Joinville – sendo premiado em vários anos. Também participei com o Artemanha em temporadas em Teatro. Todas as coreografias de sua autoria.
Durante um período Victória foi para Espanha e quando retornou, coincidiu com o meu último Festival de Joinivlle com o grupo. Ela havia aberto seu Studio naquele período. A partir daí a segui.
Como meus horários eram apertados, pois, também estava fazendo o curso profissionalizante de Ballet Clássico e dançando por lá, a solução foi fazer aulas particulares. Foram momentos de grande aprendizado, até porque ela havia acabado de retornar da Espanha.
Já no final deste mesmo ano também ia para os ensaios e foi então que fiz o meu primeiro Tablado Flamenco ao lado de Victoria Nuñez, o balarino Fernando Melo e com os músicos Daniel de Souza (flauta) e o guitarrista espanhol Miguel Angel Corral. Foi a partir daí que passei a integrar a Cia “Ballet Flamenco Victória Nuñez“, de 1996 até 2003 – ano que ingressei na “Cia Ópera Brasil”.
Ângela Viégas, Victória Nuñes e Fernando Melo.
“Ballet Flamenco Victória Nuñes”.
Foi neste período, com a Cia, que tive a oportunidade de trabalhar com grandes músicos brasileiros e estrangeiros como o espanhol Augustin Carbonel – “El Bola”; Allan Harbas; Fábio Nin; Luciano Camara (guitarristas); Renata Chauviére (cantaora); Alejandro Gonzales (cajón); entre tantos outros.
Dançávamos quinzenalmente na extinta Casa de Cultura da Estácio de Sá, no projeto que criou, o “Dança Aberta”, no qual também tive a possibilidade de coreografar e encenar um solo no seu espetáculo “Anima” com a música de Milton Nascimento.
Ângela Viégas e Victória Nuñes no Projeto Dança Aberta – Casa de Cultura Estácio de Sá – “Ballet Flamenco Victória Nuñes”.
Foram tempos de muito aprendizado não só na parte didática, mas, também coreográfica.
Não tenho como precisar quantas apresentações e coreografias estive junto, mas, foram inúmeras!
Grandes coreografias! Dentre elas a sua montagem de “Bolero de Ravel”. Estive nas duas versões, com música clássica e na outra versão aflamencada.
“Bolero de Ravel”.
Ângela Viégas e Victória Nuñes em “Bolero de Ravel”.
Após a minha saída, e de uma pausa por precisar dedicar-me a “Cia Ópera Brasil”, segui fazendo trabalhos como bailaora. E mais à frente criei meu grupo, seguindo os passos da mestra, desbravando outros caminhos, mas, sempre tendo muito dela em mim.
F.Fachetti – Disserte sobre: “Suíte Carmen” e “Mi Alma”, onde dirigiu e coreografou, utilizando trilha sonora flamenca, contemporânea e clássica, e mesclando uma corporiedade dessas várias linguagens.
Ângela Viégas – Todo aprendizado que tenho como bailarina ajuda muito também como ensaiadora de ballet de repertório e como coreógrafa.
Procuro trabalhar com meus bailarinos com essa mesma seriedade, a disciplina das aulas e do ensaio e para ter um resultado no palco. Gosto de fazer laboratório com meus bailarinos. Eles fazem aulas de Ballet Clássico e de Flamenco, mas, sempre gosto de dar experiências com outras propostas.
“Suite Carmen” (2012):
Independente de qual versão, Ballet Clássico, Flamenco, contemporâneo ou Ópera, eu adoro a personagem “Carmen” assim como também adoro “Bizet”.
Baseado nisso eu decidi pegar versões da música clássica somente instrumental, partes cantadas da ópera e ainda dar umas pitadas de música flamenca.
“Suite Carmen” de Ângela VIégas – “Ballet, Flamenco & Cia”.
Fiz essa peça com as bailarinas do grupo de Flamenco do “Ballet, Flamenco & Cia” e convidei alguns alunos também, inclusive de Ballet Clássico. Foi feita para flamencos, mas, com uma técnica um pouco mais ampla. É predominantemente de movimentos flamencos, há momentos mais clássico, encenações com cenas mais tensas e outras engraçadas, como uma brincadeira com a tourada.
“Suite Carmen” – “Ballet, Flamenco & Cia”, quando foi homenageada do “Festival Movimento Art Carioca”.
“Suite Carmen” de Ângela Viégas – Ballet, Flamenco & Cia.
Sou uma grande admiradora do “Ballet Nacional de España“, então creio que devido a minha história na dança, sem querer, acabou remetendo aos trabalhos desta Cia a minha inspiração.
No ano seguinte a sua estreia fiz uma versão com fragmentos para a abertura do “Festival de Dança Movimento Art Carioca” no qual fui a homenageada deste ano.
Foi realmente um grande sucesso, já que o público daquele dia apreciava várias modalidades não sendo tão focadas no flamenco.
Chegamos a fazer mais apresentações, dessa vez novamente na versão completa.
“Suite Carmen” de Ângela Viégas.
“Mi Alma” (2014):
Foi um trabalho que eu fiz dois anos após “Suite Carmen”.
Trabalhei com os bailarinos do núcleo de Flamenco e de Ballet Clássico do “Ballet, Flamenco & Cia”.
Para esta peça foi necessário um laboratório intenso, já que utilizávamos também outras formas de se expressar, passando por vários estilos de dança, sem a preocupação de uma classificação.
Para este, utilizei todas as linguagens que já passaram pelo meu corpo, ou por todos meus sentidos, da visão a audição, e coloquei nesse trabalho.
Disserto sobre minh’alma e para algo tão complexo a trilha sonora precisava expor o que precisava ser dito em cada parte. E para tal utilizei músicas clássicas, flamencas, eletrônica… Somos muito complexos para que nos limitemos.
“Mi Alma” de Ângela Viégas. Na foto com Fernanda do Valle.
“Mi alma”.
O conflito que existe no ser humano. A tendência a seguir modelos pré-designados ou ser genuíno? Ser diferente.
Pensar, tirar suas conclusões e seguir em que acredita. Seremos seguidos ou tolhidos? Aguentaremos o preço pela nossa escolha?
Así es ‘MI ALMA.” – Ângela Viégas.
“Mi Alma” – “Ballet, Flamenco & Cia.
Fragmentos dessa peça foram apresentados em festivais de dança e premiado. Mais uma vez tendo uma recepção muito positiva do público em geral e do meio da dança. Sendo um dos principais comentários era “como era diferente”. E com isso, consegui atingir meu objetivo ao me expressar.
Francis Fachetti – Dentre os Maestros Flamencos espanhóis – os donos da história e da técnica – temos a oportunidade em suas aulas, trazidas ao Brasil, de “cavalgar” em suas almas selvagens controladíssimas por uma técnica que só eles possuem, dando-lhes rédea solta.
Quais seriam as preciosidades que eles transmitem que você mais assimilou, adquiriu, e de que maneira repassa para alunos e aficionados pelo flamenco?
Sabe me dizer como dominar quase completamente os compassos dos palos flamencos? Sai dessa agora! Rsrsrs…
Ângela Viégas – Eu realmente tive a oportunidade de fazer bastante curso e conhecer grandes bailaores que me trouxeram além de técnica, grandes descobertas no meu corpo flamenco.
Acho que no início, e por um bom tempo, temos a necessidade de copiar a forma do outro de dançar. E concordo, afinal, precisamos de um perfil para podermos entender e experienciar a proposta.
Muitas vezes tentamos nos encaixar em determinados padrões, inclusive físicos, que facilitará para algumas pessoas chegar naquele formato, mas para outros, fisicamente é inviável, se quiser reproduzir fielmente.
Posso destacar três pontos marcantes:
O primeiro seria com a “La Mora” quem me fez despertar, extrair a ideia do movimento e não a cópia dele, até porque temos o biotipo bem diferente, então você pode me imaginar tentando me “encolher”, mas me sentindo uma garça desajeitada com braços e troncos imensos. Não que eu seja altíssima, mas estava tentando imitar algo que não sou. Quando ela me fez entender o movimento, ou me salvar daquela situação tenebrosa em que me encontrava, aí sim, nos assemelhamos, cada uma no seu formato.
O segundo seria com a Imaculada Ortega. Diferentemente da maestra “La Mora”, temos o biotipo semelhante. O que me proporcionou um certo conforto ao bailar, podendo assim extrair algo que é mais natural para mim.
Tenho uma identificação e admiração muito grande pelo baile de Imaculada. Grande felicidade quando participei de seu espetáculo junto ao Domingo Ortega.
Ângela Viégas no espetáculo: “Um Poquito por Ortega” de Imaculada Ortega e Domingo Ortega.
O terceiro e contradizendo absolutamente tudo que falei acima, vem o Manuel Liñan – e lá estava eu novamente defrontada com novas formas de se expressar.
De uma forma oposta ao meu “conforto” corporal, seu trabalho me fez muitas vezes tirar a alma para fora em termos de explosão. A tendência seria novamente entrar no modo “cópia” mas desta vez consegui entender a sua proposta e dessa forma descobri esse meu outro lado de conforto também no extremo oposto. Não preciso dizer o quanto curto o trabalho dele, certo?
Levo esta mesma ideia para os meus alunos. Primeiramente é necessário trilhar o caminho de ter um perfil a seguir, depois começo a trazer o entendimento do movimento, inclusive pelos opostos, como por exemplo a suavidade e a explosão como escrevi acima – iguais em intenção de movimento, porém, com a sua individualidade.
Quanto aos compassos de Flamenco? Responderei o que nosso grande guitarrista brasileiro Allan Harbas falou para mim:
“Escute muito Flamenco. Escute sem se preocupar em saber qual ritmo e compasso.”
O ouvido irá sendo “educado” a reconhecer. Por exemplo, nós aprendemos a reconhecer determinados estilos musicais no rádio apenas escutando. Com o tempo de escuta você vai reconhecendo. Como tenho escrito, o aperfeiçoamento é constante, portanto, também sigo na busca.
Francis Fachetti – Para terminar, e relaxar, nos dê informações, características e tudo mais que quiser, sobre o projeto e o seu espaço: “BFC – Ballet, Flamenco e Cia.” – que D. Marlene deve ser a peça primordial nesse templo de técnica, amor e seriedade.
Ângela Viégas – Diferentemente de muitos lugares em que a escola veio primeiro e depois tiveram grupo, eu comecei com grupo e precisava de um espaço fixo para os ensaios. Somente após um ano da estreia do “Ballet, Flamenco & Cia”, criamos a Sede (2009).
Ângela Viégas em sua coreografia premiada “Aire”.
“O foco do trabalho sempre foram os adultos. Desde muito antes de 2008, eu trabalhava com este foco, inclusive e principalmente no Ballet Clássico, quando não havia na maioria dos lugares turmas somente para adultos e com nivelação técnica. Somente anos depois da abertura da Sede do “BFC”, passamos a trabalhar com o público mais jovem.
Da mesma forma que o adulto no ballet, eu trabalhei o público infantil no Flamenco também com êxito.
Alguns de nossos alunos (infantil, juvenil e adulto) passavam a integrar os grupos oficiais e ganhavam várias premiações em Festivais”.
“Aire”, coreografia premiada de Ângela Viégas.
“Ballet, Flamenco & Cia”.
“Fazemos diversas atividades na Sede do “Ballet, Flamenco & Cia”, paralelamente temos as atividades dos Grupos do “BFC”, e ainda as minhas atividades fora como bailarina. E sim, se não tenho a Coordenadora Marlene Moura para chamar de minha… nem sei”.
Ângela Viégas e Marlene Moura.
“Promovemos diversas atividades durante o ano como Curso de Férias, evento “Domingo Dançante”, “Show de Talentos”, espetáculos com temas sobre cultura… Levando os alunos para assistir e também dançar em eventos eles podem vivenciar a dança mais vezes fora da sala de aula”.
Espetáculo “Genios de La Musica”, Ballet, Flamenco & Cia.
Direção: Ângela Viégas.
“Ballet, Flamenco & Cia”.
Ângela Viégas no espetáculo de 10 anos, 2019, da Sede do
“Ballet, Flamenco & Cia”.
Simplesmente:
ÂNGELA VIÉGAS.