O Blog/Site, em suas entrevistas NECESSÁRIAS, coloca no centro da cena, em holofotes categóricos; um grande operário da arte, ator e encenador/diretor, luzente e polido em sua arte, com seus “insólitos”, necessários trabalhos de convergências reflexivas – Eduardo Wotzik.
Um dos mais destacados encenadores, ator e produtor cultural. 40 anos dedicados a cena.
Formado em psicologia pela UFRJ.
Iniciou sua carreira em um dos grupos mais vultosos do Teatro Brasileiro – o Grupo TAPA, onde durante dez anos, atuou como ator, produtor, coordenador e depois diretor.
Alguns trabalhos que Wotzik dirigiu:
“Tróia” de Eurípedes, “Bonitinha, mas ordinária” de Nelson rodrigues, “Um equilíbrio delicado” de Edward Albee, “Sonata kreutzer” de Leon Tolstoi, “Escola de mulheres” de Molière, “A geração trianon” de Annamaria Nunes, “O homem que sabia javanês” de Lima Barreto, “Yerma” de Federico Garcia Lorca, “Pássaro azul” de Maeterlinck, “O interrogatório” de Peter Weiss, “Édipo Rei” de Sófocles, “Emily” de Emily Dickinson, e “Missa para Clarice”, da obra de Clarice Lispector.
Sempre buscando por um constante aprofundamento das investigações de técnicas teatrais, que o levou a criar o Centro de Investigação Teatral, voltado para pesquisa, formação de atores e produção de oficinas e espetáculos na Casa de Cultura Laura Alvim.
– Mergulhando na entrevista NECESSÁRIA com Wotzik:
Fachetti – Dirigir um espetáculo é diferente de ser um encenador da cena teatral – onde se coloca um olhar peculiar e profundo do processo desenvolvido. Você é um encenador, antes de ser um diretor. O que pensa sobre isso? Como se processa no seu trabalho; o diretor e o encenador?
Wotzik – Antes de mais nada, muito obrigado, muito grato pelo seu interesse pelo meu trabalho. O teatro precisa de gentes que nos acompanhem, no tempo, dialogando com cada obra que realizamos, mas também com nossa trajetória. Grato por isso.
Para responder com mais precisão sua pergunta eu precisaria entender melhor os dois conceitos que você está usando. Entender melhor o que você chama de diretor e de encenador – me lembrei que no início do século passado tinha ainda a figura do ensaiador, responsável por ensaiar a peça.
Eu sou um encenador, mas eu sou um diretor tambem. É que, eu acho que eu faço as duas coisas, e sou também bom ensaiador, que eu adoro pensar a cena, holisticamente, adoro dar a direção para o projeto, gosto também de estar ali dentro do espaço cênico ensaiando o ator e repetindo e repetindo as marcas, as falas, e ainda, amo dirigir todas as partes envolvidas.
É que, eu sou muito autoral, acho; e tudo tem que passar por mim, pela minha direção, pelo meu olhar cênico, por aquele que chamo de ser cênico que habita em mim. Uma maravilhosa confusão, de múltiplas gentes que habitam esse ser polifrênico, e que cada dia aprendem a conviver em maior harmonia, concordando ou não. Dizia Tristão de Athayde, e eu nunca mais esqueci: “Paz é a eterna convivência entre as diferenças.”
Bem, eu me sinto responsável por tudo que acontece no espaço cênico, desde o momento em que o púbico chega no teatro, até a hora que o último espectador se foi. Desde o nascimento do projeto até a entrega dele ao público. E eu gosto de me ver em cada detalhe da cena, que o resultado é obra minha, assinada por mim. Cada pequeno detalhe cênico tem um pouco de mim, das minhas memórias cênicas, referências, entendimentos e histórias relacionadas ao conteúdo daquele texto abordado naquele momento.
Assim que eu gosto, e é assim que eu tenho feito na maior parte dos meus espetáculos, e toda vez que tentei fazer diferente não deu certo, e acabei abandonando o projeto antes que desandasse a maionese.
Eu me interesso pelo preço da pipoca vendida na porta e do estacionamento no entorno – gosto de saber se é justo – me interesso se a bilheteira viu a peça, se gostou, que informação está dando para o público que pergunta, e até pelo papel higiênico que é colocado no banheiro dos camarins. Me interesso, que nos teatros do estado e município, hoje, para demonstrar o total descaso com os artistas. Eles colocam nos banheiros dos camarins aqueles papeis higiênico tipo lixa, mais baratos, de péssima qualidade.
Então te respondendo mais objetivamente, sim, eu sou um encenador, e um diretor, e um ensaiador também. Gosto de projetar, da pesquisa, das formulações, das ideias, e tenho imenso prazer nas descobertas que surgem a partir das investigações que vamos realizando – toda a equipe, técnicos e atores – lá em cima do palco. Gosto de ir para o teatro, de ficar lá no meu abrigo antiaéreo, fingindo estar protegido do mundo real, como se estivesse dentro de um livro ou imerso numa tela, livre.
Então, Eduardo, os dois conceitos que uso, o que chamo de diretor e encenador, eu te respondo colocando aqui de novo, a resposta que você me deu. Você disse: “Aprofundar cada camada, cada etapa, ver a criação ir passando de fase. É que eu sou muito autoral, acho; e tudo tem que passar por mim, pela minha direção, pelo meu olhar cênico, por aquele que chamo de ser cênico que habita em mim. Uma maravilhosa confusão, de múltiplas gentes que habitam esse ser polifrênico, e que cada dia aprendem a conviver em maior harmonia, concordando ou não. O trabalho minucioso de escolhas, dos minimalismos, do ourives, do escultor que diante da pedra vai escavando, escavando, até descobrir o essencial”.
Essa sua resposta, para mim, é ser mais encenador do que diretor. Te
respondi também, rsrsrs!
Fachetti – Integrou o respeitável Grupo TAPA, como ator, produtor e diretor. Pode nos contar um pouco dessa época, o desenredar do trabalho no TAPA, e como você o definiria hoje?
Wotzik – Foram 10 anos de trabalhos intensos, que coincidiram com meus primeiros dez anos, e também com os primeiros 10 anos do Grupo, o que significa que estávamos todos naquele momento em formação, aprendendo juntos, errando e acertando com imensa alegria e curiosidade.
Fizemos muitas coisas juntos; espetáculos adultos, espetáculos para jovens, e para crianças, estudamos juntos, sempre com a mesma seriedade e compromisso com a arte, e com levar o melhor, e mais inteligente teatro para o público.
O TAPA me ensinou fundamentalmente, entre tantas outras coisas, a importância do envolvimento entre as partes, do figurino, do cenário, da luz, do som, da operação de som e luz, e do grupo; de estarmos todos juntos trabalhando coletivamente para a melhor realização daquela peça.
Quando eu conheci o GRUPO TAPA descobri, ainda, que existia uma outra possibilidade de estar em cena – venho de uma geração do improviso, do ator que emprestava sua verve natural para se exibir, o ator pessoalista, extrovertido, desinibido – e eu sempre fui péssimo de improviso, morria de vergonha, diante da possibilidade de me exibir, eu me recolhia e ficava dentro de uma timidez paralisante, mas o TAPA trabalhava com textos, com autores, amava os clássicos, e me apresentou a tal da personagem; me mostrou que existia um teatro onde o ator tinha que se esconder, sumir mesmo; que quanto menos pessoalista, menos eu aparecesse, melhor; que existia uma entidade chamada personagem, e entao eu adorei e me encontrei ali.
Outra coisa importante foi que deveria trabalhar meu instrumento cênico toda a vida, fazer aulas de corpo, de voz, de teorias, estar sempre se trabalhando. Sempre.
Foi dentro do GRUPO TAPA, também, que criamos e realizamos o que chamávamos de PROJETO ESCOLA – espetáculos de teatro brasileiro que apresentávamos nas escolas da rede de ensino do Rio de janeiro – cada dia em um espaço diferente; teatros, auditórios, quadras de esportes, ginásios, para um público diferente, gente que nunca tinha ido ao teatro, outros já iniciados. Muitas vezes tínhamos que fazer quatro espetáculos em um dia, sempre com casa cheia, e que se transformou numa escola também para nós.
Hoje o TAPA está sediado em São Paulo e continua com relevante trabalho. Ah, e tem também tudo que aprendi com o diretor geral do Grupo, Eduardo Tolentino, mas isso daria um livro…
Fachetti – Destaque, dentre os trabalhos citados acima, que dirigiu – sem ser os que entra em cena como ator – dois deles que tenha como os mais diletos/estimados, e qual suas especificidades na cena teatral, com a sua encenação?
Wotzik – Meus trabalhos realizados são como filhos que gerei por anos até entregar para o mundo, portanto, muito difícil de escolher qual deles considero mais dileto. Tenho orgulho de todos os detalhes deles, tenho orgulho dos acertos e dos erros, das ideias finalizadas e das ideias que até hoje ainda me instigam a solução cênica ideal. Mas todos são partes do que há de melhor em mim.
Para não fugir a resposta, eu citaria, uns filhos mais velhos como “O HOMEM QUE SABIA JAVANES”, do Lima Barreto, onde os atores manipulavam as araras, formando cena a cena o espaço da história; “A GERAÇÃO TRIANON”, da Annamaria Nunes, antológica comédia sobre uma geração de comediantes e comediógrafos, um espetáculo que revelava os bastidores dos teatros dos anos 20 e 30 do século passado; “BONITINHA, MAS ORDINARI” do Nelson Rodrigues, que trazia uma nova visão do texto, com uma encenação precisa, de poucos elementos, poética e realista; “O PÁSSARO AZUL” de Maurice
Maeterlinck, que só eu e o Stanislavski montamos; e o fato de ter tido a oportunidade – e tê-la agarrado – de montar duas tragédias gregas, de forma absolutamente diferentes, “TRÓIA” de Eurípedes e “ÉDIPO REI”, do Sófocles. Ah, me lembrei do “INTERROGATÓRIO”, de Peter Weiss, encenado no formato de uma vigília, onde atores e personagens mostravam o julgamento de Frankfurt durante 24h, expondo os horrores do holocausto, e o público podia entrar e sair quantas vezes achasse necessário ou suficiente para ser tomado pelo tema.
Importante notar que todos os espetáculos que realizei são de autores e formatos completamente diferentes uns dos outros. Todos enveredaram por caminhos os mais diversos, seguindo a máxima de Ésquilo: vida longa e variada.
Há muita diversidade na minha obra. Como a mata Atlântica, como o povo brasileiro, como somos humanos, como os caminhos infinitos da ficção, e essa é a beleza, e eu adoro.
Fachetti – Em sua encenação de “Missa para Clarice”, nos deparamos com algo insólito; uma liturgia com os signos cênicos. Uma licença poética em liberdades dramáticas, com alcance de transcender, dependendo de cada espectador. Por favor, discorra sobre o processo dessa surpreendente cena teatral.
Wotzik – Acho que você acertou aí: em todos os meus trabalhos, eu não sossego enquanto não encontro no texto seus signos cênicos, paralelos entre o universo abordado, e o mundo do teatro.
Outro dia, descobri que é essa perseguição que me faz poeta. Sou mesmo um poeta da cena. É o meu jeito, eu gosto da síntese, do trabalho minucioso de escolhas, dos minimalismos, do ourives, do escultor que diante da pedra vai escavando, escavando, até descobrir o essencial. Gosto porque isso me exige. Indefinidamente.
E foi assim também com nossa “Missa Para Clarice”. Nasceu da necessidade e do espanto como quis Clarice. De uma crise monstra que eu estava passando com o teatro e seus processos de produção, da necessidade de reinventar a profissão.
O processo criador desse espetáculo foi sempre assim: eu intuía e à medida que realizava, aquilo me mostrava o sentido. Eu criava, e o sentido vinha depois. Primeiro fiz as escolhas do que mais me comovia naquele momento da obra literária da Clarice, e então, percebi que tinha editado suas ideias sobre o sagrado, e então, dei o nome daquela edição de “Missa Para Clarice”, e só anos depois descobri o óbvio – fazer o texto que levava o nome de Missa Para Clarice no formato de uma missa.
Outro exemplo: intuí um dia, em meio a um ensaio, que devíamos entregar algo para o público, uma frase do texto, para cada um levar a sua para casa. Só mais tarde percebi que estava propondo que em nossa missa para Clarice, ao invés de levar os saquinhos na direção de cada espectador, e pedir algo, como vemos nas missas católicas e suas coletas e dízimos, nosso espetáculo levava os saquinhos para oferecer algo para o público presente. O espectador até se assustava com a inversão de valores. E ficava extremamente grato com a carícia. Assim foi o processo da “Missa Para Clarice”, e tem sido, vivo, o espetáculo vai se modificando e aprendendo com ele mesmo, à medida que vamos apresentando e vencendo os desafios de novos espaços e novos públicos, absorvendo as ideias que vão aparecendo a cada temporada.
Quando estávamos no teatro do Parque da Ruínas, nos deparamos com um problema: tínhamos que escrever SIM, com jet no pano preto do fundo diariamente, e isso se tornava impossível, já que assim iriamos estragar, manchar de vez, a rotunda do teatro. Então diante do impasse, lá dentro do espaço, levantada a questão, feito o silêncio, no meio de um ensaio, o técnico do teatro gritou: por que não fazem isso
com aquele spray de espuma que se usa no carnaval? Não mancha o pano, some com o tempo, e causa o efeito que vocês pretendem. E foi o que fizemos, para todo o sempre, para toda a temporada de quatro anos que se seguiu.
“Missa Para Clarice” é assim, teatro em gerúndio.
Fachetti – Como produtor cultural, encabeçou projetos que mudou o cenário teatral carioca. Nos fale sobre o Centro de Investigação Teatral, com mote/foco em pesquisas, formação de atores, etc.
Wotzik – No ano de 1988 entrei na sala da diretora da Casa de Cultura Laura Alvim, em Ipanema, Rio de Janeiro, que tinha acabado de inaugurar, e disse que queria criar um Centro de Investigação Teatral lá. Ela sorriu para mim. Chamou o Administrador do teatro e pediu que ele me mostrasse as instalações do espaço. Depois, olhou no meu olho, e disse: Eduardo, você é um artista. Eu confio em você, aqui é o seu lugar, isso é uma casa de cultura, do estado, pública, criada para fomentar a arte e seus artistas, pode começar quando quiser. Nem acreditei.
Era Stella Marinho, uma mulher maravilhosa, esposa do Roberto Marinho, uma incentivadora e batalhadora incansável pela cultura e pelo bom gosto.
Eu saí de lá dando pulos de alegria no meio da rua, com a sensação de que havia encontrado um lugar, de compreensão, me sentindo querido. E então foram dez anos de inúmeros espetáculos, oficinas, palestras, debates, eventos, a criação dos cursos da casa, a construção dos camarins, da cortina de palco, do armário de luz; o que chamamos CENTRO DE INVESTIGAÇÃO TEATRAL, um espaço de pesquisa e investigação da cena, que acredito, foi importante para a formação de uma geração de artistas que por lá passaram. O foco foi, e é o ator, o texto e a cena.
Graças a esse tempo que me foi dado pela diretora da Laura Alvim,
pude conceber o sistema, uma série de exercícios práticos que uso até hoje para ampliar o instrumento do intérprete, e que chamo de ASPIRAÇÃO.
Hoje, o CENTRO DE INVESTIGAÇÃO TEATRAL, não tem espaço fixo, o mundo mudou, e principalmente a relação que os espaços públicos e particulares tem com os artistas. Assim, que tenho tido, desde entao, a pretensão de instalá-lo dentro de cada ser humano que tem passado, que já passou, e que passará por mim. Despertar em cada artista, e não artista, que me encontrou e me encontra profissionalmente, o gosto pela busca, pelo conhecimento, pelo entendimento. O amor pelo teatro, por ter um aplicativo instalado dentro de si – um centro de investigação teatral.
Fachetti – Um pensador, um homem de teatro – Wotzik. Como se colocou diante desse reinventar pandêmico? O que tem feito nesses tempos, e o que projeta para esse novo futuro artístico, cada vez mais desmontado?
Wotzik – Acho que essa pandemia não começou em março, nem na China, mas é um processo que tem por causa, o desvio de finalidades, de rumos e caminhos por onde andava a humanidade. Estávamos há anos seguindo caminhos sem encontrar, nem chegar a lugar nenhum.
A pandemia é um fato, resultado de um processo que já vinha há
décadas. Há décadas que estamos gritando para o mundo, preste atenção, que estamos gritando que o mundo caminha na direção da destruição da espécie.
Os dramaturgos então, estão clamando há séculos. Pessoalmente fiz isso com “Tróia”, com a “Emily”, com o “Édipo”, com a “Missa Para Clarice”, com a vigília de 24h sobre o nazi fascismo e o holocausto, com o “Interrogatório” de Peter Weiss, estava fazendo com “Hannah Arendt” – espetáculo que estava ensaiando, e com “Mim, Chita”, trabalho ainda em processo.
Eu tenho gritado por todos esses 40 anos de profissão, todos os dias, desesperadamente, por onde foi possível e pelos espetáculos que montei.
Em “Bonitinha, mas ordinária” – 1961 – Nelson, abre a peça com a seguinte frase: “É a hora de rasgar o jogo. De tirar todas as máscaras!” E o mundo caminhou para fazer justo o contrário.
Então, acho que é hora de parar, e respirar e ressignificar, e repensar tudo, sem pressa, pelo tempo que for necessário, para corrigir a rota, recalcular o caminho, e então, poder pegar a estrada certa. Assim eu penso, e assim tenho procurado agir.
Não “adianta se adiantar”, ou ficar nervoso, ou ansioso, ou deprimido, ou aterrorizado, diante da impossibilidade, do inevitável, tem que “guentar” o tempo de vazio, de silêncio, com fé na tábua, com a certeza de que mais dia menos dia, quando a gente menos esperar, um novo caminho vai se abrir, cheio de galhos, árvores, ervas, e matos, que teremos que ir enveredando, e limpando para poder passar, descobrindo e capinando, mas agora certos de estarmos na direção certa, de uma humanidade mais justa, de um planeta mais habitável, e com um teatro melhor, que eleve, caminhando para servir o outro, para evoluir a espécie.
A pandemia que estamos vivendo é uma tragédia anunciada, e precisamos aproveitar sua reclusão – quando podíamos imaginar que um dia todos os teatros do mundo iriam parar, que todos os atores do planeta seriam obrigados a ficar em casa.
Muitos artistas estão se debatendo como baratas, desesperadas, porque são doadores e não conseguem passar um dia sem se oferecer ao mundo. E é natural que se comportem assim.
Muitos continuam produzindo aquele teatro inútil, sem serventia, vaidoso, produzindo só por produzir, que não parte da necessidade de ninguém, nem do artista, nem do público. Mas tem muita gente bacana, dispensando as primeiras e inúteis soluções, para as questões cênicas que se impõem, para entrar em reflexão e aprofundar, e esperar uma resposta mais efetiva para o teatro que faremos nos próximos séculos.
Eu ando em casa. Fazendo lives, podcasts, aulas, espetáculos, sempre de casa e on-line. Tentando servir o mais que possa. Ser útil. Usar a
arte pra salvar o outro. Só volto ao presencial quando o teatro não significar risco para nenhum dos envolvidos. O teatro é espaço de liberdade, e não combina definitivamente com atmosfera de medo.
A única coisa que tem me tirado do prumo, é quando sou tomado por uma sensação terrível de que o ser humano pode sair dessa pandemia ainda pior do que entrou – Perverso. E o Teatro também. É que desconfio do ser humano, mas acredito na humanidade.
Quem sabe num futuro, ainda breve, essa pandemia nos faça produzir, todos, o Teatro que esse colunista procura: Necessário.
Assisti uma leitura encenada desse texto, onde escrevi uma pequena resenha sobre ele. Reporto abaixo, o que escrevi sobre a leitura de “Mim, Chita”:
Eduardo Wotzik nos surpreende, e muito, na sua livre adaptação, em formato de leitura dramatizada, da vultosa/formidável caminhada estrelar, envolvendo as inúmeras empreitadas cinematográficas do macaco/símia, e a vitoriosa exposição hollywoodiana.
O diretor/ator esmiúça a saga de CHITA, fazendo relevantes e valiosos paralelos contemporâneos, comportamentais, políticos, com nossas mesquinhas e absurdas atitudes sobre o que pensamos dos animais “irracionais”, e como devemos “tratá-los”, perante nossas crueldades e devaneios.
No texto está presente também, o amor, que nos faz transcender diante de qualquer preconceito e maldade.
Esse foi um trecho da resenha que fiz, desse belo trabalho, que segundo Wotzik disse acima, está em andamento, para entrar em cartaz.
Essa foi e é, a trajetória necessária – daquele que chamo de encenador, antes de ser diretor.
Na próxima quarta, 25/11, entrevista NECESSÁRIA, abre as cortinas desse espaço das artes, para um desenvolto trabalho artesanal, embasado em técnicas – quando se trata de convergir num só corpo; o intérprete, o bailarino e o cantor. Sei o quanto isso é necessário, requerendo total entrega, talento e vocação.
O Blog/Site expõe aqui a tessitura cênica do trabalho de um artista imiscuído dessas afluências: Leandro Melo.