– Entrevista NECESSÁRIA: Ator/Cantor/Bailarino – LEANDRO MELO

A Entrevista NECESSÁRIA, abre as cortinas desse espaço das artes, para um desenvolto trabalho artesanal, embasado em técnicas, quando se trata de convergir num só corpo; o intérprete, o bailarino e o cantor. Sei o quanto isso é necessário – requerendo total entrega, talento e vocação.
O Blog/Site expõe aqui a tessitura cênica do trabalho de um artista imiscuído dessas afluências: Leandro Melo.

“Corpo em pandemia” – idealização: Leandro Melo

Ator, Cantor e bailarino; um artista com formação visível em teatro/dança, dando a pluralidade cênica necessária que os palcos esperam.

“Rio Mais Brasil” – direção: Ulisses Cruz, 2017.

Começou sua trajetória cantando em festivais de música pela FUNCART (Fundação Cultural Artística de Londrina), onde fez concertos eruditos e populares com diretores do Japão, Cuba e EUA.

Foi acompanhado em seus estudos pelos Mestres/Diretores:

Maiza Tempesta, Carlos Leça, Marconi Araujo, Caca Carvalho, Sergio Módena, Duda Maia, Rodrigo Portella e estúdio de atuação Roumer Canhães; e ainda: CAL (Casa de Artes Laranjeiras) e “Velha Cia” de SP.

Integrou a mais recente montagem do musical DZI Croquettes em Bandália.
Protagonizou com a personagem Marty – a Zebra, turnê mundial do “Musical Madagascar” da Stage Entertaiment, em SP.

“Madagascar” – direção: Jenn Rappipearl, EUA, 2013.

Participações em TV: seriado e algumas novelas.
Curta metragem “A Casa Conectada” e “Lembranças de Verlaine” do Canal Brasil.

Espetáculos musicais como intérprete, bailarino e cantando:
“Elis, A musical”, “Cabaré Dulcina”, “O Primeiro Musical a Gente Nunca Esquece”, “Tropicalistas, O Musical”, “Satã, Um
Show Para Madame”, “Rio Mais Brasil, O Nosso Musical”, “Yank – O Musical” e “Bibi, Uma Vida em Musical”.

Em 2019, fez três espetáculos no Teatro Cesgranrio:

– “Abba”, show tributo ao Grupo Abba. “Auto da Paixão de Cristo”. “Auto de São Sebastião”.

“Abba” – Tributo ao Grupo Abba. 2019.
“Auto da Paixão de Cristo” – 2019.
“Auto de São Sebastião”. 2019.

No momento, prepara um show musical com o Título de “Depois do Fim do Mundo”, procurando patrocínio para estrear.
Após a Pandemia irá também estrear o espetáculo “Capiroto”, dirigido por Rodrigo França, no Teatro de Conteiner, da Cia. Mungunzá de Teatro, em São Paulo.

Entrando na entrevista NECESSÁRIA com Leandro Melo:

Fachetti – A FUNCART, em Londrina, teve uma decisiva formação em suas funções como artista (ator, cantor e bailarino). Nos conte dessa formação dentro desse espaço cultural, que te revelou para as artes. Como eram esses concertos com diretores de culturas diferentes?

Leandro Melo – Eu nasci no Mato Grosso, comecei a cantar aos cinco anos e tentei por várias vezes me desenvolver artisticamente lá, mas lá não se tinha muitos locais para se estudar teatro, música ou dança, então acabei por conta de bullying, e pela falta de oportunidade indo para o esporte, o handebol, que me levou através de uma bolsa de
estudos para Londrina, onde descobri a FUNCART, e aí estar em contato com uma cidade que tem muita cultura. Me deu forças para largar o handebol, a faculdade de turismo e tomar coragem para voltar a cantar, e ir até a Funcart me matricular no curso de teatro, que me levou até o ballet, nos alto dos meus 20 anos.
Primeiro a Funcart entrou na minha vida para eu tirar uma dúvida que eu sempre tive; eu amo arte, mas eu sirvo para isso? (pergunta, que me faço todos os dias até hoje).
Com o passar do tempo essa frase mudou para: Eu não sei se sirvo, mas agora quero isso! Lá foi um lugar onde eu pude descobrir e começar a desenvolver as minhas potencialidades, e ter as bases para eu me inserir no mercado profissional, principalmente pelo fato de que eu, por questões financeiras, nunca tive condições de fazer uma faculdade – porque a maioria das facudades de teatro, música ou dança, tem uma grade curricular que acaba te fazendo ficar no campus o dia todo – isso para quem precisa trabalhar para pagar as contas, é complicado, e mesmo depois que se começa a trabalhar com arte é difícil conciliar.
Pela Funcart, eu tive aulas de teatro, dança, musicalização, canto, circo, clown, figurino, iluminação, cenário, fiz parte do ballezinho de Londrina e trabalhei como assistente de produção. Trabalhava de Call Center das 6:00 as 12:15, e depois ia para Fundação, e ficava lá das 13:30 até as 22:30, estudando.
Foi através da Funcart que eu cheguei até o Sollu’s Vocal Masculino e pude fazer os concertos com vários diretores do mundo todo, e estudar canto, me inserir no carnaval de Londrina e começar a fazer comissão de frente das escolas de Samba de lá. E foi através da Funcart que eu vim ao Rio pela primeira vez estudar na CAL através de um conselho de Simone Mazzer, que na época era integrante da Armazém Cia. De Teatro, que teve sua origem em Londrina. Me mudei para São Paulo e depois vim para o Rio, através do DZI Croquettes, e lá se vão quase 10 anos vivendo de arte.

“DZI Croquetes”, direção de Ciros Barcellos.

Fachetti –  Tenho uma formação em Teatro/Dança, onde a defesa da minha Pós-Graduação em teatro foi: “A importância do Ator/Bailarino”. Qual seu olhar para essa questão, que te acomete? Como você trabalha/mantém sua técnica para os palcos, atuando em produções nesses três pilares, um processo árduo, pela técnica que cada um exige; ator, bailarino e cantor.

Leandro Melo – Bom, corpo e voz para mim sempre estiveram muito ligados. As minhas formações desde a Funcart, sempre caminharam juntas, por questões de que eu sempre pensei no “ser artista”, como um corpo que pudesse compreender várias habilidades, para que eu pudesse desenvolver vários personagens, com características diferentes.
O esporte nesse sentido contribuiu muito para me educar. Quando se é atleta de alto rendimento, a gente não espera um campeonato para correr atrás de condicionamento e treinamento para uma competição especifica, a gente treina para se manter e melhorar nossos rendimentos e deficiências para a próxima competição. É essa ideia de trabalho continuo que eu trouxe para minha formação artística. Procurar estar trabalhando o corpo, voz e mente mesmo quando não se está trabalhando, estar pronto e disponivel para o que o próximo personagem exigirá em sua composição.
Como cada corpo é único, acho que os processos que compõem a formação de cada pessoa, devem ser tratadas de forma única, buscando através das teorias, desenvolver práticas que sirvam para desenvolver o máximo pontencial que o seu corpo e sua voz podem ter. Então, muita coisa que serve para mim pode não servir para outras pessoas e vice-versa. E, é isso, ao meu ver que torna o processo de estudo do ator/cantor/bailarino rico e ininterrupto – descobrir quais são as ferramentas individuais que cada um de nós temos para nosso desenvolver artístico. Agora dentro disso acho importante sempre se atentar se você está trabalhando tanto corpo, como voz, para que você não venha a machucar o seu corpo, se só preocupa com a voz, ou a voz, se só se preocupa com o corpo.

“Yank, O musical”, 2017 – Direção: Menelick de Carvalho.

Fachetti – Dentre tantos musicais – onde assumiu um protagonismo com presença marcante – Cite e discorra sobre os espetáculos/musicais, que mais te desafiaram, e por que? Em qual, ou quais deles, você sentiu missão cumprida enquanto artista da cena?

Leandro Melo – Eu acho que se o personagem existe, é porque ele tem uma história, e sua história tem uma função dentro da obra, então para mim, somos sempre protagonistas da história dos nossos personagens, respeitando sempre a hierarquia dramatúrgica de cada obra.
Até hoje trabalhei em obras, que mesmo com um personagem sendo definido como “protagonista”, todos os personagens tinham alguma função importante na história, geralmente isso acontece bastante em musicais brasileiros, em que os personagens são pessoas reais, e dentro desses formatos, a gente sempre tem espaço de criação. Acho que cada um dos espetáculos e personagens que fiz me desafiaram em alguma coisa, porque eu gosto de me desafiar a cada personagem. Isso me deixa sempre no limiar do erro, mas sempre faz transformações no meu fazer artístico.
Dzi Croquettes, me ensinou muito sobre coletividade e como se virar no palco, identificar qual o tipo de público que cada dia estava sentado na plateia.
Elis, me deu agilidade, pois eu entrei com o espetáculo montado, e tive que decorá-lo em 10 dias.
“Satã” me ensinou muito sobre como ser artista/produtor.
“Yank” e “Rio, Mais Brasil” foi uma experiência de absoluta superação. Eu nunca tinha ensaiado e estreado dois musicais ao mesmo tempo.
Em Bibi, eu me remexi como artista, o Tadeu Aguiar, me fez buscar novas possibilidades e isso acabou me fazendo ter a necessidade de retornar ao teatro de prosa para voltar a me experimentar mais, sem medo de errar. Foi assim que cheguei até o “Inimigo Oculto”, que me fez recuperar coisas esquecidas dentro de mim, que agora pretendo colocar para fora.
Essa coisa de sentir que cumpri a minha missão em algum espetáculo é complicado para mim, eu tenho uma cobrança insuportável comigo mesmo, então, eu nunca estou satisfeito, mas isso não me sufoca, me faz querer melhorar sempre, acho que é resquício da vida de atleta!

“Elis, A musical”, 2014 – Direção: Dennis Carvalho

Fachetti – Não posso deixar de falar em: “Bibi, uma vida em musical”. Fiz uma crítica teatral por esse Blog/Site, desse emblemático trabalho, e também fui dirigido por ela. O que destacaria, estando imiscuído nessa história, contada no momento certo e com capitanear de suas veredas, num espetáculo encenado com qualidades de uma autêntica obra de arte: “Inteireza, forma, leveza e beleza” – como defini Shakespeare. Conte sobre essa emocionante cena teatral.

Leandro Melo – “Bibi, Uma Vida em Musical” é um marco no teatro brasilero.
O que mais destaco nesta produção é o caráter artesanal que esta obra nos proporcionou desenvolver.
Infelizmente produções de teatro musical no Brasil tendem a seguir um ritmo de montagem muito acelerado com cronogramas cada vez mais apertados, em que muitas vezes, principalmente, em se tratando de musicais Broadway ou West end, não há muito tempo, e nem espaço para se tentar desenvolver mais os personagens do que já vem estabelecido nos libretos. Mas o tempo de desenvolvimento já foi feito pelos criativos de lá, então você consegue mesmo num ritmo muito corrido montar a obra. Agora é complicado estabelecer este mesmo tipo de cronograma para musicais brasileiros, em que, a meu ver deveria se ter um tempo mais teatral para desenvolver a obra – pois estamos falando de obras que não existem, e estão em desenvolvimento.
É isso que gosto de destacar sobre “Bibi”, o processo de desenvolvimento do espetáculo. O cronograma no “Bibi”, também foi o apertado de praxe de dois meses, mas ganhamos no pré desenvolvimento da obra. Quando nós iniciamos os ensaios, tudo já estava muito mastigado para que se pudesse desenvolver a obra com uma carpintaria artesanal de teatro. E dentro disto, o Tadeu e a equipe criativa, nos deram oportunidade de contribuir com a obra, e aí o resultado foi que todos nós estávamos com muita propriedade no palco, o que refletiu inclusive nas críticas e indicações a prêmios, destacando o trabalho de todo o elenco, o que para mim é maravilhoso, pois mesmo que uma obra tenha seus protagonistas – o maior protagonista ao meu ver tem que ser a obra.
É bom receber elogios pelo seu trabalho, mas é muito melhor quando esse elogio vem junto com o elogio da obra como um todo, eu sinto que eu consegui contribuir de fato com o trabalho de todos. E isso é muito bom, e no caso do “Bib”i, me acrescentou muito como profissional e ser humano.

“Bibi, uma vida em musical”, 2018 – Direção: Tadeu Aguiar.

Fachetti – Fale sobre o show musical, com título de: “Depois do fim do mundo”, que está procurando patrocínio para estrear. É complicado o artista se produzir, você pensa nessa possibilidade? Pensa em lançar uma carreira como cantor?

Leandro Melo – “Depois do fim do mundo” é um dos resultados de um processo que venho fazendo de reciclagem pessoal e profissional, que começou no “Bibi”.
Eu gosto muito de fazer musicais. O musical me dá uma agilidade de pensar e resolver problemas em cena, e fora dela, que no meu caso é muito bom, pois o meu tempo de processo era mais lento antigamente, mas eu senti durante o “Bibi”, que era hora de separar novamente as coisas, pensar nos meus estudos e carreira somente pelo ator e pelo cantor. Aí, dentro do desejo também de poder botar para fora o que eu quero falar com a minha arte dentro destes campos, foi que surgiram “O Capiroto” e “Depois do fim do Mundo”.
Como eu e Rodrigo decidimos que queremos estrear “Capiroto” no teatro, e não iriamos fazer de forma online, por algumas questões do espetáculo, eu nessa pandemia, acabei me isolando um pouco, como um tempo sabático, que eu sempre queria, e a pandemia me obrigou a ter.
Meus processos de estudos e de ficar comigo mesmo tentando escutar o que meu interior fala, eu cheguei até “Depois do Fim do Mundo”, que é falar como “Leandro Cantor”. Eu não digo que o Leandro cantor não é um personagem, mas ele é menos protegido do que o Leandro que canta por trás de personagens nos espetáculos.
Digamos, que esse show me desnuda mais enquanto profissional da música, e mostrará um pouco o tipo de música que eu quero fazer como cantor – pensando numa carreira que venho vislumbrando desde 2014 – mas que só agora, sinto as coisas mais claras na minha cabeça para fazer, dos caminhos e do que eu quero falar.
Quanto a me produzir, eu sempre estou nas minhas produções, ou onde posso, como produtor associado, ou de alguma forma junto a produção. Isso é natural, quando se faz arte de “guerrilha”, sem patrocínio. Acho, que com relação ao artista produtor, a gente se produz, ou procura se produzir, porque cansa de esperar as oportunidades dentro de um mercado completamente saturado, num país em que hoje, o artista é tratado como inimigo de estado.
Tem que ter muita força, pois o processo é bem duro, mas é tão bom quando você consegue realizar um projeto idealizado por você, que vale a pena o esforço, mesmo porque, quando o artista se produz, ele
entende toda uma máquina que existe por trás dele que o ajuda sim, no seu desempenho no palco, e muita gente não se dá conta disso.
Eu até agora não tive êxitos financeiros nenhum em tentar me produzir, pelo contrário, eu não tenho dinheiro porque gasto com tentar me produzir, mas eu me transformo a cada dia nesta luta por ter espaço – para poder falar o que eu quero falar, e da forma que eu quero.

“Satã, um show para Madame”, 2015 – Texto: João Batista. Direção: Édio Nunes.

Fachetti – Para arrematar, o que é o espetáculo “Capiroto”, que estreia após a pandemia, em SP, direção de Rodrigo França? Nos conte detalhes, estou curioso. Estamos, eu e os leitores da entrevista NECESSÁRIA.

Leandro Melo – “Capiroto” surgiu de um desejo meu com o Rodrigo França, de fazer um espetáculo sobre intolerância religiosa, lá em 2017, quando essas questões começaram se tornar cada vez mais latentes em virtude do sufocamento dos país pelo conservadorismo e ideologias extremistas.
Estamos sempre conversando e pesquisando, e projetando este espetáculo, sem compromisso com o tempo, e sim com o que queríamos falar. Acabou que nesse processo todo, o espetáculo deixou de ser um espetáculo que fala só de religiões, e virou um espetáculo que trata sobre humanidade.
A pergunta que nós fazemos com este espetáculo é: E se você descobrisse que o “Diabo” não existe? De quem seria então a culpa de todas as mazelas existentes no mundo?

Tem a possibilidade de fazermos uma gravação promocional para divulgar a peça em 2021, sem cenário, e as movimentações da peça que já estão prontos. Mas, isso ainda não está confirmado.
Bom, só o próprio “Capiroto” vai poder responder né! Bom o resto vocês terão que assistir. (Risos).


Essa é trajetória sólida do ator/cantor/bailarino – Leandro Melo.

Próxima quarta, 02/12, espero vocês, no projeto entrevistas NECESSÁRIAS, que volta a acender os holofotes na “insuportavelmente” necessária Arte Flamenca. A paixão, o amalgamar de culturas, o vigor; presentes no canto, dança, música de uma Espanha aquinhoada por tantas influências.
A representante da vez, desse “Barroquismo” flamenco, rebuscado, que tanto nos encanta, e nos enche de autoestima, é a bailarina e coreógrafa – Patricia WEINGRILL.

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