– Entrevista NECESSÁRIA: Patrícia WEINGRILL – Bailaora e Coreógrafa Flamenca

O projeto entrevistas NECESSÁRIAS, volta à acender os holofotes na “insuportávelmente” necessária Arte Flamenca.
A paixão, o amalgamar de culturas, o vigor; presentes no canto, dança, música de uma Espanha aquinhoada por tantas influências.
A representante da vez, desse “Barroquismo” flamenco, rebuscado, que tanto nos encanta , e nos enche de autoestima, é a bailarina e coreógrafa – Patricia WEINGRILL.

Patricia WEINGRILL

Nascida em Brasíia, começou a estudar ballet clássico aos oito anos.
Em SP integrou o Grupo Styllus Cia de Dança, tendo como coreógrafo; Ricardo Ordoñez.
Conheceu a dança flamenca em 1989, onde já integrava o Grupo de Laurita de Castro – uma das maiores competência na arte flamenca –
tendo direcionado grandes profissionais que hoje estão presentes pelo mundo flamenco.
E 1992, se torna a precursora do flamenco em Brasília, à sua cidade natal.
Imediatamente cria o Grupo Capricho Espanhol – sempre voltado para seu ideal: levar o que o flamenco tem de mais desafiante e encantador; o som das castanholas, o ritmo marcante do sapateado, o pulsar em arcodes do violão, aliado aos sentimentos transmitidos pelo cante, e mostrar que independente de ser profissional, podemos adquirir aquilo que nos faz vitorioso na vida – AutoEstima.

Cia Capricho Espanhol

Em 2014, realiza junto à Secretaria de Cultura do DF, atravé do Fundo de Apoio à Cultura – FAC, o projeto: “Flamenco em La Calle”, que levou a arte flamenca às estações do metrô de Brasília.


Participou de várias montagens importantes como a “Ópera Carmen”, coreografada pelo bailarino espanhol Antonio Márquez, bem como “Amor Feiticeiro”, do bailarino Carlos Vilán.
Participa do espetáculo “Amistad 2”, atuando com o bailarino espanhol Nino de Los Reyes.

Sua formação tem a presença dos grandes nomes do flamenco que influencia o mundo nessa arte. São eles:
La Tina, El Guito, La Tati, El Timo, Miguel Cañas, Nino de Los Reyes, La Tacha, La Talegona, Manolo Marin, La Tona. El Chino e Conchita España ( Argentina).
E ainda: Manolete, Paco Romero, Ciro, Tino Lozano, Rafaela Carrasco, Yolanda Heredia e Yara Castro.
Fernando de La Rua e Yara Castro.

Atuou durante um bom tempo, como coordenadora e professora do Curso de Flamenco Brasil/Espanha.
Desde sua formação, o Grupo Capricho Espanhol atua como representante da Embaixada da Espanha em eventos tradicionais na cidade, a exemplo, do Bazar Europeu, Festa das Embaixatrizes, Festa Nacional da Espanha, entre outros.

Embaixada da Espanha e Bazar Europeu.
 
Entrando na entrevista NECESSÁRIA com Patricia WEINGRILL:

Fachetti – Acompanhei essa irrefutável condição de ser a precursora do flamenco em BSB, pois estive com você em meu começo no flamenco, onde fizemos um marcante show no Teatro Nacional (Villa-Lobos). Nos fale um pouco dessa condição de precursora, os efeitos disso, essa caminhada histórica culminando na criação da Cia Capricho Espanhol.

Patricia WEINGRILL – Não foi fácil, a responsabilidade de trazer para Brasília uma arte tão rica, fez com que tivesse que me aprofundar no conhecimento da cultura espanhola, tudo o que a envolve, em especial a dança, a música os ritmos e a própria história.
Foram anos de estudos, com a necessidade de frequentar cursos de aperfeiçoamento anualmente na Espanha.
Outra dificultade enfrentada no início foi em virtude de ter sido, por
muitos anos, a única profissional de dança a trabalhar com flamenco na cidade. Não havia possibilidade de interação, intercâmbio, troca de experiências com outros professores, isso me obrigou a trazer profissionais de fora, pois essa troca é fundamental para o enriquecimento do trabalho.
Mas, apesar das dificuldades, houve um crescimento exponencial do trabalho, com toda certeza posso afirmar que valeu a pena toda a dedicação, e sou grata pelas oportunidades que se me apresentaram, a exemplo do espetáculo da Banda Caló – que fizemos juntos – na Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional, altamente relevante para alavancar o flamenco em Brasília, foi o primeiro espetáculo de grande porte que contou com a participação de artistas locais.
Tenho que citar também o Grupo de Dança Capricho Espanhol, que é um orgulho para mim, com atuação na cidade há 28 anos.

Patricia WEINGRIL em “Andalucia de Cerca”

Fachetti – “A Casa de Bernarda Alba” e “Carmen” são duas obras universais emblemáticas, onde você foi convidada a participar – sei a importância delas – pois já participei dessas obras. Qual foi o aprendizado nessas duas montagens tão teatrais, e como leva essa experiência às suas alunas. No meu olhar, a licença poética com o flamenco, nessas literaturas abissais, nos faz enveredar por caminhos de grande êxito profissional.

Patricia WEINGRILL – Conheci essas duas obras antes de ingressar na dança flamenca.
Era bailarina clássica quando dançei a ópera “Carmen” pela primeira vez. Em 2000, sob a direção coreográfica de Antônio Marquez. Participei pela segunda vez de uma montagem da ópera” Carmen”, trabalhar com Antonio Marquez foi uma experiência maravilhosa. Já em 2005 fui convidada pelo Institudo de Artes da UNB (Universidade de Brasília) a coreografar Òpera Carmen.
Nesta montagem tivemos também a participação do Coral do Senado Federal. Foi um trabalho muito gratificante e que teve uma enorme repercussão, lembro que nos dois dias que apresentamos na Sala Martins Pena do Teatro Nacional muitas pessoas não conseguiram assistir, pois o teatro já estava lotado.
Participei do espetáculo ”A Casa de Bernarda Alba” como bailarina clássica, convidada por um grupo de Brasília. Nessa época, morava em São Paulo, ainda não estava envolvida com o flamenco. Primeiramente, nos apresentamos na Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional, e depois nos apresentamos na cidade de Porto, em Portugal, no Festival de Teatro Ibérico – Fitei.
Há três anos, fiz uma adaptação desta obra para o flamenco, foi uma combinação perfeita, a crítica aprovou com muitos elogios.
Considero essencial a experiencia com obras que retratam histórias e mostram a cultura com a qual estamos trabalhando, é sempre enriquecedora para o aprendizado.

Espetáculo – “ A Casa de Bernarda Alba”

Fachetti – Em sua formação com os grandes citados acima; Laurita e Yara Castro, La China, Talegona, Rafaela Carrasco, dentre muitos
outros; o que eles tinham de similar e de tão diferente em suas conduções técnicas e temperamentos, que você absorveu e aplica até hoje, com você e suas alunas? Relate essas passagens de aprendizados com esses Maestros, e o que mais achar importante nos relatar.

Patricia WEINGRILL – Foram vários maestros e sempre saí de seus cursos com novos aprendizados, pois todos eles, em sua individualidade e genererosidade ao ensinar, nos deixam muito conhecimento.
Vou comentar os quatro maestros citados.
La China, um marco para o flamenco no Brasil. Foi fundamental para pessoas da minha geração, nos trouxe noções rítmicas e sua forma de ensinar, creio eu, foi utilizada por muitos professoros na ministração das aulas.
Rafaela Carrasco, uma maestra nata, sempre com didática exemplar, seus cursos são maravilhosos.
Talegona, maestra muito importante para a geração moderna. Uma bailaora com muita força e suas aulas também são carregadas de conhecimento.
Yara Castro, de gerenosidade ímpar, sempre disposta a ajudar e passar tudo o que sabe, tem muito conhecimento, suas aulas vão além das coreografias.

Patricia WEINGRILL, plena, absoluta e flamenca.

Fachetti – Importante nos dizer sobre esses eventos que anualmente realiza; como a feira Andaluza. Continua fazendo? Fale tudo desses eventos.

Patricia WEINGRILL – Nossas “Ferias” são tradicionais aqui em Brasília, já tivemos vários formatos, mas sempre temos o concurso de Sevillanas e a parte das comidas típicas.
Tento fazer nos moldes das ferias andaluzas. No sul da Espanha, todos os anos, no primeiro semestre, em cada provincia, em uma data espefícica, faz sua Feria. Conheci a de Sevilla, a qual visitei mais de uma vez, sempre ao final do mês de Abril, e a de Córdoba no mês de Maio. Acho uma festa muito alegre, e é uma forma de também trazer um pouco mais da cultura espanhola para nossa cidade.

Cia Flamenca Capricho Espanhol

Fachetti – Suas viagens para Espanha, como reciclagem profissional, é de essencial manutenção para o flamenco. Conte os novos aprendizados, continua viajando? O que viu de novo no flamenco? E ainda leva e incentiva suas alunas a essa reciclagem tão necessária. Conte sobre isso.

Patricia WEINGRILL – No inicio, como comentei anteriormente, ia à Espanha anualmente, agora não mais. Nas últimas viagens, fizemos
com grupos de alunos, os quais sempre incentivo a conhecer de perto o berço dessa cultura.
Recentementem, no ano de 2018, visitei a Bienal de Sevilha, a cada dois anos a cidade celebra tradicionalmente esse festival de flamenco, uma festa encantadora, os shows aos quais assisti foram maravilhosos, experiência que me fez confirmar, mais uma vez, que o flamenco é alma. Assistimos shows de Maria Pajés, Tomatito, entre outros, e todos podiam estar como Rocio Molina, despidos, que estariam transbordando flamenco.

Cia Flamenca Cachicho Espanhol.

Fachetti – O que é o projeto “Flamenco em La Cale”? O que acrescenta no seu olhar? Para arrematar, esse convite de Yara Castro e Fernando de La Rua, nos 25 anos da Cia Capricho Espanhol, como foi isso? Acabei de fazer uma entrevista linda com eles, deve ter visto. Eles são o flamenco amalgamado com a empatia, tudo que precisamos.

Patricia WEINGRILLEu sempre gostei de levar o flamenco a todos os lugares, gosto de apresentar a arte andaluza para todos, principalmente para aquelas pessoas que não têm condições de frequentar uma casa de show, um teatro.

Cia Capricho Espanhol

Fizemos apresentações nas estações do metrô de Brasília, e a receptividade do público foi muito grande, depois das apresentações as pessoas queriam falar com os artistas, perguntar, saber mais, penso que nosso objetivo de despertar o público e chamar atenção para a nossa arte foi alcançada com esse projeto.
Temos que ser gratos e, se eu estou respondendo a essa entrevista agora, rememorando minha vida no flamenco, é porque, no início, tive o incentivo de Yara Castro e Fernando de La Rua, profissionais com os quais até hoje compartilho experiências. Outro motivo relevante para comemorarmos juntos os 25 anos de existência do Capricho Espanhol, foi o fato de que Yara Castro me incentivou a iniciar as aulas aqui em Brasília, então eles não poderiam faltar a essa comemoração.


Eu sou, eu posso eu quero. Eu tenho o flamenco na alma. Essa foi a trajetória de uma guerreira da arte flamenca – minha amiga: Patricia WEINGRILL.

Saimos do poder flamenco, para entrar novamente no universo cênico (teatral, tv e cinema). Na próxima quarta, 02/12, os leitores desse Blog/Site, desfrutaram da penúltima entrevista desse fatídico ano, com os holofotes apagados nos pacos, porém, acesos – aqui no Blog.
Entrevista NECESSÁRIA vem aclarar para os leitores – um cabedal de feitos curriculares cênicos – Teatro e TV, de ouriversaria. Fiz questão de levar até vocês – essa artista tímida no seu particular, porém, feérica nas suas realizações de aporte nas artes. Vocês vão se surpreender com essa mulher/artista, de acuidade na perspcaz força necessária de sua criação – Denise Stutz.

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