Entrevista NECESSÁRIA: GUIDA VIANNA – Atriz e Diretora.

2020, ano pandêmico – O Blog/Site fez algumas poucas críticas teatrais e de dança, até a data exata de 07/3, e fez nessa semana, a crítica do belo espetáculo presencial e online, no Teatro Petra Gold – “Bruce Gomlevsky canta John Lennon” – confiram, leiam, aqui no Blog/Site.
O universo me deu as entrevistas NECESSÁRIAS, suprindo o conteúdo do Blog, e o mais importante, me aproximando e deleitando o público leitor, com inefáveis artistas de carreiras indestrutíveis, e ainda, acendendo os holofotes no seus corpos e almas tão maltratados, pelo dado momento cruel.
As entrevistas NECESSÁRIAS fecham o ano com duas mulheres/artistas apaixonantes. Denise Stutz, onde acabamos de ver sua competência e importância; e agora a Diva do Teatro; de inúmeros talentos, vocação e respeito ilibado – Guida Vianna.

Espetáculo “Agosto” – Guida Vianna como “Violet”.



Amo Guida Vianna, amo seu vigor em cena, amo seu divertido jogo de jocosidade, amo seu carisma arrebatador.
Amo poder amar uma legítima representante das artes cênicas, operária das artes – orgulho brasileiro.
Odeio lembrar que no mesmo país que essa grandeza de mulher existe, também precisamos olhar para a cara de vermes, que infelizmente não podemos pisar para esmagá-los – estaríamos nos igualando a eles.
A vida é ciclo, e todo ciclo termina, para que a liberdade encha nossas mãos de forças, para “esbofetearmos” os beócios.
Guida Vianna Atriz, diretora e produtora. É formada em Comunicação Social pela PUC/RJ.
Estudou no Tablado entre 1971 e 1975, onde também foi professora de improvisação teatral, e dirigiu mais de 20 espetáculos com seus alunos.
Foi redatora da revista “Cadernos de Teatro” durante 15 anos.
Participou de oficinas teatrais com Sergio Britto, Amir Haddad e Augusto Boal. Klaus Vianna e Gloria Beuttenmulle.
Foi indicada 8 vezes a prêmios – Atriz, revelação e coadjuvante.
Ganhou os prêmios Shell 2004; Qualidade Brasil 2006; Cesgranrio 2018 e APTR 2018.

Esteve em cena em 40 espetáculos teatrais, dentre os quais destacam-se:


“Agosto”, de Tracy Letts. Direção André Paes Leme. Rio 2017/2018 (atriz).

“Agosto”, de Tracy Letts. Direção André Paes Leme. Rio 2017/2018 (atriz).

“2 X Matéi”, de Matéi Visniec. Direção Gilberto Gawronski. Rio 2014 (atriz e produtora).

Espetáculo “2 x Matéi” – de Matéi Visniec. Direção: Gilberto Gawronski.



“O Nó do Coração”, de David Eldridge. Direção Guilherme Leme. Rio 2013.
“A Peça do Casamento”, de Edward Albee. Direção de Pedro Brício. Rio 2012. (atriz e produtora)
“A Escola de Escândalo”, de Richard Brinsley Sheridan. Direção de Miguel Falabella. Rio / SP 2011 (atriz) – Indicação para o prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante.

Espetáculo “Escola de escândalo”, de Sheridan. Direção: Miguel Falabella.


“Dona Otília e outras histórias”, de Vera Karan. Direçã Gilberto Gawronski. Rio/PA/BH/Curitiba 2010 (atriz e produtora) – Indicação para o prêmio de Melhor Atriz – APTR/RJ
“Gloriosa”, de Peter Quilter. Direção de Charles Möeller e Claudio Botelho. Rio/SP 2008/2009 (atriz)
“Fim de Jogo” de Samuel Beckett. Direção de Pedro Brício. Rio 2007. (Atriz).

Espetáculo “Fim de Jogo”, de Samuel Beckett. Direção: Pedro Brício. Guida Vianna e Isabel Cavalcanti.


“A Mulher Desiludida”, de Simone de Beauvoir. Direção Gilberto Gawronski. Rio/SP 2006. (atriz e produtora) – Prêmio Qualidade Brasil de melhor atriz e melhor espetáculo.

Espetáculo “A Mulher Desiludida”.


“Duas X Pinter”, de Harold Pinter. Direção de Ítalo Rossi. Rio / PA, 2005. (Atriz)
“Nada de Pânico” de Michael Frayn. Direção de Enrique Diaz. Rio, 2003. (Atriz e assistente de direção) – Prêmio Shell de melhor atriz em 2004.

“Nada de pânico” – Prêmio Shell como melhor atriz.


“Gata em Teto de Zinco Quente”, de Tennesse Williams. Direçã Moacyr Góes. Rio/SP,1998. (Atriz)
“Roberto Zucco”, de B. M. Koltés. Direção Moacir Chaves e Gilles Dao. Rio, 1996. (Atriz).

“Roberto Zucco, de Bernard Koltes – Direção: Moacir Chaves.


“Torre de Babel”, de Fernando Arrabal. Direção de Gabriel Villela. Rio, Curitiba, PA, BH, 1995/96. (Atriz)
“La Ronde”, de Arthur Schnitzler. Direção de Ulysses Cruz. Rio/SP, l991. (Atriz e produtora)
“Lamartine para Inglêz ver”, de Lamartine Babo. Direção de Antonio De Bonis. Rio/SP, 1989/90. (Atriz e produtora).

“Lamartine para inglês ver” – Direção: Antonio de Bonis.


“El Grand De Coca-Cola”, adaptação e direção de Naum Alves de Souza. Rio, 1986. (Atriz).

“El Grand de Coca-Cola” – Direção: Naum Alves de Souza.


“As You Like It”, de William Shakespeare. Direção de Aderbal Freire Filho. Rio, BH, 1985. (Atriz e produtora).

Espetáculo “As you like it”, de Shakespeare – Direção: Aderbal Freire Filho.


“Poleiro dos Anjos”, texto e direção de Buza Ferraz. Rio, SP e turnê Brasil, 1981/82 (atriz e produtora) – (indicada ao prêmio mambembe de melhor atriz).

“Poleiro dos Anjos”. Texto e Direção: Buza Ferraz.


“Ato Cultural”, de José Ignácio Cabrujas. Direção Marcos Fayad. Teatro dos quatro, 1978 (atriz indicada ao prêmio mambembe revelação de atriz).


Entrando nas perguntas NECESSÁRIAS com Guida Vianna:


Fachetti – Quase todo lapidado cenário teatral que temos, se embrenhou de formas distintas, na incontestável “cartilha” do TABLADO. É muito rico para nós sabermos detalhes, segredos, a peculiar maneira apaixonante desse lugar. Nos conte, nos revele, coisas que você acha de necessária importância, que possa nos surpreender, ou simplesmente nos informar, com sua passagem por lá.


Guida ViannaO Tablado, como grupo de teatro Amador, foi fundado em 1951. Ano que vem faz 70 anos. Pode imaginar um grupo amador e uma escola de teatro que funciona há 70 anos no mesmo lugar?
Maria Clara Machado foi uma visionária. Entendeu que arte e educação caminham juntas. Várias gerações de artistas passaram por lá. A cada geração suas características e seu repertório.
O tablado enquanto Escola de teatro começou a crescer na década de 70. Quando eu entrei em 1971, só Maria Clara dava aulas. Eram 3 turmas iniciantes, intermediários e adiantados. A gente ficava doida para chegar na turma de adiantados e fazer parte do elenco das peças nos finais de semana.
O Tablado até hoje é um curso livre e cresceu muito. São várias turmas de 11 a 99 anos. Você fica lá quantos anos quiser e se matricula com o professor que escolher.
O tablado é um celeiro de talentos e de crescimento pessoal. Lá você descobre que o olhar artístico sobre as coisas amplia muito sua visão de mundo. É um ótimo lugar para fazer amigos, aprender a conviver com os outros, descobrir sua criatividade e fazer arte.
Hoje em dia, O Tablado tem em Maria Clara Mourthé ( diretora artística, a continuação da paixão, da visão, e da realização do desejo de sua tia – Maria Clara Machado.


FachettiGostaria que fizesse um “raio x”, com qualidades imprescindíveis, de cada um – Ségio Brito, Amir Haddad, Augusto Boal, Klaus Vianna e Gloria Beuttenmuller – que ajudou a alimentar e transformar Guida Vianna, nesta atriz implacável em talento e carisma. O que você, Guida, tem de mais relevante em cena, na sua autocrítica, seja no denso ou no jocoso?


Guida viannaSergio Britto foi meu professor no curso do Teatro dos 4, depois que saí do Tablado. Sergio, foi meu grande incentivador. Viu em mim o que eu mesma nem via. Sergio me deu muita confiança. Me fez ver que podia trabalhar tanto na comédia quanto no drama. Era um professor apaixonado. Adorava se misturar com os alunos, transmitir seu conhecimento, passar vídeos, incentivar nossas criações.
Fiz duas peças no teatro dos 4 e depois fui para o mundo. Nunca deixamos de nos falar, e ele nunca deixou de ir ver meus espetáculos. Tenho muitas saudades de conversar com ele. Ele faz muita falta no cenário teatral carioca.
Glorinha Beuttenmuller, me foi apresentada por Sergio. Uma Mestra! Ela ensinou tudo de voz para a minha geração. Seu método do abraço sonoro foi importantíssimo para gente aprender a falar bem o texto teatral. Fiz o curso com ela, e depois durante um ano frequentei o estúdio dela, na Tijuca, uma vez por semana, para continuar e melhorar meu trabalho vocal. Foi importantíssima na minha formação.
Amir Haddad é um Mestre do teatro. Até hoje eu faço seus cursos. Ele sabe tudo de teatro, dos autores, dos atores e da cena teatral. Nesse curso, eu frequentava as aulas teóricas do Amir, e foi uma abertura na minha cabeça.
Ali entendi que eu tinha que ler, ler muito para entender o que é uma cena teatral. Eu tenho um caderno que me acompanha em toda oficina do Amir. Seus pensamentos e frases são um flash de genialidade.
Klauss Vianna – acabou não dando aula nesse curso. Acabei fazendo um trabalho de corpo maravilhoso com Susana Braga no Tablado e Lourdes Bastos numa oficina do teatro Ipanema. Depois fizemos um trabalho incrível com Ausonia Bernardes no “Pessoal do Cabaré” – grupo teatral ao qual pertenci durante muitos anos – fiz aula com Bianca Marinho, assistente da Lourdes Bastos.
A compreensão da importância do corpo para o ator e do corpo cênico, faz parte da formação de qualquer ator. Sinto muito ter perdido o Klauss. Mas, Angel, ficou e formou uma legião de professores maravilhosos.
Augusto Boal, eu fiz a primeira oficina dele quando voltou ao Brasil.
Era uma geração de atores jovens que correram para fazer essa oficina, que foi no Teatro Cacilda Becker.
Tínhamos a maior curiosidade sobre o Teatro do Oprimido. Na época li todos os livros dele. Boal me ensinou sobretudo a dar aula. Através dele aprendi que há um método e precisamos “metodotizar” nossas aulas. Brilhante também.

Espetáculo “Morte acidental de um Anarquista”, de Dário Fo. Direção: Sergio Brito.


Fachetti – Nos conte sobre “Cadernos de Teatro” – redatora durante 15 anos. Enumere no seu olhar a força dessa revista que orientava tantos incautos perante a arte teatral.


Guida Vianna – Maria Clara Machado, visionária mais uma vez, junto com sua geração, pensou em criar os cadernos de teatro à semelhança dos Cahiers du cinéma. Na visão dela era importante levar para o interior do país os conhecimentos da capital.
O lema dos cadernos de teatro era “remember Piauí”.
Tínhamos que fazer um livrinho com clareza de ser entendido no interior. Publicávamos textos teatrais, exercícios de teatro, alguns textos teóricos e algumas entrevistas.
Bernardo Jablonski, eu, e Ricardo Kosovski, ficamos anos editando os cadernos. Depois passou para Leonel Fischer.


Fachetti – Você tem uma ambivalência como intérprete que convence e encanta muitos – o limítrofe do denso no palco e o humor fino nas telas, ou mesmo misturando tudo nas várias linguagens. Seu percurso em cena, no palco, é decisivo, enquanto seus trabalhos na mídia, nos enche de momentos jocosos. O que a TV e o cinema, te proporciona de mais precioso? Três linguagens tão diferenciadas.


Guida Viana – Quando comecei fazia muita comédia. E meu tempo cômico era muito elogiado. Isso me deixou muito marcada como uma atriz cômica. Mas, eu gostava de trabalhar no humor sério.
Uma vez, o Yan Michalski, falou isso para mim, que eu não facilitava. Gostei disso e comecei a pensar nisso. Gosto dessa linha cômico-dramático que beira o patético. Fiz isso em vários trabalhos e deu muito certo.
“A Mulher Desiludida”, é um exemplo disso. O texto seríssimo e a plateia rindo do avesso do avesso. A medida que fui envelhecendo, comecei a me arriscar mais em dramas. Mas, eu gosto de todos os gêneros.

Novela “Totalmente Demais”.

 

Cinema: Filme – “Gregório de Mattos”, de Ana Carolina. Na foto com Wally Salomão.

 

Espetáculo “Nada de pânico” – Direção: Enrique Diaz. Guida Vianna ganhou o Prêmio Shell de melhor atriz, com esse espetáculo.


Fachetti – Teatro dos 4, marcou época com feitos memoráveis. O que foi o “Ato Cultural” de José Cabrujas? Onde foi indicada ao prêmio de melhor atriz. Explique para os leitores desse Blog/Site.


Guida Viana – “Ato Cultural”, foi minha terceira peça profissional. Era um texto novo de um autor venezuelano. Direção do Marcos Fayad, e um elenco jovem.
Íamos inaugurar o horário alterrnativo do Teatro dos 4.
O trabalho era bastante nessa linha patético. Eu fazia seríssima, e a plateia ria.
Fui indicada para revelação de atriz. Daí em diante não parei mais. Foi um sucesso a peça no Teatro dos 4.


Fachetti – Tracy Letts – “Agosto”. Ficará indelével na cena cultural brasileira. Fiz a crítica teatral por esse Blog/Site; um espetáculo icônico. Nos defina, dê sua opinião,
com seu olhar de atriz, dessa partitura cênica – favorecida com toda sua experiência – que teve em seus signos teatrais valiosas soluções, com direção de André Paes Leme.


Guida Vianna – “Agosto”, é um texto brilhante, de uma dramaturgia clássica: apresentação dos personagens – desenvolvimento dos conflitos – clímax e desenlace. É daqueles textos que a gente não vê mais com frequência nos palcos.
É um texto que ensina teatro, ensina os atores e ensina o fazer teatral.
O texto é realista, mas, Andre Paes Leme fez uma direção brilhante e resolveu com muita criatividade a simultaneidade das cenas que pediam um cenário realista.
Esse foi um ponto alto da montagem, além de deixar os atores quase o tempo todo em cena. Isso nos deu muita proximidade e concentração para contracenar.
Foi uma montagem que resultou muito bem, pela direção, pelo fato dos atores serem uma galera de teatro sem nenhuma estrela, pelo conjunto da obra.
Agora é aguardar o que a vida e a cena nos reserva.
Obrigada. Guida Vianna.

 

“Agosto”, Texto: Tracy Letts. Elenco: Guida Vianna, Leticia Isnard, Alexandre Dantas, Claudia Ventura, Claudio Mendes, Eliane Costa, Guilherme Siman, Isaac Bernat, Julia Schaeffer, Lorena Comparato e Mariana Mac Niven. Direção: Andre Paes Leme.
Espetáculo “Agosto” – Guida Vianna e Leticia Isnard em cena. Direção: Andre Paes Lema.

Essa foi a trajetória da nossa grande atriz – Guida Vianna.

 

Bem, queridos leitores, agradeço de coração por acompanharem meu trabalho  e o Blog/Site, agora com as entrevistas NECESSÁRIAS, suprimindo a ausência das críticas teatrais e de dança.

Termino na quarta que vem, 23/12, fazendo uma homenagem carinhosa a todos os entrevistados até esse momento. Um carinho, desejando Feliz Natal e que tenhamos um 2021 menos cruel.

Acessem e vejam um grande mosaíco que farei com todos os entrevistados, desde o meio da pandemia, até agora. 2021 continuaremos com as entrevistas.

Aguarde! Até quarta que vem.

Gratidão!

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