Crítica Teatral de “Zoológicos”

QUANDO A PRISÃO DA ALMA NOS TRANSFORMA EM SELVAGENS ESCRAVOS DE NOSSOS DESEJOS.

O espetáculo “ZOOLÓGICOS”, com texto de JOHN MARCATTO e direção de LEANDRO MARIZ, está em cartaz na simpática Sede das Cias; Escadaria Selarón, até 21/9.

“Antônio um homem de honrada aparência, que dirige um instituto destinado a socialização para jovens assassinos, em segredo, relaciona-se com a ex-interna Kika que, por sua vez, tenta reconstruir sua vida. Babu, outro ex-interno, alcançou a ressocialização, mas precisa da ajuda de Antônio para salvar a bela e misteriosa Ilana, cuja natureza é aparentemente indomável”.

Pessoas humanas que deixam aflorar seus lados mais selvagens, o animal de cada um compondo suas identidades. As relações humanas, individuais ou no coletivo, carregadas de desejos, frustrações, erotismo, submissão, falta de amor próprio e de ética social. A convivência no mundo deixando-se aprisionar pela libido, pela sede de vingança, permeada com uma sexualidade animalesca. Dois casais que se trocam, se perdem, se acham e se guiam pela fome patológica que nos consome. A intolerância do dia a dia, presente em cada diferença do ser humano. A falta de limites, morais, eróticos, desvinculados com ausência de conduta dita “correta”. A habilidade no seduzir. A sedução no corpo, nos objetos, nas propostas indecentes e tentadoras. A metáfora usada na vontade de adestrar. Um adestramento que se embrenha no ser humano, os tornando animais. Animais selvagens, homens selvagens, almas selvagens, desejos selvagens. Homens escravos aprisionados num desejo maior do que a alma humana.
A dramaturgia de JOHN MARCATTO é frágil e dispersa, sendo vencida cenicamente pelo jogo lúdico corporal de grande expressividade no espetáculo.

LEANDRO MARIZ faz uma direção bonita e plasticamente enchendo os olhos. O elenco formado por: GLÓRIA DINNIZ, JOHN MARCATTO, MARILHA GALLA e RENATO KRUEGER, não sustenta com força dramática seus personagens, deixando o texto ainda mais vulnerável. Com exceção de RENATO KRUEGER, que impõe ótima presença cênica e consegue valorizar a dramaturgia com sua figura mais próxima do teatral.
THIAGO GRECO na direção de elenco, deixa vulnerabilidade perante as interpretações pouco convincentes, exceto, no trabalho de RENATO KRUEGER.

A iluminação de THIAGO MONTE é pouco expressiva e não delineia a dramaturgia. Uma cenografia cheia de metáforas de SÁTIRO NUNES. Simples, criativa, agradável de se ver. Fazendo alusão a gaiolas, prisões, encarceramento, levando nosso imaginário a tudo que o mundo nos subtrai. Com exceção do chão de tábua corrida, que merecia uma cobertura condizente com a proposta.

Figurinos de BYA FELICIANO Corretos, lindos em cena. Dentro da proposta cênica. TALITA BILDEMAN acerta no trabalho de visagismo.
JÚLIO WENCESLAU enaltece o espetáculo, dando muita visibilidade ao trabalho, com sua preparação corporal, que eu chamo de direção de movimento. Ele cria um ballet coreográfico, um jogo lúdico de corpos, uma movimentação no espaço cênico que engole o texto e faz do espetáculo uma belíssima expressão de desejos, cheia de teatralidade. Sem dúvida, é o grande mérito da empreitada teatral. BRAVO!!!!
“ZOOLÓGICOS” é um espetáculo com acertos bastante relevantes e instigantes.

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