Crítica teatral de “A lenda do Sabiá”

 A LENDA DO SABIÁ, um musical tipicamente brasileiro está em cartaz nesse momento no Teatro Serrador, Centro. No miolo dessa empreitada teatral, está uma linda e merecida homenagem a ARIANO SUASSUNA, MÁRIO DE ANDRADE e LUIZ GONZAGA, onde buscou-se inspiração para esse trabalho que valoriza nossa rica e imensa cultura de maneira lúdica, bem humorada e cheia de encantos, através de nossa música, nosso poderoso folclore e regionalismo.

Toda essa nossa riqueza cultural colocada em cena com tamanha onipresença de profissionais envolvidos e entregues na passarela/palco dessa história encantada de nosso sertão brasileiro.

Sábia, sanfoneiro, morador do sertão baiano, é acusado por crime que não cometeu, e dois matadores vão ao vilarejo para jurar vingança. Entre encontros e desencontros, a história termina com a transformação do homem/protagonista, morto, em um pássaro símbolo do nosso país, o SÁBIA. Um momento cênico de pura teatralidade, poesia e encantamento.
Vale muito destacar o uso do nosso linguajar em cordel, valorizando o que temos no nosso cenário cultural tão imprescindível. Lindo. 

ANDRÉ ARTECHE escreveu a dramaturgia com revisão do próprio SUASSUNA, que privilégio. Com base na literatura de ARIANO SUASSUNA e MÁRIO DE ANDRADE, mesclando nosso irretocável folclore e criando uma história de amor envolvente, emocionante e bem humorada. Um texto todo falado em linguajar cordel, poético e de verborragia qualificada.
A direção/encenação também de ARTECHE, é desenvolvida apoiada na comédia dell’arte, permeado por inúmeros instrumentos musicais, manuseados com maestria pelos atores, dando a cena uma vivacidade e expressividade ímpar.

Uma encenação que nos remete ao onírico, dando margem a uma fantasia cênica onipresente. Direção musical de DIOGO BRANDÃO é perfeitamente dentro do universo proposto, com trilha sonora também de ARTECHE. Uma ambientação musical harmoniosa e satisfatória.

CAROL LOBATO impõe uma indumentária folclórica, alegre, brasileira, deixando o espaço da cena dentro da fantasia que a história exige.
A cenografia de PAULO DENIZOT fazendo alusão ao mundo circense, repleto de cores e adereços pertinentes ao ambiente, e DENIZOT também criou uma iluminação realçando e enaltecendo o folclore brasileiro.

O elenco formado por atores/músicos, contam e interpretam cenicamente com performances corporais desenvoltas e bem brasileira. Atuações competentes, utilizando vários instrumentos musicais, demonstrando versatilidade em palco. Um ocupação cênica envolvida na fantasia folclórica, enriquecendo o trabalho. Todos caracterizados do mundo do sertão brasileiro. Uma pesquisa visível de corpos e vozes, num linguajar com rimas feitas com nossa valiosa literatura de cordel. Vale destacar; ALINE CARROCINO, ANDRÉ ARTECHE, ARI GUIMAS, EDER MARTINS DE SOUZA, FRANCISCO SALGADO, NELITO REIS, PEDRO MAIA, RICARDO LOPES, ROSE LIMA e VALÉRIA ALENCAR.

Produção do espetáculo de HEDER BRAGA cuidadosa e esmerada.
Enfim, o espetáculo A LENDA DO SABIÁ, UM ESPETÁCULO BEM BRASILEIRO, leva a cena teatral carioca um trabalho de pesquisa e competência, embrenhada na nossa literatura/música/cultura, não deixando esquecer que temos grandes nomes inesquecíveis e talentos mais vivos e atuais do que imaginamos. Uma onipresença e uma onipotência de nossa cultura, homenageando nossos autores, músicos. 
Uma empreitada teatral onírica, num encantamento real.

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