Crítica Teatral de “.Violeta.Eu.Elas.Julieta.”

QUANDO A SIMPLICIDADE IMPERIOSA, DÁ CORPO, VOZ, ALMA, PRESENÇA, A UM AMOR CONTEMPORÂNEO/SHAKESPERIANO.

A MÚTIPLA CIA. TEATRAL, do Rio de Janeiro, dirigida pelo multifacetado artista RODRIGO TURAZZI, está em cena com uma comédia dramática que tem como foco a questão feminina, apontando e desenvolvendo sua dramaturgia que é adaptada com holofotes virados para uma personagem das mais almejadas no universo teatral; JULIETA, da obra clássica do bardo italiano.

Inspirada em um dos clássicos de maior visibilidade no cenário teatral, ROMEU E JULIETA, do dramaturgo expoente WILLIAM SHAKESPEARE.
A MÚTIPLA CIA. descortina o palco para dialogar diante da oportunidade de “mirar” no feminino e acertar em cheio o alvo que os três esmeradíssima atores da Cia. almejavam; O fazer teatral com dignidade e competência.

O espetáculo VIOLETA.EU.ELAS.JULIETA. em cartaz no simpático Teatro Municipal Café Pequeno, Leblon, tem encenação/direção de RODRIGO TURAZZI com colaboração de diálogos inspiradores de CIRILLO LUNA e HELENA VARVAKI, referências mais do que positivas no meio teatral.
“A clássica história de amor atravessa o tempo e se mantém viva como uma potente forma de nós voltarmos para os relacionamentos de nosso tempo”.

A comédia dramática se apresenta com o revezamento de três atores, que dão mais do que vida, dão alma, iluminada e iluminando, a mais de 14 personagens para contar um amor entre um jovem casal de famílias com inflamada rivalidade.

Uma releitura de uma obra prima que nos transporta em direção ao feminino, executada cenicamente com muita inventividade física. O corpo fala tanto quanto o texto, com um humor instigador e inteligente, presença lúdica encantadora aflorada no corpo, voz e entrega dos atores.
Imperiosa simplicidade, onde, a alma tem presença garantida através de muita teatralidade. Um amor SHAKESPERIANO moderno, autêntico, coloquial.

A MÚTIPLA CIA. faz um relevante e pertinente trabalho de pesquisa visivelmente inquietante e contemporâneo.

A adaptação e encenação de RODRIGO TURAZZI caminha agregando de forma hierática, solene, numa dramaturgia de mãos dadas ao poderoso texto de SHAKESPEARE.

Diálogos sensíveis, chegando ao ponto de ter uma cena explicando de maneira bastante didática e poética a função de cada dedo de nossas mãos, o por quê de se usar a aliança de casamento no dedo anelar esquerdo. Parece bobo, porém, apenas presenciando tal cena para podermos alcançar sua poesia estonteante. Claro, isso é feito com muita delicadeza e talento.

Uma adaptação calcada em pesquisa, ensaios, entregas, amor. Um amor que permeia todo o palco, mesmo que lamentavelmente ele termine trágico.

Dramaturgia rica, aliada a competência de um linguajar “próprio” e tocante.

Direção/encenação precisa, com conhecimento de causa.
A iluminação do competentíssimo e premiado RENATO MACHADO clareia fortemente a cena expondo ainda mais um trabalho seguro e bem elucidado. Executada pelos próprios atores se revezando e revelando cada cena com muita propriedade. Uma luz NECESSÁRIA.

TIAGO RIBEIRO propõe uma indumentária preta, com praticidade, que funciona perfeitamente com muita sobriedade.

Cenografia também de TURAZZI praticamente ausente, com funcionalidade no que se propõe. Uma cadeira. Um chão branco que delineia com beleza a história e uma mesa técnica de som e luz manuseado pelos atores. Uma austeridade que diz a que veio.
Trilha sonora de GERALDO CÔRTEZ de extrema eficiência, criando climas exatos na transição das cenas.

O que dizer de atores tão coesos, eficazes, comprometidos e teatrais?! CAROLINA ALFRADIQUE, DUDA PAIVA e RODRIGO TURAZZI. Corpos com uma desenvoltura expressiva para cada personagem, vozes trabalhadas, conscientes e presenças físicas marcantes. Atores com uma plástica cênica/corporal não só bonita, mas também carregada de contextualização. Bravíssimo na mesma medida e entusiasmo ao trio MÚTIPLA CIA.

O espetáculo VIOLETA.EU.ELAS.JULIETA, é um trabalho que pertence ao ator, calcados no universo que eles criaram a partir de um respeitadíssimo clássico de um dos maiores dramaturgos encenados.
Um trabalho exarcebadamente de estudo, com humor exalado numa necessidade atualíssima de “devaneios” inventivos pertinentes.
Atores que fazem tudo cenicamente , num revezamento preciso e delineador.

O espetáculo apoiado na técnica do distanciamento de BERTOLD BRECHT, Dramaturgo alemão. Um distanciamento na passagem e mudanças de personagens, feito com frieza e ao mesmo tempo uma emoção comovente para apoderar as cenas. Técnica usada e abusada com muito cuidado e concentração. Domínio corporal e interpretativo.

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