(Sobre a obra literária do compositor: ANTÔNIO MARIA).
O espetáculo “MARIA!” em cartaz no Sesc Copacabana, é idealizado e tem dramaturgia do ator/diretor CLAUDIO MENDES, dirigido por INEZ VIANA, com assistência de MARTA PARET.
A partir dos textos do cronista, o ator narra em primeira pessoa um apanhado criterioso verborrágico do letrista renomado que era adepto da boemia que permeava toda a sua carreira.
A performance/interpretação é acompanhada da preciosa violoncelista MARIA CLARA VALLE.
“MARIA!” é uma ária, salmo teatral ao cronista, poeta, compositor ANTÔNIO MARIA. Um dos mais inventivos homens literários do país.
“Além de poeta da alma humana, um documento vivo dos costumes de sua época. A noite do Rio, os modismos dos anos dourados, os seus “personagens”, alegrias e dissabores de encontros amorosos e sua fascinação pelas mulheres, poesia, música, política, teatro, restaurantes, moda, vida social, humor, amor, está tudo em ANTÔNIO MARIA”.
O espetáculo coloca em cena o poeta, e descortina sua vida durante o dia de seu aniversário, em meio a seus afazeres domésticos e artísticos. Relata sua noite de trabalho na boemia, e o encontro com seus amigos queridos; VINÍCIUS DE MORAES, DI CAVALCANTE, MAYSA, e sua dor na perda inconsolável de DOLORES DURAN. Artistas que o influenciaram na vida pessoal e nas artes.
Um espetáculo onde à ansiedade e a violência, tão costumeira em nossa cidade, dá lugar ao lirismo, poesia, ao icônico homem de qualidades que elevou à arte a um lugar indelével e incontestável.
Em meio à escrita de suas crônicas, a cena disserta sobre velhice, solidão, amor, insatisfações.
Inspirado pelo magnífico “Colar de pérolas” da praia de Copacabana, ele desfia e cristaliza diamantes lapidados em suas obras literárias e em suas composições musicais.
CLAUDIO MENDES não tenta camuflar-se no mito da música. Não simula sotaque, trejeitos e voz. Impõe seu enorme talento, vocação e presença cênica, e nos narra a caminhada de um ídolo, fazendo um hino lírico ao Rio de Janeiro e a grandeza do artista que está sendo evocado.
MENDES realiza na cena, e nos mostra, toda a beleza, humor, acidez, ironia, do aclamado homem das letras em verborragia elegante.
A empreitada teatral tem cuidadosa e eficaz direção de produção de BÁRBARA MONTES CLAROS e acessoria de NEY MOTTA.
A dramaturgia a partir de textos na íntegra de MARIA, tem organicidade precisa e aguda do intérprete em cena. Humor, política, música, poesia, numa interatividade deliciosa com o público, que constroe lindamente às cenas numa arena tomada de sagacidade teatral.
INEZ VIANA conduz à encenação com apoio imprescindível de MARTA PARET, relato feito pelo próprio MENDES. Uma direção indo de encontro ao acaso libertador contido na vida e obra do ícone literário/compositor. Alçando vôos na perfeita cena teatral que os manuscritos de ANTÔNIO necessitam.
MARIA CLARA VALLE em sua presença e indumentária luxuosa, permeia à cena com seu violoncelo numa volúpia musicalidade de casamento perfeito com a teatralidade buscada. Bravíssimo!
Direção musical certeira e intervendo com precisão na performance do ator. RICARDO GÓES conduz uma alegria musical de pura eficiência.
Iluminação/PAULO CÉSAR MEDEIROS/CLAUDIO MENDES/ANTÔNIO MARIA. Se misturam e se amalgam nos brancos dos focos e nas pontuais luzes de diagonais reluzentes. Uma luz fazendo o próprio “colar de pérolas” na arena cênica, onde o ator caminha pelos quatro cantos, na frente e por trás da arena. Mais uma luz/ pérola/parceria de PAULO CÉSAR MEDEIROS.
Figurinos na elegância e despojamento que necessita o intérprete, de: FLAVIO SOUZA.
O que dizer do “monstro” da cena, CLAUDIO MENDES?!
Assistam e constatem.
Como já disse, não se camufla no mito literário. Não simula. Simplesmente, INTERPRETA.
Não é tão simples assim. Nem mesmo na técnica vocal, ao cantar, que ele não domina, consegue ser apagado pelo tamanho de seu talento. Manipula objetos cênicos fazendo deles o que quer. São poucos, ele transforma em muitos. Um carisma enigmático, estonteante, numa entrega de um sonho realizado, sonhado há 11 anos, que ilumina todo o Rio de Janeiro que se encontra nas trevas da crueldade de oportunistas políticos inescrupulosos.
O espetáculo “MARIA!”, é revelação de obra prima esquecida. É o desvendamento de uma necessária grandiloquência literária e musical. É celebração, comunhão!
É simplicidade apoderada de amor, vocação, humor e grito político.
” AVE, MARIA! EVOÉ, MARIA!
ESPETÁCULO NECESSÁRIO.