Crítica Teatral de “Mordidas”

– COMÉDIA EM CONTEMPORÂNEAS RIMAS E VERSOS QUE DESMASCARAM A EMPÁFIA E A VILANIA.

“MORDIDAS”, espetáculo com verborragia atual argentina, do aclamado ficcionista, compositor, roteirista, GONZALO DEMARÍA, chega ao Brasil, com versão e tradução em rimas, numa contemporaneidade precisa de MIGUEL FALABELLA.

Uma comédia no caminho do teatro do absurdo, a lá Boulevard, pela sua perspicaz e cortante ironia, humor, atrocidades, em atitudes no enlouquecer desvairado de suas personagens. Revestidos em inteligentes versos eufônicos, afinados. Um humor absurdamente delirante, travestido pela elegância, “limpeza de alma”.

“Quatro amigas, mulheres sofisticadas e ricas, sempre se reúnem para jogar cartas e tomar chá. Numa dessas reuniões, acontece a morte de Bola de neve, cachorrinho de estimação de uma delas. Inconformadas, decidem promover um julgamento nonsense onde a criada é acusada pelo assassinato, sem direito à defesa”.

“O que se vê na verdade é o julgamento, feito uma sobre a outra, numa sucessão de acusações bizarras que revelam a verdadeira face de cada uma”.

Satirizando uma sociedade atual, o espetáculo desmascara nosso ímpeto de querermos ser o que na realidade não somos. Aí entra a absurdidade em cena.

A comédia hilariante, tem idealização da atriz ANA BEATRIZ NOGUEIRA, que comprou seu sonho cênico, com recursos do próprio bolso. Apostou em mais um; SUCESSO.

A dramaturgia do argentino GONZALO DEMARÍA, tem primazia em sua afinação rimada, apontando e levando ao espectador uma escrita de qualidade pensante e destacada. DEMARÍA alcança em harmonioso linguajar/rimas, um conectar cênico que interage e se alonga ao público. Um texto com humor sardônico, escarnecedor.

MIGUEL FALABELLA em sua tradução, adapta originalmente, num acerto de nuances, em verbalismo que discorre com fluência e teatralidade em um palavreado admirável. Experiência e talento a olhos nus. FALABELLA mantém o necessário humor desdenhoso em consonâncias de DEMARÍA.

Um figurino com acerto de CARLA GARAN, na airosidade das personagens.

A limpeza e a beleza visual no cenário de DINA SALEM LEVY, contrasta com a alma imunda das mascaradas em cena. Um cenário com recorte naturalista e funcional.

LUIS PAULO NENÉN cria iluminação polida, em potencial, corroborando com as fortes presenças cênicas e dialogando com a indumentária e ambientação.

MARCIA RUBIN, com sua específica direção de movimento, agrega em cada atriz um esgar característico, que denuncia suas excelentes atuações.

VICTOR GARCIA PERALTA navega na genialidade harmoniosa/rimada do texto, para impor sua direção de marcas e performances num exato histrionismo cênico. Uma direção sem invencionices e com o espaço/palco envolto/embrulhado no teatral. A dobradinha genial dramaturgo/diretor.

Um elenco com especificidades em intérpretes/vilãs de visagem calcada em talentos prontos.

Cada atriz com seu esgar/trejeito teatral: ANA BEATRIZ NOGUEIRA, REGINA BRAGA, LUCIANA BRAGA e ZÉLIA DUCAN.
ANA BEATRIZ NOGUEIRA é a bêbada numa deformação teatral impecável.

REGINA BRAGA é o talento refinado da cena. Uma sofisticação interpretativa plausível.

LUCIANA BRAGA é a pequena/grande atriz que o tempo cristalizou e glorificou.

ZÉLIA DUNCAN é a surpresa que apareceu para ser preconizada. A sublime cantora empresta a voz à atriz.

O espetáculo “MORDIDAS”, é engenhosidade em cena, nas mãos, corpos e vozes de profissionais capciosos, como se espera de uma comédia de humor tão ácido, denunciador e deliciosamente enxergado/avistado em olhares atentos e sorrisos largos.

Espetáculo NECESSÁRIO.

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