Crítica Teatral de “Ilhada em mim – Sylvia Plath”

ALMAS ATORMENTADAS, MERGULHADAS EM ÁGUAS NECESSÁRIAS E MOVEDIÇAS.

Fundadores da CIA. TEATRAL ESTÚDIO LUSCO-FUSCO, ANDRÉ GUERREIRO LOPES e DJIN SGANZERLA levam à cena carioca o enigmático/profundo trabalho que investiga o universo poético e metafórico de SYLVIA PLATH.

“Conhecida internacionalmente por sua genial poesia convulsiva, a poeta americana se desnudou por completo em sua escrita. Sua obra retrata uma mulher inquieta e angustiada com os inúmeros papéis que deveria exercer na sociedade, atormentada com seu amor extremado pelo renomado poeta inglês TED HUGHES. Em um espetáculo de forte simbolismo visual, à CIA. LUSCO-FUSCO transpõe para o palco o mundo da escritora americana, retratando uma artista revolucionária, no limite de sua experiência humana. A ação se passa dentro de um espelho d’água que ocupa todo o palco, enquanto objetos congelados derretem lentamente”.

“ILHADA EM MIM” tem dramaturgia de GABRIELA MELLÃO, a partir dos escritos pessoais da poetisa. Direção, concepção e cenografia de ANDRÉ GUERREIRO LOPES e protagonizado por DJIN SGANZERLA.

SYLVIA PLAT transcende/transborda em sua arte, algo preso em seus conflitos existenciais, através de um “deboche” usado como uma arma devastadora e imbuída de significância.

Seu suicídio aos 30 anos, residi em alma atormentada, sua obsessiva paixão pelo poeta inglês TED HUGHES, com quem teve dois filhos, em sua estreita ligação com a morte, nos conflitos com as convenções sociais dos anos 50, em sua prisão familiar.

O espetáculo está totalmente calcado/arraigado nas artes plásticas e em sua trilha sonora original, de sensibilidade espetacular. O público o assimila feito uma pintura exposta, como se fossem quadros, em cenas coreografadas, num ballet de gestuais expressionistas, com forte influência da emblemática música que conduz todo o momento cênico. Tudo está conectado e direcionado pelo poder da água, em metáforas, fazendo referências às sensações da poeta, suas emoções frágeis e ao mesmo tempo indeléveis/indestrutíveis. A água que nos dá à vida, e que também pode nos subtrair às forças, a nossa vontade de ir além.

O simbolismo visual cênico é arrebatador, sendo impregnado pelas artes plásticas, protagonista, que impulsiona e é impulsionada pela música e “coreografado” pela direção.

A dramaturgia de GABRIELA MELLÃO é linear, mesmo com o impacto dos escritos da poeta, sendo engulida pela inquietante presença da visibilidade plástica, música e gestuais.

FAUSE HATEN impõe um figurino de força e beleza incontestável, condizente com a proposta apresentada.

Uma iluminação de potência teatral lapidada no auge da inspiração e conhecimento do universo proposto, criada por MARCELO LAZZARATTO.
Os intérpretes: DJIN SGANZERLA e ANDRÉ GUERREIRO LOPES, absorvem às sensações do mundo de SYLVIA PLATH, e se entregam com força dramática satisfatória e marcante, em conexão com a estonteante beleza visual.

ANDRÉ GUERREIRO LOPES responsável também pela direção, concepção e cenografia se embrenha na plasticidade, nos gestuais precisos/coreografados, conectando todos esses signos teatrais num momento comovente, inesquecível, irrefutável, de verdade aparente.
O que dizer da trilha sonora original de GREGORY SLIVAR?! Composta especialmente para o trabalho, é o maior mérito cênico, coberto de acertos. Até nos silêncios nos soa a implacável/categórica música, que conduz preciosamente às cenas de visual poderoso. Uma trilha de instrumentais e instrumentos diversos, que nos leva ao onírico de puro talento.

“ILHADA EM MIM”- SYLVIA PLATH, tem dramaturgia linear/frágil, porém inúmeros motivos inquestionáveis em cena, com todos os seus seguros, verdadeiros e belos signos teatrais de necessária urgência de serem contemplados. Bravo! Evoé, SYLVIA PLATH!

ESPETÁCULO NECESSÁRIO.

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