Crítica Teatral de “Luiz Gama – Uma voz de liberdade”

– A NECESSÁRIA RELEVÂNCIA DANDO LUZ/VOZ/FOCO, EM UMA BIOGRAFIA E LITERATURA DE DESCOMUNAL VALOR.

Em cartaz no Centro Cultural Justiça Federal, “LUIZ GAMA- UMA VOZ PELA LIBERDADE”, com dramaturgia do ator Deo Garcez, inspirada nos escritos de Ligia Ferreira, catedrática no abolicionista LUIZ GONZAGA PINTO DA GAMA. Direção de Ricardo Torres.

” Em 2018, completam-se 130 anos da abolição da escravatura. A peça é uma biografia dramatizada. 

Ex-escravo, jornalista, poeta, primeira voz negra da literatura brasileira, advogado abolicionista que libertou mais de 500 escravos do cativeiro ilegal. Foi reconhecido oficialmente como advogado em 2015 pela OAB, hoje considerado o patrono do abolicionismo brasileiro”.

LUIZ GAMA era baiano, filho de LUISA MAHIN, mulher negra ativista/revolucionária que lutou com garra pela causa de seu povo. Filho de pai branco, que após a morte da mãe, foi vendido como escravo pelo próprio pai.

O espetáculo é um grito contra a total escravidão, que continuamos a protagonizar e assistir, sob múltiplos cenários.

À força do texto, dos poemas, a contudência cênica, tem o intuito de fortalecer e dar foco à batalha, por muitos desconhecida, do homem abolicionista/auto-didata, em foco. Um homem que ainda vive no mundo do esquecimento pela maioria dos brasileiros, e nem nas escolas se menciona sua história e sua imensa importância cultural incomensurável.
Um descomunal descaso e desrespeito.

Sua biografia/memória foi literalmente apagada, tratada com grande irrelevância, principalmente pelo auto poder político, que não tem o mínimo interesse em iluminar a igualdade e a causa libertadora dos verdadeiros heróis.

Uma produção atenta e cuidadosa de Alan de Jesus e Mário Seixas.
A dramaturgia do ativista/ator Deo Garcez, dialoga fortemente numa escrita bem embasada da obra sublinhada de lutas, combatendo o racismo, discriminação, igualdade de direitos. Tudo isso calcado numa atualidade ferrenha, em comunhão com o momento escravocrata combatido por GAMA em sua época. Um texto de pungência/cortante, num lirismo poético-satírico, contido nos escritos e na vida do precursor da abolição, da liberdade.

Ricardo Torres assina a direção, cenografia, figurinos, e os adereços, que apoiam com simples e acertado manuseio à passagem de vários personagens que influenciaram à vida/obra do herói/patrono/precursor.
Uma direção que aposta na aguda/afiada interpretação dos dois atores, focada na verborragia, e dando as nuances em doses teatrais dilacerantes aos intérpretes.

Cenografia e figurinos também de Torres, corretos, clássicos, elegantes dando o preciso suporte à cena, juntamente com a iluminação bem transparente, de nitidez certeira.

As atuações de Deo Garcez e Nivia Helen, embasadas na valiosa dramaturgia, e poesia muitas vezes rimadas, de beleza e lirismo, fluem com onipresença verdadeira de intérpretes convictos.

Deo Garcez apoderado de grande experiência teatral, suscita/cria no corpo e na voz, cheia de nuances, o legado de LUIZ GAMA, personificando-o e concretizando à cena com brilhantismo.

Nivia Helen se faz presente permeando às cenas em suas várias personagens, costurando, narrando, empoderada do feminismo escravocrata revolucionário, que LUISA MAHIN, mãe de LUIZ GAMA, possuía. Uma atriz de evidente, pungente vocação teatral.

O espetáculo “LUIZ GAMA- UMA VOZ PELA LIBERDADE”, veio propagar, reinvindicar todo tipo de liberdade, de igualdade, dando a necessária relevância à biografia/literatura/memória/poesia de LUIZ GONZAGA PINTO DA GAMA.

Uma biografia dramatizada, Um manifesto político lesante, numa encenação repleta de motivos para ser aplaudida.

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1 Comment

  • eduardo
    Posted 24/12/2019 at 23:19 0Likes

    tem alguma série ou filme sobre Luiz Gama? fiquei fascinado na história desse herói, daria uma excelente série. queria ter assistido essa peça, mas moro numa cidade muito longe.
    estão de parabéns

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