Crítica Teatral de “Na parede da memória”

NO UNIVERSO VINTAGE/EXCEPCIONAL QUALIDADE; BELCHIOR, EM MEIO À SOLIDÃO CONTUNDENTE DE SUA OBRA, SE FAZ PRESENTE UMA CENA TEATRAL NECESSÁRIA.

No Teatro Cândido Mendes, Ipanema, em cartaz um espetáculo com o olhos voltados na obra/poesia de BELCHIOR. 

“NA PAREDE DA MEMÓRIA” tem inspiração e argumento teatral na eloquência de ANTONIO CARLOS BELCHIOR FONTENELLE FERNANDES, servindo esse pomposo e marcante nome de nossa cultura, como alusão à cena em nomes dos personagens. Ótima sacada.

Uma história contada através do grande legado que o cantor/ compositor nos presenteiou, onde quatro amigos separados pelo tempo, se reencontram em um apartamento, onde todos já viveram. Cada personagem, no fim de um ciclo, retira o que é seu do imóvel. Entram em conlúio/desacordo, para saber quem é o dono de uma obra-prima/poética, de valor cultural inestimável, deixado pelo artista; “ALUCINAÇÃO”, disco da época, com canções que nos move até hoje. Nenhum deles quer abrir mão desse tesouro. 

Com ar contemporâneo, a trama se coloca dentro da história recente política do Brasil e do mundo.

As letras/músicas do poeta/ compositor faz o desenrolar do drama das personagens, narrando às ações bem costuradas, tendo a poética como pano de fundo desse imbróglio.

A dramaturgia de FABRÍCIO BRANCO é corroborada através das músicas de qualidade excepcional, que faz um casamento perfeito com o autor.
Narra uma história de amigos, num acerto de contas, em torno das reminiscências, dos rancores, mazelas, carências, amores, traições, e frustrações de cada um.

Com um olhar sutil, simples, o texto consegue em comovente fruição, alcançar à sensibilidade do público. 

PAULO MERISIO faz manar uma direção limpa, bem ajustada no espaço cênico, e na performance de cada um dos atores, em conjecturas, misturando canções e escrita.

Uma direção musical que resulta/brota com naturalidade convincente na proposta, pela mãos de DELFIM MOREIRA.

LEANDRO PARISI dá o tom do músico/arranjador em seu piano, apoiando com satisfação às vozes dos atores em letras sublimes de BELCHIOR.

A cenografia de NATALIA LANA, de grande coerência na cena, ocupando o palco com harmonia, soluções visuais agradáveis, num tablado retangular pequeno no centro, e objetos pessoais, bem “arrumados”/espalhados, dispostos em diagonal.

Assertivo e corriqueiro o figurino assinado por VINICIUS LUGON.
MÁRIO RIBEIRO JÚNIOR sem muitas nuances em sua iluminação, valoriza à cena nos momentos de necessidade, mais potente, ou mais intimista.

O espetáculo em geral se apresenta imbuído de emoção, ótimos intérpretes, e o mais relevante; À cena anda de mãos dadas com o cunho artesanal/vintage, da obra-prima prima do universo de contundência do artista/compositor.

No conjunto, os artistas envolvidos, fazem uma linda homenagem em cena teatral qualificada, à um dos maiores nomes da nossa cultura musical. A simplicidade cênica aliada à emblemática trajetória de BELCHIOR.

Um elenco de acertos em emoções, chegando ao público em comovente interpretações. Com vozes “pequenas”, porém, afiadas, afinadas e inseridas no contexto. Presenças homogêneas em atuações, com verdade cênica aparente.

Uma bela “estampa” dos quatro atores em beleza corporal, que agrada os olhos. Bravo! DANIEL VILLAS, DEZO MOTA, GLORIA DINNIZ e NINA ALVARENGA.

Vale destacar, e muito, à cena final que interpretam “COMO NOSSOS PAIS”, composta com maestria por ANTONIO CARLOS BELCHIOR FONTENELLE FERNANDES, ou simplesmente/eloquentemente: BELCHIOR.

“NA PAREDE DA MEMÓRIA”, com verborragia política atual, discutindo nossos conturbados enfrentamentos interiores, não nos deixa esquecer à necessidade de permanecer viva em nossa mente, o cantarolar de letras que nos move/comove, de uma poesia inesquecível.

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