Crítica Teatral de “Passarinho”

REMINISCÊNCIAS E ENTREGA CÊNICA, DÁ GUARIDA PARA UM DESABAFO TEATRAL, EM DEPURADO AFETO ARTÍSTICO E PESSOAL.

“Um espetáculo de exposição que quer falar de encontros, reencontros, desencontros, e do quanto somos afetados e transformados por eles, e por nós mesmos”.

Monólogo com atuação e dramaturgia de ANA KUTNER, se intitula pelo seu apelido de criança: “PASSARINHO”.

Direção de CLARA KUTNER, com assistência de FÁBIO OSÓRIO. Direção de cena JUCA BARACHO.

O trabalho se impulsiona no mote familiar e particular de ANA, fazendo alusão à liberdade, em seu sentido mais amplo, com sutileza e delicadeza, desde à escolha de seu nome.

Em sinceridade expositiva e teatral, à atriz se despe em desabafo e afetividade. Corpo e voz convincentes e preparados. Se embrenha nas reminiscências, buscando amparo assertivo do outro, se vendo no público, em prazerosa interatividade.

A pertinência, com gentileza cênica, calcada em legado familiar artístico, se permitindo ao coletivo, e declarando sua mais profunda e sincera deferência e amor a seus pais(PAULO JOSÉ e DINAH SFAT).

Indiscutivelmente referências indestrutíveis/inapagáveis, de suas carreiras e contribuição às artes.

Ousadia, coragem, olho no olho, nos atravessando em sua construção cênica, em junção mulher/atriz, através de suas memórias e experiências particulares, e na sua carreira, desenredando temas polêmicos como: Encontros, desencontros, amor, sexo, liberdade, morte, desejos, drogas, sonhos, amizade e fé.

Tudo isso em destrinchar sensível, surpreendente, exótico, numa coragem e estranhamento necessários, em desfrutar enobrecido, com suporte técnico de profissionais respeitados da cena, colocando-a num verboso e privilegiado momento cênico apurado.

Uma cenografia de ligação com o todo, que fica num banco de ferro comprido, e luminárias distribuídas no espaço do palco, bem explorado, de: ADRIANO CARNEIRO DE MENDONÇA e ANTONIO PEDRO COUTINHO.
ANTONIO MEDEIROS e GUILHERME KATO num figurino que valoriza o corpo e o corporal, em delinear garboso de sensualidade pertinente, conectado ao acerto do visagismo de RICARDO MORENO.

O espetáculo tem uma direção feita por CLARA KUTNER, imprimida pelos laços de sangue, e por um caminho delicado, sutil, afetuoso, de madurez. CLARA utiliza-se de sua sólida experiência, e expõe um encontro desmascarado/inflamado. Sua expressiva trajetória na dança, sendo corroborada por MARCIA RUBIN, numa direção de movimento impetuosa e aguda, dando à atriz um esteio desejado com sua fé cênica.

O trabalho tem um texto dramatúrgico de ANA KUTNER, em monólogo caminhando no crível/verossímil/credível, em discorrer familiar, apoiado em histórias de desejos, no politicamente incorreto, de contato prazeroso e verdadeiro com drogas, sexualidade liberta, amizades intensas, com humor, irreverência e naturalidade. À cena tem uma contribuição imprescindível na direção musical de FELIPE STORINO e iluminação de TOMÁS RIBAS.

Música e luz num ferrenho desenlace sensorial, manuseado minuciosamente pela atriz. Em destaque um momento música/corpo/luz, onde todos comungam em beleza sedutora de liberdade corporal. Uma cena preciosa, onde todos os desencontros de vida são expurgados.

ANA KUTNER tem atuação sustentada por talento, experiência, na sensorialidade do texto, e no encontro fértil que ela propõe com o público. Comovente! Uma simplicidade explicitada na sua verdade de vida familiar vertiginosa. Ela se encontra lindamente em cena com o filho, às irmãs, pai, mãe, com humor, alegrias, sexo, e mazelas inevitáveis.

Uma atuação de naturalidade extrema, estrutura teatral, citando seus ídolos do cinema, das artes, que com certeza influenciaram sua persona artista/mulher/afetos.

“PASSARINHO” alça vôos altos, propósitos cênicos relevantes, em uma meritosa urdidura teatral, gritando por liberdade sem nenhum tipo de preconceito. 

Reminiscente desabafo, com à presença de talentos amadurecidos.
“POR QUE ESSE TROÇO DE ENCONTRAR O OUTRO, E DE SE ENCONTRAR NO OUTRO, É UMA DELÍCIA APAVORANTEMENTE PRAZEROSA”, e NECESSÁRIA.

Espetáculo NECESSÁRIO.

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