Crítica Teatral de “Meus 200 filhos”

“VIDA E OBRA, COM LIRISMO E EMOÇÃO, A SERVIÇO DE “PEQUENAS” PESSOAS, COM UMA IDEOLOGIA DE APRIMORAMENTO EDIFICANTE.

Baseado no diário do educador, pediatra, pedagogo e escritor judeu/polonês JANUSZ KORCZAK, com o nome verdadeiro de HENRYK GOLDSZMIT, morto pelo nazismo, “MEUS 200 FILHOS”, está em cartaz no Centro Cultural Justiça Federal.

Dramaturgia de Miriam Halfim, direção Ary Coslov, com assistência de Bernardo Peixoto. 

Monólogo interpretado por Marcelo Aquino.

JANUSZ KORCZAK cuidava de 200 crianças, que com o passar do tempo passou a ser muito mais, num orfanato num gueto de Varsóvia. Aos 64 anos pediu para as crianças colocarem suas melhores roupas, pegar seu brinquedo favorito, e embarcou rumo ao campo de extermínio de Treblinka, onde foi assassinado com seu “rebanho” pelos nazistas.
Seu diário foi preservado servindo de inspiração para à verborragia do espetáculo.

O pensamento arrojado/progressista/transformador do pedagogo, influenciou o brasileiro Paulo Freire e o suíço Jean Piaget. 

Educou e formou às crianças durante 30 anos num orfanato que fundou em Varsóvia. Pedagogo bastante conhecido e respeitado na Europa. 
Criou um lar para crianças órfãos judias, mas isso aconteceu em plena segunda guerra mundial.

Suas contundentes e inovadoras “pertubações” emocionais, senso de justiça, dedicação, perpetuou seu diferenciado comportamento, e sua busca de cunho artesanal para o aprimoramento do ser humano. Querendo remodelá-lo, através de sua personalidade de dignidade vertiginosa e dignificadora.

O espetáculo é uma poesia lírica/densa/verídica, que descortina e mostra a saga dos judeus, apoiado num eficiente videografismo de Thiago Sacramento. Momentos cruéis de horrores, massacre e menosprezo, durante à segunda guerra.

Flui cenicamente em entrega lapidada e perfeito discorrer.
A dramaturgia, vinda do diário preservado de KORCZAK, copidescada/adaptada por Miriam Halfim é contextualizada com fruição e afluência histórica comprometida e pujante/depurada, num cenário e trilha sonora desenvolvidos como um ato de oração por Ary Coslov.

Uma pequena mesa e cadeira usados com intimidade/cumplicidade, servindo para delinear espaços, momentos e sentimentos, manuseados com precisão e de forma visionária. Trilha sonora em música judia, manando à cena como uma oração, abraçando e fortalecendo texto, contexto e o ator solista e mega concentrado.

Rosa Ebee sugere um figurino em terno elegante e eficiente.
A intersecção e presença da direção de movimento de Ana Vitória, traz vigor, destreza, e de imprescindível beleza em cortes/momentos adequados. Gestos coreografados de valiosa teatralidade em força dramática.

Em rompantes densos/intimistas e clarões quase impressionistas, Paulo César Medeiros, detalha sua iluminação em singular importância.

O caminho trilhado pela direção de Ary Coslov, não poderia ser de melhor tecitura e camaradagem com o solista. Coslov desenha todo o espaço cênico minuciosamente e com nuances/movimentações que exigem desempenho do ator. Explora cada palavra de um texto muito bem desfiado.

Direção urdida com primor e alma.

Uma trilha/caminho muito bem executado/estruturado, em seu corpo, intenções, voz plena/convincente, e curvas dramáticas, feitas pelo excelente Marcelo Aquino. 

O ator realmente não faz distinção entre arte e vida. Se embrenha em sentimentos, emoções múltiplas, deixando KORCZAK despontar, e arrematando todo o espetáculo, que soa como uma oração e um desbravamento. Excelente interpretação, numa história real, doída, e de beleza cênica ímpar.

JANUSZ KORCZAK/HENRYK GOLDSZMIT, não lutava e nem queria o aprimoramento dos governos, e sim, o APRIMORAMENTO DO SER HUMANO.

“MEUS 200 FILHOS” é credível/verídica história, em lirismo e emoção cênica, mostrando que honestidade, educação, cultura e dignidade, também pode ser características fortes do ser humano.
Que esse espetáculo seja assistido, assimilado, e possa tocar às almas.

Espetáculo NECESSÁRIO.

– Teatro Cultural Justiça Federal.
– De: 18/8 à 23/9. Sexta à domingo, 19:00 HS.

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