UM EXERCÍCIO CÊNICO ATEMPORAL, LAUREANDO E EMPODERANDO O FAZER ARTÍSTICO, COM MATURAÇÃO POÉTICA E LIRISMO.
No futuro, os moradores de uma praça são afetados por um “decreto” que muda à vida de todos. Toda e qualquer manifestação artística está proibida. Esse encontro de dois homens, num prédio abandonado, onde instalava-se um templo teatral, dois estranhos redefinem suas vidas que são tocadas pelos seus embates e diferenças.
Esse é o mote do espetáculo em cartaz no templo teatral do Sesc arena.
Direção de Dani Barros e dramaturgia de Carla Faour, tendo Kadu Garcia e Paulo Giannini no elenco. Cuidadosa assessoria de imprensa de Sheila Gomes.
Com idealização dos atores premiados pelo excelente e belíssimo espetáculo “GALÁPAGOS”: Kadu Garcia, Paulo Giannini e também idealizado por Carla Faour.
O projeto é bastante peculiar, envolvente e tocante.
Nos faz refletir nesse obscurantismo que estamos inseridos atualmente, um desrespeito nas artes, nossa história e o fazer artístico.
Uma aridez, que durante o embate e diferença dos dois personagens, os transmutam e os dignificam.
A dramaturgia de Carla Faour, “uma ficção futurista”, como ela mesma define, se atenta às mazelas dos dois indivíduos, numa escrita fluida e num desfrute verborrágico de muita intimidade na boca e atitudes dos atores. Um texto que nos atravessa, cheio de cumplicidade, poesia e apoderado pela camaradagem e talento.
Humor, reflexão e presença literária.
Nota-se que a direção de Dani Barros é de pura e total confiança na química existente com os signos teatrais e com a tocante sensibilidade das atuações.
“O teatro é o lugar onde vamos para esclarecer à visão”. Assim, Dani Barros conduz sua bela “regência” cênica.
Uma direção musical sensível e bem acomodada de Rodrigo Marçal, em adequados e bem colocados figurinos de Bruno Perlatto.
Fernando Mello da Costa nos coloca diante de escombros cênicos de um cenário/teatro em encúria/negligenciado, porém, de significância sublimar surpreendente. Painéis enormes revelados num final de comovente arte visual poética.
A iluminação de Renato Machado só corrobora um enorme conectar cênico, numa luz artesanal desembaraçando toda homenagem e lirismo que à dramaturgia propõe.
As interpretações com curvas e força dramática, cintilantes de García e Giannini possuem uma lacrada/selada importância que distribui ao todo cênico uma credibilidade ímpar. Ambos exalam uma química, entrega e vocação inerentes a homens de teatro. Atores que transcendem à cena, como todos os laureados citados no final emocionante, com os nomes ditos em alto e boa dicção, referente aos deuses teatrais brasileiros.
“PROCÓPIO” é escrito em poesia e lirismo, atemporal, para reivindicarmos com resiliência, à inatacabilidade do exercício artístico, seja no presente, passado ou futuro.
“O teatro é o lugar onde vamos para esclarecer à visão”.
Um lugar para enxergarmos o necessário alimento do corpo e alma humana.