Crítica de Dança: “Still Reich”

UM TRABALHO EIVADO/IMPONENTE, EM NARRATIVA IMAGINÁRIA, POTENCIALIZADA POR COMPOSIÇÔES/MÚSICAS VERTIGINOSAS, COM EXÍMIO DESENLACE COREOGRÁFICO.

Num templo cultural chamado CACILDA BECKER, direcionado ao descortinar da dança, reluz, potente, a Focus Cia. de Dança , em um seduzir de corpos que resulta num primoroso coreográfico, do também reluzente compositor americano STEVE REICH. 

Com total comprometimento/imponência e direção/concepção de Alex Neoral, num repertório de três peças, duas já criadas, e uma inédita.
Preciosa direção de produção de Tatiana Garcias. Assessoria de imprensa: Daniella Cavalcanti.

Inspirado, com as músicas do compositor de recursos mínimos e detalhados, REICH, que compõe pelo seu universo que é muito particular, em minúcias, sensorial, com espaços sonoros e desencadeando o muscular. Uma criação intermitente/intervalos, que nos permite criar, com suas “pausas” nuançadas e provocantes, “pervertidas”.

As duas obras iniciais do espetáculo da Cia. De Dança, “Pathways” e “Trilhas”, já apresentadas, nos prepara à sensibilidade para receber, em gradual e inventiva coreografia, a chegada da explosiva e narrativa imaginária corporal chamada “Keta” de 2018.

“Keta” tem inspirações, no seu todo, africanas. Um universo tribal e ritualístico levado à cena, pelos corpos e entrega gestuais/coreográficas veloz, orgânica, loquaz, abundante, em verboso linguajar muscular , com retidão criativa, pulsante/prazer corporal.

A Focus Cia. caminha em quase 20 anos de árduo e seletivo cenário dançado, tendo à frente e rodeado pelos seus focados bailarinos, Alex Neoral, que busca inovação e uma identidade própria, já encontrada e respeitada.

Neoral e Mônica Burity( por “Trilhas”), imprimem um figurino ao trabalho, condizente e atendendo às necessidades musculares no discorrer da obra de STEVE REICH. Destaca-se um valioso adereço usado por todos no pescoço, um colar/”colera”, largo, caracterizando em beleza única o momento sonoro e proposto, africano.

Sem dúvida o espetáculo é fortemente potencializado por um desenho de luz de olhar visionário e enobrecedor, que dá alma ao se conectar completamente ao trabalho. Esse maestro da luz chama-se: Binho Schaefer. Evidência com sua luz, cada segundo entre corpos, criação e música.

Neoral tem presença marcante atuando ao lado de seus bailarinos, na concepção/direção e criador das coreografias, tenho certeza que apoiado e iluminado pelos seus pupilos. Se embrenham no precursionismo detalhado de STEVE REICH, impondo nesse trabalho um linguajar de forte impacto sensorial/corporal, principalmente no desfecho com a obra “Keta”.

“Keta” vai detalhando/desembaraçando em corpos quase nus, peitorais expostos, num físico de bailarinos exigidos em depurada técnica, precisão, beleza em linhas conexas e desconexas. Nos impressiona. Regido por som ritualístico africano, de batida linear, num “agonizar” de emoções que fazem alusão à liberdade. Liberdade da fala, do eu, dos gestos, do sexo, do poder travestido em precisão coreográfica e da presença cênica.

A concepção e coreografias de Neoral possuem o que às Cias. de dança almejam: Identidade. Essa identidade tem nomes que gritam alto no cenário coreográfico: Alex Neoral, Carolina de Sá, Cosme Gregory, José Villaça, Márcio Jahú, Marina Teixeira, Monise Marques e Roberta Bussoni.

Todos se destacam por manter uma “obediência”, disciplina, talento em suas performances. Uma obra na atualidade, numa crítica reflexiva, às vezes velada ou muito explícita. Me deixem fazer ARTE, é o que eles gritam com seus corpos. Me deixem, me deixem…É o que todos nós artistas estamos gritando também, nesse momento que nos devora.

” O artista tem um papel importante na sociedade, o de tocar em assuntos e afetos através do lúdico, do improvável e do fantástico”.

A Focus Cia. de Dança, pela sua mais nova empreitada, o espetáculo “STILL REICH”, nos toca em nossos afetos, com o lúdico dos corpos em sua sensualidade eivada, e com o improvável, numa provável cena de repertório movimentada/desenvolvida em exímio desenlace.

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