ASSIM COMO OS LÍRIOS, REPLETOS DE ENCANTOS E CORES, QUE REPRESENTAM À MATERNIDADE, ZILDA ARNS, AGUERRIDA, DEIXA UM LEGADO DE CONSCIÊNCIA POLÍTICA EM FAVOR DA VIDA.
“A trajetória da médica pediatra sanitarista, ZILDA ARNS, fundadora da Pastoral da Criança, e indicada três vezes ao prêmio Nobel da Paz”.
Os lírios possuem uma certa dose de volúpia, por representarem diversos sentimentos como: fascínio, atração, admiração, segurança, inocência, matrimônio, maternidade, amizade. Repletos de encantos.
Eles afloraram na capital Curitiba no dia da cerimônia de sepultamento de ZILDA, que tinha uma estreita ligação e adoração por essa natureza/flor maternal.
Em cartaz no pequeno espaço templo teatral Cândido Mendes, Ipanema, “ZILDA ARNS- A DONA DOS LÍRIOS”. Direção: Luiz Antônio Rocha, com assistência de Valéria Alencar. Assessoria de imprensa: Rachel Almeida.
Um monólogo com impecável interpretação de Simone Kalil.
O monólogo leva à cena momentos reluzentes e difíceis da vida da médica pediatra responsável pela significativa redução da mortalidade infantil e dos idosos, com a implantação do soro caseiro e da amamentação maternal, em cada cantinho do Brasil.
Com aguda precisão, ZILDA, desbravou muitas lutas para alcançar seu projeto de vida. Importante lembrar que a peça em cartaz, terá uma porcentagem doada à Pastoral da Criança.
A médica visitou todas às cidades brasileiras para salvar vidas, com a Pastoral da Criança fundada no Paraná, há 35 anos, e expandida para 26 países. De lixões, aldeias indígenas, dos grandes centros aos interiores sertanejos, um trajeto geográfico esfuziante. Desbravamento territorial e emocional/um ato de se doar.
Resgatar os legados fincados por essa brasileira, é defender à vida em todos os aspectos. Um objetivo de redução da mortalidade infantil através do afeto, do encantamento, maternidade, religião, com doçura e ao mesmo tempo focada, pragmática e aguerrida. Enfrentou cardeais, ministros e presidentes.
Em missão humanitária, morreu durante um terremoto no Haiti tentando fundar à Pastoral da Criança naquele país.
O espetáculo trilha um caminho de pesquisa séria, numa aparente e sensível imersão dos envolvidos. Uma cena de 60 minutos teatralizada com segurança, encanto, matrimônio entre os signos cênicos. Como se os lírios, através de suas várias representatividades, depurassem em verossímil aclimatação.
O cenário de Luiz Antônio Rocha e Eduardo Albini, nos remete, com cuidados e simplicidade sofisticada, a um Brasil de fundura/agudo e perspicaz, com hidradação/mescla de raças, contrastes sociais, assim como o figurino de Caká Oliveira, dialogando entre eles, apoiados diretamente nos objetos cênicos, sons executados ao vivo e texturas. Lírios, feitos com material reciclado, em grande profundidade e simbolismo, através de sua representação e ligação com a médica visionária em favor à vida.
Dentre os poucos recursos do espaço/teatro, Ricardo Lyra, concebe uma iluminação imprescindível e de importância crucial. Luz focada e pontual, de beleza madura.
Destaque para à composição sonora e execução ao vivo da musicista Beá. Sua trilha em sons, com vários objetos e instrumentos pequenos, acompanha cada detalhe da trajetória geográfica e emocional da atuação, lindíssimo!
Nos toca ao ponto de quase “roubar” à cena. O texto/dramaturgia, também de Luís Antônio e Simone Kalil, é coloquial, didático, sem ser entediante, e desbrava lindamente uma vida com um nível de reflexão que nos é necessário.
Luiz Antônio Rocha concretiza uma direção com perspicácia, detalhada, com poucos recursos, mas com talentos visíveis em cena. Uma direção de detalhes inconfundíveis, como sempre se constata em seus trabalhos.
Simone Kalil é a delicadeza cênica, convergindo com o pragmatismo e o combate de ZILDA. Uma voz doce, com potência teatral acirrada, com um corpo discreto nos gestuais, porém, magnânimo em intenções. Uma atriz arrebatadora, com pulso humanitário e afetos aparentes. Bravíssimo!
“ZILDA ARNS- A DONA DOS LÍRIOS” é um trabalho com contornos espirituais, sobre uma mulher visionária, aguerrida, que deixou um legado em favor da vida. Desbravou com sentimento maternal e atitude, à geografia do mundo e dos corações insensíveis. ZILDA ARNS era imbuída de enorme consciência política e força lírica.
Corram! Assistam a esse: Espetáculo NECESSÁRIO.
– Teatro Cândido Mendes, Ipanema.
– Sexta à domingo, às 20:00 horas.
– De: 21/9 a 04/11.