CRÍTICA TEATRAL: LUIZ GAMA – UMA VOZ PELA LIBERDADE – Por: Francis Fachetti.

– Crítica Teatral:



                            

 

Há seis anos atrás estive no Teatro da Justiça Federal para conhecer a história desbragadamente real, que nos acomete e nos açoita ainda na atualidade, enredada em nossos corpos e almas – principalmente do povo negro – diante dos acontecimentos cada vez mais cruéis e surreais.

O ator Deo Garcez , que eu já dividi o palco num belíssimo musical com autoria e direção de Ricardo Torres, de larga experiência, depois de muitos anos sem vê-los, assinando e colocando em cena essa relevância necessária – nesse manifesto político em forma teatral – uma biografia dramatizada capetaneada por Torres.

Nesse momento pandêmico continua em cartaz, presencial e online, no mega agradável e estruturado Teatro Petra Gold, esse urgente e inquietante trabalho cênico, que planta sementes em terras desgovernadas, na intenção de transcender – “LUIZ GAMA – UMA VOZ PELA LIBERDADE”.

 

Deo Gacez e Soraia Arnoni. Foto: Cristina Granato.

 

Em cena como Luiz Gama, Deo Garcez: ator, autor e produtor da peça, muito bem conectado com a atriz Soraia Arnoni.

Em 2018 completou-se 130 anos da Abolição da Escravatura.

O texto que está sendo encenado há seis anos com muito sucesso, apesar de nenhum tipo de patrocínio, já viajou Brasil afora e é inspirado nos escritos de Ligia Ferreira: Catedrática no abolicionista LUIZ GONZAGA PINTO DA GAMA.

Ex-escravo, jornalista, poeta, primeira voz negra da literatura brasileira, advogado abolicionista que libertou mais de 500 escravos do cativeiro ilegal.

Foi reconhecido oficialmente como advogado em 2015 pela OAB, hoje considerado o – Patrono do abolicionismo Brasileiro.

LUIZ GAMA era baiano, filho de LUIZA MAHIN, mulher negra, ativista, revolucionária que lutou com garra pela causa do seu povo.

Filho de pai branco, que após a morte da mãe, foi vendido como escravo pelo próprio pai.

 LUIZ GONZAGA PINTO DA GAMA.

 

Mês de junho marca o nascimento de GAMA, e no dia 21/6, seus 139 anos. Papel fundamental na luta pelos direitos humanos, pela abolição no Brasil, sendo tão necessário ser debatido, reflexionado e disseminar o cerne de seus fundamentos para transformar sensibilidades e comportamentos.

Sua biografia/memória foi literalmente apagada, tratada com grande irrelevância, principalmente pelo auto poder político, que não tem o mínimo interesse em iluminar a igualdade e a causa libertadora dos verdadeiros heróis.

A força do texto de Deo Garcez – apoiado pelo diretor Ricardo Torres em sua escrita – os poemas, a contundência cênica, a irrefreável presença atoral ( Deo/Soraia), fundamentados em fatos, evidências e acontecimentos, tem o intuito de fortalecer e dar foco à batalha, por muitos desconhecida, do homem auto-didata que está em foco.

 

    Deo Garcez

       Foto: Cristina Granato       

 

Um homem que ainda vive no mundo do esquecinento pela maioria dos brasileiros – e nem nas escolas reporta-se sua história e sua imensa importância cultural incomensurável, um descomunal descaso e desrespeito.

A dramaturgia do ativista/ator, dialoga fortemente numa escrita bem embasada da vida/história bem sublinhada de lutas, combatendo o racismo, discriminação, igualdade de direitos. Tudo calcado numa atualidade ferrenha, em comunhão com o momento escravocrata combatido por GAMA em sua época. Um texto de pungência cortante, necessária, num lirismo poético-satírico contido nos escritos e na vida do precursor da liberdade.

 

Deo Garcez. Foto: Cristina Granato.

 

O espetáculo é um grito contra a total escravidão: de corpos, sentimentos, alma, direitos e afronta ao ser humano. Um trabalho que propõe uma reflexão aliada a atitudes culturais e efetivas, a partir das lutas de LUIZ GAMA, e da descarada atualidade que nos acompanha no desenrolar de absurdos e insultos contra o povo negro e a sociedade no seu todo.

 

      Deo Garcez  e  Soraia Arnoni.

Foto: Cristina Granato.          

 

A Atriz Soraia Arnoni se coloca na cena embasada, imbuída da dor de seu povo, numa entrega transparente em uma voz assentada – construída de maneira decisiva, apoiada na sua entrega cênica em momentos completados por sua emoção no imbuir-se de  uma narração documental, vestindo-se nas passagens com personagens que estiveram na vida de GAMA – inclusive sua mãe: LUIZA MAHIN.

 

Soraia Arnoni. Foto: Cristina Granato.

 

Deo Garcez, protagoniza com excelência àquele que ele próprio resenhou sua vida, com uma experiência interpretativa incontestável – a presença do ofício de um grande ator.  Passeia em contornos interpretativos por célebres personalidades que marcaram a vida de GAMA, ou que Gama marcou suas vidas, numa corporeidade  e nuance de voz, emoção, em perfeita dicção apegada às atuações mais convinventes e elogiosas.

Bravíssimo! –  Deo Garcez.

 

 

 

    Foto: Cristina Granato                 

 

O espetáculo na direção de Ricardo Torres faz uma contextualização não apenas contando suas circunstâncias/lutas de GAMA, que continua escancaradamente aos nossos olhos.

Torres faz questão de inserir as barbáries acontecidas no momento – como numa cena de grande emocão, que todos se identificam, que é claro, não contarei. Assistam e tenham esse privilégio. Como todo o espetáculo: Uma cena NECESSÁRIA!

Uma direção que aposta na acuidade das interpretações, principalmente de Deo Garcez, focada na verborragia, e dando as nuances em doses teatrais.

Ricardo Torres além de conduzir com esmero e minuciosamente os caminhos cênicos, assina a cenografia, figurinos, adereços, que apoiam com acertado olhar – clássico, elegante – juntamente com a iluminação diáfana/translucida/límpida no caminho assertivo das cenas e o manuseio das passagens de vários personagens que influenciaram a vida do herói/patrono/precursor.

 

Ricardo Torres.

Foto: Cristina Granato.            

 

O espetáculo “LUIZ GAMA – UMA VOZ PELA LIBERDADE” – é necessário para que nos tornemos conscientes  e desbravadores em atitudes, e podermos lapidar nossa sensibilidade diante de relatos, fatos, distorcões de personalidades presentes ao nosso lado tentando nos molestar a alma e nossos direitos.

 

Deo Garcez eu Soraia Arnoni. Foto: Cristina Granato.

 

Que nós sejamos respeitados e não vilipendiados.

O povo negro somos todos nós.

 

 

 

 

 

 

Apresentações acontecem em transmissão online e presencial (máximo de 40 pessoas).

 

DIAS: 17 e 24 (quinta-feira), às 19h, de junho

DURAÇÃO: 1 hora

CLASSIFICAÇÃO: Livre

ENDEREÇO:

Rua Conde de Bernadotte, 26 Leblon – RJ.

Tel: (21) 2529-7700

Ingressos na bilheteria do teatro, pelo site www.teatropetragold.com.br

e pela plataforma SYMPLA, @Sympla.

 

 

 

Vale muito destacar:

 

Recomendo, e muito, o espetáculo que acontece após “LUIZ GAMA’, contando a trajetória de sua mãe: LUIZA MAHIN.

Um trabalho que dá uma belíssima ponte para o outro, num amalgamar de forma irrefutável.

“LUIZA MAHIN” com texto de Márcia Santos; Direção de Édio Nunes e preparação vocal de Jorge Maya.

Deixo aqui um “chamamento” a todos os críticos excelentes do cenário carioca, que assistam e ajudem a opulentar esses dois feitos dramaturgicos e cênicos de oportuna necessidade em descortiná-los.

Mesmo nesse momento pandêmico, as produções dos dois espetáculos estão colocando esse grito no ar, claro, com o aporte imprescindível e incansável do Teatro Petra Gold.

Destaco também que o ator Deo Garcez está em plena atividade como produtor e autor de “LUIZ GAMA” – presencial e online – e o espetáculo “ANJO NEGRO”. Ainda, presente nas reprises das novelas: “Salve-se quem puder (Globo) e “Prova de Amor ( Record).

 

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