CRÍTICA TEATRAL DO ESPETACULO: “POUCO AMOR NÃO É AMOR” Por: Francis Fachetti

COMPÊNDIO TEATRAL DE CONTOS RODRIGUIANOS QUE EXPLICITAM OBSESSÕES E DESEJOS CARNAIS E DA ALMA, A FAVOR DO AMOR.

O livro/contos “POUCO AMOR NÃO É AMOR”, já nos diz que o autor é devastador, transgressor, que desnuda costumes, corpo e alma.
Reunião de contos escritos em 1953/54, de tragicidade aparente e exageros ocultos ou não, sempre a favor do amor, muitas vezes patético, chocante e revelador. É uma radiografia das relações amorosas dos anos 50 e da nossa atualidade em atitudes nem sempre veladas.

Os contos caracterizam traços e a escrita de NELSON, como: “assim, assim”; “batata”; etc, que se configurou em seu estilo, e sua visão de mundo de espúria/se opondo à ética; à alma humana desnudada, imprevisível, desejosa, vulgar, traiçoeira e sedenta.

Um autor dito maldito, polêmico, devassador, impulsivo, irônico, dando luz e mostrando à hipocrisia nas relações familiares e cotidianas.
A dramaturgia de Sidnei Cruz expõe à natureza particular do autor em seus textos, ampliando em cenas conduzidas num átimo cênico/momentos rápidos, bem amarrados, numa teatralidade envolvente e frenética.

O espetáculo tem uma encenação de atmosfera íntima e cúmplice com o espectador, numa arena que mexe com a nossa libido, nos colocando, juntamente com as personagens, em pulsações afloradas e defloradas. Cenas de transmutações intensas e internas, corroboradas pelo competente e efetivo figurino, que é trocado com sagacidade em cena, e adereços de Patrícia Muniz, dando objetividade e  identidade às várias personagens, numa necessária orquestração direcional de Sidnei Cruz. Uma direção em conexão com os recursos do melodrama utilizados por NELSON RODRIGUES, muito bem engendrados, em um trabalho de atuações expansivas, polidas e envolventes.

O real e o irreal do autor, numa interação/diálogo cênico entre atores e público, de estruturas internas de desejos e sentimentos.
Num desenho de luz pontual e preciso criado por Guiga Ensá, onde consciente e o subconsciente se colocam na arena/público, confrontando-se em embates psicológicos impregnados na sociedade de 1950 e na contemporânea.

O elenco presente, em belo e visível trabalho corporal, vozes límpidas, impulsivo, “sexual”, numa contextura entrelaçada, peremptória/categórica e totalmente absortos de seus personagens, guiados pela comprometida direção, envolvendo- se na natureza muito particular de NELSON.
Seria injusto destacar um deles; Alan Pellegrino, Daniel Chagas, Gisela de Castro e Deborah Rocha.

A obra rodriguiana é ao mesmo tempo superficial e de profundezas, previsível e imprevisível, verossímil e inverossímil. Esses são elementos contidos no melodrama, justificando revelações surpreendentes e súbitas reviravoltas com base em temperamentos e comportamentos familiares e humanos subornáveis da contemporaneidade.

Em bela irrupção/invasão súbita, e numa conversa interativa, o espetáculo “POUCO AMOR NÃO É AMOR” é construído e sustentado em perspicaz aclimatação; texto, direção, intérpretes.

Aventuras e desventuras sigilosas e explícitas no controle/descontrole desmedido do ser humano e no salto amoroso e com profundidade no desvendar de NELSON RODRIGUES.

“Amar é sempre uma aventura abissal e suas formas obsessivas: o sexo, a morte, a traição, à carne e à alma”.

Espetáculo NECESSÁRIO.

Ficha Técnica:
– Texto: NELSON RODRIGUES.
– Dramaturgia e Direção: Sidnei Cruz.
– Elenco: Alan Pellegrino, Daniel Chagas, Gisela de Castro e Deborah Rocha.
– Figurino: Patrícia Muniz.
– Iluminação: Guiga Ensá.
– Preparação Vocal: Nina Wirtti.
– Assessoria de imprensa: Sheila Gomes.
– Produção: Ouro Verde Produções; Anacris Monteiro e Fernando Alax.

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