A obsessão contida no clássico, atravessando nossas obsessivas experiências pessoais causadas pela crueldade contemporânea.
O clássico da literatura americana de HERMAN MELVILLE, considerado um épico, coloca a epopéia do personagem do Capitão Ahab, comandante da embarcação Pequod, caçando obsessivamente à baleia MOBYDICK, traçando um paralelo com à obsessão humana vivida na crueldade do nosso presente dia a dia, assim se apresenta o novo texto dramatúrgico do sensível Pedro Kosovski.
No Oi Futuro Flamengo, “EU, MOBYDICK”, em cartaz até 28/07, quinta à domingo, com direção de produção de Aline Mohamad, Gabriel Salabert e Renato Rocha, assessoria de imprensa; Ney Motta.
MOBYDICK abraça o público numa gigantesca e impressionante cenografia/ instalação, rodeada por tecidos, onde são projetadas imagens em vídeo mapping, e cadeiras de plástico no teto, formando à ossada do perseguido animal, uma constatação sensorial.
O romance de MELVILLE é uma metáfora da condição humana na modernidade.
O espetáculo em sua dramaturgia, a partir do clássico, cria uma verborragia dando voz e luz às relevantes inquietações, dolorosas experiências pessoais do elenco e consequentemente dialoga com às questões atuais que nos acomete, desrespeita, esmaga, em nossas vidas e profissões, à flor da pele.
Um trabalho matizado em várias linguagens, de pluralidade, na presença do audiovisual, artes visuais, instalação, performances de tocantes atuações em vivências existencialistas. Uma cena caracterizada por “atitude existencial”, ou uma sensação de desorientação face a um mundo aparentemente sem sentido e absurdo. Talvez, seja essa a real definição da dramaturgia de Kosovski em “EU, MOBYDICK”.
O texto da trama faz cortantes e polêmicas perguntas nas vozes e corpos dos 4 atores totalmente conectados com suas emoções à flor da pele.
Questionamentos em referências diretamente ligadas à política vigente.
O dramaturgo apoiado no romance da obsessão pela caça à baleia, faz de sua escrita o grito político querendo não nos deixar sermos arrastados para a destruição, ou até mesmo autodestruição.
Uma dramaturgia de espinha dorsal propositalmente política e contestadora, em vista do nosso momento de (des)governo.
A literatura épica de HERMAN MELVILLE sendo presente na materialidade do livro usado em cena, no peso denso do contestar, abrangendo o tamanho e a dimensão do que está sendo usurpado na atualidade.
A direção de Renato Rocha é estreitada e confiada corporalmente na direção de movimento simplificada, sem excessos, de Paulo Mantuano. Todo o espetáculo é construído numa simples leitura coreográfica.
Renato Rocha com assistência de Rafaela Amodeo, aposta em sua, e na experiência, emoções do elenco que reverbera positivamente durante toda dramaticidade, com destaques mais expressivos, na presença cênica de Kelzy Ecard e Márcio Vito. Noêmia Oliveira e Gabriel Salabert mostram unidade dramática envolvente e necessária em suas absortas interpretações.
As projeções em vídeo mapping dimensiona com beleza o todo, e envolve à trama; Renato Vilarouca e Rico Vilarouca.
Figurinos neutros, na composição correta, comungando com o vídeografismo por Tarsila Takahashi. Felipe Habib e Daniel Castanheira nos dá uma trilha sonora assertiva no clima e efeitos cênicos.
A iluminação de Renato Machado como sempre elucidativa e potencializadora. A instalação/cenografia de Bia Junqueira faz à baleia pairar sobre o público.
Uma proposta de imersão de imensa beleza, criatividade e inventividade. Uma viagem dentro de um gigante animal esculpido por cadeiras, como se fosse à ossada, pairando sobre nossas cabeças. Lindíssimo! Necessário! Bravíssimo!
O espetáculo “EU, MOBYDICK” nos dá luz e voz em seu portentoso e proposital discurso político, no intuito de alçar vôos em cada mente, em cada EU presente, para lançar e nos refultar, negarmos e não aceitarmos às migalhas desse (des)governo vigente.
Que à obra prima de HERMAN MELVILLE impulsione nossas atitudes concretas a nosso favor.